Uma Epígrafe
"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]
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quinta-feira, agosto 30, 2012
terça-feira, agosto 28, 2012
ANDAIMES (desconstruindo Babel)
| ANDAIMES por E. B. Brito |
"O mundo poderá ser salvo
se o homem desfizer a distância
que o separa da sua infância."
Cassiano Ricardo
Essa urbe vítrea funda-se
em um equívoco deliqüescente,
um desvio nos desvãos das mentes:
ruas sintáticas,
lineares, sem graça, sem crianças;
ambas carentes dos trapézios líricos
e da possibilidade do vôo..
(Permanece vitrúvio no vítreo,
esse dessonho retilíneo,
em inútil plano desonírico?)
No entanto,
toda construção em cânones é um equívoco,
um anti-Sphairos,
mesmo que côncava,
e ainda que convexa,
Isso que eles chamam nexo
é uma dislexia do oco sem eco.
Quando entenderão esses babélicos arquitetos
que o unívoco e eterno é um Ser Esférico?
"O mundo poderá ser salvo
se o homem desfizer a distância
que o separa da sua infância."
Cassiano Ricardo
Essa urbe vítrea funda-se
em um equívoco deliqüescente,
um desvio nos desvãos das mentes:
ruas sintáticas,
lineares, sem graça, sem crianças;
ambas carentes dos trapézios líricos
e da possibilidade do vôo..
(Permanece vitrúvio no vítreo,
esse dessonho retilíneo,
em inútil plano desonírico?)
No entanto,
toda construção em cânones é um equívoco,
um anti-Sphairos,
mesmo que côncava,
e ainda que convexa,
Isso que eles chamam nexo
é uma dislexia do oco sem eco.
Quando entenderão esses babélicos arquitetos
que o unívoco e eterno é um Ser Esférico?
Eurico
(poema dedicado a Oscar Niemeyer )
Imagem: ANDAIMES
um vitral abstrato, de rara beleza,
que me enviou o artista Emanuel B. Brito
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sábado, março 13, 2010
Eu-menino (pequena fauna poética)
Quando eu-menino ouvia
os lobos da ventania
soprando ovelhas nas nuvens.
Meu coração disparava
(me dava um medo esquisito,
seria isso um meu mito?)
e eu me abraçava, eu-menino,
a um vira-latas mofino,
que nem eu era, também,
franzino e desamparado.
E eu lhe dizia ao ouvido:
(não tenha medo, Bandit,
mamãe foi ali, na feira,
papai já vem do trabalho).
Quando eu estava inquieto
me acalmavam lebristas
que nadavam em garrafas
translúcidas, ornamentais.
Ornamentais, os meus saltos
de pontes imaginárias,
a mergulhar nesse rio,
heraclitiano rio,
que não parava, e não pára...
Por esse tempo ainda
me andava a alma contrita
com as sensações de meu corpo:
um tio meu criava porcos
e eu os via javalis;
Minha avó bordava rendas.
Trago os bilros dentro em mim,
e costuro pelo avesso
isso que ledes aqui.
Meu avô me dava livros:
Lobato, Andersen, Grimm.
Onde os trago?
E eu lá sei!
Mas emoções são perigos:
um dia quase me mato,
(se não fosse a borboleta,
a cochilar no casulo,
que me chamou a atenção...)
quase que, pássaro, pulo,
em queda livre e ligeira
do alto da pitombeira.
Mas não sabia voar.
Dançar? Dançar eu sabia,
essa dança ligeirinha
(umbigadas/rock and roll)
dos bodes nas cabritinhas,
bicho-do-mato que sou.
Vou lhes contar um segredo
há muito tempo guardado:
as emoções são crianças,
aprendem fácil a brincar
e gestam lendas e mitos
(que lhes sopram anjos bonitos)
de lobos, nuvens, cabritos.
Esses ditos viram escritos
que gente velha e sisuda
vai seu mistério estudar...
Se isso é poesia?
E eu sei lá!
*
A imagem é um esboço em papel de seda
para um óleo sobre tela de autoria
de meu saudoso avô Luiz Eurico de Melo
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sertão profundo/mangue interior
sábado, dezembro 05, 2009
ALLANA (uma criança índigo)
A criança vê fundo e antes,
um mundo feito em relações desconcertantes.
Faz a eternidade,
agarra o instante,
consegue ver até, olhos ausentes,
o modo sutil,
em que do sono da brasa, latente,
brota o mel...
A criança é mãe do sonho,
sabe os secretos sentidos,
tem a ciência da fauna
e a presciência da flora.
Conhece o segredo antigo
que da pequena semente
faz surgir o baobá.
Os gregos chamavam physis
e os romanos, natura;
e a criança, sem dar nomes,
brinca com as coisas futuras;
desmonta o reino dos homens,
governa o reino do céu,
paira com D'us sobre as águas,
toma banho de chapéu.
A criança doma o medo,
rasga o finíssimo véu
sobre o sentido da Vida:
Só ela sabe o segredo,
o indizível segredo,
com que a brasa gera o mel.
***
Brinca com o amigo invisível
e me faz brincar também
Vejo em sua aura azulada
a esperança que me vem
num mundo novo futuro
de harmonia, paz e bem...
**********************
Em tempo:
a foto de Allana foi feita pela Paula Barros, ano passado, enquanto assistíamos ao Baile do Menino Deus, auto natalino que é apresentado no Recife Antigo. Allana olha fixamente para o palco, onde dança o Zabelê, linda criatura imaginária, que vem visitar o recém-nascido.
quarta-feira, novembro 11, 2009
ALCYONE (monocromia índigo)
Falando Deus a Jó, disse-lhe:
(...) Poderás tu ajuntar as delícias do Sete-estrelo ou soltar os cordéis do Órion?
Ou produzir as constelações a seu tempo, e guiar a Ursa com seus filhos?
Sabes tu as ordenanças dos céus, ou podes estabelecer o domínio deles sobre a terra?
Ou produzir as constelações a seu tempo, e guiar a Ursa com seus filhos?
Sabes tu as ordenanças dos céus, ou podes estabelecer o domínio deles sobre a terra?
.............................................. (Livro de Jó cap. 38; 31-33) *ver nota
Azul,
eterno azul das solitudes,
das almas raras, das planuras ermas.
Azul sonante, sinfonia acesa,
celeste estrada azul, em fótons estendida.
Azul,
um imenso azul me traz a calma
de uma saudade anil, no eu-profundo.
A voz de muitas auras azuladas,
melodiosa luz de outros mundos.
Azul oriental de templos amplos
com abóbadas reverberantemente azuis...
Azul distante dos luzeiros cósmicos,
de onde uma placidez azul me chega aos olhos.
Vaga lembrança azul, do Sete-estrelo.
É a saudade azul dos olhos Teus...
Eurico-azul
Pina, 11/11/1993
(Não sei se foi por acaso, a data do poema e a de hoje.
Que os numerólogos expliquem-nas. rsrsrs)
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*Nota, no mínimo, curiosa:
Esses versículos do Livro de Jó, na edição "Bíblia com Letras Gigantes", traduzida por João Ferreira de Almeida, publicada em 1996, pela Sociedade Bíblica do Brasil, apresentam-se com a seguinte tradução, à p. 727, ipsis verbis:
"Ou poderás tu atar as cadeias do Sete-estrelo ou soltar os laços do Órion?
Ou fazer aparecer os signos do Zodíaco ou guiar a Ursa com seus filhos?
Sabes tu as ordenanças dos céus, podes estabelecer a sua influência sobre a terra?" (grifo meu)
@@@@@@@@@@@@@@@@
domingo, setembro 06, 2009
Poema da Relatividade Geral
De que adianta eu ser eu
Em relação a mim mesmo?
Quero ser eu pras pessoas
- um referencial externo-
Quero ser eu nas pessoas
Relatividade geral.
Quero evolver na poesia
Einsteiniana poesia-moderna
Fra/terna
Quadridimensional.
Não sou espaço
Nem tempo
Espaço e tempo eu invento
No meu ser intemporal
Quantos fótons emitia
No espaço das entrelinhas
Um Castro Alves astral?
Também quantuns de energia
Saem de mim, melodia
Ondulatória, indefinida, orbital
E a mim me espalham nas ruas
Na plenitude dos outros...
Inteiro o ser que não sei
De que adianta eu ser eu,
Com meus sentidos falíveis
A perceber ilusões?
Eu não vou mais ao cinema –
nem ontem, nem já, nem quando.
Eu vou ser eu nas pessoas
Doar-me toda poesia, acelerar-me na luz.
Este é o segredo do Sol!
Eurico
17junho1989
Poema apresentado em Seminário sobre Castro Alves
Local: Faculdade de Filosofia do Recife
Disciplina: Introdução aos Estudos Literários
Titular: Profa. Inês Fornari
Equipe: Aldenice, Celina, Eurico, Marcus, Monica e Umbelino
Para ver os créditos dos sítios de origem, clique nas imagens.
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sexta-feira, dezembro 05, 2008
DUDA (poemeto neobarroco)
Paira a Duda, assim, pingente,
sobre os raios de um biciclo,
mirando-me, ambiguamente,
nos olhos, de modo oblíquo.
***
Duda, niña semiótica,
transita por entre os signos.
Levita, longe da lógica;
leva o abstrato consigo.
***
Dona de mim, traça órbitas
com o dúbio ciclo, nonsense.
Lança-me os dados da sorte,
gira no globo da morte,
faz piruetas circenses
***
Duda, voz dissimulada,
questiona-me, inocente.
Vacilante, Duda indaga,
num sussurro reticente
:
há um mistério nas coisas
porque em mim habita o mistério
ou
há um mistério em mim
porque o mistério habita as coisas?
***
Olho os céus,
fico silente,
minha mirada se turva,
mergulho no inconsciente
e me abraço à imensa Duda...
***
Dedico este poema ao artista Michael Cheval
A imagem que inspirou a conclusão do poema é:
Down to Earth
20”x20”
oil on canvas
http://chevalfineart.com/gallery/sense/b/19/
******************************** ~
No esboço desse poema, guardado desde
22/12/1997, havia também um dedicatória
ao místico italiano Pietro Ubaldi.
quarta-feira, dezembro 03, 2008
O BEIJO E A FLOR (Ainda a fauna... e a flora.)
I
O Beija-flor
beija a flor
inteira e não-conotativa.
Beija a realidade, flor sem artifícios.
Beija, o Beija-flor,
o cerne mesmo da Flor.
II
( ...era o meu intento envasar o aroma
dessa despetalada Flor, numa redoma).
III
A Flor e esse cativo Beija-flor
(fabrico-os dessa matéria plástica e furta-cor)
A flor, a derradeira e inculta.
A Flor.
(
...e em suas pét’las
errático,
um beija-flor,
flâneur vibrátil,
floreteia,
oral e erétil,
à flor,
à ineffabile e bela flor
do Lácio
)
)
***
Fonte da img.:
*****************
Pós-escrito:
em tempo, dedico este poemeto à amiga,
blogueira com nome de flor,
que, pelo que me parece, adora os colibris.
Também gosto deles porque se criam livres e soltos.
*******************************************************
quarta-feira, julho 09, 2008
Galochas (releitura)
Sai do pélago anterior e atravessa a urbe.
Vagidos antes do ontem, por mais ontens havidos...
Sussurros edênicos.
Urros em Ur.
Salmos em Salém.
Sylva e Pólis & Cia;
Abissal_catadupa.com
Chovia muito e eu em galochas.
(um singular no coletivo: risos)
Risível, o tempo...
Tríbio, flui.
Panta rei!
Vórtices, volutas, pipas e piões...fugazes.
Fugazes pedras às mangas do alheio...
Fui...
Eurico
22.06.06
Vagidos antes do ontem, por mais ontens havidos...
Sussurros edênicos.
Urros em Ur.
Salmos em Salém.
Sylva e Pólis & Cia;
Abissal_catadupa.com
Chovia muito e eu em galochas.
(um singular no coletivo: risos)
Risível, o tempo...
Tríbio, flui.
Panta rei!
Vórtices, volutas, pipas e piões...fugazes.
Fugazes pedras às mangas do alheio...
Fui...
Eurico
22.06.06
sábado, abril 26, 2008
Mel/a/nina
E
s
c
o
r
r
e
c
o
r
r
e
o mel
à flor da pele demerara, açúcar preto, mascavo
Mel
Melaço
Melado
Mel novo
Mel de engenho: terra roxa massapê terra de cana
caiena caiana cana de açúcar
moenda garapa tropicana
terra onde mana
mel ( e leite) e a sacarose morena
melíflua voz de veludo melosa
pele de mel demoiselle cubista
lábios de mel língua doce
lamber teu céu linda noite
caldo de cana caiena favos de mel
A tez de fruta mestiça malícia cajus compotas
Sapotis cristalizados
E toda a doçaria colonial
Água na boca
Desliza mel na língua
portuguesa e um gosto de infância
lembrança de um confeito chamado nego bom.
Noite na pele negra rara demerara
A lua açúcar céu amorenado mel
Enamorado
Melado
Doce na boca,
à flor da pele demerara, açúcar preto, mascavo
Mel
Melaço
Melado
Mel novo
Mel de engenho: terra roxa massapê terra de cana
caiena caiana cana de açúcar
moenda garapa tropicana
terra onde mana
mel ( e leite) e a sacarose morena
melíflua voz de veludo melosa
pele de mel demoiselle cubista
lábios de mel língua doce
lamber teu céu linda noite
caldo de cana caiena favos de mel
A tez de fruta mestiça malícia cajus compotas
Sapotis cristalizados
E toda a doçaria colonial
Água na boca
Desliza mel na língua
portuguesa e um gosto de infância
lembrança de um confeito chamado nego bom.
Noite na pele negra rara demerara
A lua açúcar céu amorenado mel
Enamorado
Melado
Doce na boca,
delícia
no tacho
de bronze,
desliza
na cuba
daqui e de Habana:
de niña/mujer;
de sinhá/menina.
de mel, melanina.
de mel, melanina.
Tua noite nos ilumina...
********
Eurico
meados de 2000
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sexta-feira, setembro 08, 2006
Galochas
A palavra navega dilúvios, nunca dantes.
Sai do pélago anterior e atravessa a urbe.
Vagidos antes do ontem, por mais ontens havidos...
Sussurros edênicos.
Urros em Ur.
Salmos em Salém.
Sylva e Pólis & Cia;
Abissal_catadupa.com
Chovia muito e eu em galochas.
(um singular no coletivo: risos)
Risível, o tempo...
Tríbio, flui.
Panta rei!
Vórtices, volutas, pipas e piões...fugazes.
Fui...
Eurico 22.06.06
esboço de poema
Sai do pélago anterior e atravessa a urbe.
Vagidos antes do ontem, por mais ontens havidos...
Sussurros edênicos.
Urros em Ur.
Salmos em Salém.
Sylva e Pólis & Cia;
Abissal_catadupa.com
Chovia muito e eu em galochas.
(um singular no coletivo: risos)
Risível, o tempo...
Tríbio, flui.
Panta rei!
Vórtices, volutas, pipas e piões...fugazes.
Fui...
Eurico 22.06.06
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