Visitamo-la um dia, por vários dias. Tínhamos combinado aparecer lá, de surpresa, sem avisar ninguém. Um desafio mútuo, assentido. Queríamos simular um regresso aos dias para sempre irrepetíveis. Ingenuamente, saímos do carro e avançámos na direcção do portão de grades azuis. Não contámos que o porteiro não autorizaria a entrada, que houvesse cartões para passar, mochilas diferentes e caras, na sua maioria, desconhecidas....
Júlio Pomar Luz suave nesta manhã friorenta. E é doce o tom com que me chamas. Cheiro a geleia de marmelo a escorrer pelo pão torrado. E é inebriante essa gargalhada rara. Água, entre o quente e o frio, como as sobremesas. E é meigo esse enroscar de fonemas. Silêncio intrusivo. Taciturno e longo. E é perfeito quando a tua mão protege o...
Ela comprava açúcar para tornar a vida menos agridoce. Ele bebia umas cervejas para torná-la menos sóbria. Ela vivia entre os montes, debatendo-se com Invernos rigorosos, pessoas afáveis e costumes imemoriais. Ele trabalhava longe, onde o sol beija o mar, quase todos os dias. Quatro linhas, perpendiculares, atravessadas por outras secundárias, que os irmanavam. E, nas entrelinhas, encontravam um conforto anímico inigualável, que...
Batem à porta. Às vezes, com insistência. Perguntam pelo dono da casa ou por familiares. Conseguem permissão para entrar. Fazem-no quase a medo como se pisassem terreno minado. São recebidos com uma estranha simpatia. E instalam-se, sentindo-se desconfortáveis. Por momentos, querem sumir-se no ângulo morto mais próximo. À sua frente, todas as fragilidades possíveis do ser humano. Dentro de portas, há incredulidade e...
Procurei esses lugares nas fotografias em que ora és tu a retratada ora sou eu. Exaustas e eufóricas, percorremos recantos encantados. E, agora, só me apetecia ouvir os ecos dessas conversas intimistas. Não havia pressas quando o sol desaparecia ou ameaçava despontar. Não existiam pontos finais, porque só as vírgulas faziam sentido. E como prever que, hoje, colocaríamos tudo entre parênteses? Revejo esses lugares nas...
Cruzeiro Seixas Partes outra vez. Já não conto os dias que faltam para te voltar a ver... Vou tentando comprar esse hábito de anestesiar o esquecimento nas horas sem ti. E porque a separação custa mais do que a saudade, essa arrendatária de longa data. Partes mais uma vez. Já não guardo as esperanças de cortar e colar o tempo para conseguir uma...
Podemos falar toda a noite, sem acusar cansado. Podemos contar as peripécias, sem nos interrompermos. Podemos rir das frustrações passadas, sem complexos. Podemos evocar amigos que, um dia, foram comuns, sem nos ser indiferente. Podemos percorrer os mesmos lugares, sem sentir saudades. Nanor Somos apenas completos quando a gargalhada nasce ao mesmo tempo. Somos apenas loucos quando esquecemos as horas, os protocolos, os compromissos. Somos apenas livres...