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Tuesday, April 07, 2020

A chegada do Paquete PÁTRIA a 1 de Janeiro de 1948


Documentário de Aníbal Contreiras apresentando a viagem de entrega do Paquete PÁTRIA, de Clydebank para Lisboa, onde entrou pela primeira vez a 1 de Janeiro de 1948. Faz parte da colecção da Cinemateca Nacional, mas está incompleto e sem som. De qualquer forma é um documento notável e pode ser visualizado aqui

Texto e imagens /Text and images copyright L.M.Correia. Favor não piratear. Respeite o meu trabalho, se descarregar imagens para uso pessoal sugere-se que contribua para a manutenção deste espaço fazendo um donativo via Paypal, sugerindo-se €1,00 por imagem retirada. Utilização comercial ou para fins lucrativos não permitida (ver coluna ao lado) / No piracy, please. If photos are downloaded for personal use we suggest that a small contribution via Paypal (€1,00 per image or more). Photos downloaded for commercial or other profit making uses are not allowed. For other posts and images, check our archive at the right column of the main page. Click on the photos to see them enlarged. Thanks for your visit and comments. Luís Miguel Correia

Tuesday, July 04, 2017

Os cargueiros HORTA e VILA DO PORTO

A Companhia de Navegação Carregadores Açoreanos tinha sede em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, e havia sido constituída a 15 de Março de 1920 tendo iniciado no ano seguinte as suas carreiras para Inglaterra e o Norte da Europa transportando ananases. Com a segunda guerra mundial os Carregadores Açoreanos alargaram a actividade aos Estados Unidos da América com a linha de Nova Iorque, estabelecida em 1940 e que seria mantida até 1985, quando da liquidação da CTM.
Terminada a guerra em 1945 os Carregadores Açoreanos encomendaram a estaleiros holandeses e britânicos a construção de quatro navios rápidos de carga e passageiros de 3.900 toneladas de porte bruto para a linha de Nova Iorque, tendo o VILA DO PORTO sido o último a ser entregue, no Verão de 1949. 
“Na sua primeira viagem à América, o novo navio (de carga e passageiros) HORTA chegou a Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, na quarta-feira, dia 2 de Março de 1949.” O Jornal do Comércio (de 4-03-1949) noticiou que “a bordo seguia o director-delegado (dos Carregadores Açoreanos), Dr. Luís Tavares, que embarcou em Lisboa. Os corpos gerentes (da empresa armadora) foram ao encontro do navio fora do porto, fazendo aquele uma prova de velocidade , em que atingiu 17 milhas. Numerosas girândolas de foguetes e morteiros assinalaram a entrada do barco no porto. A nova unidade era aguardada no molhe Salazar por muitos curiosos.”
O Jornal do Comércio informava ainda que no Sábado o HORTA seguiria em “viagem de cortesia para a cidade da Horta, na ilha do Faial” a fim de ser homenageado “por usar aquele nome”. De facto o HORTA esteve na cidade da Horta pela primeira vez a 6 de Março, em ambiente de festa. De seguida voltou a Ponta Delgada “com os directores”, largando depois para Nova Iorque. 
O n/m HORTA era um navio bonito. O casco era semelhante aos dos dois navios anteriores da companhia, RIBEIRA GRANDE e MONTE BRASIL, construídos na Holanda, mas o casario e chaminé apresentavam linhas mais conservadoras, tipicamente britânicas. Com cascos cinzentos claros, linha de água verde, mastros amarelos e chaminés brancas com tope preto, estes navios dos Carregadores pareciam iates. O HORTA navegou durante mais de 30 anos e acabou por ser desmantelado em Alhos Vedros em 1981. Prestou bons serviços e deixou saudades. Ver as características e ficha histórica do HORTA aqui.
Ao contrário do HORTA, infelizmente o VILA DO PORTO teve uma carreira curta, terminada de forma acidentada por encalhe por fora do molhe norte do porto de Leixões, em resultado do embate no rochedo "Leixão Grande" às 05H20 de 20 de Março de 1955, quando efectuava a sua vigésima oitava viagem iniciada em Lisboa na véspera, com destino a Nova Iorque e escalas em Leixões, Funchal, Ponta Delgada e Angra do Heroísmo, com carga geral composta essencialmente por cortiça e conservas de peixe. O navio preparava-se para entrar em Leixões com mau tempo e visibilidade muito fraca, tendo-se marcado como o farol da ponta do Esporão um projector luminoso instalado nessa noite para ajudar ao desencalhe da lancha de fiscalização das pescas N.R.P. CORVINA, que por sua vez tinha encalhado após garrar dentro do porto numa zona de areia junto ao molhe norte horas antes da perda do VILA DO PORTO. O navio dos Carregadores Açoreanos ficou preso no Leixão a meio navio com a proa e popa a flutuar, batido fortemente pelo mar "muito adornado a estibordo, com a casa da máquina alagada, jogando fortemente e batido violentamente pelas vagas que o atravessavam de estibordo para bombordo, alguns camarotes das superestruturas já alagados (...) julgou-se o risco de o navio partir e afundar-se, pelo que o capitão ordenou os pedidos de socorro que foram feitos com o apito e lançamento de foguetões", conforme descrito no Protesto de Mar assinado pelo capitão e tripulantes do VILA DO PORTO, depositado na capitania do porto de Leixões no dia 21 de Março de 1955. O navio foi socorrido de imediato, estabeleceram-se dois cabos de vai-vem, pelos quais se desembarcaram todos os tripulantes, o passageiro e a mascote de bordo, a cadela Negrita que depois foi adoptada por um director da agência David de Pinho. O Comandante foi o ultimo a abandonar o navio. O casco do VILA DO PORTO partiu-se na tarde de 20 de Março e o mar destruiu o navio em poucos dias, perdendo-se a carga e os haveres dos tripulantes. Em sua substituição foi comprado na Suécia o navio AÇORES em 1958, cuja aquisição foi autorizada pelo Ministro da Marinha mediante compromisso do armador de mandar construir outro cargueiro em estaleiros nacionais, o que de facto aconteceu com a construção em Viana do Castelo, em 1959-1960, do n/m PONTA GARÇA. 
A Companhia de Navegação Carregadores Açoreanos, que operou sempre carreiras regulares internacionais em concorrência com armadores estrangeiros, foi comprada em 1971 pela Empresa de Tráfego e Estiva S.A., de Lisboa, que no ano anterior havia adquirido a Insulana à Família Bensaude e em Dezembro de 1972 foi integrada na Empresa Insulana de Navegação, por fusão. Esta por sua vez fundiu-se em Fevereiro de 1974 com a Companhia Colonial, dando origem à CTM – Companhia Portuguesa de Transportes Marítimos, cuja vida infelizmente foi breve. Nacionalizada em 1975 e mal administrada pelo Estado Português acabou por ser liquidada em Maio de 1985 por altura da segunda intervenção do Fundo Monetário Internacional em Portugal.
Características e história do VILA DO PORTO aqui.
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Thursday, August 20, 2015

Série de artigos "Navios do Despacho 100"

Tenho vindo a publicar nas diversas edições da REVISTA de MARINHA uma série de artigos dedicados às características e história de cada um dos navios do Despacho 100. O último artigo publicado é dedicado ao paquete MOÇAMBIQUE de 1949, que pode ser lido na integra na RM e cuja ficha técnica e histórica foi agora publicada no meu Diccionário de Navios Portugueses, que agora se reactiva. Entretanto hoje estou a escrever a história do 36º navio do Despacho 100, o mini-paquete LURIO, da Companhia Nacional de Navegação, que em 1968 passou para a frota da Insulana com o  nome FAIAL e navegou até 1973. Destina-se á próxima Revista de Marinha, edição de Agosto e Setembro, em produção.
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Monday, August 17, 2015

Nos 70 anos do DESPACHO 100...

Paquete FUNCHAL atracado ao cais no estaleiro da Margueira a 10 de Agosto de 2015


No dia em que passaram 70 anos da data de publicação do DESPACHO 100 fui comemorar de forma activa essa efeméride: passei o dia no Tejo a fotografar a navegação portuguesa presente no porto de Lisboa. 
Porta-contentores MONTE BRASIL da Transinsular


Parafraseando as palavras de Américo Tomás reproduzidas no artigo anterior, fui registar os quadros possíveis da nossa actual "miséria marítima", com destaque para a vil tristeza proporcionada pela imagem dos paquetes FUNCHAL e PORTO parados à espera de futuro.
n/m PONTA DO SOL, um dos poucos navios ainda em serviço com registo convencional português


Começámos pelo FUNCHAL na Margueira, depois fotografei os porta-contentores da carreira das Ilhas MONTE BRASIL, PONTA DO SOL, INSULAR e FURNAS, acabando a viagem sentimental em busca da nossa maritimidade perdida na Matinha onde está o paquete PORTO
n/m INSULAR, da Transinsular, que se encontra fretado à Box Lines do Grupo Sousa


Porta-contentores FURNAS da Mutualista Açoreana, empresa do Grupo Bensaude, 
nome ligado a navios de comércio desde 1830


Fotografias de Luís Miguel Correia registadas no Tejo a 10 de Agosto de 2015.


 Paquete PORTO, ex-ARION, atracado à ponte-cais da Matinha a 10 de Agosto de 2015 


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Saturday, August 15, 2015

A propósito do DESPACHO 100

O paquete VERA CRUZ, que entrou ao serviço em Março de 1952, foi o maior navio da frota do DESPACHO 100. Fotografia tirada na Baía da Guanabara na década de 1950

As temáticas associadas ao Despacho 100 do ministro Américo Tomás e a história da nossa Marinha Mercante em geral fascinam-me desde há muito. O tal Despacho foi publicado há 70 anos e entretanto criou-se um mito à sua volta. Curiosamente acho que o personagem principal, para muitos uma figura maldita da Segunda República, não incentivou esse fenómeno, tendo mantido sempre uma postura realista e crítica face ao aproveitamento feito pelos serviços de propaganda do regime. Américo Tomás teve sempre presente as fragilidades do sector e a falta de maritimidade real dos portugueses, como se denota em muitos dos seus textos, escritos de forma algo paternalista mas muito verdadeiros. Dos muitos escritos do antigo ministro da marinha e Presidente da República, aqui fica um que finaliza um artigo feito por ocasião dos 25 anos da Junta Nacional da Marinha Mercante, da qual foi o primeiro Presidente em 1940:

"A lição da guerra (a segunda guerra mundial) e a política solidamente seguida pela Junta (Nacional da Marinha Mercante) criaram o ambiente propício à renovação da nossa frota mercante, renovação em escala sem paralelo nos últimos dois séculos da nossa história. Essa espectacular renovação, espectacular para nós, evidentemente, além das muitas vantagens já colhidas, permitiu a deslocação rápida de avultados contingentes militares e material de guerra para Angola, Guiné e Moçambique, praticamente impossíveis noutras condições. E este é, seguramente, o melhor serviço de que a Marinha Mercante se pode orgulhar e é, ao mesmo tempo, a consagração imprevista de uma política tenazmente seguida.
Oxalá não sejam esquecidas, no futuro, as lições destes últimos vinte e cinco anos e se não caia, mais uma vez, na miséria marítima em que a Segunda Guerra Mundial nos surpreendeu. Seria lamentável, depois de tão grande e continuado esforço, regressar à vil tristeza do passado"

- Américo de Deus Rodrigues Thomaz (contra-almirante) in "No 25º aniversário da criação da Junta Nacional da Marinha Mercante, Lisboa, 1965"

A conotação de instrumento de poder colonial gerou o ódio de muitos governantes da terceira república face à Marinha Mercante, o que aliado à ignorância e falta de cultura marítima condenaram o sector ao desaparecimento, tendo-se ultrapassado em 40 anos de DESMARITIMIZAÇÂO os estádios possíveis de miséria marítima, reinventando-se a vil tristeza do presente, sem grande futuro...
Américo Tomás foi o governante que melhor compreendeu a importância do Mar e dos Navios nos últimos 250 anos de história portuguesa. Não lhe chamo aqui político porque o antigo Presidente foi essencialmente um Marinheiro que entrou na Política por dever, à luz dos valores da época, apesar de contrariado. O muito que fez pelas marinhas e pelo mar em Portugal está riscado da história recente e isso é injusto e manifestação de ingratidão. Obviamente merecemos a actual vil tristeza, bem nos esforçámos por aqui chegar.
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Thursday, August 13, 2015

DESPACHO 100 de 10 de Agosto de 1945



Foi há 70 anos que o Ministro da Marinha Américo Thomaz publicou o seu famoso DESPACHO nº 100 de 10 de Agosto de 1945.
Quarenta nos depois publiquei o artigo que se apresenta em imagens digitais, e que desmontando o mito criado à volta do assunto, procurou fazer um balanço real do que foi o Despacho 100.
Já passaram 30 anos desde que escrevi este artigo, um de entre centenas com os quais tenho procurado contrariar o espírito de negação com que os portugueses persistem em viver face aos negócios marítimos. Esqueceu-se a importância económica e estratégica dos transportes marítimos, ainda mais de realçar num País como o nosso com territórios insulares espalhados pelo Atlântico. Falha o interesse nacional, progride a ignorância e o analfabetismo marítimo. Sem navios, armadores e marinheiros portugueses activos não há regresso ao mar. O actual estado de omissão custou já a perda de mais de 50.000 empregos e desequilibra as contas externas em mais de 500 milhões de euros por ano, ninguém sabe ao certo os valores exactos. Não há um único navio-petroleiro português, e as poucas unidades ainda ao serviço com registo convencional português fazem as carreiras das Ilhas. Haja vergonha...

Para ler as páginas deste artigo que saiu publicado na REVISTA DE MARINHA de Setembro de 1985, carregar sobre as imagens para as ampliar. Falta a página 10 que não reproduzi por ser um anúncio de página da Soponata. Mais textos e imagens dedicados ao DESPACHO 100 aqui...


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Despacho 100 promulgado há 66 anos

Navio de carga BENGUELA, primeiro dos 56 navios do Despacho 100 a entrar ao serviço
Há quatro anos voltei a referir o DESPACHO 100, dado que agora passam 70 anos de publicação, aqui fica esta informação actualizada a 13 de Agosto de 2015:
Foi há exactamente 66 anos, no dia 10 de Agosto de 1945 que o Ministro da Marinha Américo Thomaz promulgou o seu Despacho nº 100, documento que ainda hoje se associa ao período de ressurgimento da Marinha de Comércio no período que se seguiu à segunda guerra mundial.
Em 1944, o então Comandante Américo Thomaz substituiu Ortins Bettencourt na pasta da Marinha, prosseguindo a política de “Regresso ao Mar” com diversas iniciativas importantes de fomento marítimo, cuja concretização foi possível com o fim da Segunda Guerra Mundial. 
A nossa frota de comércio de longo curso era constituída a 1 de Janeiro de 1945 por 61 navios com 225.901 toneladas de arqueação bruta e 307.871 toneladas de porte bruto. 
A 10 de Agosto de 1945 foi promulgado pelo Ministro da Marinha o “Despacho 100”, que enunciava os princípios básicos da reorganização da Marinha de Comércio e renovação da frota nacional, com a construção de 70 navios, com 376.300 toneladas de porte bruto. Fazia-se igualmente a distribuição de 12 carreiras, classificadas de interesse nacional, a assegurar pelos 6 armadores mais importantes, estipulando os navios destinados a cada um. 

Paquete MOÇAMBIQUE (1949-1972) um dos quatro navios de passageiros 
construídos para a carreira da África Oriental


O documento consagrava a implementação de uma nova linha regular com grande significado histórico, para o Extremo Oriente, atribuída à Companhia Nacional de Navegação, que seria inaugurada em Abril de 1952 e mantida principalmente pelos paquetes ÍNDIA e TIMOR até 1974. Esta carreira ligava o Norte da Europa e Lisboa à Índia Portuguesa, Macau e Timor e era subsidiada pelo Estado. 
O Despacho 100 foi ajustado e complementado por despachos posteriores, decorrendo a sua execução nos 10 anos seguintes, até à chegada a Lisboa do novo paquete NIASSA, no dia 10 de Agosto de 1955. 
Foram assim construídos 56 navios, com 339.407 toneladas de porte bruto, no valor de 3.105.934 contos. Com a nova frota pretendia-se dispor de capacidade para assegurar cerca de 60 por cento das necessidades portuguesas de transporte marítimo com navios próprios, mas nunca se ultrapassou os 37 por cento. 
Ao Despacho 100 seguiram-se outras medidas importantes, como a criação do Fundo de Renovação da Marinha Mercante, que assegurava o financiamento dos navios, e da Escola de Marinheiros e Mecânicos da Marinha Mercante, em 1946. A 13 de Junho de 1947, foi constituída a SOPONATA – Sociedade Portuguesa de Navios Tanques, empresa especializada no transporte marítimo de produtos petrolíferos, cuja frota teve a maior relevância, pela dimensão atingida e pelas vantagens económicas decorrentes da sua operação. 
A Soponata manteve-se em actividade durante 57 anos, e foi proprietária de 42 navios, quase todos construídos por encomenda. Contribuiu de forma muito importante para o desenvolvimento da indústria naval em Portugal, construindo-se para a SOPONATA 16 navios tanques em estaleiros nacionais, incluindo as 3 unidades da classe N, NEIVA, NOGUEIRA e NISA, cada um com 323.100 toneladas de porte bruto, os maiores navios portugueses de sempre. A SOPONATA (com a frota respectiva) foi vendida a interesses estrangeiros em Maio de 2004. 

O paquete VERA CRUZ de 1952 foi o maior navio do Despacho 100


O Despacho 100 “assentou que interessava explorar regularmente (…) as seguintes carreiras: Ilhas Adjacentes, Cabo Verde e Guiné, S. Tomé e Angola, Moçambique, Índia, Macau e Timor, Norte de África (fosfatos), Inglaterra e Norte da Europa (carvão, sulfato de amónio e carga geral), Estados Unidos (carga geral), Brasil, Argentina (trigo), Chile (nitratos), Golfo do México (combustíveis líquidos).” Previa-se a construção de 9 navios mistos de passageiros e carga, 4 navios-tanques, 45 navios de carga e mais 12 navios costeiros para cabotagem em África e nas Ilhas Adjacentes. 
Em paralelo com a execução do plano associado ao Despacho 100, desenvolveram-se outras iniciativas, de que resultou a construção de mais navios (extra-plano), caso do paquete SANTA MARIA, diversos navios-tanques para a SOPONATA ou o navio-fruteiro FUNCHALENSE de 1953, primeiro cargueiro saído dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo. Nesse ano de 1953 estabeleceu-se a carreira da América Central, iniciada pela CCN com o SERPA PINTO, que obteve sucesso imediato e depois foi mantida pelo SANTA MARIA até Abril de 1973. 
Um problema que o Governo teve muita dificuldade em resolver na década de 1950 por resistência passiva dos armadores foi o do transporte de passageiros para África. Os 4 novos paquetes introduzidos naquele serviço em 1948-1949, PÁTRIA, IMPÉRIO, ANGOLA e MOÇAMBIQUE, não tinham capacidade para responder a uma procura crescente apesar de equipados temporariamente com terceira classe suplementar instalada nas cobertas dos porões, o que levou o Almirante Américo Thomaz a publicar diversos despachos, a partir de Junho de 1951, no sentido de se reforçar a frota de paquetes na carreira de África com dois navios de 20.000 toneladas de arqueação bruta, 20 nós de velocidade e 1.000 passageiros, semelhantes aos da linha do Brasil. 
O custo elevado dos navios de passageiros propostos não entusiasmou as companhias Nacional e Colonial que tentaram rodear o problema encomendando cada uma mais um navio misto, UIGE e NIASSA. 
Só em 1957 é que a CNN e a CCN resolveram finalmente seguir as orientações do Governo, encomendando os paquetes PRÍNCIPE PERFEITO e INFANTE DOM HENRIQUE, que foram construídos, respectivamente, em Inglaterra e na Bélgica e fizeram as viagens inaugurais a Angola, África do Sul e Moçambique em Junho e Outubro de 1961. 

Navio de passageiros e carga NIASSA (1955-1979)


O caso da encomenda dos paquetes da linha de África reflecte o grande problema de sempre da Marinha de Comércio portuguesa: prudência excessiva dos armadores, pouco dispostos a correrem riscos, preferindo viver confortavelmente de tráfegos protegidos por reserva de bandeira e outros instrumentos proteccionistas do Estado. Mesmo no pós-guerra, período áureo da indústria de transportes marítimos portugueses, sobressaia essa limitação. Neste caso dos paquetes, perderam-se perto de 10 anos e os navios acabaram por operar apenas durante 14 anos. 
Outro problema significativo foi o do transporte de passageiros para a Madeira e Açores, servido então por navios ultrapassados tecnicamente, dado que a Empresa Insulana não chegou a mandar construir os dois paquetes de 4.500 toneladas de porte considerados no Despacho 100: a questão prolongou-se até 1959, quando foi finalmente mandado construir na Dinamarca o paquete FUNCHAL, que entrou ao serviço em Novembro de 1961. 
Diversas outra iniciativas propostas pelo Ministro Américo Thomaz na década de 1950, como o estabelecimento de serviços de passageiros à volta de África e de uma linha Lisboa – Nova Iorque, não teriam concretização. Entretanto em 1958 o impulsionador do Despacho 100 passou a ocupar o cargo de Presidente da Republica e foi substituído pelo Almirante Fernando Quintanilha na pasta da Marinha, abrandando a pressão governamental no sentido de continuar o desenvolvimento da Marinha de Comércio. 
Entre 1958 e 1968 o crescimento da frota foi mais lento, limitado aos paquetes já referidos e a alguns navios de carga, como o LOBITO de 1959, o PONTA GARÇA de 1960 e o BEIRA de 1963, cujas construções foram financiadas ao abrigo dos planos de fomento. 
A frota de petroleiros continuou a desenvolver-se em tonelagem e número de navios, e em Março de 1960 foi constituída a Sacor Marítima, companhia armadora especializada na operação de navios-tanques vocacionados para o transporte de produtos refinados e gás, que veio a ter uma certa importância, desenvolvendo frota própria com navios especializados durante os 50 anos em que exerceu actividade armadora. 

PRÍNCIPE PERFEITO (1961-1976), o maior dos navios de passageiros 
da antiga Companhia Nacional de Navegação


O último navio da frota desta empresa, o butaneiro GALP LISBOA, de 1984, foi vendido em 2009, passando a Sacor Marítima a operar exclusivamente com navios estrangeiros, afretados a tempo ou à viagem. 
Os anos sessenta do século XX trouxeram uma verdadeira revolução aos transportes marítimos, com a especialização dos navios e a contentorização progressiva das cargas. 
Esta tendência começou a manifestar-se em Portugal de forma tímida. Em 1964 a Sociedade Geral adquiriu um primeiro navio graneleiro para transporte de cereais, o MONCHIQUE ex-BORNES, e em 1967 converteu-se o cargueiro COLARES em navio-frigorífico para transporte de peixe. A tendência para a especialização continuou em 1968 com a entrada em serviço dos primeiros butaneiros e de navios tanques para transporte de vinho a granel. 
Em 1966 foram adquiridos a Israel os dois últimos paquetes a integrar a frota portuguesa, os gémeos AMÉLIA DE MELLO e ANGRA DO HEROÍSMO, bons navios de 10.000 toneladas de arqueação bruta equipados com turbinas a vapor e com capacidade para 320 passageiros, comprados respectivamente pela Sociedade Geral e Empresa Insulana, e utilizados nas linhas de Cabo Verde e Angola, e Madeira e Açores. 
O esforço militar de defesa do Ultramar a partir de 1961 encontrou na Marinha de Comércio um vector fundamental, com a utilização permanente de diversos navios de passageiros no transporte de tropas e material de guerra, o mais importante dos quais foi o VERA CRUZ. 
Para apoiar a indústria naval, o Governo impôs sempre que possível tecnicamente que os navios de comércio fossem construídos em estaleiros nacionais, em Lisboa (estaleiro da CUF – Lisnave e Arsenal do Alfeite), Viana do Castelo, São Jacinto e Mondego. 
Na década de sessenta sairam dos nossos estaleiros alguns bons navios, como os petroleiro GERÊS (Alfeite) e LAROUCO (Lisnave), os cargueiros LOBITO, PONTA GARÇA, PORTO e MALANGE (Viana), ou os bananeiros MADEIRENSE e FUNCHALENSE (S. Jacinto), mas o ritmo de construção permitiu apenas um crescimento muito ligeiro da actividade. 
Em 1968 o Almirante Manuel Pereira Crespo foi empossado na pasta da Marinha, numa fase em que a frota de comércio caminhava para a obsolescência em bloco, com a maioria dos navios do tempo do Despacho 100 a chegar aos 20 anos de idade. 
Sem o carisma paternalista associado ao Almirante Thomaz, Pereira Crespo tornou-se rapidamente um entendido nos assuntos da Marinha Mercante, imprimindo ao sector uma nova dinâmica de renovação e crescimento. 
Uma das primeiras medidas de fundo tomadas foi a de propor a reestruturação das grandes empresas armadoras em dois grupos, a Companhia Nacional de Navegação, que absorveu a frota e serviços da Sociedade Geral por fusão com esta em 1972, e a Companhia Portuguesa de Transportes Marítimos (CTM), que resultou da fusão em Fevereiro de 1974, da Companhia Colonial de Navegação com a Empresa Insulana de Navegação. 
A Insulana havia sido vendida pela família Bensaude ao Grupo Tráfego e Estiva em 1970, após o que recebeu autorização do Governo para diversificar a actividade, expandindo a frota e serviços com a abertura de carreiras regulares para África e a reconversão do paquete FUNCHAL para cruzeiros turísticos. 
Paquete FUNCHAL, único navio que resta da antiga frota portuguesa, que se encontra imobilizado em Lisboa por ter falhado o projecto lançado em 2013 pela Portuscale Cruises 
apoiado pelo Montepio

O Ministro Pereira Crespo procurou acelerar a internacionalização da actividade dos transportes marítimos portugueses, em resultado do que se inauguraram novos serviços ligando o Norte da Europa e o Mediterrâneo a Angola e Moçambique, e entre Angola, os Estados Unidos e o Canadá. Na cabotagem europeia expandiu-se a rede de serviços regulares entre Lisboa e Leixões, o Mediterrâneo e o Norte da Europa, sendo introduzidos os primeiros porta-contentores em 1972. Ainda no campo da navegação especializada, refira-se a constituição de novas empresas, como a ECONAVE, a TRANSFRIO, a TRANSFRUTA, a TRANSNAVI e a SOFAMAR, destinadas ao transporte de contentores, de carga frigorífica e cargas sólidas a granel. 
O Grupo SG / CNN procurou expandir as suas linhas regulares, passando a operar para os Estados Unidos e Brasil, ao mesmo tempo que em 1971 constituiu empresas associadas em Luanda e Lourenço Marques, que passaram a assegurar os serviços locais de cabotagem e a participar nas carreiras de longo curso com os navios N'GOLA e PORTO AMÉLIA registados em Luanda e Lourenço Marques, respectivamente. 
O ano de 1968 marcou o início do declínio da frota de navios de passageiros, compensada por nova renovação da frota de cargueiros, recorrendo-se em especial à compra de navios recentes em segunda mão, no total de 70 navios até 1974, incluindo construções novas. Um sector que cresceu acima da média mundial neste período foi o dos navios petroleiros, com a SOPONATA a reequipar a frota com 4 navios de 135.000 toneladas DW e a avançar com a construção de 3 gigantes de 323.000 toneladas de porte. 
Entretanto prosseguia a venda da maior parte dos navios de passageiros em 1972-1974, e dos cargueiros do Despacho 100 mais antigos. 
Um factor que contribuiu para o abate dos paquetes foi a redução dos fretamentos para transporte de tropas, reduzidos a viagens à Guiné a partir de 1972, por o movimento de militares se ter passado a fazer por via aérea, na sequência da compra de 2 Boeing 707 pela Força Aérea Portuguesa. Ainda se considerou a adaptação de um ou outro navio para cruzeiros, mas apenas o FUNCHAL viu concretizada tal transformação. 
Marco importante neste período de ressurgimento da Marinha de Comércio portuguesa foi registado a 21 de Maio de 1973 quando a frota ultrapassou pela primeira vez 1 milhão de toneladas de arqueação bruta, na sequência da entrega nesse dia à SOPONATA, do navio-tanque MARÃO. 
Ainda em 1973 foram inauguradas as novas instalações da Escola Náutica, em Paço D'Arcos, com instalações modelares, o que permitiu a sua transferência da rua do Arsenal, no Ministério da Marinha. 
Infelizmente na mesma altura começaram a surgir factores negativos, a começar pela primeira crise energética, seguida, em Abril de 1974 pela mudança de regime em Lisboa, entrando-se num período de agitação política e social que afectou muito negativamente a Marinha de Comércio nacional.  frota.
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DESPACHO 100 HÁ 62 ANOS

Há oito anos, em Agosto de 2007 recordei a publicação do DESPACHO 100 nos termos que entretanto recordo: "Há exactamente 62 anos, o então Ministro da Marinha do Governo de Salazar, Comandante Américo de Deus Rodrigues Thomaz assinou o seu Despacho nº 100, em 10 de Agosto de 1945. Este documento serviu de base à reconstrução da frota de comércio nacional, que então atravessou um período de desenvolvimento inédito entre nós."
Foi o "Regresso ao Mar", muito divulgado pelo regime do Estado Novo, que infelizmente não tem tradução nos dias de hoje, cuja realidade se define na expressão bem humorada DESPACHO ZERO proferida pelo Dr. Alberto João Jardim na inauguração, em Dezembro de 2006, do porta-contentores MADEIRENSE 3.

O então capitão-tenente Armando de Roboredo escreveu logo em 1947, a propósito do DESPACHO 100 que "nunca será de mais encarecer o actual Títular da Pasta da Marinha, (Américo Thomaz), pois esse despacho e os subsequentes foram a aurora resplandecente dos belos dias que se antevêem para a Marinha Mercante Nacional". Foram de facto belos dias. Belos eram os navios, mas foi-se tudo num fado triste da desmaritimização nacional que tem vingado nos últimos anos em Portugal.
Nota: já fui insultado publicamente ao elogiar a obra do Ministro da Marinha Américo Thomaz, no decurso de palestras sobre a Marinha Mercante em Portugal e a sua história. Não sou cultor do Passado nem do Estado Novo, mas acredito na Justiça e o Ministro prestou grandes serviços ao País. Pena não ter tido continuadores à altura.
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