Mostrar mensagens com a etiqueta Estilo. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Estilo. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Da Impassibilidade

Retrato de Maquiavel na maturidade, com o
trajo de corte que sempre envergava para
redigir as suas obras

A defesa mais sólida e constante de Maquiavel diz que ele não desejava, do coração, a amoralidade do Príncipe, apenas enunciava a condição do êxito dele, dentro do universo político que observava. O perigo maior, todavia, não se reclinava nesse princípio da falta deles, viria com a idade, através do esbatimento das adesões e repulsas que Bem e Mal despertam, ou devem despertar. Com efeito, o Tratadista escreveria que um homem de merecimento, que conheça o Mundo, à medida que o tempo passa, sente-se menos tocado pelo Bem e menos ferido pelo Mal que vê no mundo. É este daltonismo moral que eu recuso. Não gostaria de que, progressivamente, a evaporação das surpresas ditada pelo pessimismo quanto ao que a Espécie nos reserva viesse em redundar em indiferença sentimental.
Mas ocorre-me que a frieza marmórea é um traço dos formalistas. O reputadíssimo Maestro Von Büllow, se não envergava de forma extraordinária farpela de gala para produzir, pois era essa a habitual exigência de indumentária para um chefe de orquestra, calçava sempre negras luvas para dirigir a Marcha Fúnebre, de Beethoven. E também era homem de renúncia às reacções apaixonadas. Se faz impressão a forma como abdicou da Mulher, por reconhecer os Direitos do Génio a esse Wagner que lha surrupiou, já fica muito melhor na fotografia pelo que retorquiu aos incorrectos que vaiavam uma obra de Liszt por si conduzida: Não é costume nestes concertos assobiar. Os Senhores assobiadores tenham a bondade de retirar-se. O que insinuava não estarem os manifestantes a ensaiar um protesto, mas a tentar fazer música, irremediavelmente inepta.
Conclusão a retirar: a fleuma vai tanto melhor quanto menos substantivas forem as circunstâncias.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Casticismo Publicitário

Rejubilem os amadores do vernáculo. Qual mata-borrão, qual carapuça! O golpe de génio está em oferecer um Tank que não serve para matar, nem que seja uma nódoa de tinta, o que é uma mais-valia no discurso dominante do tempo, de que, infelizmente, é bom que se não averiguem as correspondências reais. Enxugador de Escrita é que é! Onde outros apenas prometem um papel limpo, este vai ao conteúdo e oferece uma escrita enxuta! Vou já comprar um, que bem preciso...
Thanks!

terça-feira, 26 de junho de 2007

Prioridades ao Olhar

O Astrónomo de Vermeer

Ele há destes dias. Se me vejo nas mais das vezes no desdém do cálculo, costuma ser o que procura sempre proveito no agir e no dizer, não tanto o da redução das coisas a fórmulas. Mas hoje vejo-me em maré de saturação das abstracções; e as marés, como sabe muita Gente, embora o não soubesse Galileu, são competentemente influídas pelos Astros. Pelo que nesta hora da minha vida me sinto a resvalar pelas fruições directas e a pôr um pouco à margem as conceptualizações, sempre sinónimo de cansaço, mas, outrossim, da necessidade de aplicar o capital do eu em investimentos mais directos do que a submersão nas erudições que fazem perder de vista o Sublime dos Objectos estudados. Como os pontos brilhantes do Firmamento, que, desprovidos de contacto, se tornam soporíferos.


De Walt Whitman:

WHEN I HEARD THE LEARN´D ASTRONOMER

When I heard the learn’d astronomer;
When the proofs, the figures, were ranged in columns before me;
When I was shown the charts and the diagrams, to add, divide, and measure them;
When I, sitting, heard the astronomer, where he lectured with much applause in the lecture-room,
How soon, unaccountable, I became tired and sick;
Till rising and gliding out, I wander’d off by myself,
In the mystical moist night-air, and from time to time,
Look’d up in perfect silence at the stars.


quinta-feira, 29 de março de 2007

Língua Independente

.



Como é diferente o falatório através da televisão! Estava o maldito que assina e se assassina posto em sossego, numa poltrona diante do Telejornal da RTP1, quando vê o experiente presidente da Associação de Estudantes da Universidade Independente minimizar o assalto à Reitoria onde ia prevalecendo a "política da chaise vide por obra e graça da Polícia Judiciária", dizendo tratar-se do feito "de alguns estudantes mais empolgados". Empolgados?? Hraaaaaam, o termo é bonito e até teve caução recente do Eng. Fernando Santos, a propósito do desempenho benfiquista após a marcação de um golo no terreno do adversário europeu. Pena que lhe não hajam pegado na palavra em todas as circunstâncias da VIDA, mas adiante. Fosse como fosse, duvidei da excelência da escolha vocabular. Lá me socorri da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira e li:
*Seguro com a mão, apanhado, agarrado.
Não me parece poder ir por aqui. É evidente que o comportamento dos arrombadores evidencia participação da condição inversa. Ainda se fosse o vice-reitor, jazendo no calabouço....
*Tirado violenta e injustamente.
Esta também não se adequa aos violentadores da porta directiva. Deve estar guardada para a propaganda do ex-Engenheiro Sócrates, a propósito do sucedido ao diploma de licenciatura.
*Aferrado.
Mas como, Senhores, se os discentes entrevistados apregoavam aos quatro ventos a sua capacidade de cortar as amarras e de zarparem para outros estabelecimentos de ensino?
*Dominado, arrebatado.
Podia bem ser esta a significação pretendida. Mas o que transmite é a reacção a algo bom, como demonstra o exemplo dado a seguir, da audiência transportada de entusiasmo pelo orador, ou o supra-citado dito do treinador das Águias. Ora, os estudantes mostravam-se tudo menos deslumbrados com a acção dos corpos regentes da instituição...
E foi então que percebi: empolgado, naquela acepção, vinha de Polga, o conhecido defesa sportinguista. Porquê? Ora, a entrada foi forçada a cargas de ombro e a pontapé. Assim faz todo o sentido, pois são esses os movimentos permitidos a um futebolista. Empolgado quereria pois dizer à maneira de Polga. O facto de ser um obstáculo de madeira (e não zona igual do corpo do adversário e a bola) a sofrer o trato referido é o que promove a palavra a figurão de estilo.

Seguiu-se uma peça jornalística sobre o wrestling no Partido Popular, em que se dizia que a Dr.ª Maria José Nogueira Pinto "saíra em colisão com o Conselho Nacional". Puro pauperismo descritivo! Como a Política em questão fazia parte desse lúgubre veículo que é o orgão máximo entre congressos, presidindo-o mesmo, parece por demais evidente que não poderia colidir com ele. Do acidente ficaria bem o auto de notícia que dissesse ter a Figura Pública referenciada sido cuspida, para sua sorte, acrescento. Demos graças ao Senhor Nosso Deus que o reporter não pertença aos quadros da Brigada de Trânsito da GNR, a bem da inteligibilidade policial da Nação.
Com este panorama, empatado por uma Sérvia de Coroa restaurada na bandeira, quiçá a anunciar novos cometimentos, fui deitar-me.