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2025/11/21

Assim o parece,...

 Depois eu passo lá,

Já vai ser tarde,

O tempo vai ter pássaros agarrados,

Como os fios eléctricos das terras esquecidas pelo destino,....


Se calhar a casa vai estar vazia,

E ouvirei as vozes impolutas e pouco decididas dos que ficaram,

Escondidos entre as páginas dos livros semi abertos,....


Choverá,

Assim o parece,

E de mim isso pouco vai merecer,

Talvez um vislumbre à rua que abre os braços à bênção dos céus,

Com os sentidos despertos para cheiros e sons desconhecidos,....


Depois partirei, 

Ponderando se um regresso convirá ao que chamo de sanidade mental 

                                                              Tirado daqui

2025/05/02

A sevícia da pele,...

                           Tirado daqui
Jean Cocteau

O tempo todo a esmagar a revolta,
A sevícia da pele,
Da culpa,...

E quando se era criança,
Ter achado o mesmo,
Na noite,
No dia,
Quando o amor nos virou a cara,
E em noites alternadas ter-nos doido a alma,....

E agora que somos velhos,
Este amanhecer,
Sempre encolhido,
A fazer de conta,
Que não vê a culpa

2025/04/30

Valho o sol,...

 É so isso que escrevem sobre mim? Que sou um cobarde, que lida mal com as criticas, incapaz da mudança e de qualquer pressão útil para a mudança. Não me conhecem para afirmar isso. Valho o sol e as nuvens do céu como pessoa.

 Assumo ilusões, desgostos até, mas estou aqui como garante da vida. Dos ciclos da existência bem visíveis, e desnecessariamente previstos em livros de mercado e de capa simples.

Por isso, revejam linguagem, adjectivação, tudo sobre mim. Não voltarei a ser o explicador simpático e que nada replica, da próxima vez.

 Estão a ver as minhas mãos? Estes desníveis de presença de espírito à vossa frente. Elas servirão para qualquer coisa, se isto se repetir. O quê, não sei. Mas prometo voltar, e vou respirar ruidosamente da próxima vez.

                           Tirado daqui

2024/12/02

...luminosa contração das pálpebras

 A razão,

Lembro-me de observar dolosamente uma barata,

Uma simples criatura básica,

Que de dorso para baixo se debatia pela vida,....


Veio o cobertor andrajoso e desfiado que sinalizou a minha infância,

E a vontade de fazer amor comigo mesmo,

O onanista que se metia com a própria sombra,....


A razão,

A meio da madrugada,

Com os pontos de luz da escuridão a arranharem-me as janelas,...


E tanto que me falta dizer acerca de onde irei,

Com quem,

Se o ar que me magoou sempre vai chegar,....


Há música até na luminosa contração das pálpebras que se me fecham

                                                                       Tirado daqui

Marinheiro com dois pequenos gatos, foto tirada cerca de 1910

2024/10/11

Os dias tombam.. .

 O aniversário é meu neste dia,

Não que haja grandes razões para celebrar,...


Os dias tombam ainda e sempre para o mesmo lado,

Durmo em cima da noite e não de esguelha,

Com o rosto a queimar no lume brando da ausência,...


Mas mesmo assim o dia será meu,

Com um pano de vitória,

Alguma música que se possa arranjar,

E permanecer mesmo depois de o hino nacional tocar na televisão,... 


E já prevejo o final de tudo,

Nada vai mudar grande coisa,

Só me contentarei,

Com outro aniversário invisível 

                                   Tirado daqui

Há lodo no cais (Marlon Brando)

2024/09/03

Mãos azuladas

 Tanto tempo sem poesia. As mãos, sentia-as azuladas, deformadas. Percebia isso, olhando constantemente para elas, enquanto as esgrimia no ar sem direção definida. Apenas pelo desespero de o fazer. Continuar sem criatividade, sem o amparo de versos que brotavam como água de fontes ainda não imaginadas. Pensou em portas por abrir. Janelas encravadas em casas de onde se quer fugir por desespero. Pensou nos afagos e carinhos dos familiares que partiram, e dos quais sentia tanta falta como o ar. Talvez se reclamasse de volta a criatividade, o sentir portentoso que sempre tinha sido desfiar o novelo de estar sozinha a escrever, enquanto o mundo lá fora gritava o que quer que fosse, a tranquilidade voltasse. As noites bem dormidas. Os sonhos de princesas e príncipes que a acompanhavam, diligentes, desde menina. Sentia-os como proteção. Mas naquele momento isso não interessava. Queria de volta a revelação de escrever, desenhar circulos na areia da beira mar, com poemas e mais poemas de roupas alegres e primaveris. Não sabia como os conseguir de volta...

                                                                           Tirado daqui

2024/07/28

...trejeitos de pescoço...

 É a coluna,

O sitio no jornal de sempre,

Escondido,

e que só te passa pela perceçâo se o barulho da rotina o permitir,

Que te traz de volta,

À tona de água, ...


Até a cor do cabelo dela,

É dito que está desaparecida há vários dias,

Há quem a procure,...


E avivam-te o que preferiste esquecer,

Que ela passeava o fogo em trejeitos de pescoço constantes,...


E tu,

Que tinhas escolhido redesenhar isso para fora da tua cabeça,

Voltas a processar tudo,...


Pedes outro café,

Um copo de água,

E tremulamente recuperas o quadrado de papel suficiente,

Para que em verso,

Tudo lentamente se esconjure de novo em ti

                                                                            Tirado daqui

Art
Michał Mozolewsk

2024/02/28

...faliveis

 


Depois que nos mentiste 

O sorriso nunca mais foi o mesmo,,...


Mas era medo,

Pura e total virtude dos inocentes,

Dos faliveis,...


De quem sabe que traz a vontade,

A ilusão,

E uma bolsa com pertences no dia a dia,

Pouco mais,...


Mentir tornou-se tentativa 

Em vez de segurança,

E assistimos apreensivos,

À tua degradação física e moral,

De mão no desejo gasto

2024/02/19

o teu amor (redux)

 

o teu amor,
a suspeita habitual
que verte água,
e seca a potência de todos os sons mudos,...

o teu amor reverberado,
e nós sentados ao sol,
em dias sem crepúsculo,
e música obsoleta
que rasteja por entre pernas
dos amedrontados e desesperados,...

o teu amor,
garrafas de leite às
portas de casas onde nunca estivémos,
e a morte de um rei celebrada
como revolução,....

o teu amor
 é a ave canora que sei que és,
e o predador sem rosto que me tornei,....

porque o teu amor já é incorpóreo