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terça-feira, setembro 07, 2010

Terra alerta

Terra alerta era o nome de um programa de televisão feito pela jornalista Carla Castelo.
Primeiro um programa mais virado para a sustentabilidade clássica (energia, resíduos, água e por aí fora) mas com a adesão da SIC à iniciativa Business and Biodiversity a biodiversidade ganhou peso.
Depois o programa, tanto quanto sei um dos poucos das televisões generalistas em Portugal que falam de biodiversidade sem corresponder a agendas militantes, desapareceu.
Talvez hoje à noite, no jornal da noite da sic notícias (espero não me enganar no nome porque não vejo televisão habitualmente e para mim todos jornais em televisão são telejornais, como penso que acontece com a maioria das pessoas), reapareça um reportagem sobre biodiversidade, neste caso penso que sobre a Reserva da Faia Brava.
Mas se não aparecer, podem vê-la na estreia da nova série Terra Alerta, que será no Sábado às 16 e 30 na SIC Notícias, tanto quanto sei.
Conheci a Carla Castelo quando iniciei uma discussão por email sobre a gestão do ICNB respondendo-lhe (sem a conhecer de lado nenhum) a um artigo de opinião que não me pareceu justo.
Desde aí tenho-me cruzado várias vezes com esta jornalista (nomeadamente em duas reportagens para esta nova série de programas, uma, por puro acaso, porque estava em Figueira de Castelo Rodrigo ao mesmo tempo que a equipa de reportagem estava na Faia Brava e noutra porque me pediram opinião sobre um assunto concreto) e sem ter de concordar com tudo o que publica reconheço-a entre os poucos jornalistas de ambiente portugueses que procuram de facto informar-se, fazendo reportagem digna desse nome.
Fico satisfeito de saber que este programa vai para o ar outra vez, mesmo que a minha infidelidade à televisão provavelmente não me faça vê-lo muitas vezes (na série anterior havia o bom hábito de ter videos na internet com várias reportagens, espero que se mantenha essa possibilidade e com certeza farei aqui alguns links).
henrique pereira dos santos

sexta-feira, agosto 20, 2010

Refere o NY Times: Portugal dá a si próprio uma reforma de energia limpa

Fonte: NY Times



Na série de longos artigos do NY Times "Beyond Fossil Fuels- Lessons From Europe" a 9 de Agosto, de 2010, a cronista Elisabeth Rosenthal dirigiu a sua atenção para Portugal. 
Embora com alguma agenda política no meio, creio que não ficamos mal no figurino, pois em boa verdade Portugal tem crescido imenso em energias renováveis. 
O artigo tem despertado imenso debate (mais de 230 comentários!!) e entendo que devemos aproveitar esta onda e bons ventos para um lugar ainda mais ao Sol!




Portugal Gives Itself a Clean-Energy Makeover

LISBON — Five years ago, the leaders of this sun-scorched, wind-swept nation made a bet: To reduce Portugal’s  dependence on imported fossil fuels, they embarked on an array of  ambitious renewable energy projects — primarily harnessing the country’s  wind and hydropower, but also its sunlight and ocean waves.

Today, Lisbon’s trendy bars, Porto’s factories and the Algarve’s  glamorous resorts are powered substantially by clean energy. Nearly 45  percent of the electricity in Portugal’s grid will come from renewable  sources this year, up from 17 percent just five years ago.

Land-based wind power — this year deemed “potentially competitive” with fossil fuels  by the International Energy Agency in Paris — has expanded sevenfold in  that time. And Portugal expects in 2011 to become the first country to  inaugurate a national network of charging stations for electric cars.

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terça-feira, julho 27, 2010

O Leste e as alterações climáticas

Ontem e hoje parece que a coisa vai caindo para as características mais típicas das condições meteorológicas associadas ao vento Leste. A partir de amanhã o vento parece-me que muda e os incendiários tirarão algum descanso. Razão tinha o Almodovar.
Previsivelmente para estas condições meteorológicas, a coisa está complicada, 14 fogos registados a esta hora no site da protecção civil, metade deles vindos de ontem (lá se vai a teoria da extinção nas primeiras fases e o ataque rápido e fulminante, com meios aéreos, que nos explicaram que eram responsáveis pelo êxito dos anos passados).
A esta hora (e estamos nas primeiras horas da manhã), nas regiões com mais fogos a humidade atmosférica já ronda o 30%. Felizmente o vento tem sido fraco.
Continuo a achar que os índices de risco de incêndio deveriam ter um plus nos dias de vento Leste.
Pois sendo tudo isto previsível e de acordo com os cânones, lá vêm os jornais em parangonas de primeira página a falar de ondas de calor e etc., e pelo menos o Público com referências ao aquecimento global.
Da mesma forma que protestei com os tontinhos que escarneciam do aquecimento global porque estava frio no Inverno, protesto com o absurdo de associar estas condições meteorológicas ao aquecimento global.
Tempo é tempo, meteorologia é meteorologia e clima é outra coisa.
Mas a sensação que me fica é que anda muita gente a Leste do paraíso.
henrique pereira dos santos

sexta-feira, abril 23, 2010

Iniciativas

O Público tem um site sobre o Ano Internacional da Biodiversidade.
Aí, para além de outras coisas (como os artigos do bom suplemento publicado ontem) existe um painel com várias pessoas (Miguel Araújo e eu incluídos, aqui deste blog) que vão respondendo a perguntas do Público ao longo do tempo.
Já agora, o link também para o site do ICNB com o objectivo de divulgar as iniciativas para este ano.
henrique pereira dos santos

sexta-feira, março 26, 2010

"Interesses económicos ganham à ciência na defesa de espécies ameaçadas"



O jornalismo de causas é quase sempre mau jornalismo. Pode ser útil, pode dar textos fantásticos, mas raramente, muito raramente, bom jornalismo.
É o caso do artigo de hoje do Público em que Teresa Firmino (uma jornalista que não está na lista dos que eu leio já sabendo o que vão dizer) em que se relata o que se está a passar na conferência das partes da convenção sobre o comércio de espécies ameaçadas de extinção.
O título (que fui buscar para título deste post) é um título bastante idiota. Poderá ser escolha do editor e não da jornalista, mas o título retrata bem o artigo.
A ideia de que proibir a caça ou a pesca a uma espécie é uma escolha entre ciência e interesses eonómicos, é completamente falha de sentido.
Proibir a caça ou a pesca é uma decisão política que afecta negativamente alguns interesses e positivamente outros interesses (por exemplo, o Quénia é a favor da proibição da comercialização de marfim porque a ideia de um país exemplar do ponto de vista da conservação é muito relevante para a sua poderosa indústria turística de safaris). E a ciência não ganha nem perde nestas decisões. O que está em discussão, na maioria destas decisões, é muito pouco de ciência (se as espécies estão mais ou menos ameaçadas e quais são os principais factores de ameaça, havendo ciência dos dois lados da barricada, de maneira geral com grandes consensos e pequenas divergências) e quase tudo de política: qual é a forma mais eficaz de obter um resultado que é consensual.
Por exemplo, na questão do marfim, existem muitos investigadores (e países) que acham a animosidade das populações locais bem mais perigoso para a conservação dos elefantes que um comércio legal, fortemente regulamentado e cujos benefícios revertam, pelo menos em parte, para as populações.
Do outro lado há muita gente que concordando, entende que o comércio legal (e consequentemente o abate legal) é uma porta aberta para o furtivismo.
O que tem esta discussão de científico? Nada ou quase nada.
Por outro lado não se percebe porque razão se consideram como interesses económicos apenas os que são contra algumas das proibições, esquecendo os interesses económicos associados ao outro lado da questão.
A questão do comércio de espécies selvagens é uma questão difícil e muito relevante na conservação (mesmo para quem, como eu, tenha uma posição razoavelmente céptica em relação ao peso da perseguição directa na afectação de muitas populações, há muitas situações em que a perseguição directa motivada pelo interesse comercial pode ser relevante na conservação da espécie) mas seguramente não é pegando noticiosament no assunto da forma como Teresa Firmino o fez que se contribui para a formação de opinião pública esclarecida sobre o assunto.

Adenda: ao procurar uma imagem para o post verifiquei que títulos semelhantes aparecem em vários jornais e agências noticiosas. O artigo é pelos vistos também preguiçoso, omitindo a referência a agências internacionais que seguramente foram usadas como fonte. Não estava à espera.
henrique pereira dos santos

terça-feira, janeiro 19, 2010

Uma área protegida para jornalistas incompetentes


O jornal i publicou na contracapa da edição de 15 de janeiro um artigo sobre uma área dedicada à proteção do habitat do urso polar, no Alaska. Seria a maior área protegida do mundo, nada mais nada menos que 50 mil campos de futebol. Os jornalistas são uma classe profissional curiosa. Para além de tratar os seus leitores regularmente como ignorantes (alguém começou a traduzir hectares em campos de futebol, medida tão curiosa como inortodoxa), e são particularmente fracotes em matemática. Sabendo que muitas das áreas protegidas Portuguesas são mais do que 50 mil hectares, estranhei a notícia e já comecei a sentir tal comichão quando vejo jornalistas e números em conjunto. Uma rápida pesquisa na internet revelou que a dita área é de 520 mil quilómetros quadrados. Ah, pronto, já está. São uns meros 52 milhões de hectares (ou campos de futebol, se quiserem, mas não vejo grande utilidade em tantos campos de futebol para os ursos). O jornalista enganou-se num factor de mil.

Será que isto é grave? Sim e não. É óbvio o que interessa é que foi criada uma área de proteção para os ursos jogarem à bola à vontade. Mas ao mesmo tempo, o valor de serviços noticiários depende de uma certa relação de confiança entre a mídia e o (neste caso) leitor. Quando se verifica com preocupante frequência que a mídia não merece esta confiança, o leitor fica com a dúvida sobre as restantes informações que recebe e que não consegue verificar numa rápida pesquisa na internet. E isto afeta a base da sociedade de informação.

Por fim, sinto-me lesado como cliente que sou do jornal. Paguei logo tenho direito a um serviço de qualidade. E quando um jornalista nem sequer se dá ao trabalho de pegar numa máquina calculadora e apurar o número de campos de futebol que tanto gosta, paguei demais para um mau serviço.

Henk Feith

sábado, agosto 01, 2009

Linha férrea afecta 150 mil hectares de montado de sobro

Montado de azinho no sul de Grândola (Lousal)
Hoje o Público, na sua secção "Local", publica um artigo da autoria de Carlos Dias, cujo título me intrigou: "Quase 150 mil hectares de montado de sobro afectados pela linha férrea Sines-Elvas".

Estando habituado a estatísticas sobre a floresta Portuguesa, pensei: bolas, que tipo de linha férrea é aquela que afecta perto de 20% do montado de sobro em Portugal?

Ao ler o artigo comecei a perceber que, mais uma vez, o jornalismo ambiental recorre a manipulação de factos para insuflar notícias. Já no texto principal do artigo, é evidente que houve ou erro grosseiro ou intenção nos valores apresentados, uma vez que falam de uma faixa de 400 metros de largura e uma extensão de 40 km. Essa faixa, na sua totalidade ocupa 1600 hectares (40000*400/10000), por isso pouco mais do que 1% da área indicada no título. Também será de esperar que nem toda a área daquela faixa seja ocupada com montados de sobro, ou mesmo de montados em geral (não haverá montado de azinho naquela faixa? ou será que o jornalista desconhece essa espécie?).

40 km entre Sines e Elvas parece-me curto. Por estrada são 251 km (fonte: Google maps), admito que uma linha férrea seja mais rectilínea, por isso deve estar perto duns 200 km. Será que são 40 km a atravessar montados? Não se compreende do artigo.

Mais grave se torna quando se fala no possível abate de "cerca de 7000 sobreiros, muitos deles centenários" (para o leigo romântico, qualquer árvore que não se consegue abraçar é centenária). Tendo um montado adulto entre 50 a 100 sobreiros por hectare (um montado jovem poderá ir até 10 vezes esta densidade), este segundo valor apontaria para a perda de 70 e 140 hectares de montado. Pergunto eu onde estarão os 150 mil hectares afectados que o jornalista refere, sem indicar as suas fontes de informação.

Mas o que ponho em causa não é o impacte que esta linha férrea terá na paisagem e habitats alentejanas. Se calhar (é provável) estão em risco valores ecológicos muito mais relevantes que os sobreiros, aquela vaca sagrada dos ambientalistas portugueses. Conheço montados de azinho no sul do concelho de Grândola que são dos mais intatos e vigorosos que conheço. Conheço o vale do rio Sado junto às localidades Azinheiro dos Barros e Vale de Eira e é capaz de ser um dos segredos naturais mais bem guardados de Portugal (como é possível que a RN2000 não ligue os sítios de Estuário do Sado e Castro Verde através do vale do Sado?, assim sim seria uma Rede em vez de um arquipélago de áreas classificadas). A perda destes valores naturais seria uma perda significativa e deve ser evitada a todo o custo. O que ponho em causa é a qualidade jornalística de uma peça que, ou por ignorância ou por intenção, transmite uma mensagem que está manifestamente errada. É mau e é recorrente no jornalismo ambiental.

Henk Feith