Há lugares que continuam lá, à minha espera, da mesma forma que os conheci. Há ruelas e travessas de memórias incómodas. Há pracetas com bancos despidos, cuja nudez é minimizada pelas folhas que se despedem das árvores angustiadas. Há algumas paredes com ensaios de intervenção social e ânimos esmorecidos. Há gente, tráfego, barulho, poluição e o escape... Depois, existe um manancial de ângulos para...
Puxam a porta, de rompante, e Rompem por ali adentro, Estranham as cortesias Supõem: "morada errada". Saem apressados, Assustados, de Semblantes pasmados Sorrio para mim E entusiasmada, Memorizo a cena. Jocelyn Hobbie Todos perdidos Em linhas rectas, Mexem nos ângulos Perpendiculares sobre O vagar das auroras. ...
Se tu pudesses, nesse teu jeito mimado, envergonhar-te da dimensão gigantesca dos teus braços quando o meu peito se enrosca neles, pequenino e sonhador, terias o meu sorriso matinal. Se tu pudesses, neste anoitecer repentino, esperar-me como antes, atrás da porta sempre aberta, ver-me-ias na soleira a ensaiar cortesias breves. Se tu pudesses, nos dias que correm, demorar-te mais um pouco até conseguirmos...
Estás longe daí, mas a mensagem do telemóvel encheu-te de ansiedade. Repetiste para ti própria: “não vale a pena pensar nisso”. Desprezaste, frivolamente, esses caracteres que te incendiaram o peito dorido. Montserrat Gudiol Não queres pensar nos caracteres da saudade, nem nas cores que a desbotam. Achas que este não é o momento mais adequado, sabendo de antemão que isso escapa ao teu...
(imagem retirada do blog Drawing Conclusions) Não quero que abras a mão. Mesmo quando a forçarem. Cerra os dedos, com força, em torno daquilo que tu és realmente. Não quero que te arranquem essa parte de ti, que no fundo és tu todo. Essencialmente, continuamos na luta. Aguerridos e crentes de que vamos vingar. Das teias afectivas, há a certeza da rede para...
Antonio Berni Existe neles uma tensão em curto circuito e uma ânsia de que o dia de amanhã chegue rápido e com uma oportunidade. Deitam-se com os sonhos, mas acordam com a realidade. O chão é duro quando o pisamos descalços e frágeis. A falta de perspectivas gera-lhes um enorme cansaço. Há uma angústia proporcional às procuras improdutivas. Há histórias de esperança que lhes vendem...
O barulho irritante da máquina do café vai cronometrando a minha espera. Os não mais do que cinco minutos fazem-me desejar que chegues imediatamente. Não porque tenha muitos afazeres, mas porque não gosto de esperar. Graciela Bello Aproveito para escrever o papel com rascunhos de sentimentos e rabiscos do que ficou ainda por sentir. Só que o espaço à minha volta parece querer...
Chego com os pés a queixarem-se das paredes apertadas em que os enfiei esta manhã. Solidárias, as pernas ressentem-se do calcetamento das ruas. Não senti o ar frio nem a indiferença das pessoas (coisa rara nos dias que correm). Foi bom ouvir o trânsito mesmo ao lado e o fervilhar da impaciência no interior de cada um, enquanto eu seguia, sem pressa, pelo passeio estreito. Virei...
Estou desejosa de lhe voltar a pegar. Na bolsa, a caneta e o bloco são companheiros de viagem, inseparáveis e galhofeiros. No peito, mora sempre a vontade de os utilizar para absorver o que os olhos vêem, o que os ouvidos escutam, o que as mãos tocam, o que o nariz resgata. Sei qual é o caminho. Procuro não me desviar, mas há...
Faz frio e não quero sair para o mundo assim, desprotegida. Preciso dos agasalhos que te emprestei no Inverno passado… Vera Lucia Garcia ...
Caminho pela rua distraída. Há pessoas apressadas logo pela manhã. E ao largo desse largo, surge uma memória. Espreito, a medo, pela porta aberta ao público. Não entro. Não ouso sequer perguntar por aquela ausência que me inquieta . Prefiro não confirmar uma quase certeza e permanecer na hipótese de se tratar de uma doença ou de uma retirada necessária. Salvador Dali O...