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2025/10/09

O rosto do que arde,...

 não sabemos de todo,

o rosto do que

arde,

as insuficiências

do que fica,....


passos soltos,

que deixam para trás

a ruína,....


nem suspeitamos,

que quando quem

respira,

ofega,

esforça-se por

agarrar a vida,...


há um relógio que

se move,

lentamente,

em sentido oposto

à previsão de que a Terra

 vá deslizar,...


e os corpos podem,

porventura,

agarrar-se

com dificuldade,

às impaciências de existir


                                                                    Tirado daqui

2025/07/11

A mágoa

 A mágoa. Era um livro que faltava ler, e a tarde ia a meio. Ela não se desejava a si mesma, e via isso como um obstáculo para tudo. Os olhos humedeciam-lhe, com as pálpebras a fecharem ao som de um embalo qualquer de uma rádio prestes a ficar sem história. Não sabia a luz com que teria de coser o amor próprio. Havia dúvidas se aquela rua era a certa para si. Recordava os passos seguros de outros tempos, os mesmos em que dançou com a sua própria evolução como pessoa, embalada pelo folhear de tantos e tão bons autores que a seduziram a ponto de considerar a hipótese de amor incorpóreo e sem substância. Tocam à campainha. Arrasta-se para a janela. É engano. Um homenzinho atabalhoado, de capacete, olha-a de soslaio, incapaz de falar o que seja. 

Regressa ao seu mundo. Este é um esboço de canto artístico, sem concepção de autor que não a sua própria. Repara num jornal sem data, sem nada que capte atenções.. 

                                                                     Tirado daqui
Iluminação pública em Wroclaw, Polónia

2025/03/01

Marçando a 27 de Outubro

 Era uma perspicácia,

Dificil de explicar,

Mas que ajudava a contornar dificuldades,...


Sentia-o nas suas escolhas,

Decisões boas ou más,

Ou até inconsequentes,....


Mas estava lá,

A verdade,

Sob a forma de um silêncio,

De um sonho por explicar,

Estava em todos os poros de uma pele que não envelhecia,

Mas também não dava respostas

                                                                                 Tirado daqui

Nagai Kazumasa
“Life” (poster)

2024/03/22

Poema meteorológico

 não se calam as primeiras chuvas,
a brisa de ti,
incomodada pelo sol que
aquece nos olhos,
e um tempo que anda de arrecuas,...

como as lições dos mais velhos,...

e de ti,
a torre mais alta
que vigia a aldeia
mais remota desta terra,
sobra a dúvida,...

árvores que medram na dor,
erva acastanhada de morte,...

sobram coisas que não devem,...
e o frio envolve-me
num manto de conforto

                                                                                         Tirado daqui
Asas do Desejo (1987)
Realizador: Wim Wenders

2024/01/08

Conversa inútil do que deixa os outros com fome

 


Não tenho segredos em mim,
o vidro desembacia-se quando falo,…

a recordar sou o mais falhado dos exequentes,
o que consegue fazer coisas,
abrir buracos sem ser engolido pela terra,…

mas depois,
depois falha sempre o átomo,
as conversas são depauperadas,
enquanto o cerne das questões fica
com fome,
é isso,
deixo os outros com fome quando
se relacionam comigo,….

e assim os segredos não vão querendo
nada comigo,
há a ponte,
e para lá da ponte estarei quando
o conseguir,….

antes disso é melhor que
me sente,
à sombra perfeita do Sol enlameado


2023/11/29

Aliviar o choro

 


Ninguém lhe perguntava se era feliz,

Tinha-se limitado a regressar ao sítio onde o tempo era pesado,

Em que os sorrisos pareciam coisas dos filmes americanos,

De que toda a gente desconfiava,...


E as pessoas se confirmavam a elas próprias,

Sem espaço para recursos de sentimentos,

Ou frases feitas de amor,...


Parecia-lhe bem que assim acontecesse,

Ao menos conseguia todos os dias aliviar o choro,

Que trazia apertado na garganta,

E ao faze-lo de noite,

Quando só a espera dos velhos pela morte se ouvia,

Deixava-o conformado,

Expectante do novo e colorido amanhecer 

2023/08/20

...músicas por tocar

 Está quase no fim da noite,

Dos escombros é como se nos dissessem Olá,

De todas as formas violentas,

 e em notas de rodapé que nunca se entenderão,...

Há mais qualquer coisa que a morte dos vencidos,...

Num som cadavérico,

Levantam-se das covas uivos de meninas inocentes,

Para quem a vida isolou-se em fotos por revelar,...

E músicas por tocar,

Como se o mundo tivesse agora de recomeçar,

Em casas cobertas de colmo,

Com silêncios amarelecidos,

Envelhecidos,

Mas confiáveis mesmo assim,

 aos mais renitentes dos desanimados



2023/08/10

A mais só o amor

 


Havia a razão,

O desnorte de nos sentirmos encaminhados para os mesmos sítios,

Onde lírios despropositados nos saltavam aos pés,

Libertando no ar um som de presença,

Quase igual ao subtil nascer do dia,...


E enquanto isso,

A mais só o amor,

As mãos que se evitam,

Para que os corações sejam maiores,

Que toda aquela liberdade de 

muitas cores

2023/06/25

Névoa oca

 


De vez em quando,

O sol toca na minha insignificância,

E é como nada se escrevesse em todas,

As linguas mortas do mundo,...


E o resultado,

A névoa oca que me toma os olhos,

Deixa de contar como real,....


Só como experiência amorfa,

E sem formas

2022/09/24

Montmartre

 Em montmartre estava um livro que bamboleava,

Abandonado no chão,

A frase certa parecia pregar-se ao olho de quem passava,

Não há esperas que se façam num quarto,

Nem desejos incorporeos que por lá se possam esconder,...


A fleuma de um especialista em desenho manteve-se,

E dois corações que se amam continuaram a ouvir-se




2021/12/01

Dezembrando a 20 de agosto

 começa com um “estive algum tempo longe daqui”. e não havia capitulares nas frases. Nem murmúrios que furassem a fortaleza dos teus lábios. tudo se pintava da cor da tua pele quando, nua, era uma fortaleza de silêncio que te rodeava. e eu ficava ao longe, como o invasor que o povo rechaça, mas secretamente deseja.

agora voltei. não tenho nome. nem idade. desfiei-me, desintegrei o meu ser em tantos livros. bebi o suficiente para não voltar a ser o mesmo em cada dia, e ter uma idade e uma experiência de vida diferentes, em cada vez que me enfrentava ao acordar. 

chamo-me anónimo, agora, com a honra que consigo carregar às costas. e tu, como te chamas? não te conheço. sinto nos ossos que me expulsaste dos teus sonhos, e revejo-os agora, frame a frame, negros como a noite que me furava os olhos, por cada janela que espreitei ao longo de todo este tempo. 

não há virtude nisto que te digo, ou escrevo, conforme te adaptares melhor. Só o desespero suficiente para, se quiseres, espalhares no pó do chão desta casa, em versos que não façam sentido. já cá não estarei quando, e se, florescerem

2021/10/25

Estante de livros mudos

 


Soube quando te trouxe para casa,

Que eras nos intervalos da areia que cobria a entrada do meu quarto,

Um resvalo,

Um gomo da idade vetusta de todas as memórias,

Que me doíam só para lá da porta do único sitio que tinha para descansar,...


Queria preservar-te,

Atribuir ao teu corpo lugar de pupilas curiosas, 

na estante de livros mudos daquele lugar,

E tentei-o,

Com dezenas infindas de recitares mudos de poesia,..


Só me apercebi de que o som já me impressionava mais que o amor,

Quando envelhecido recusei a juventude do teu tocar

2021/07/26

Não parecia verde


 Repetiram-nos a inconsistência 

dos meninos que tinham fome,

Não parecia verde,...


Ao longe tudo era sugerido 

em rosa escuro,

Um novo ano que rebolava das montanhas,

E o advento da persistência,

 adivinhava-se em oitavas 

de música muda,

Percebia-se mesmo na necessidade 

de inventar o espetáculo da morte,...


Havia até à tua figura,

O que me sugerias nas noites,

em que assisti a tua madrugada,

Era qualquer coisa parecida 

com anotações frias,

Razões de consciência intuitiva 

2021/03/03

O sentir

 saiu um dia de casa sem o que mais prezava. O sentir,

Passou por renovações, aprofundamentos,

similitudes com o divino,

tudo num percurso corriqueiro para o mesmo

trabalho de sempre,...


só reparou que se sentia incompleto já

perto da hora do regresso,

voltou triste,

acabrunhado até,

em casa procurou,

declamou o que se recordava,

e não,

da obra que tinha para publicar,

até que o sentir se revelou,...


estava doente,

e escolhera ficar ocultado pelo tecido

da solidão,

sentia-se a morrer



2020/11/24

Doença dos olhos vazios

 Não sei como se come a desilusão,

Se com ar como se do prenúncio do fim houvesse retorno,

Ou mesmo sem nada,... 


Um prato de solidão acometido da doença dos olhos vazios,

Tornaria os nossos refluxos dourados,

Como se desta circunstância se  esperassem apenas anulaçoes,

E nunca a confirmação irresoluvel do que deixamos por dizer,...


Sem saber o que se acrescenta mais a esta teoria,

Deixando-a por aqui torna inofensiva a reação de armas




2020/04/03

Somewhere in time

Ficava à espera,
Tanto esperava que me desenganava da esperança,
Do sentido das palavras,
Até da forma como se mata com um poema mal interpretado,...

Paravam os relógios dos passos,
E as pedras sobejavam como a fruição dos segundos assim o exigiam,
E o envelhecer Permitia,..

Não sei mais capitular o medo que sinto da solidão,
Se me minimizares as expetativas,
Talvez seja melhor