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Monday, January 02, 2012

FERREIRA DE CASTRO, AGITADOR NO BRASIL (4)

Como os operários das fábricas inglesas na Revolução Industrial, também os seringueiros se enchiam de dívidas ao patrão, que lhes vendia géneros e artefactos, com os preços devidamente inflacionados. O dinheiro era coisa que minguava, e a borracha estava em queda nos mercados internacionais. Sem saldar a dívida ao patrão era impossível abandonar o seringal e voltar para a terra de origem.

O Jornal, Lisboa, 2 de Novembro de 1990.

Sunday, September 19, 2010

Rocha Peixoto, OS PUCAREIROS DE OSSELA (1908)

As aptidões do exilado de Barbeita e dum dos oleiros do Mosteiro -- cujo pai já fora barrista de fama e galardoado na Exposição cerâmica do Palácio de Cristal, em 1882 -- confirmam os vaticínios sobre os progressos formais e decorativos do vasilhame popular, se outro fosse o aprendizado e mais remuneradora a ocupação. Despremiada, porém, como se sabe, e impotente na concorrência com outros artefactos, mesmo a despeito da sua inverosímil barateza, esta olaria regional em breve sucumbirá, restando apenas na geração que passa a reminiscência dos antigos «paneleiros», ou, como mais frequentemente os denominam, dos pucareiros da Ossela.
Rocha Peixoto, «Os pucareiros de Ossela», Etnografia Portuguesa (Obra Etnográfica Completa), edição de Flávio Gonçaves, Lisboa, Publicações Dom Quixote, «Portugal de Perto» #20, 1990.

Monday, November 02, 2009

outras palavras - O TRABALHO (1925)

O trabalho... Devo-lhe as mais voluptuosas horas da minha vida. Horas de solidão, horas profundas, nas quais a alma sente melhor o vácuo pânico da Eternidade. Horas em que tudo se sublimiza, como se estranho condão presidisse à roda lenta dos ponteiros. Há poalha luminosa, acoirisada, oculta sob a película das minhas pupilas. E esqueço tudo que é mesquinho, inferior.
Ferreira de Castro, A Epopeia do Trabalho, Lisboa, Livraria Renascença, 1925.

Tuesday, October 06, 2009

Rocha Peixoto, OS PUCAREIROS DE OSSELA (1908)

Para fixar a lembrança desta rústica profissão moribunda, uma breve anotação tem seu lugar. Os actuais oleiros empregam dois barros, necessários para a plasticidade e consistência; um buscam-no em Lordelo, freguesia de Vila Chã do Cambra e o outro em Bustelo do Caima, na freguesia de Ossela. Misturados e pisados a maço e em seco numa pia de pedra, peneirados depois e por fim amassados à mão e com a água que baste, está pronta a pasta para ser modelada. A roda, assente e movente sobre o eixo do trabul, é a mesma, em configuração e dimensões, que se encontra nos arredores de Amarante e Baião (Portugalia, II, 75). Com o fanadouro (Id., 76) alisam as superfícies. E uma vez secas as loiças, a cocção efectua-se em covas (Id., 76 e fig. 5), e caruma, e abafando-se a fornada com terra antes de se levantar definitivamente o vasilhame.


Rocha Peixoto, «Os pucareiros de Ossela», Etnografia Portuguesa, organização, prefácio, notas e bibliografia de Flávio Gonçalves, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1990, p. 315.

Monday, August 10, 2009

Rocha Peixoto, OS PUCAREIROS DE OSSELA (1908)

Vão a desaparecer os ceramistas populares da freguesia de Ossela, no concelho de Oliveira de Azeméis e distrito de Aveiro. Do não mui remoto e numeroso grupo de oleiros subsistem apenas dois no lugar do Mosteiro, da freguesia aludida, e outro, de lá destacado, no lugar de Barbeita, freguesia de Castelões e concelho contíguo de Macieira de Cambra. É, pois, uma indústria local que se extingue à míngua de recursos. A exiguidade dos lucros desviou os oleiros para outras ocupações, limitando-se os que sobrevivem a venderem os seus púcaros negros nas feiras, e associando interpoladamente alguma agricultura ao seu descaroável mister.

Rocha Peixoto, «Os pucareiros de Ossela», Etnografia Portuguesa, edição de Flávio Gonçalves, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1990, p.315.

Wednesday, March 18, 2009

de passagem - do «Pórtico» de A LÃ E A NEVE (1947)

Os primeiros teares criaram-se, em já difusos e incontáveis dias, para a lã que produziam os rebanhos dos Hermínios. O homem trabalhava, então, no seu tugúrio, erguido nas faldas ou a meio da serra. No Inverno, quando os zagais se retiravam das soledades alpestres, os lobos desciam também e vinham rondar, famintos, a porta fechada do homem. A solidão enchia-se dos seus uivos e a neve reflectia a sua temerosa sombra. A serra, porque só a pé ou a cavalo a podiam vencer, parecia incomensurável, muito maior do que era, e de todos os seus recantos, de todos os seus picos e refegos brotavam superstições e lendas -- histórias que os pegureiros contavam, ao lume, a encher de terror as noites infindas.

Ferreira de Castro, A Lã e a Neve, 15.ªedição, Lisboa, Guimarães Editores, 1990.

Wednesday, February 11, 2009

Roberto Nobre - OS PESCADORES (1925)

Ferreira de Castro e Roberto Nobre, A Epopeia do Trabalho

Lisboa, Livraria Renascença, 1926, p. 11

Sunday, February 18, 2007

Dos jornais #1 - Boletim Interno da Sociedade Cooperativa Piedense


FERREIRA DE CASTRO
50 Anos ao serviço da cultura
«Eu conheço muitas lápidas, tenho andado muito, sou um pouco judeu errante... Mas duas das lápidas que mais impressionaram o meu coração, duas lápidas que me causaram impressão mais profunda, foram: a primeira num edifício de Lisboa, numa casa regional, onde entre outros está o nome de uma pessoa que eu amei imenso. Eu não sabia que esse nome estava lá, mas um dia ao entrar e ao vê-lo fiquei profundamente comovido.* Outra sucedeu agora ao subir as escadas da vossa instituição. Ao ver aquele lápida que fala de sapateiros, de tanoeiros, da carpinteiros, de caixeiros; que fala naqueles que têm ganho o seu pão sem saber qual é o seu verdadeiro nome futuro. Essa lápida que nos fala de homens humildes, mas que criaram uma instituição, hoje tão grande, impressionou-me profundamente.
/////
Sempre, sempre encontro, quando realmente a vida parece fugir, um grande conforto que é certeza de que todos nós contribuímos um pouco, cada um dentro da sua esfera, para que o Mundo seja efectivamente melhor.»
(do discurso de Ferreira de Castro)
proferido no dia 27 de Abril,
na nossa cooperativa.
Sociedade Cooperativa Piedense -- Boletim Interno, n.º 18, Cova da Piedade, Junho de 1966, p. 1
Foto: Castro discursando na Sociedade Cooperativa Piedense, tendo por detrás uma lápida com a inscrição dos «Princípios de Rochdale», de 1844, uma das bases do cooperativismo
* Alusão a Diana de Liz (Maria Eugénia Haas da Costa Ramos), primeira companheira de Ferreira de Castro, de 1927 até à sua morte prematura, em 1930. O local será certamente a Casa do Alentejo, pois ela nascera em Évora, em 1894.