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terça-feira, março 22, 2011

segunda-feira, março 21, 2011

Potencial económico da energia solar

"Solar power potential in countries around and near to Europe. The “economic potential” is the power that could be generated in suitable places where the direct normal irradiance is more than 2000 kWh/m2/y.

The “coastal potential” is the power that could be generated within 20 m (vertical) of sea level; such power is especially promising because of the potential combination with desalination.

For comparison, the total power required to give 125 kWh per day to 1 billion people is 46 000 TWh/y (5 200 GW). 6000 TWh/y (650 GW) is 16 kWh per day per person for 1 billion people."
 
(de MacKay 2008)

domingo, março 20, 2011

Energia solar

Quem defende a aposta nas energias renováveis, defende um "mix" de soluções e não uma solução única mas não deixa de ser interessante visualizar, no mapa, a área que seria necessária cobrir de paineis fotovoltaicos, no norte de África ou Arabia Saudita, Jordão e Iraque, para abastecer a Europa de energia eléctrica (1 bilhão de pessoas com consumo médio de 125 kWh/d).

Qualquer um dos quadrados amarelos, de 600 km x 600 km, teria a capacidade de abastecer de energia a Europa. Qualquer um dos quadrados vermelhos, de 145 km x 145 km, seria suficiente para abastecer o Reino Unido. (extraído de MacKay 2008).

terça-feira, outubro 26, 2010

80 dólares (II)

Tenho usado esta barreira dos 80 dólares para minha orientação.
Acredito (é fé mesmo, fundamentação racional, zero) que andará pelo limite da competitividade da energia eólica. Confio em quem me disse isso há uns tempos, mas não sei o suficiente para saber se assim é ou não.
É claro que é um valor mais que impreciso, tanto mais que a inflação terá comido parte do valor dos 80 dólares de então, mas também as melhorias de eficiência na produção de electricidade a partir do vento terão diminuído o limite da sua competitividade, sem apoio público, face às energias fósseis.
A coisa não deve estar muito longe visto que, tanto quanto sei, nos últimos leilões para atribuição de licenças de produção eólica, o preço médio por kW das eólicas andar a par do preço médio do mercado.
Mas convém notar que este preço do petróleo existe numa altura de crise económica em várias economias importantes, e também de abrandamento no crescimento de economias como a da China.
Vale a pena olhar para a figura que publico a ilustrar este post e que é do financial times do dia 19 de Outubro, publicada a ilustrar um artigo sobre o esforço de eficiência que a China está a fazer (o objectivo é a redução em 20% da intensidade energética, isto é, a energia gasta por cada unidade produzida). Vale a pena notar o aumento previsto do consumo, mesmo que os objectivos de eficiência energética sejam atingidos.
Eu não percebo nada de economia, vou lendo aqui e ali, ouço quem sabe mais que eu do assunto e por mais cauteloso que seja não consigo ver coisa diferente disto: se o petróleo está nos 80 dólares nestas circunstâncias, qual é a perspectiva face à uma hipotética recuperação económica na Europa, USA e Japão.
É nestas alturas que me lembro de há muitos anos estar no jardim da Gulbenkian, onde, não muito longe, estava uma mulher a falar para quem a queria ouvir, preocupada porque estávamos em Outubro e ela tinha deixado passar o Verão sem tomar banho, pelo que a perspectiva era agora esperar mais um ano pelo próximo banho.
De água fria, calculo eu.
henrique pereira dos santos

sexta-feira, agosto 20, 2010

Refere o NY Times: Portugal dá a si próprio uma reforma de energia limpa

Fonte: NY Times



Na série de longos artigos do NY Times "Beyond Fossil Fuels- Lessons From Europe" a 9 de Agosto, de 2010, a cronista Elisabeth Rosenthal dirigiu a sua atenção para Portugal. 
Embora com alguma agenda política no meio, creio que não ficamos mal no figurino, pois em boa verdade Portugal tem crescido imenso em energias renováveis. 
O artigo tem despertado imenso debate (mais de 230 comentários!!) e entendo que devemos aproveitar esta onda e bons ventos para um lugar ainda mais ao Sol!




Portugal Gives Itself a Clean-Energy Makeover

LISBON — Five years ago, the leaders of this sun-scorched, wind-swept nation made a bet: To reduce Portugal’s  dependence on imported fossil fuels, they embarked on an array of  ambitious renewable energy projects — primarily harnessing the country’s  wind and hydropower, but also its sunlight and ocean waves.

Today, Lisbon’s trendy bars, Porto’s factories and the Algarve’s  glamorous resorts are powered substantially by clean energy. Nearly 45  percent of the electricity in Portugal’s grid will come from renewable  sources this year, up from 17 percent just five years ago.

Land-based wind power — this year deemed “potentially competitive” with fossil fuels  by the International Energy Agency in Paris — has expanded sevenfold in  that time. And Portugal expects in 2011 to become the first country to  inaugurate a national network of charging stations for electric cars.

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terça-feira, agosto 10, 2010

New York Times e a política energética Portuguesa

Vale a pena ler o que diz o New York Times sobre a política energética em Portugal. O truque é conseguir liderar a mudança mais do que sobreviver a ela. O tempo dirá se a política actual deu os seus frutos mas é fundamental que a aposta nas energias renováveis seja de continuidade. Nada pior do que uma política de fundo ser interrompida para novas aventuras de sentido oposto. Infelizmente, em Portugal, somos pródigos em começar tudo de novo cada vez que mudam os responsáveis.

segunda-feira, maio 17, 2010

Barão de S. João

Roubei a fotografia à Almargem
Leio no Público que terá sido ontem inaugurado o Parque Eólico de Barão de S. João.
Cruzei-me em várias ocasiões com este projecto, sempre na posição de quem tinha a responsabilidade de salvaguardar os interesses da conservação no processo de licenciamento. A primeira vez que tomei contacto com o processo já ele tinha uma longa história, com algumas asneiras evidentes por parte de conservacionistas que acham que as suas opiniões devem ser acatadas por direito divino e não por traduzirem, de forma fundamentada, o que está escrito na lei.
É um exemplo bastante bom dos projectos em que tive tantas discussões com os promotores, licenciadores e etc., que apoiavam o projecto, como com os meus colegas da conservação que entendiam que o projecto deveria ser liminarmente chumbado. Tem a particularidade desta situação ter sido ilustrada por um email tresmalhado de um dos consultores do promotor ter vindo parar inadvertidamente à minha caixa de correio pedindo a técnicos do ICNB que chumbassem o projecto, ao mesmo tempo que se assinavam estudos que diziam o contrário.
Mas não é sobre miséria moral que quero fazer um post, é mesmo sobre como foi construída a decisão.
O projecto foi inicialmente contestado liminarmente pelos conservacionistas pois localiza-se no principal corredor migratório conhecido em Portugal, o que certamente implicaria impactos muito grandes para a avifauna que usa aquele corredor.
Duas questões se levantaram contestando esta ideia base: 1) em concreto qual é a dimensão e configuração do dito corredor?; 2) outros parques eólicos já existentes no dito corredor estavam a ser monitorizados e os resultados não confirmavam a ideia de elevada mortalidade de espécies protegidas migradoras (nem de outras, diga-se em abono da verdade).
Como é costume em conservação, uma outra questão foi levantada: um casal de águia de bonnelli andaria por ali e aquele era potencial sítio de nidificação qualquer dia (é frequente quando aparece um projecto de que alguns conservacionistas não gostam para um sítio qualquer aparecer também informação de conservação que justificaria o chumbo imediato do projecto com base no princípio da precaução).
Com a pressão conhecida (e legítima) para a produção de energias renováveis, qualquer dificuldade no licenciamento deste tipo de projectos tinha como consequência eu ouvir o que Maomé não disse do toucinho (diga-se em abono da verdade, mais dos diferentes organismos do Estado e tutela política que propriamento dos promotores, de maneira geral muito mais razoáveis e racionais que os caniches de que a administração pública está cheia, sempre a abanar a cauda à voz do dono).
O resultado foi o chumbo do projecto tal como estava previsto e naquele momento, embora com reconhecimento de que a decisão poderia ser revista se a informação sobre a águia de bonelli fosse mais consistente (o princípio da decisão era de que na dúvida é preciso tratar o risco como um facto) e a informaçaõ sobre a migração fosse também mais consistente, permitindo assim discutir o risco de forma mais racional.
Como disse lá ouvi o costume (para alguns dos que me lêem neste blog pode parecer estranho, mas eu era considerado um perigoso radical conservacionista em alguns meios, ao mesmo tempo que noutros meios, o que se reconhecerá mais facilmente, um perigoso vendido aos interesses).
O projecto fica suspenso enquanto durante um ano se estuda a bonelli, mais a migração, mais se refina a informação sobre a mortalidade nos parques eólicos existentes.
Sobre a bonelli a coisa ficou mais ou menos resolvida (a espécie está em expansão na zona, não há grande notícia de afectação por infra-estruturas, os factores de ameaça são conhecidos e é, portanto, possível desenhar medidas compensatórias de modo a compensar o risco diminuindo os factores de ameaça da espécie).
Sobre a monitorização dos parques eólicos existentes confirma-se a informação de que não há grande mortalidade, a que há não é de espécies protegidas em migração e que grande parte do que se sabe indicia que um maior afastamento dos aerogeradores (deixando um sim, outro não, na proposta) resolve uma das causas de mortalidade identificada: ao detectar um aerogerador as aves desviam-se de forma brusca e vão morrer no aerogerador do lado. Mais, a monitorização, com um Estado sempre desconfiado, foi feita com duas metodologias sobrepostas, uma pelo promotor e outra pelo Estado, com a participação da SPEA, penso eu, sendo que os resultados mais favoráveis à conservação, e mais desfavoráveis para o promotor, são os do estudo do promotor.
Sobre a migração um acompanhamento aturado permite perceber que a grande maioria das aves voam a alturas que não interferem com os aerogeradores (ou dizendo melhor, os aerogeradores estão colocados a alturas que não interferem com o vôo), sendo muito reduzidas as probabilidades de interacção entre o parque eólico e a migração.
Ainda assim, o risco existe.
E chegamos ao ponto mais interessante deste projecto: a medida de minimização duríssima e complexa, que acabámos por impôr, procurando desenhá-la em todos os pormenores que permitissem a fiscalização pelo Estado do seu cumprimento. A medida não foi desenhada pela administração, foram sim definidos os seus parâmetros, de forma clara, racional e fundamentada em razões de conservação, de necessidade de transparência e capacidade de fiscalização. Foram ainda sugeridas as tecnologias com base em radar para a sua aplicação. O resto foi feito pelos consultores.
Definiu-se um perímetro na envolvente alargada do parque eólico, e impôs-se que se um número mínimo de aves de espécies definidas (foi aí que eu percebi as fragilidades do livro vermelho, ao notar que as espécies ameaçadas, que era o primeiro critério que nos pareceu lógico, incluíam espécies abundantes e vulgares, o que me levou a ir estudar por que razão eram consideradas ameaçadas, estudo esse que achei muito instrutivo, não tanto em matérias de conservação mas especialmente em matérias relacionadas com a psicologia de grupo) entrassem no perímetro os aerogeradores tivessem de ser imediatamente parados.
Caiu o Carmo e a Trindade, quer por parte do conservacionistas que desde o primeiro momento (e penso que ainda hoje) acham que o parque eólico não deveria ser autorizado naquele sítio, quer por parte dos promotores e seus "facilitadores" na administração, para quem a medida implicaria a inviabilidade do parque eólico.
Leio hoje no Público que o parque foi ontem inaugurado e inclui tecnologias portuguesas inspiradas na NASA para dar cumprimento a esta medida.
Dentro de dois anos, graças às fortes obrigações dos promotores em matéria de monitorização, teremos uma ideia se foi uma boa ou má decisão autorizar este parque eólico.
Eu não sei, sei apenas que aprendi muito em processos deste tipo, quando procurei levar a conciliação da conservação e da actividade económica ao limite do possível, especialmente quando os projectos tinham outros benefícios ambientais inquestionáveis.
E arranjei mais inimigos do que alguma vez pensei ser possível. De um lado e do outro das barricadas, como acontece a qualquer mestiço.
Mas também é verdade que para além de dormir hoje muito descansado, há uns quantos que concordando ou discordando do que digo, demonstram um respeito confortável para comigo.
Thanks a lot, para estes.
henrique pereira dos santos

segunda-feira, maio 03, 2010

Já passamos o pico do petróleo, em 2008, alerta Dr. Michael Lardelli


Não podemos mais dar ao luxo de se sentar em redor discutindo se passou ou não o pico da produção de petróleo. Nós não podemos esperar, complacentemente, por sinais dos preços para estimular o desenvolvimento de fontes alternativas de energia, dado que os preços do petróleo vão oscilar descontroladamente. Toda vez que a economia tenta crescer, a procura por petróleo vai exceder a oferta, fazendo com que o preço do petróleo suba drasticamente.

Artigo completo aqui

Entretanto a central nuclear
Cattenom, França registou 4 incidentes em menos de 30 dias

Leitura recomendada

O Pico de (quase) tudo

domingo, maio 02, 2010

Contas, linguagem e realidade

Passo o tempo a mudar de ideias.
Achei que não respondia mais ao tretas mas a ideia que existe na cabeça de eventuais leitores de quem faz contas sabe e quem não faz não sabe leva-me a retomar a discussão sobre as enormidades que o tretas resolveu inventar com base em contas absurdas e sem nexo.
E leva-me a retomar a discussão porque é um excelente exemplo igual a muitos outros de manipulação de números sem significado, uma das técnicas mais usadas para distorcer a realidade quando os objectivos são arrebanhar prosélitos e não pensar sobre a realidade.
É o que tem feito uma boa parte dos negacionistas climáticos (como mais ou menos sofisticação), é o que têm feito os impulsionadores do manifesto por uma nova energia (não confundir com alguns dos seus subscritores enganados pela sua boa fé e fascínio por números que não analisaram e com que não estão familiarizados) e por isso vale a pena desmontar este exemplo evidente de manipulação sem pés na cabeça, mas aparentemente muito credível por estar cheio de números, contas e gráficos.
Convém lembrar que os números, como as palavras, os sons, as imagens, são apenas uma linguagem e como qualquer linguagem tanto servem para dizer asneiras como coisas de génio. A estúpida frase de que os números não enganam pretende negar este facto mas é apenas uma demonstração de como com palavras certas se podem dizer coisas erradas. Como com qualquer linguagem.
Recordemos o argumento do tretas:
"Segundo os dados da REN, durante o primeiro trimestre de 2010 foram gastos em bombagem no Alqueva, 33.995 GWh. No mesmo período, foram efectuadas descargas de 2769.83 hm3. Estes valores são um grande avanço sobre os dados que havia aqui relatado a 27 de Fevereiro. Para que o HPS tenha uma noção destes números, as descargas representam dois terços (2769.83/4150 => 66.743%) da capacidade de armazenamento total do Alqueva! E os 33.995 GWh gastos em bombagem dão para abastecer energia suficiente para 11300 famílias durante um ano completo, o equivalente a quase 4 meses e meio de produção da central solar da Amareleja!Quanta energia potencial se perdeu dá uma conta ainda maior! É que enquanto esteve a bombar, o Alqueva não esteve a turbinar! Portanto, para além dos 34GWh perdidos em bombagem, o Alqueva podia ter estado verdadeiramente a produzir energia!!! Quanta energia se poderia ter produzido com 2769.83 hm3 é uma conta apenas um pouquinho mais complexa. Cada um dos dois grupos do Alqueva turbina 200m3/s, pelo que o valor dos 2769.83 hm3 daria para turbinar mais de 80 dias sem parar! Como o Alqueva consegue produzir mais de 5500MWh num único dia (ver dados de eg. 3 de Março de 2010), perderam-se 440.8 GWh pelo rio abaixo!!! Somando este valor ao do desperdício de bombagem, a energia potencial perdida é de cerca de 5 anos de produção da central solar da Amareleja... Mas o HPS pode argumentar que nem toda a energia potencial seria aproveitada, porque não há tantos dias num trimestre. Resumindo, o valor real mais concreto é de um desperdício de produção de cerca de 200 GWh (entre o máximo teórico para o trimestre e o efectivamente produzido no primeiro trimestre), a que se deve somar os tais 34 GWh desperdiçados na bombagem. Ora isso dá para quase dois dias de consumo de energia eléctrica em Portugal!"
A quantidade de asneiras é assombrosa e por isso vou precisar de algum espaço para as desmontar.
Socorro-me de alguns gráficos com comentários para facilitar.

Neste gráfico vemos como as descargas (a encarnado) não coincidem com a bombagem, como é evidente para quem partir do princípio de que as coisas feitas pelos outros se baseiam em decisões tão razoáveis como as nossas.
A bombagem é uma operação de optimização económica da exploração de barragens, não é uma operação de optimização da produção de energia (a segunda lei da termodinâmica explica por que razão há sempre perdas entre cada transformação energética. A quantidade de energia produzida na turbinagem é sempre menor que a energia necessária para elevar a quantidade de água a turbinar, pelo que a racionalidade desta operação é apenas económica: se o preço de cada unidade de energia for suficientemente diferente, pode compensar gastar mais energia a baixo custo para produzir energia de elevado valor).
Essa é a razão pela qual a racionalidade da bombagem não se mede em médias trimestrais mas hora a hora, nas condições concretas do mercado em cada dia do ano. E o que este gráfico mostra é o que é razoável: ninguém faz bombagem quando está a despejar água em descargas não turbinadas.
No fundo é o que este gráfico traduz, ao comparar a percentagem de utilização das turbinas de alqueva (a encarnado) com a bombagem. E o que vemos é que se as turbinas estão a ser usadas em percentagens elevadas, não há bombagem.

Neste gráfico, que relaciona a produção (a azul) com as descargas (a encarnado), o que verificamos é que as descargas apenas ocorrem porque não há mais capacidade de produção. Nessa circunstâncias, uma de duas coisas acontecem: ou se armazena, quando há capacidade para isso, ou se descarrega quando a albufeira já não tem mais capacidade de encaixe (que era o que acontecia em Alqueva desde o princípio do ano).

É o que está expresso neste gráfico, onde vemos um primeiro aumento de caudal (a verde) no início do ano, que não se traduz em nenhuma descarga (a encarnado) mas sim no aumento de percentagem de armazenamento na albufeira (a azul), mas a partir daí é evidente que havendo aumentos de caudal muito importantes é forçoso haver descargas. Para se ter uma ideia, convém ter a noção de que os caudais mínimos neste trimestre foram da ordem dos 30 m3/s, o mais vulgares na ordem dos 60 a 70m3/s e o caudal máximo passou dos 2000 m3/s. No Verão o caudal pode andar no 5 m3/s com frequência. A capacidade de turbinagem máxima em Alqueva é de 400 m3/s.

Para discutir a política energética e a racionalidade económica dos investimentos convém ter uma ideia da probabilidade de ocorrerem estes níveis de caudais afluentes (ou seja, com que clima lidamos) e não faz o menor sentido usar situações pontuais (isto é, condições meteorológicas concretas) para retirar conclusões gerais.

Ou seja, pretender que as descargas de Alqueva se devem ao excesso de eólicas e bombagens e não ao caudal afluente deste ano, e pretender com base em valores totais do trimestre que é lógico preparar Alqueva para turbinar 2000m3/ s (caudal que acontece em alguns poucos dias de alguns anos) tendo-se desperdiçado neste trimstre dois terços da energia disponível em Alqueva, pode ser embrulhado nas contas mais sofisticadas que se quiser que continua a ser uma estupidez tão grande como quando não se embrulha essa argumentação num único número.

Adenda: nem tinha reparado, mas uma asneira dita com muita convicção tem muita força. O tretas compara caudais (isto é, fluxos, ou volumes por unidade de tempo) com volumes para concluir que as descargas são dois terços da capacidade de alqueva. Só que para obter volumes teria sido necessário ao tretas verificar que precisava de multiplicar o caudal pelo número de segundos em que ocorre.

Adenda 2: a soma de caudais que o tretas faz para medir a energia desperdiçada em Alqueva é um excelente exemplo de operação aritmeticamente mas certa sem o menor significado físico. Se eu quiser encher a minha banheira e tiver duas torneiras abertas a debitar 2litros por segundo (se quiserem podem pôr 2m3, o que serão 2 mil litros) eu posso somar os caudais e dizer que a banheira está a ser cheia a 4 litros por segundo, porque as duas torneiras estão abertas ao mesmo tempo. No entanto se a banheira for enorme e eu tiver dois dias com uma torneira aberta, e souber que em cada dia o caudal foi de dois litros por segundo, não posso somar o caudal dos dois dias e dizer que a banheira nesses dois dias foi cheia a 4 litros por segundo, já que na verdade ela foi cheia durante dois dias a 2 litros por segundo. Se é verdade que o volume duplicou, também é verdade que o tempo que demorou a passar também duplicou e portanto o volume sobre o tempo manteve-se o mesmo.

Chegados a este ponto fico sempre na dúvida sobre se estamos perante uma ignorância do tamanho do mundo (eu já fiz muitos erros básicos deste tipo pela vida fora e tenciono fazer mais alguns) ou se é mesmo má-fé. Eu inclino-me para a ignorância: não só tenho uma opinião de princípio favorável às pessoas, como a má-fé tinha de vir associada a uma estupidez enorme para se acreditar que a asneira passava sem que ninguém reparasse.

Adenda 3: o tretas protestou com as duas adendas anteriores e tem razão, a asneira foi minha. Por qualquer razão pensei pensei que as descargas tivessem apresentadas em caudais e na verdade estão em volume hm3. Por isso não se aplicam as adendas. Aplica-se só o post.

henrique pereira dos santos

terça-feira, abril 27, 2010

Pois canté!

Devo estar muito velho.
A enorme maioria das pessoas que conheço e que sabem o significado da expressão que uso no título do post conhecem-na apenas do excelente disco do Grupo de Acção Cultural Vozes na Luta, um dos melhores disco de música portuguesa que conheço (podem dar aqui um salto, sobretudo os mais novos). Entretanto uma notícia de ontem diz que os discos vão ser reeditados em CD. Um grande abraço a quem o fizer, só num país de tontos seria possível estes discos ficarem eternamente proscritos da rádio.
Mas de facto eu ainda ouvi usar a expressão em conversas correntes, da mesma forma que ainda conheci bastante gente que distinguia o ch do x apesar de serem analfabetos que nunca aprenderam a ler nada (Intchada morreu a tua avó, respondiam, quando um urbanita resolvia dizer entchada por ouvir dizer satchola). Hoje penso que já é difícil ouvir usar pois canté e distinguir na fala o ch do x.
Ouço com alguma frequência o dito disco, que me fez lembrar a história da água de Alqueva que o Ecotretas conta para justificar a irracionalidade da bombagem nas barragens.
Foi quando o José Mário Branco, num evidente tom de troça, mas sempre com a qualidade inultrapassável que o caracteriza, canta (a partir de certa altura ajudado pelo coro):
"tanta propaganda na telefonia
a falar da grande crise da energia
com tanto desempregado quem diria
fala o aldrabão
e ri-se o patrão
isto inté que há-de mudar um dia
pois canté!"
Não que eu esteja a chamar aldrabão ao Ecotretas (hesitei em transcrever essa parte) mas pelo mesma lógica de raciocínio do GAC em 1975: como pode haver crise de energia se há tanto desempregado. Ou na versão moderna, para quê fazer eólicas se a água de Alqueva é despejada sem ser turbinada.
Diz o Ecotretas que dois terços da água de Alqueva foi desperdiçada (ver aqui).
Comecemos por uns dados simples:
no primeiro trimestre de 2010 a energia usada em bombagem em barragens foi de 94 GWh. Acontece que no mesmo período de 2009 foram usados 148GWh, isto é, bastante mais. Nos mesmos períodos a energia eólica produzida foi de 2,8 TWh em 2010 e 1,7 TWh em 2009. Ou seja, apesar de uma produção eólica muito maior, houve muito menos bombagem no primeiro trimestre de 2010 em relação a 2009.
Poder-se-á argumentar que isso se deve ao facto das albufeiras estarem cheias e por isso não ser razoável bombar, o que justificaria a exportação a preço zero da energia produzida a mais, que o distribuidor está obrigado a comprar aos produtores eólicos mesmo que não tenha mercado para essa energia. Mas o que não se pode dizer é que a bombagem é feita porque há eólica a mais, porque parece evidente a falta de nexo de causalidade entre a produção eólica e a necessidade de bombagem (a fantástica teoria de Pinto de Sá sobre a coincidência entre chuva e vento está mais relacionado com bobagens que com bombagens).
Em qualquer caso parece-me fantasioso argumentar com a energia potencial não turbinada em Alqueva porque todos sabemos que ninguém dimensiona os equipamentos para turbinar caudais que são excepcionalmente elevados, seria completamente irracional porque implicaria usar essa potência num número ínfimo de dias, sendo pois impossível de obter retorno para o investimento.
A lógica da turbinagem não tem nada com a dimensão física da energia produzida (não vale a pena discutir em Wh) mas sim com a dimensão económica da coisa (ou seja, só faz sentido discutir em euros).
Comprar energia barata em horas de vazio para produzir menos energia, mas nas horas de maior consumo, faz sentido se o aumento de preço compensar a diminuição da quantidade física.
Parece-me um conceito rudimentar o mercado da energia que até um ignorante como eu é capaz de perceber e explicar.
É por isso que não entendo por que razão o Ecotretas, sempre preocupado com a dimensão económica do mercado da energia (e bem) de repente resolve discutir esta questão evitando discutir a sua racionalidade económica.
Parece o actual governo a discutir as renováveis apenas nos aspectos físicos ou na diminuição das importações, esquecendo-se de discutir os aspectos económicos associados aos preços, a uma política incompreensível de intervenção administrativa no preço e esquecendo a coluna dos custos em que incorremos para ter a poupança que é referida como um bem em si.
Eu, que não tenho biblioteca, continuo convencido de que ganhávamos todos em introduzir racionalidade na discussão em vez de querermos esmagar o adversário para facilitar a dominância deste ou daquele modelo de produção de electricidade.
Entre outras razões porque o problema da electricidade é um problema relativamente menor na política energética do país.
Adenda: a bombagem, ao repôr energia potencial no sistema a partir das horas de vazio, permite que a potência instalada para responder aos picos possa ser menor, aspecto que não sei se será despiciendo do ponto de vista económico e ambiental
henrique pereira dos santos

sexta-feira, abril 23, 2010

Tretas


Ecotretas, nos comentários a este post, traz dois argumentos para a discussão da racionalidade da produção de electricidade (que é uma pequena parte da discussão da política energética).
O primeiro argumento pode ser visto aqui e no essencial diz que a venda de electricidade a Espanha a custo zero não é pontual, mas pelo contrário, é frequente. Para o fundamentar apresenta quatro dias seguidos em que isso aconteceu: 3, 4, 5 e 6 de Abril.
Essse argumento merece alguns comentários:
O primeiro é o que de estamos ainda a falar de situações pontuais, continuo a não ver uma avaliação concreta e alargada de quantas horas e, sobretudo, que custo tem esta situação para o sistema eléctrico;
O segundo é a afirmação de que isso resulta do facto de não se poder parar as eólicas (que mantêm o preço de entrega na rede mesmo nestas circunstâncias), quando na verdade isso resulta também da produção base térmica e hidraulica. A primeira não pode ser desligada, a segunda pode, quando o caudal dos rios o permite, o que não tem acontecido este ano, excepcionalmente;
O terceiro resulta do que é dito no anterior sobre a produção hídrica: o que se está a verificar não pode ser avaliado apenas num ano excepcionalmente húmido em que as albufeiras estão muito acima da média do seu enchimento, mas no conjunto dos anos onde habitualmente há capacidade de encaixe que este ano, excepcionalmente, repito, existe apenas de forma muito limitada;
O quarto é que a análise que é feita não é uma análise económica séria, porque omite o facto de que quaisquer que sejam as fontes de energia usadas, é precisa uma capacidade instalada muito superior às necessidades de consumo das horas de vazio (que é quando ocorrem estas entragas de energia a preço zero, valendo a pena lembrar que o camarada tretas escolhe um fim de semana para fazer a análise), pelo que em quaisquer fontes de energia há custos associados à não produção de energia, que podem ser integrados na tarifa paga (como acontece nas outras fontes de energia) ou podem ser pagos com garantia de compra (como acontece nos eólicos). O que não há, seguramente, é almoços de borla, portanto é preciso, para todas as fontes de energia, ser claro na contabilidade;
O quinto, e mais relevante, é que não é feito o balanço de perdas e ganhos, porque seria preciso saber que custos teríamos nós para comprar ou produzir energia em horas de cheio, para perceber em concreto quanto é o sobrecusto das renováveis e se isso é aceitável.
Ora nada disso tem vindo a ser feito, tem-se apenas brandido o fantasma das horas que são pagas às eólicas e oferecidas aos espanhóis (e não estou aqui a falar no facto da península energeticamente ser uma ilha, e não uma península, porque a França e os seus problemas decorrentes da falta de flexibilidade do seu nuclear, nos impedir de ter um mercado de elctricidade bem mais aberto e dinâmico, tanto quanto me parece mas percebo pouco do assunto).
Contas gerais em vez de factos pontuais ajudariam bastante.
O segundo argumento é o de que se está a bombar para depois abrir comportas em Alqueva.
É um argumento ainda mais extraordinário que pressupõe que as barragens deveriam ser equipadas com potências preparadas para turbinar caudais com períodos de retorno alargados, como são os que actualmente enchem Alqueva. E esquece na bombagem a questão não é bem de energia (o que se produz bombando é sempre muito menos que o que se gasta a bombar) mas de economia (compra-se a preço de vazio para bombar, vende-se a preço de cheio, e a diferença de preço por unidade compensa largamente o défice energético negativo). Ou seja, este argumento, se analisado do ponto de vista económico, é totalmente diferente do que parece se analisado do ponto de vista da energia material envolvida.
E os argumentistas sabem disso muito bem.
A primeira pergunta é pois a seguinte: por que razão nuns argumentos usam unidades físicas (energia gasta e consumida) e noutros argumentos usam unidades económicas (custos e proveitos)?
A segunda pergunta é ainda a seguinte: por que razão se extrapolam conclusões gerais de dias particulares em vez de analisar os dados gerais?
henrique pereira dos santos

quinta-feira, abril 22, 2010

O manifesto da energia no seu labirinto

Não vou transcrever integralmente o artigo de Mira Amaral sobre o manifesto para uma nova política energética que pode ser lido aqui.
Mas há coisas que gostaria de comentar.

"por isso eu e um conjunto de colegas Professores do IST começámos a preparar um texto que foi depois alargado a outros subscritores.Trata-se dum exercício de cidadania de pessoas conscientes, responsáveis, com grande competência técnica e económica,"
É completamente despropositado o uso de argumentos de autoridade deste tipo. E uma enorme demonstração de fraqueza e fanfarronice.
"devido ao medo de retaliações, tivemos pessoas que acabaram por desistir de subscrever o Manifesto…"
Mira Amaral acha que pessoas que têm medo de retaliações (quais? a quem? por quem?) por terem opinião em matéria de energia fazem falta no seu manifesto?
"Nós consideramos até que a biomassa e os biocombustíveis são o parente pobre da política (?) energética actual."
Cá se está outra vez a confundir política energética com política de produção de energia. O parente pobre desta política é mesmo a poupança, a eficiência e o uso de inteligência para diminuir consumos mantendo qualidade de vida (o solar térmico é talvez o mais emblemático dos parentes pobres, a par com a política de transportes de raiz ambiental). Mas no contexto actual vir dizer que os biocombustiveis são o parente pobre da política energética faz sentido para quem uma vez classificou o eucalipto como o petróleo de Portugal.
"O Manifesto não tratava da energia nuclear. Limitava-se a pedir que fosse feito um exercício de Planeamento Energético a Médio-Longo Prazo, normal em qualquer país civilizado, no qual se considerassem todas as formas de energia.Mas o Governo, o poderoso lóbi eólico e alguns jornalistas vieram logo usar o papão do nuclear para tentarem condicionar a discussão sobre os excessos eólico e fotovoltaico."
Não percebo. Mas o manifesto era sobre uma nova política energética ou era sobre os excessos eólico e fotovoltaico?
"A energia eólica é intermitente e volátil, e por isso a potência instalada apenas é aproveitada 25% do tempo para produzir energia."
Basta saber que o sistema tem de ser dimensionado para os picos, que existem em períodos curtos, para perceber que qualquer que seja a forma escolhida de produção de electricidade a capacidade instalada só vai ser usada em percentagens muito pequenas do que poderia. Não conheço solução para isto. Suponho que Mira Amaral também não.
"Essa volatilidade faz que durante a noite muitas vezes há vento e energia produzida em excesso em relação às necessidades de consumo e por isso vai-se acumular essa energia em centrais de bombagem. Ou vendemo-la a Espanha a preço zero, tendo nós, os consumidores, pago a mesma a um preço elevadíssimo, ou como aconteceu no Alqueva em Dezembro passado o excesso de produção alimentou bombagens na central do Alqueva para depois esta ter de abrir as comportas e deixar vazar sem préstimo essa água, e com ela a energia armazenada (e bem paga) por nós!"
Esta falácia tem vindo a ser repetida vezes sem conta sem que nem por uma única vez alguém diga qual a percentagem de energia vendida a preço zero, nem quanta energia potencial se perdeu com a abertura das comportas de Alqueva (que é determinada pela quantidade de chuva e não pela bombagem entretanto feita, pelo menos em quantidade significativa).
"Durante o dia, muitas vezes não há vento quando precisamos de energia e por isso lá têm que entrar em apoio à falta de vento as centrais térmicas de custos fixos elevados, como as de gás natural."
O uso de meias verdades é das formas mais insidiosas de mentir. Que as centrais têm de existir no mix e que têm produções base abaixo das quais não devem ser levadas, de acordo, mas Mira Amaral omite, e só pode ser deliberadamente face aos pergaminhos académicos que apresente no artigo, que esse é em grande medida o papel da hídrica: disponibilizar em muito curto espaço de tempo energia para satisfazer os picos (por isso a hídrica ainda trabalha uma percentagem de horas menor que a eólica, penso que por volta dos 9%, mas corrijam-me por favor que não sei porque tenho este número na cabeça).
"passar na nossa rede de 3.500 MW para 8.500 MW da eólica é um manifesto exagero que só tornará a electricidade cada vez mais cara."
Duas meias verdades numa afirmação tão curtinha: os novos contratos de eólicas são a preços mais baixos que os primeiros e, mais importante, tornam a electricidade mais cara ao actual preço do petróleo (aliás, ao actual preço do petróleo é quase ela por ela), que pode variar, coisa que não acontece com o preço da eólica. Quem acredita que o petróleo nos próximos quinze anos vai manter-se nestes preços, com certeza achará isto estúpido. Quem achar que não sabe e mais vale, dentro de limites razoáveis, ter alternativas, acha isto defensável.
"Tudo isto consubstancia um desvario e uma irracionalidade económica que todos já estamos a pagar, e que já é bem visível com o famoso défice tarifário, que terá um efeito bola de neve."
Se em relação ao fotovoltaico partilho parte das opiniões expressas por Mira Amaral, já em relação a esta conclusão não posso deixar de assinalar que é completamente abusiva: o défice tarifário existe porque o Governo adoptou uma política de tarifas estúpida, não real e que isenta as empresas do esforço de racionalização que o aumento de preço aconselharia. Isso é completamente independente da política de produção de energia.
"o total conjunto da rubrica "Eólica, Geotérmica e Fotovoltaica" em 2008 representou apenas 2,11% do consumo total de energia primária em Portugal, tendo-se mantido a dependência energética em redor de 83% ao longo dos últimos dez anos."
É muita desonestidade junta. Primeiro retira-se a hídrica das renováveis e depois inclui-se os 75% do consumo de energia que não são electricidade. Nem que 100% da electricidade fosse de origem renovável o dependência energética diminuiria muito porque 75% do consumo energético não dizem respeito ao uso de electricidade. Para quê ser desoneste se se está convencido da razão?
E já agora, em que é que consiste a tal nova política energética alternativa a esta?
henrique pereira dos santos

quarta-feira, abril 21, 2010

E porque não um cluster de cientistas portugueses produzirem um contra-manifesto?

Rui Curado Silva, investigador no Departamento de Física da Universidade de Coimbra, identificou um documento difundido por mais de 400 investigadores do clima franceses denunciando a falta de ética científica dos niilistas do clima. Diz ainda que a reacção dos climatólogos franceses vem ao encontro do apelo lançado pelo editorial de Março da revista Nature em que se alerta a comunidade científica de que a estratégia de não resposta aos niilistas para não dar visibilidade a protagonismos individuais pseudo-científicos ter tido como resultado a ocupação do espaço mediático por estes indivíduos [fonte]

Foto: Central de Biomassa de Mortágua

1. para evitar que uma vez mais senhores como Henrique Neto, que na TV vem defender a política energética de Salazar (!!) e o primado das barragens - e Carlos Pimenta desmentiu-o e bem informando que os preços das energias por via hídrica são mais baixos porque não contabilizam o carbono e quanto às tecnologias, Portugal tem neste momento vantagens tecnológicas;

2. para aliviar e não atribuir excessivas responsabilidades às associações ambientalistas;

3. para retirar espaço de mediatização de saudosistas do fascismo, niilistas climáticos nacionais e dos defensores de mais barragens e nuclear;

Pergunto porque não um grupo de 100 ou mais cientistas do clima, energias, da mobilidade e economistas pós-carbono nacionais produzam um manifesto? Uma boa base de partida é a postagem do Henrique Santos ou eventualmente outra que possa surgir.

sexta-feira, abril 09, 2010

A posição da QUERCUS sobre política energética

Sem grandes comentários, para além de notar a moderação e sensatez que por vezes tem faltado nesta matéria a parte do movimento ambientalista, reconhecendo que a complexidade real do problema obriga a olhar para o assunto de cabeça aberta. Tenho pena que a questão dos preços reais não seja mais clara.
"Política energética:
É possível um caminho com menos barragens e sem nuclear
A Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza reconhece as energias renováveis como uma peça fundamental para uma aposta energética sólida em Portugal e defende um debate claro e sério sobre a forma diversificada de produção de energia (mix energético) mais conveniente para o nosso país a médio (2020) e longo prazo (2050).
A Quercus considera que as prioridades do governo não estão correctamente ordenadas nesta área, pelo que em primeiro lugar deveria estar a redução de consumo e eficiência energética, seguida das energias renováveis e, por fim, a mobilidade sustentável. A associação reconhece que há muito por clarificar na área das energias renováveis em termos de investimento, formulação e garantia de preços de venda à rede.É prioritário um investimento forte na redução do consumo de energia e na eficiência energética, que não deve ser deixada para segundo plano, como aconteceu até aqui. Mantendo a tendência actual de crescimento do consumo energético, não vai ser possível cumprir o objectivo de redução anual do mesmo em 1% até 2016.A aposta nas energias renováveis é uma aposta também na independência energética do país. A subsidiação das energias renováveis é uma realidade, mas também é ainda mais avultado o investimento nos combustíveis fósseis e na investigação nuclear.No âmbito da estratégia europeia energia-clima, Portugal tem a obrigação de produzir 31% da energia final consumida por fontes de energias renováveis. Esta é uma meta legal que terá de ser cumprida.Dar prioridade às energias renováveis é também essencial para promover a independência energética do país, que a energia nuclear não assegura. Mais ainda, é igualmente uma forma de incentivar o desenvolvimento tecnológico nacional mais vantajosa do que quaisquer modelos de produção energética centralizada e em grande escala.Neste momento, o governo aposta sobretudo na potência instalada de energia renovável pela grande hídrica, que no entender da Quercus deve ser revista, já que o peso da energia hídrica tem vindo a diminuir em relação ao crescente contributo da energia eólica na produção de electricidade.Em paralelo, a Quercus ressalva ainda outros pontos que carecem de revisão, no quadro da política energética apresentada recentemente:- Rever a política de eficiência energética para que Portugal tenha condições para cumprir as suas obrigações comunitárias e conseguir efectivamente reduzir o consumo de energia e melhorar a intensidade energética;- Analisar a capacidade total de potência instalada prevista, que pode promover o aumento de consumo e fazer fracassar na política de eficiência energética;- Clarificar a capacidade de armazenamento de energia eólica das dez novas barragens previstas no Plano Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico.Lisboa, 7 de Abril de 2010A Direcção Nacional daQuercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza"
henrique pereira dos santos

Política energética ou política de produção de energia?

Nos posts anteriores transcrevi as posições mais audiveis sobre o "manifesto para uma nova política energética": as dos subscritores do manifesto, e as dos mais directamente visados, os produtores de energia renovável.
Haverá razões de parta a parte, como é natural neste tipo de situações, mas vale a pena reter o que me parece que deveria ser um ponto de vista ambiental sobre a discussão.
1) Não faz sentido reduzir a política energética a uma discussão sobre produção de electricidade, não só porque a electricidade representa uma fracção relativamente pequena do consumo energético, como mesmo no campo da electricidade há um enorme espaço de racionalização do seu uso que não passa pela discussão sobre as formas de produção;
2) É muito desagradável a sensação de meias verdades contidas nos documentos, neste caso, é justo dizê-lo, mas do lado dos subscritores do manifesto que do lado da APREN;
3) A mais grave dessas meias verdades é a que envolve a discussão sobre o défice tarifário: não é verdade que o défice tarifário resulte da política de renováveis, embora seja verdade que a sua dimensão resulta, em parte, da diferença do preço de custo de produção e do preço de mercado. Ora essa decisão é uma opção política totalmente errada dos Governos fortemente influenciada pela ideia de que a energia tem de ser barata. Do ponto de vista ambiental é preciso ser claro e dizer que a energia deve ter o preço que resultar da sua produção e que os preços elevados de energia reduzem o desperdício, sendo por isso favoráveis do ponto de vista ambiental. O facto de isso ter implicações económicas (não necessariamente e sempre negativas), e sociais deve ser ponderado no conjunto dos valores sociais em presença e não deve levar à ideia de que o preço baixo se deve sobrepôr a todas as outras considerações;
4) Alguns dos pressupostos do manifesto são confrangedoramente frágeis tecnicamente (como a história não demonstrada e com peso real não avaliado da coincidência entre chuva e vento, por exemplo). Mais grave que isso, alguns são deliberadamente torcidos. Por exemplo, no site do manifesto estão os três estudos sobre a perda de emrpegos decorrentes das renováveis, sem que ao mesmo tempo os subscritores do manifesto tenham a hombridade de lhes juntar as críticas mtodológicas feitas. A resposta a uma pergunta sobre esta matéria (há críticas metodológicas mas não há alteração das conclusões) é manifestamente de quem não leu os documentos ou está de má-fé, já que as críticas metodológicas invalidam por completo os estudos citados, desde a sua base. As críticas podem estar erradas, é razoável contestá-las, o que não é razoável é manter as conclusões sem contestar críticas que pura e simplesmente invalidam a totalidade do estudo;
5) O facto dos subscritores do manifesto omitirem que os três estudos têm a mesma origem de financiamento, que é um fundo com agenda política, mereceria esclarecimento: ou não é verdade que assim seja e estamos perante três estudos totalmente autónomos (o que não é crível dadas as suas similitudes metodológicas, incluindo inovações não suportadas por nenhuma verificação empírica) ou é mesmo de má-fé que estamos a falar;
6) Seria normal que a APREN fosse mais explícita nalgumas das suas afirmações, nomeadamente quanto à formação do preço, o que não acontece, usando aliás a mesma lógica de parcialidade dos estudos citados no relatório que encomendou à Deloitte, como uma previsão de criação de emprego verdadeiramente delirante;
7) Do mesmo modo é completamente inaceitável que se fale de poupança na redução de consumos de petróleo sem que se refira o custo das alternativas. Poupança resulta do saldo da redução de consumos mais aumento de custo de produção alternativa e não é razoável usar apenas a coluna do haver, sem usar a coluna do dever. A APREN e o Governo contribuem para a mistificação e obscurecimento da discussão ao insistir nesta meia verdade;
8) A poupança energética (de electricidade e dos outros consumos de energia, que são aliás a maioria), a eficiência energética, a água quente solar e outras soluções parcdiais corrrem o risco de ficarem completamente submersas nesta discussão entre modelos de produção de electricidade, com forte prejuízo para a definição (e afectação de recursos) para uma verdadeira política energética.
henrique pereira dos santos

quinta-feira, abril 08, 2010

A crítica ao manifesto pelos principais visados


Na sequência deste post, aqui fica algum contraditório da associação de produtores de energias renováveis.
"ESCLARECIMENTO
Lisboa, 7 de Abril de 2010 – A APREN - Associação Portuguesa de Energias Renováveis, criada em 1988, reunindo cerca de sessenta empresas responsáveis pela promoção de energias renováveis para a produção de electricidade, perante o “Manifesto por uma nova política energética em Portugal”, entende ser seu dever contribuir para o esclarecimento de alguns pontos que, conquanto subscritos por eminentes figuras dos meios económico e financeiro, reflectem, no mínimo, desconhecimento de aspectos essenciais da problemática energética do nosso tempo. Neste âmbito, a APREN esclarece que:
1. Sem questionar a relevância da discussão das questões energéticas, tão significativas para o desenvolvimento, quando analisadas tanto do lado da oferta como da procura e na óptica da eficiência energética e do contributo dos cidadãos, rejeita o pressuposto da consideração negativa que o Manifesto faz da aposta de Portugal nas Energias Renováveis ao longo da última década.
2. Ao optar pela aposta nas Energias Renováveis, Portugal não fez mais que assumir as suas obrigações no quadro da política energética da União Europeia, que definiu três metas para 2020: aumentar em 20% a eficiência no uso da energia, aumentar de 8% para 20% a parte das energias renováveis no consumo final de energia e diminuir em 20% as emissões de gases de efeito de estufa.
3. A política do Governo de prosseguir nesta via deixa claro que, muito embora tenha havido nos últimos anos porventura um défice no discurso e debate sobre as políticas energéticas, existe um caminho traçado que se projecta em 2020 e para além disso.
4. Num quadro de serena implementação de uma política energética traçada e mantida por sucessivos Governos ao longo de uma década, cujas lacunas e insuficiências apenas importa colmatar e superar, é totalmente desprovida de sentido uma abordagem como a que se faz no Manifesto, que ignora obsessivamente os aspectos positivos sem oferecer alternativa – que não existe de facto - com reflexos imediatos ou sequer no curto prazo.
5. A APREN considera que o debate sobre a Política Energética Nacional deve ter por base uma análise técnica e económica rigorosa, isenta e suportada em informação cabal e bem documentada. Infelizmente, o Manifesto não assenta nestes princípios e, portanto, não serve para esse efeito.
6. A APREN não deixará de contribuir, como o tem vindo a fazer até aqui, com elementos documentais que demonstrem os erros, aproximações e omissões do Manifesto. Declarando-se, assim, sempre disponível para analisar e discutir a problemática da produção da electricidade, de forma séria e completa, sem temer confrontos no quadro de uma visão global da Política Energética Nacional.
7. Entretanto e atendendo à dimensão de algumas afirmações erróneas do Manifesto já conhecidas, a APREN não pode deixar de afirmar, com pena e desalento, que é falso:
- Que o preço pago pela electricidade de origem eólica é três vezes o preço do mercado. Em 2008 o preço médio pago pela electricidade de origem eólica foi de 94,7 Euros por cada MWh[1] enquanto a média ponderada do preço da energia eléctrica no OMEL (na zona portuguesa), para o mesmo ano, foi de 72,18 €/MWh[2]. É omissa a referência a que o preço pago à energia eólica para novos projectos tenderá a ser muito inferior à tarifa anterior e já o é para os parques eólicos do concurso mais recente, que têm uma tarifa garantida inferior a 70€/MWh[3];
- Afirmar que o desenvolvimento das energias renováveis não teve impacto na dependência do
país das energias fósseis. A APREN relembra que em 1999 apenas 31% da electricidade produzida em Portugal provinha de fontes de energia renováveis contra 69% de origem fóssil
(com um IPH de 0,68, ano seco) e, em 2009, a percentagem de electricidade de origem renovável foi de 46% contra 54% de origem fóssil (com um IPH de 0,77, ano seco);
- Atribuir às energias renováveis a responsabilidade do défice tarifário. Ao deixar entender que o actual défice corresponde ao sobrecusto das energias renováveis, o Manifesto não se exime à
suspeita de ma fé.
[1] Fonte: ERSE, Informação sobre Produção em Regime Especial (PRE) em Portugal Continental - Dados actualizados a Fevereiro de 2010
[2] Fonte: ERSE, Informação sobre Produção em Regime Especial (PRE) em Portugal Continental - Dados actualizados a Março de 2009
[3] O que tem implicações na redução do preço médio da energia eólica que, em 2009, observou já o início de uma curva que se projecta como descendente, assumindo o valor de 93,7 €/MWh "

henrique pereira dos santos

O manifesto

O manifesto que comentei aqui foi ontem apresentado em conferência de imprensa.
Como num comentário ao post se falava nas quatro horas da tarde, acabei por perder a dita apresentação, que foi perto do meio dia.
Publico agora um resumo do que se passou, feito por quem tem obrigação profissional de relatar objectivamente o evento. Pese embora essa obrigação, não deixa de ser um relato informal que pode ter erros ou omissões.
Farei de seguida um segundo post com a crítica da APREN.
Quando tiver tempo farei a minha leitura destes dois posts.
O manifesto pode ser lido no site indicado no texto sobre a conferência de imprensa.
Esperamos com isto contribuir para um debate sobre política energética, numa perspectiva ambiental.
Mas reconheça-se desde já que discutir política energética, sobretudo do ponto de vista ambiental, não é apenas discutir formas de produção, posição em que se situam quer os promotores do manifesto, quer a APREN, afunilando um debate que eu gostaria de ver mais aberto.
"Resumo conferência de imprensa apresentação do
“Manifesto por uma nova política energética em Portugal”
Data: 7 de Abril de 2010
Local: Associação Comercial de Lisboa
Duração: das 12h15 às 14h00
Presentes: aproximadamente 30 pessoas; cerca de 10 jornalistas e a restante assistência era praticamente constituída por signatários do estudo. Na mesa estava o Eng. Mira Amaral, Prof. Pinto de Sá, Prof. Clemente Pedro Nunes e Dr. João Duque
Ordem de Trabalhos: Inicialmente o Eng. Mira Amaral leu o manifesto, acrescentando alguns esclarecimentos sobre algumas questões. Depois o Eng. Mira Amaral leu também o resumo dos 3 estudos de referência. De seguida os restantes três elementos da mesa deram a sua opinião e por fim foram respondidas perguntas dos jornalistas
Endereço do site do Manifesto: http://energiaparaportugal.com/
Resumo:
Introdução
Mira Amaral (MA) referiu que quando chegou ao Governo já tinha conhecimento nas matérias de energia ao contrário de outros
Foram recebidos esta manhã pelo Secretário de Estado da Energia (o Ministro da Economia não pode estar presente como previsto)
O Manifesto foi entregue ao chefe da casa civil e foi pedida uma audiência ao Presidente da República
Vai também ser solicitada uma audiência aos partidos políticos
O Manifesto foi lido na íntegra. Os pontos mais desenvolvidos foram;
É pago um preço fixo á electricidade renovável quer se precise dela ou não o que não faz sentido numa economia de mercado
As eólicas precisam sempre de equipamento suplementar. Quando estão a produzir à noite necessitam da bombagem hidroeléctrica. De dia necessitam das centrais térmicas em stand by para compensar a intermitência da produção
Quando o regulador quis aumentar o preço da electricidade o Governo desautorizou-o e “escondeu-se” atrás do défice tarifário
O estudo do BPI sobre as finanças públicas portuguesas não contabiliza a dívida pública do défice tarifário
O défice tarifário foi de 2.000 milhões de euros e o PIB português é de cerca de 160.000 milhões de euros
A perda de rendimento da bombagem hidroeléctrica é cerca de 25%
Potência instalada é diferente de energia produzida (depende da disponibilidade) mas o que passa nos jornais é só a potência
As novas barragens não vão reduzir as importações de petróleo
Questiona os comentários do artigo do Eng. Jorge Vasconcelos porque é necessário passar de valores de energia para valores económicos - €
Há um excesso de entusiasmo nos 43% de electricidade renovável. Segundo os dados da DGEG a incorporação de energias renováveis na energia primária é de apenas 2,11%. Este é um valor importantíssimo que deveria sair nos jornais
Foram apresentados os três estudos internacionais e analisado o resumo executivo de cada um deles.
O Dr. Mira Amaral afirmou estar surpreendido com os resultados dos países mais avançados que estão patentes nesses mesmos estudos.
Sobre o estudo Alemão acrescentou que é de espantar que o contributo da electricidade de origem fotovoltaica seja tão insignificante sendo esta a mais subsidiada e sendo a Alemanha um país que produz painéis solares PV. Acrescenta que o esquema alemão não dá nenhum incentivo para inovação e desenvolvimento tecnológico
Sobre o estudo espanhol MA citou o Dr. Inacio de Galan, presidente da Iberdrola que disse que a tecnologia solar é um produto financeiro e não uma solução tecnológica. O estudo também refere que o Ministro da Economia (se não me engano não me lembro qual o ministério) vai reduzir os prémios às energias renováveis para aumentar a competitividade da economia espanhola
Intervenção de Clemente Pedro Nunes:
Fez uma retrospectiva das políticas energéticas referindo que o último plano estratégico de Porugal foi em 83/84 quando se decidiu que a diversificação do petróleo seria recorrendo a carvão e Gás Natural. Apenas a assinatura do Protocolo de Quioto em 2001 impediu a construção de mais centrais a carvão e passámos a ddefender as energias renováveis com consequências gravíssimas para a competitividade com países como China e Índia sem restrições climáticas
Ultrapassar as limitações tecnológicas injectando dinheiros públicos é um erro grave. Seseguir as modas (alusão às energias renováveis) põe em causa a competitividade económica e pode colocar em causa as exportações portuguesas.
Referência ao facto de serem os consumidores a pagarem a diferença de preço / custo, dando como exemplo a diferença de preço da micro geração solar.
Questiona o porquê de certas tecnologias serem privilegiadas.
A biomassa devia ser mais apoiada, pois é produto nacional e produz quando necessário, daí não se perceber a razão de ser o plano mais atrasado.
Biocombustíveis também deviam ser mais apoiados, não há legislação clara para o futuro
A tarifa italiana de biomassa é superior à nossa da eólica para o preço do consumidor.
Intervenção de Pinto de Sá (demasiado técnica os jornalistas estavam claramente sem interesse):
Explicação da evolução tecnológica nos países que primeiro adoptaram as renováveis.
Países que compreenderam estar a subsidiar indústria chinesa e não nacional.
Portugal não tem muita experiência nestas tecnologias e já não vamos a tempo de criar mercado porque já está saturado.
Explicação sobre intermitência e falta de controlo da energia eólica e solar, exaltando a necessidade de backup e as desvantagens técnicas e económicas que daí advêm.
Excesso de produção dificulta a exportação, sendo que Espanha tem esse mesmo problema e daí o preço ser nulo.
Solução de combinação hídrica e eólica nunca foi testada, nem devidamente investigada, em particular quando existem a simultaneidade da produção eólica e albufeiras cheias.
Intervenção João Duque:
Foco no défice tarifário: não se deve subsidiar ineficiência em massa ainda por cima considerando o “imposto” das renováveis, correspondente à dívida do défice tarifário.
Analisou o recente relatório de contas da EDP e verificou que o défice tarifário foi considerado com um activo da EDP. Uma tranche de 1600 milhões de euros já foi titularizada – responsabilidade dos consumidores no pagamento desta dívida, se não formos nós são as gerações futuras
Única forma de reduzir o défice é aumentar o preço da electricidade ou diminuir os custos da sua produção. Dever-se-ia primar pela segunda opção mas receia que a actual política energética nacional não o esteja a fazer.
Perguntas dos jornalistas:
· Jornal de Negócios
o Esclarecer a diferença do valor dos 2,11% referidos no documento e os 43%
o Como correu audiência com Secretário de Estado
o Qual a solução/alternativa?
· Ana Suspiro, i
o Qual a % do défice tarifário atribuída às renováveis
o Qual a ligação com o PSD
· Lurdes Ferreira, Público
o Diz-se que a competitividade das empresas é afectada mas não são elas que pagam o sobrecusto
o Quais as metas do grupo em termos de preço e I&D
o Se a estratégia actual não resolve o problema da dependência energética qual a solução
o Porque é que o grupo não teve em consideração as respostas que rebatem os estudos apresentados
· Marina Conceição, Diário Económico
o Qual a opinião do grupo sobre a energia nuclear (pergunta final feita apenas depois de terem sido respondidas todas as outras)
Respostas a perguntas de jornalistas:
· [MA] Diferença entre os 43% e o 2,11% referido no Manifesto. Um é energia total primária outro é electricidade – referida a questão do ano hidráulico médio mal calculado.
· [MA] Resultado da audiência de hoje com o Carlos Zorrinho – Foi uma conversa cordial e ele prometeu ler os documentos. Subscritores do Manifesto já têm experiência no resultado dos Manifestos em Portugal, sendo que a primeira reacção normal é de ignorar mas depois como aconteceu em outros casos (Exemplo do Aeroporto na OTA) acabam por ganhar a razão.
· [MA]Reiteraram que o grupo não tem conotações políticas.
· [MA] Todas as alternativas devem ser consideradas, sem tabus não têm ainda uma resposta.
· [MA] A subsidiação cruzada para desviar os sobrecustos vai ser uma bola de neve, vai extravasar para os consumidores domésticos, para as empresas e depois para os contribuintes.
· [MA] Não há metas para R&D nem a definição de preços foi considerada devido à falta de tempo, duvidando que mesmo o Governo saiba responder a estas questões.
· [CPN] O gás utilizado para back up das renováveis também é pago.
· [CPN] Investimento na fotovoltaica é suicídio não há previsões de melhorias nos próximos 20 anos (creio que se referia a melhorias de eficiência)
· [CPN] O plano anterior do governo fazia referência ao carvão limpo. Entretanto foi substituído por capacidade adicional de renováveis ou que também é um erro
· [CPN] Os consumidores em BTN não são só os domésticos também as PMEs e por isso estas também pagam o sobrecusto
· [PS] Só conhece a crítica do estudo espanhol pelo NREL. Está bem feita e incide sobre aspectos metodológicos mas não invalida as conclusões
· [MA] É possível que a eólica atinja brevemente a grid parity e entre a mercado mas a fotovoltaica vai continuar a precisar de subsídios
· [MA] Em 2010 devido à descida dos preços do petróleo o preço da electricidade também podia ter diminuído o que não aconteceu porque foi pago parte do défice tarifário. No fundo as térmicas contribuíram para poupanças que não puderam ser internalizadas
· [CPN] Segundo dados da ERSE o sobrecusto das renováveis em 2009 foi de 900 milhões de euros, 80% do qual referente às renováveis priveligiadas. Biomassa e biocombustíveis não são devidamente apoiadas
· [MA] sobre a pergunta do nuclear – Não houve capacidade de analisar tudo. O problema analisado foi só eólicas e fotovoltaicas que é grave enquanto não entrarem com o preço da rede. O que não aceitam é condicionamento de qualquer opinião. Não têm um gabinete de estudos e portanto não se podem substituir à obrigação dos partidos e pagar estudos dos próprios bolsos"
henrique pereira dos santos

sexta-feira, abril 02, 2010

Manifesto nuclear



Aqui pode ser lido integralmente um manifesto sobre uma "nova política energética".
E é bom que seja lido e discutido.
A mensagem explícita central do manifesto é esta:
"Todas as estratégias de saída da crise se baseiam na necessidade de aumento da competitividade empresarial, que o custo da energia irá prejudicar."
É uma mensagem clara, linear e apelativa. Mas onde está prejudicar, deveria estar afectar, ou condicionar. Primeiro por uma questão simples de português: o custo em si não prejudica ou beneficia o que quer que seja, neste caso, por exemplo, um custo baixo da energia não prejudica a competitividade. Segundo porque mesmo que se subentenda custo alto, onde está apenas custo, não é líquido que o custo alto da energia prejudique a economia.
Basta dar um salto aqui e verificar como o preço da gasolina, per si, tem pouca relação com o desempenho económico dos países e, a sentir-se alguma relação olhando para o gráfico, o que vemos vagamente é os países com preços mais altos tenderem a ter também melhor desempenho económico.
Já várias vezes tenho aqui citado o artigo "Green and competitive" de Michael Porter e Class van der Linde para explicar que a pressão que o custo de um factor impõe a um processo produtivo, se adequadamente sentida por todos os que competem nesse mercado, tem um efeito de racionalização no seu uso que se traduz quer em maior inovação, quer em maior competividade, quer em poupança (racionalização e eficiência) no uso do recurso.
Quer isto dizer que é indiferente o preço da energia? Seguramente não estou a dizer isso e já várias vezes escrevi aqui contra a política energética deste Governo, exactamente por não avaliar convenientemente esse custo e não o tornar tão claro e explícito quanto possível. O custo alto da energia é um problema, mas não é um drama insolúvel para a economia. Dependendo da forma como é gertido, pode ter efeitos positivos ou negativos. Ou melhor, terá sempre efeitos positivos e negativos, mas o seu balanço pode ser mais positivo ou mais negativo.
Esclarecida esta questão, vejamos então ao que vem o dito manifesto.
Os oitos pontos em que está dividido o manifesto são críticas à política de produção de renováveis. Críticas essas que partilho em grande parte, como tenho escrito por aqui.
Mas o que gostaria era mesmo de perceber em que consiste a nova política energética que o manifesto promete em título. Vejamos então o grande final do manifesto:
"Assim, os signatários consideram fundamental exigir uma avaliação técnica e económica, independente e credível, da política energética nacional, de forma a ter em conta todas as alternativas energéticas actualmente disponíveis, com o objectivo inequívoco de reduzir os preços da energia com que são confrontados os cidadãos e as empresas, a par de garantir uma maior segurança energética e uma verdadeira redução do défice da balança comercial."
Ora batatas.
Tanta coisa, tanta gente importante, tanto cérebro de excepção para pedir que uma avaliação técnica e económica da política energética inclua o nuclear, sem que as colunas vertebrais que suportam os ditos cérebros tenham tido sequer a hombridade e coragem de o dizer de forma clara.
Sobre eficência energética? Zero. Sobre racionalização de consumos? Zero? Sobre política de transportes, nomeadamente de transportes públicos? Zero. Sobre água quente solar? Zero.
O objectivo da política energética é reduzir o seu preço? Têm mesmo a certeza que é isso? Mesmo que essa redução de preço implique maior ineficiência, como qualquer dos subscritores da área da economia e da gestão tem obrigação de saber?
E já agora, porque não pedem uma política para o sector financeiro cujo objectivo seja diminuir o preço dos serviços financeiros e do dinheiro?
E também uma política social que tenha como objectivo reduzir o custo do trabalho?
Eu que não sei tanto como tanto engenheiro e tanto economista que se manifesta pensei que o objectivo da política energética era abastecer o país de forma eficiente, competitiva e resiliente às alterações bruscas em que o mercado da energia é fértil (hoje o preço do barril de petróleo está ligeiramente acima dos 80 dólares e o euro tem vindo a desvalorizar-se face ao dólar, dois factores que concorrem para que o preço de mercado da energia eólica se aproxime rapidamente do preço administrativo estabelecido. Quem diria).
Mas eu concordo com o manifesto: é precisa uma boa avaliação técnica e económica da política energética. É ridículo chamar a isso uma nova política energética, mas é um passo para lá chegar. E espero que se inclua o nuclear nessa análise. Mas que no preço do nuclear estejam incluídos todos os seus custos reais, como o custo da investigação, que tem sido suportada pelos Estados, o custo de desmantelamento, que tem sido passado para as sociedades, o custo dos riscos associados, que tem sido omitido porque ninguém segura os riscos a não ser os Estados, o custo da resolução do problema dos resíduos, que tem sido chutado para as gerações futuras, e por aí fora. E que nessa análise se inclua o custo da poupança, da eficiência energética, da água quente solar, dos transportes públicos e por aí fora.
Pena é se continuarmos entre a propaganda delirante do Governo nesta matéria e manifestos nucleares disfarçados de cordeiros pascais.
henrique pereira dos santos

domingo, janeiro 24, 2010

Neutro, seguramente não, ciência, talvez



O blog nuclearista A ciência não é neutra é um blog a que vou de vez em quando aprender umas coisas.

Vou menos do que iria se não tivesse alguma dificuldade em lidar com pessoas que insultam os outros com a maior das facilidades mas demonstram uma hiper-sensibilidade à menor crítica que lhes seja feita.

Como acontece com a generalidade dos nuclearistas, a crítica às energias renováveis é uma constante. É uma crítica muitas vezes justa, e partilho com aquele blog alguma apreensão pela ideia instalada de tudo o que é renovável é bom e o que é preciso é andar (talvez por ouvir no fundo dessa argumentação o eco do para Angola em força que a pátria não se discute, agora substituído por renováveis).

Também acho que é preciso discutir o preço dessa política e tenho poucas dúvidas de que na sua base não está qualquer preocupação ambiental mas sim o facto das renováveis serem um meio fácil de captar investimento sem aumentar o défice. E embora com algum prejuízo da competitividade, a política compensa porque isso da competividade é coisa mais difícil de dar por ela e pode sempre dizer-se que são os empresários que são maus.

Mas o conjunto de posts sobre o facto de pontualmente se estar a produzir energia a um preço de 9 cents o kWh e a entregar de graça a Espanha merece alguns comentários de um ignorante como eu, que não comento lá no sítio dada a tendência do dono do blog se sentir insultado por dá cá aquela palha.

O essencial da questão é que em algumas alturas chove muito, venta muito e há pouco consumo. Nessas alturas, como o comprador está obrigado a comprar toda a electricidade eólica produzida, ele é obrigado a entregá-la em qualquer lado. Como não há consumo suficiente em Portugal, entrega ao lado. Mas como ao lado estão com o mesmo problema, e não precisam da energia, aceitam-na, mas de graça.

Onde começam as minhas perplexidades?

Em primeiro lugar no facto do autor do blog deixar entender que toda essa energia está a ser produzida a 9 cents por kWh, o que me parece que não será bem assim porque aqui estará incluída alguma energia produzida de outra forma (hídrica, por exemplo).

Depois, porque daria a impressão de que durante todo o tempo em que isso acontece a exportação seria a custo zero (enfim, num post mais à frente lá se fala da exportação em horas de cheio, que será a 5 cents, e há pelo meio um diagrama que mostra variações diárias).

Também não percebo por que razão se escolhe como diagrama demonstrativo um que diz respeito a um Domingo.

E tenho ainda dificuldade em perceber como se tiram conclusões gerais de uma situação particular (todos os dias há produção de muitos outros bens que não se vendem, desde bilhetes de avião, a quartos de hotel a outros menos perecíveis, como bananas), em vez de se fazer a análise global da questão.

Reparo ainda, que com certeza por distracção, quando se demonstra a correlação entre precipitação e vento se esquece a frase final do gráfico: essa correlação é particularmente verdadeira para barragens sem albufeira. Claro que pegar em correlações climáticas escandinavas e aplicá-las em Portugal é um detalhe, no meio disto tudo, incluindo essa coisa da irregularidade das chuvas nas nossas condições, que faz com que haja muitos anos em que faz vento, chove, mas ainda assim muitas albufeiras (que muitas vezes são de regularização inter-anual) estão muito menos que cheias.

Enfim, estou de acordo na necessidade de discutir o preço da política das renováveis (nomeadamente face à apatia perante a eficiência energética), estou de acordo na necessidade de introduzir racionalidade económica e etc..

Mas quando vejo tantas coisas a levantar-me dúvidas sobre a forma como um nuclearista lida com as renováveis fico com a sensação de que talvez as renováveis sejam mais competitivas do que parece à primeira vista, sobretudo face ao nuclear.

Mas isto é um ignorante a falar, claro.

henrique pereira dos santos

quinta-feira, janeiro 07, 2010

Perplexidades de um ignorante

Um dia destes à conversa com João César das Neves vi este gráfico que representa o preço do petróleo a preços de 2008 (ou seja, limpo do efeito da inflação).
Acho o gráfico muito interessante, acho interessante que João César das Neves (se bem interpreto a conversa) não veja no gráfico qualquer aumento do preço do petróleo, apenas volatilidade (eu não sei contrapôr, a volatilidade é indiscutível, se desde o contra-choque petrolífero de 1986 a tendência é de estabilidade volátil ou se é de aumento suave acho que não se pode dizer com segurança a partir deste gráfico).
Mas este gráfico relaciona-se com outra ideia muito difundida nos meios nuclearistas, que em grande medida coincidem com os opositores das renováveis (há uns poucos que não são nem contra nem a favor de renováveis, limitam-se a discutir a racionalidade económica de as tratar excepcionalmente no tarifário): a energia cara tem custos económicos insuportáveis.
O exemplo que é dado para o efeito negativo das renováveis é a Dinamarca, que tem o custo de produção mais alto da Europa (dizem, não vou verificar).
E daí? Não é a Dinamarca muito mais rica que muitos outros que produzem electricidade a preços mais baixos?
Alguém conhece um estudo concreto que relacione o custo de produção da electricidade num país com o seu desempenho económico?
henrique pereira dos santos