Uma Epígrafe
"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]
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sábado, dezembro 11, 2010
UAUÁ (linossignos oscilantes)
Chegaríamos na noite,
noite profunda,
noite ignara e hermética,
depois duma escuridão de léguas...
O sereno, no entanto,
molhava as c'roas e as palmas
e nos breus, de instante a instante
flutuavam
dois fonemas oscilantes
Uauá
lume aceso que se apaga,
que outra vez lucila e apaga,
lume que vaga, e não vaga
pelas barrancas do arroio
Uauá
(borbulhar luminescente...)
E eu que tinha algo a dizer,
Calei-me.
Na noite densa,
gelada, feito a orla do deserto,
deu-me um calafrio de tragédia.
Naquela chã, ainda ecoa o genocídio
:
As estrelas eram os olhinhos
das menininhas tapuias que as gentes viam na noite.
Apagaram-se as estrelas.
As indiazinhas, tambem.
Restaram os vagalumes, Uauás lucilantes.
Rio-abaixo,
mais adiante
era Canudos, Bello Monte,
à jusante
do velho Vaza-barris...
Era Canudos, num é mais.
Nosso Senhor assim quis...
Lá, meus irmãos, no entanto,
já não brilham pirilampos, como brilham por aqui
:
Furaram os olhos dos santos
e inundaram a Matriz...
Eurico
"em viagem interior ao sertão de Canudos"
Fonte da imagem:
Pirilampos
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sexta-feira, dezembro 10, 2010
MEDITAÇÕES EM VAZA-BARRIS (predição de wikileaks?)
1
Busco a nascente inundada do Vaza-barris e medito.
Quanta sabedoria a dos profetas,
a dos videntes,
a dos utópicos e a dos beatos dementes...
Quanta presciência...
2
Mediam-nos os crânios decapitados
e nos expunham em praça pública,
os detentores duma pseudo-ciência.
Que tipo de saber lhes coube, lhes cabe?
O que aprenderam em nossos crânios, não sei.
Mas percebo seus efeitos
na civilização (entrópica) de que se ufanam.
(Ajunto numa pequena cuia de pedinte em Bello Monte,
toda a pretensa teoria desses Lombrosos e Comtes.)
E não mais me estendo nessa prosa,
posto que é prosa isso que ledes,
prosa p(r)o(f)ética:
"Há de chegar o tempo em que todas as perfídias ocultas
virão ter à luz do Sol..."
Sobre Wikileaks:
"No inglês, a palavra leak remete ao germânico lechzen ("ressecar", "produzir sede"). O sentido de "tornar conhecido algo sigiloso" data do início do século XIX." Gabriel Perissé
Leia mais sobre em... Massacre de Canudos
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Alcácer-quibir revisitada
Uma monocromia armorial
dedicada a Dom Ariano Villar Suassuna
Vermelhidões no poente,
céu sangüíneo, incandescente.
Da porfia oiço o alarido:
Rezas,
.......rajadas,
...............rugidos.
sonho um sonho mal dormido:
de morte, em luta renhida,
foi Dom Sebastião malferido?
Feito de sonho é o que vejo:
estranhos carros de fogo
cruzam os céus sertanejos.
Ungem de luz a caatinga
Essas flamejantes bigas.
Vermelhidões no poente:
Seriam sarças ardentes?
Nos sertões os céus tão rubros:
sangue na chã de Canudos?
Ao longe oiço estampidos:
raios,
......trovões
............. e gemidos...
Vermelhidões no poente
rumores de gado e gente
clamor do sangue inocente:
hereges sangrando os crentes?
sonho um sonho mal dormido:
de morte,( ouço o rugido)
foi o Prinspe atingido?...
Vermelhidões no poente:
crepúsculo enceguecente,
E, em estranho disco de fogo,
vejo Dom Sebastião soerguido...
Eurico
Fonte do texto:
meu inédito, Ser/tão profundo - Mangue interior,
Fonte imagem:
Batalha de Alcácer-quibir
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QUINTA / D. SEBASTIÃO, REI DE PORTUGAL
Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.
Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
Fernando Pessoa (in Mensagem)
Fonte da imagem:
Antonio Conselheiro
Fonte do poema:
Jornal de Poesia
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quinta-feira, dezembro 09, 2010
AÇUDE COCOROBÓ
"ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados. (...)" Euclydes da Cunha
Sentei-me às margens do Cocorobó,
e chorei copiosamente.
Pranteei os loucos,
os deserdados do mundo,
os sem-teto, os sem-terra, os sem-história.
Os zé-ninguém,
aqueles, paupérrimos de espírito, de N. S. Jesus Cristo.
O Sol da tarde ia sumindo no horizonte e eu
dependurei meu alforje nas galhadas dos salgueiros.
Fiquei matutando, cá com minhas armoriais tristezas:
os filhos da República mais avançada do mundo
morrem de obesidade mórbida;
a República do povo do D'us único
ameaça seus vizinhos com a bomba;
as modernas metrópoles republicanas,
com sua arquitetura e urbanismo,
sua ciência e tecnologia,
estão quase sem ar puro pra respirar...
Apocalíptica ironia do mundo moderno:
Ninguém os toma por loucos.
(Os loucos estavam mesmo em Canudos e eram
miseráveis hereges e monarquistas)
Submersas sob Cocorobó,
as ruínas de nossa Atlântida sertaneja:
cidadela dos santos loucos,
dos fanáticos visionários,
(e quem sabe, até, dos nossos primevos comunistas)
Submersa a capela dos heróicos ébrios de Deus.
Uma tentativa (inútil) de banir sua memória,
com essa inundação infame e letal.
De meu peito intra-histórico
verto essa lacrimosa ladainha sebastianista...
E creiam-me, os que aquecem o planeta
com milhões de fornos entrópicos e suicidas,
"O mar, senhores donos do mundo, há de virar sertão!"...
*************************************
Eurico, mergulhado no sertão de Cocorobó.
(com a permissão visionária do eu-lírico)
Fonte da imagem:
Canudos submersa
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sábado, abril 17, 2010
Em tempos de crise, releio Pessoa
QUINTA
D. SEBASTIÃO, REI DE PORTUGAL
Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.
Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
Fernando Pessoa
in Mensagem
fonte do txt:
http://www.insite.com.br/art/pessoa/mensage1.html
fonte da img:
Cadáver de Antonio Conselheiro
(em memória dos soterrados em São Sebastião do Rio de Janeiro)
terça-feira, agosto 18, 2009
Alcácer-quibir revisitada
Uma monocromia armorial
dedicada a Dom Ariano Villar Suassuna
Vermelhidões no poente,
céu sangüíneo, incandescente.
Da porfia oiço o alarido:
Rezas,
.......rajadas,
...............rugidos.
sonho um sonho mal dormido:
de morte, em luta renhida,
foi Dom Sebastião malferido?
Feito de sonho é o que vejo:
estranhos carros de fogo
cruzam os céus sertanejos.
Ungem de luz a caatinga
Essas flamejantes bigas.
Vermelhidões no poente:
Seriam sarças ardentes?
Nos sertões os céus tão rubros:
sangue na chã de Canudos?
Ao longe oiço estampidos:
raios,
......trovões
............. e gemidos...
Vermelhidões no poente
rumores de gado e gente
clamor do sangue inocente:
hereges sangrando os crentes?
sonho um sonho mal dormido:
de morte,( ouço o rugido)
foi o Prinspe atingido?...
Vermelhidões no poente:
crepúsculo enceguecente,
E, em estranho disco de fogo,
vejo Dom Sebastião soerguido...
Eurico
Fonte do texto:
meu inédito, Ser/tão profundo - Mangue interior,
Fonte imagem:Batalha de Alcácer-quibir
domingo, agosto 16, 2009
Meu Cristo Gótico (homenagem a Euclydes da Cunha)
“Brotará como raiz da terra sedenta;
não há n’Ele bom parecer, nem formosura;
desprezado e o último dos homens;
varão de dores, experimentado em quebrantos”.
...................................................(Isaías, 53:2-3)
E se em vez de um fraco ser, senil e esclerótico,
no limiar entre lunático e neurótico,
fosse um Elias, a ressurgir nos trópicos?
Seria apenas isso que se diz: um beato sertanejo, um místico ?
ou um Dom Quixote do sertão, um épico?
Um infeliz Quasímodo matuto, cômico e simiesco?
Ou um Judas redivivo, em purgatório, escorraçado e dantesco?
Mas, quando o contemplava, estendido nessa foto euclydeana,
Lembrou-me um santo, macerado e só:
um Cristo gótico,
Que o Estado homicida trouxe a óbito,
mas que ressurgirá dentro do mito.
Está escrito.
De Dom Sebastião já oiço o grito...
***
(a foto que inspirou o poema foi feita in loco, por Euclydes da Cunha;
o cadáver é do beato Antonio Conselheiro)
Eurico
2008
@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@
Para não perder a oportunidade de falar de amor fraternal,
nessa triste data em que, há exatos 100 anos, sepultamos o escritor Euclydes da Cunha, ele que sonhava com a fraternidade universal, através das idéias do Positivismo, leiamos um fragmento que colhi no google:
Amor, ordem, progresso
"(...)As duas palavras de nossa bandeira, ‘ordem’ e ‘progresso’, são de inspiração positivista. Mas, à semelhança do lema dos inconfidentes, ainda presente nas bandeiras de Minas Gerais e do Acre, não são uma citação fiel ao original.
Com efeito, Augusto Comte resumiu sua doutrina de modo diferente na primeira edição de seu Catecismo positivista: ‘O Amor por princípio, a Ordem por base e o Progresso por fim’. As três palavras, fundamentos de seu sistema filosófico, foram escritas com iniciais maiúsculas.
Mais tarde, o autor deu nova redação ao lema, que ficou assim: ‘O Amor por princípio, e a Ordem por base; o Progresso por fim’.
Hoje lembramos que a omissão do amor no lema inscrito na Bandeira Nacional é sintoma de desordem e atraso. Quem leu Os sertões, de Euclydes da Cunha, sabe que os republicanos não o excluíram apenas da bandeira. A violência segue vitoriosa. Em Canudos alcançou seu apogeu.(...)"
Fonte do texto:
Deonísio da Silva
copyright Jornal do Brasil, 2/08/04
@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@
Pode ser algo de pouca monta, mas o Euclydes, assinava com "y", como se lê na imagem abaixo, e, creio, não se deve mudar o nome desse genial escritor:
Fonte da assinatura:
http://www.releituras.com/edacunha_bio.asp
sexta-feira, janeiro 02, 2009
Rumo à Frátria: Babel versus Pentecostes
Não sou religioso, gente. Posso até dizer que sou arreligioso. Mas não desdenho dos textos sagrados das religiões institucionais. Neles habita a sabedoria milenar dos povos. E, por que não dizer, de Deus. Pois bem: essa postagem aparentemente religiosa surgiu de uma saudação de ano novo, que me fez a amiga do blogue Canto da Boca, na minha postagem Canção do Mar: um déjà vu. Leiam o comentário abaixo e, logo em seguida dois curiosos e antagonicos fragmentos bíblicos:
Texto 1 - Anti-babel: comentário da Boca
"Que felicidade! Como somos o que sentimos e verbalizamos, Eu-ri-líri-co, forever! Li-te, senti-te e emocionei-me... O que sentes é tao tangível que de um modo muito meu, senti teus sentimentos. Semana passada em Lisboa, e passando por meus olhos, alma e coraçao tantos desses sentires, a Lisboa moura, da silabaçao encadeada, a Lisboa velha, a Lisboa nova, ou caminhando pelo Chiado e deslumbrando-me com a vida que também por lá caminha, a estátua de Pessoa, tao viva, tao vivo a contemplar mundos... E o sotaque luso, tão luso, tão difuso do meu, mas tão em confluência, tão em abrangência... Dilatado, dilatando...
...E na passagem de ano (que chamáramos de ONU, uma analogia às diversas nacionalidades presentes), ontem, todos estrangeiros, longes de suas gentes, mas com todas dentro-em-nós, apesar da multinacionalidade, falávamos a mesma língua: do amor, da fraternidade, da solidariedade (caboverdianos, chilenos, congoleses, brasileiros, mexicanos, peruanos, portugueses), mas em harmonia, celebrando a vida, o ano que ia, e cheios de esperanças, desse que acaba de chegar.
E vibro, e vivo, meu amigo Tãolírico todas as possibilidades que construo e as que me escaparam pelas maos... E o que te desejar? O mínimo que mereces: saúde, paz, amor, felicidade, amizade, harmonia, tranquilidade, junto com a sua família, e dinheiro para pagar as contas, mas para todos os dias.
Um 2009 iluminado e iluminante!
Abraço imenso e um beijo estalado na testa."
Canto da Boca
Texto 2 - Babel"Que felicidade! Como somos o que sentimos e verbalizamos, Eu-ri-líri-co, forever! Li-te, senti-te e emocionei-me... O que sentes é tao tangível que de um modo muito meu, senti teus sentimentos. Semana passada em Lisboa, e passando por meus olhos, alma e coraçao tantos desses sentires, a Lisboa moura, da silabaçao encadeada, a Lisboa velha, a Lisboa nova, ou caminhando pelo Chiado e deslumbrando-me com a vida que também por lá caminha, a estátua de Pessoa, tao viva, tao vivo a contemplar mundos... E o sotaque luso, tão luso, tão difuso do meu, mas tão em confluência, tão em abrangência... Dilatado, dilatando...
...E na passagem de ano (que chamáramos de ONU, uma analogia às diversas nacionalidades presentes), ontem, todos estrangeiros, longes de suas gentes, mas com todas dentro-em-nós, apesar da multinacionalidade, falávamos a mesma língua: do amor, da fraternidade, da solidariedade (caboverdianos, chilenos, congoleses, brasileiros, mexicanos, peruanos, portugueses), mas em harmonia, celebrando a vida, o ano que ia, e cheios de esperanças, desse que acaba de chegar.
E vibro, e vivo, meu amigo Tãolírico todas as possibilidades que construo e as que me escaparam pelas maos... E o que te desejar? O mínimo que mereces: saúde, paz, amor, felicidade, amizade, harmonia, tranquilidade, junto com a sua família, e dinheiro para pagar as contas, mas para todos os dias.
Um 2009 iluminado e iluminante!
Abraço imenso e um beijo estalado na testa."
Canto da Boca
"E era toda a terra de uma mesma língua e de uma mesma fala.
E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra.
Então desceu o SENHOR para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens edificavam;
E o SENHOR disse: Eis que o povo é um, e todos têm uma mesma língua; e isto é o que começam a fazer; agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer.
Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro.
Assim o SENHOR os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a cidade." Gênesis, cap. 11
Texto 3 - Pentecostes
"E quando se completaram os dias de Pentecostes, estavam todos juntos no mesmo lugar; e veio de repente do céu um estrondo, como de vento que assoprava com ímpeto, e encheu toda a casa onde estavam assentados. E apareceram-lhes repartidas umas como línguas de fogo, e o fogo repousou sobre cada um deles. E foram todos cheios do Espírito Santo, e começaram a falar em várias línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.
"Estavam então habitando em Jerusalém judeus, homens religiosos de todas as nações que há debaixo do céu. E logo que correu esta voz, acudiu muita gente, e ficou pasmada, porque cada um ouvia falar os discípulos na sua própria língua. Estavam pois todos espantados e se admiravam, dizendo: Por ventura não se está vendo que todos estes que falam são galileus? E como os ouvimos nós falar cada um a nossa língua em que nascemos?
"Partos, medos, elamitas e os que habitam a Mesopotâmia, a Judéia, a Capadócia, o Ponto e a Ásia, a Frigia, a Panfilia, o Egito, e as partes da Líbia que confina com Cirene e os vindos de Roma, também judeus, e prosélitos, cretenses e árabes, os temos ouvido falar em nossas línguas as maravilhas de Deus. Pasmavam pois todos e se admiravam dizendo uns para os outros: O que é que isso pode ser? Outros porém, escarnecendo, diziam: É porque estes estão cheios de mosto". Atos, cap. 2
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Leram? Então perceberam os grifos que fiz na descrição emocionada da amiga Boca, e o paralelo com os versículos grifados.
Pois bem:Babel versus Pentecostes é a minha forma de dizer o que idealizo numa Frátria. Sei que sou utópico, mas utópico por opção profunda. Utópico engajado, compromissado, rsrsrs, se lá isso existe! Mas creio nessa possibiidade, apesar da dispersão babélica dos povos. Não prego um Esperanto, coisa que não foi possível realizar, apesar do idealismo do Zamenhof; a Frátria, como imagino, não é uma língua universal, mas uma cultura de comunhão, ou seja, um feixe de possibilidades de: convivencia fraternal, não-violencia, pluralismo e respeito pelas diferenças, solidariedade e cooperação entre os povos. A Frátria é Pentecostes e não Babel. Babel é a segregação: a confusão das línguas remete a uma confusão das almas, das mentalidades.
Pentecostes, pelo contrário, reunia um caudal de povos e de culturas, que testemunhou a xenoglossia dos apóstolos.
Mas, xenoglossia pra que?
Respondo:
Para difundir o Amor.
Para pregar a fraternidade.
Essa a razão do milagre das línguas no Pentecostes.
Então, por que uma frátria apenas lusófona?
Por que devemos começar pelos mais próximos, pelos falantes de nossa cultura, de nossa mátria.
Portanto, rumo à frátria, sou M.I.L. (Movimento Internacional Lusófono)
Querem participar? Cliquem no logotipo do início da postagem.
***************************************
Post-scriptum: O Eu-lírico anda muito prosa e pouca poesia.
É que estou na baixa estação poética, poeta bissexto que sou.
Ando na maré vazante da poíesis.
Mas, os ciclos da maré são o segredo do viço no manguezal.
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sexta-feira, abril 11, 2008
Eu-lírico nº 3 (reedição-formato blog)
Nota: cada edição do meu zine-collage trazia um poema,
seguido de um comentário do Carlinhos do Amparo.
Neste número 3, aparece também um posfácio.
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Mitopoese I: o Unicórnio
...Jaz a Noite Imensa sobre o mangue...
A Cidade surge antes,
das enchentes, das vazantes
fundação amorfa, sem face, vazia...
A Cidade emerge, ser eqüestre,
Alça as patas, veste a ventania,
Galopa vadia, égua numinosa.
A Cidade avança,
Besta airosa,
E aponta para o Atlântico o seu chifre calcário.
A Cidade é vária:
Puta dos batavos, marranos, mascates.
Múltipla, mistério:
Vila pescadora com matrizes míticas;
Titãs com tarrafas, jêjes argonautas,
Ninfas pomba-gira, reis iorubás.
A Cidade é anfíbia:
Ilhas de enxurradas,
Sertões arribados sobre palafitas.
(ouve-se o relincho de uma gente aflita...)
Antes, muito antes,
A Cidade dá cria (protopoesia?)
Sobre os arrecifes que detém o mar.
Vaza a Noite um imenso alfanje:
Ouve-se um vagido.
O sangue, rubro veio, escorre
e tinge o umbigo da pedra
do Reino do Amanhã
(ouve-se, em alarido, a turba;
do Reino do Amanhã
(ouve-se, em alarido, a turba;
ouve-se um trotar...)
Eurico
1994
***************************************
UM BREVE COMENTÁRIO
por Carlinhos do Amparo
O poeta não filosofa, confunde.
A ele não cumpre investigar o Universo, nem a História,
mas entregar-se amorosamente às forças do sonho,
mergulhar no aórgico, na palpitação jubilosa das origens do ser.
E a origem do ser, como dizem os doutos, dá-se na Poesia.
Qualquer dos doutos: Fichte, Schelling,
ou o nosso, brasileiríssimo, Vicente Ferreira da Silva.
"O mito é em substância Poesia", diz-nos um deles.
"Não é a história que faz o mito, mas o mito é que faz a história", diz-nos um outro.
Pois bem, Mitopoese I: o Unicórnio é o encontro poético
com as matrizes míticas, com a Noite Imensa,
com o Antes, com a Criação.
Em uma dionisíaca revelação,
o poeta foi buscar as fundações mitopoéticas
da Cidade que o trouxe ao Ser.
Confusos?
Não é filosofia. É Poesia.
Poemem-se.
(Carlinhos do Amparo é escritor olindense.)
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À GUISA DE POSFÁCIO:
Rompo um insulamento de vários anos
em que vivi entre leões osmanianos
ou na clausura das efabulações.
Trago os fantasmas, grifos voláteis
que me tocaiam nas entrelinhas.
Abro a janela: EU-LÍRICO
por ela escapa o imaginário,
meu arsenal de indagações.
Todo poeta traz o flanco nu
e adentra a arena.
Essa é a senha: não são moinhos, são gigantes!
Que se derreta a cera dessas asas.
O que me importa é essa luz, é o Sol.
Eurico
1994
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terça-feira, fevereiro 19, 2008
Meu Cristo Gótico
“Brotará como raiz da terra sedenta;
não há n’Ele bom parecer, nem formosura;
desprezado e o último dos homens;
varão de dores, experimentado em quebrantos”.
(Isaías, 53:2-3)
E se em vez de um fraco ser, senil e esclerótico,
no limiar entre lunático e neurótico,
fosse o próprio Cristo a ressurgir nos trópicos?
Seria apenas isso que se diz: um beato sertanejo, um místico ?
ou um Dom Quixote do sertão, um épico?
Um infeliz Quasímodo matuto, cômico e simiesco?
Ou um Judas redivivo, em purgatório, escorraçado e dantesco?
Mas quando o contemplava, estendido nessa foto euclydeana,
Lembrou-me um santo, macerado e só:
não há n’Ele bom parecer, nem formosura;
desprezado e o último dos homens;
varão de dores, experimentado em quebrantos”.
(Isaías, 53:2-3)
E se em vez de um fraco ser, senil e esclerótico,
no limiar entre lunático e neurótico,
fosse o próprio Cristo a ressurgir nos trópicos?
Seria apenas isso que se diz: um beato sertanejo, um místico ?
ou um Dom Quixote do sertão, um épico?
Um infeliz Quasímodo matuto, cômico e simiesco?
Ou um Judas redivivo, em purgatório, escorraçado e dantesco?
Mas quando o contemplava, estendido nessa foto euclydeana,
Lembrou-me um santo, macerado e só:
Meu Cristo gótico,
Que o Estado homicida trouxe a óbito,
mas que ressurgirá dentro do mito.
Está escrito.
De Dom Sebastião já oiço o grito...
***
(a foto que inspirou o poema é de Euclydes da Cunha;
o cadáver é de Antonio Conselheiro)
Eurico
2008
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quarta-feira, maio 30, 2007
ALCÁCER-QUIBIR revisitada
Uma monocromia armorial
dedicada a Dom Ariano Villar Suassuna
Vermelhidões no poente,
céu sangüíneo, incandescente.
Da porfia oiço o alarido:
Rezas,
.......rajadas,
...............rugidos.
sonho um sonho mal dormido:
de morte, em luta renhida,
foi Dom Sebastião malferido?
Feito de sonho é o que vejo:
estranhos carros de fogo
cruzam os céus sertanejos.
Ungem de luz a caatinga
Essas flamejantes bigas.
Vermelhidões no poente:
Seriam sarças ardentes?
Nos sertões os céus tão rubros:
sangue na chã de Canudos?
Ao longe oiço estampidos:
raios,
......trovões
............. e gemidos...
Vermelhidões no poente
rumores de gado e gente
clamor do sangue inocente:
hereges sangrando os crentes?
sonho um sonho mal dormido:
de morte,( ouço o rugido)
foi o Prinspe atingido?...
Vermelhidões no poente:
crepúsculo enceguecente,
E em estranho carro de fogo
Dom Sebastião soerguido...
Eurico
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