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domingo, 30 de dezembro de 2012

Maria Ratzinger, a esquecida


Georg, Joseph e Maria

Quando escrevi sobre o livro do irmão do Papa, “Meu irmão, o Papa”, de Georg Ratzinger (aqui), disse que houve dois aspetos que não apreciei lá muito. Um depende do próprio Georg e outro de Hesemann. Comecemos por este. A ver se o assunto fica encerrado antes que o ano acabe.

Ao historiador que entrevistou o irmão do Papa só faltou dizer que a ideia da realização do II Concílio do Vaticano se deveu ao próprio Joseph Ratzinger. Não exagero. Michael Hesemann diz que o cardeal Frings, arcebispo de Colónia, “a figura mais impressionante do episcopado alemão do pós-guerra” ouviu “«o menino-prodígio da Teologia» Ratzinger a esboçar os seus pensamentos sobre a «Teologia do Concílio»” e o convida para uma conversa. A seguir pede a Ratzinger que escreva uma conferência que o próprio arcebispo haveria de proferir em Génova sobre “o Concílio nos tempos atuais”. “O esboço que [Ratzinger] entregou pouco depois era tão bom que Frings só precisou de fazer uma correção” (p. 187). Com a conferência, “o cardeal parecia ter anunciado o programa teológico de todo o Concílio” (p. 188). Pouco depois, Frings encontra-se com João XXIII e este agradece-lhe o discurso de Génova. Em suma, tendo em conta que, segundo Hesemann, o cardeal de Colónia desejava um concílio mesmo antes da decisão do Papa, foi dos mais influentes na aula conciliar e teve  como principal perito Jospeh Ratzinger, “ele [Frings] e o seu grupo [ou seja, Ratzinger] conseguiram escrever a história do Concílio” (p. 189).

É claramente excessivo o que o co-autor do livro escreve sobre Joseph Ratzinger e o Concílio. É pouco sobre o acontecimento em si e muito sobre a influência de Ratzinger, que, na realidade, sem qualquer dúvida, foi menor do que a de Yves Congar, Henri de Lubac, Jean Daniélou, Karl Rahner, ou mesmo John Courtney Murray . Georg, sobre o seu irmão e o Concílio, é muito modesto. Diz só que o irmão fez uma conferência em 1964 sobre a falta de unanimidade entre teólogos e religiosos do concílio.

O segundo aspeto. Os irmãos Ratzinger são três: Maria (1921), Georg (1924) e Joseph (1927). No livro fala-se regularmente do pai e da mãe Ratzinger, mas quase nada da irmã Ratzinger, que morreu quase com 70 anos (nasceu a 7 de dezembro de 1921 e morreu a 2 de novembro de 1991). Maria Theogona Ratzinger acompanhou toda a vida os irmãos, principalmente Joseph, que serviu até morrer. Uma santa praticamente anónima, como muitas mulheres que no século passado se dedicavam completamente aos seus irmãos padres. Maria merecia mais memória.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Quem escreveu isto? (9)

Os dogmas podem perfeitamente ser unilaterais, superficiais, autoritários, obscuros e precipitados.


a) Um perigoso relativista, com certeza.
b) Joseph Ratzinger?! Não acredito.
c) Hans Kung, para a seguir dar mais uma ferroada na infalibilidade.
d) Walter Kasper. E chegou a cardeal?


Resposta: d) Walter Kasper, na página 160 de "Introdução à fé" (ed. Telos, Porto, 1973). Ele acrescenta que "os dogmas submetem-se à historicidade de toda a linguagem humana e só são concretamente verdadeiros em relação ao contexto correspondente", como, aliás, já foi citado neste blogue.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Meu irmão, o Papa. Gostei muito



Claro que o trato por Joseph,
qualquer outro tratamento seria inimaginável.
Georg Ratzinger, pág. 237

Do alto dos seus 87 anos, idade que tinha quando o livro foi ditado e escrito, em 2011, Georg Ratzinger (1924) oferece-nos um relato cheio de simpatia, bondade e alguma graça sobre a sua vida e a do seu irmão, Joseph (1927), que desde 2005 é o Papa Bento XVI.

Ordenados padres no mesmo dia (29 de junho de 1951) – Georg atrasou-se uns anos devido à II Guerra Mundial – sempre os irmãos andaram próximos, ainda que o mais velho tenha ficado por Ratisbona, onde dirigiu o coro infantil dos “Pardais de Ratisbona”, de fama mundial, enquanto o irmão, desde 1982, está por Roma. Supõe-se que a dependência seja mútua, mas Georg descreve a sua em relação ao irmão Papa com uma abertura admirável. Conta, pois, como ficou “abatido” quando ouviu o nome “Ratzinger” para sucessor de João Paulo II, na tarde de 19 de abril de 2005, e não só por causa dos desafios e fardos do ofício. “Fiquei triste porque ele já não teria tempo para mim. Naquela noite, deite-me bastante deprimido. Durante toda noite e no dia seguinte até à tarde, o telefone não parou de tocar, mas foi-me completamente indiferente. Simplesmente não atendi. «Não me chateiem!», pensei” (pág. 227). Mal imaginava que algumas dessas chamadas partiam do próprio Bento XVI. Para que não volte a acontecer tal desencontro, Georg comprou um segundo telefone. “Só ele [Bento XVI] tem o número da segunda linha. Se esse telefone tocar, sei que é o meu irmão, o Papa” (pág. 228). “Desde então, telefona-me várias vezes por semana, mas eu nunca o faço. É muito mais fácil para ele apanhar-me a mim, porque estou sempre em casa enão tenho de cumprir nenhuma agenda” (pág. 236).

Além de constituir um belo exemplo de amizade fraternal, este livro permite-nos ficar a conhecer muito da vida de Joseph Ratzinger, principalmente antes do Papado, e em especial dos pais, o guarda Joseph Ratzinger (1877-1959) e a cozinheira Maria Peintner (1884-1963), que se conheceram através de um anúncio colocado no jornal “Mensageiro de Nossa Senhora de Altotting”, quando o pai do Papa tinha 43 anos, corria o ano de 1920.

Uma família contra o nazismo
Entre os muitos dados e histórias deste livro, realço a relação da família Ratzinger com o nazismo. O futuro Papa tinha cinco anos quando Hitler subiu ao poder, no início de 1933, e 12 no início da guerra, em 1939, mas não têm faltado, principalmente na imprensa internacional, insinuações maldosas – porque infundadas – quanto a alguma simpatia pelo nazismo, já que em 1943, 16 anos feitos, foi requisitado para ajudar na defesa antiaérea de indústrias como a BMW, que nessa altura fabricava motores de avião (a hélice continua a fazer parte do emblema da marca). Joseph, durante uma inspeção militar, contou que queria ser padre e foi motivo de gozo. Perto do final da guerra, em abril de 1945 (a guerra terminaria na Europa a 8 de maio desse ano), consegue desertar e só por motivos nunca esclarecidos – talvez porque os próprios oficiais antevissem o desfecho da guerra – não é fuzilado ao ser descoberto em casa dos pais, para mais porque o seu Ratzinger sénior  desabafou e revelou toda a sua ira contra Hitler.

O pai do Papa, embora tivesse uma função ligada ao Estado, como guarda, reformou-se em 1937, ao atingir os 60 anos e desconfiava visceralmente de Hitler (certamente conhecia a posição do bispo que crismou e ordenou os Ratzinger, D. Faulhaber, defensor dos judeus e redator principal da encíclica com que Pio XI condenou o nazismo, “Mit brennender Sorge”, “Com profunda preocupação”). Antes disso, recusou-se determinantemente a filiar-se no partido nazi. Para não pôr em perigo a família, pediu à esposa que aderisse à organização feminina do regime. “A minha mãe – diz Georg – contava o que se passava nas reuniões da secção feminina nacional-socialista de Aschau. Não falavam de Hitler, mas trocavam receitas de culinária, falavam dos seus jardins e às vezes rezavam o terço em conjunto. Essas reuniões «nazis» eram bastante atípicas e não tinham nada a ver com a ideologia castanha”. Quando começa a guerra, Joseph sénior compra uma telefonia “porque tinha a certeza de que os nazis só nos mentiam”, diz Georg. E Hesemann acrescenta: “Quando em 1940 Hitler festejava os seus grandes triunfos, quase todos andavam eufóricos. Só o pai Ratzinger se manteve obstinado. Uma vitória de Hitler nunca poderia ser uma vitória da Alemanha, teimava. Aquela não era senão a vitória do Anticristo que ia trazer tempos apocalípticos para os crentes e não só” (pág. 112).

Ursinho de peluche
Como curiosidade, uma entre várias, registe-se que Bento XVI, em criança, ficou encantado com um ursinho de peluche que viu numa montra. Todos dias ele e o irmão passavam pela loja a admirar o brinquedo. Um dia, antes do Natal, o ursinho desapareceu e Joseph “chorou amargamente”, diz o irmão mais velho. “Por fim, chegaram o Natal e as prendas. Quando o Joseph entrou na sala enfeitada onde estava a árvore de Natal ornamentada, riu-se de felicidade. Entre as prendas para as crianças, lá estava o Teddy para o Joseph. Trouxera-o o Menino Jesus. Foi a maior felicidade da sua jovem vida” (pág. 43).

Mais tarde, Ratzinger teria direito a outro urso, o do seu brasão de bispo de Munique e Freising, e, desde 2005, com algumas modificações, de Papa. O urso nele representado é o urso de São Corbiniano, o primeiro bispo de Freising (séc. VIII). Segundo a lenda, quando Corbiniano se dirigia para Roma, um urso atacou e matou o seu cavalo. Não restando outro meio, Corbiniano acalmou o urso e fê-lo transportar a bagagem até Roma. Diz-se que o urso domado pela graça de Deus é o próprio bispo, enquanto a bagagem é o fardo do episcopado.

O primeiro ursinho foi a maior alegria da “jovem vida”. Desejamos que o segundo, com o inesperado fardo do pontificado, com as preocupações e responsabilidades de ser sucessor de Pedro, represente a maior alegria da vida que já vai nos 85 anos, feitos no dia 16 de abril, sendo sete de Papa, assinalados no dia 19 deste mês (a eleição) e ontem (o início do pontificado).

Nota: Ficam para mais tarde umas breves notas sobre dois aspetos negativos deste livro.
Nota 2: Para os que dizem que Bento XVI ri - contra a minha opinião de que ele não tem grande sentido de humor -, realço esta afirmação de Georg: “Por fim, chegaram o Natal e as prendas. Quando o Joseph entrou na sala enfeitada onde estava a árvore de Natal ornamentada, riu-se de felicidade. Entre as prendas para as crianças, lá estava o Teddy para o Joseph". Desejo do fundo do meu coração que Bento XVI ria muitas vezes de felicidade.



quarta-feira, 18 de abril de 2012

Humor de Georg Ratzinger


Cardeal Faulhaber

A leitura de “Meu irmão, o Papa”, de Georg Ratzinger e Michael Hesemann proporcionou-me uns dias muito agradáveis. Hei de apontar aqui os pontos que mais apreciei neste livro (e um ligeiro desgosto).

Georg, nos seus 84 anos, fala com grande bonomia e espantosa memória. A idade, que será certamente causa de uma qualidade, pelos vistos não afetou a outra.

Nota-se em todas as páginas que tem um grande amor pelo irmão. Parece, até, que é um amor, uma dependência, maior que o do irmão por ele.

Uma ou outra vez há humor no livro. Boa disposição há muita mais. Um caso de humor:

Um dia, o cardeal Faulhaber (o cardeal que crismou e ordenou os Ratzinger; anti-Hitler, foi o principal redator da encíclica “Mit brennender Sorge”, em que Pio XI condenou o nazismo, e várias vezes defendeu os judeus, sendo apelidado de “juden-kardinal”) foi visitar o seminário onde estudavam os irmãos Ratzinger. Conta Georg: “Uma vez, o porteiro, que também servia as refeições, entornou-lhe molho na batina. Quando o cardeal o fixou repreensivamente, o porteiro, Sr. Bartl, titubeou: “Eminência, não faz mal, temos mais molho na cozinha” (pág. 154).

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Bruder Rat na páginas cor de rosa

Os irmãos Rat na "Flash" de 2 de abril, a propósito do livro "Meu irmão, o Papa". Na foto principal, ao fundo, os "Pardais de Ratisbona", que Georg dirigiu.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Livro do irmão do Papa


Estou a ler "Meu irmão, o Papa", de Georg Ratzinger (D. Quixote). Até à página 94, onde me encontro, é o melhor livro que li até agora sobre Joseph Ratzinger, embora ainda tenha falado pouco dele. As palavras de Georg respiram bonomia, serenidade. Leem-se com imenso agrado. E alguma piada. Humanizam o Papa.


Fico com uma boa ideia da família Ratzinger. Uma família urbana. O pai, polícia, pouco falador, era um bom contador de histórias para os filhos. Detestava Hitler (chamava-lhe "o vagabundo") e recusou juntar-se ao partido nazi. A mãe, boa cozinheira. Para não pôr em perigo a família, fez parte da organização feminina do regime e ia a umas reuniões onde não  falavam de Hitler, mas trocavam receitas de culinária, falavam dos seus jardins e às vezes rezavam o terço.


Antes do nazismo. Um dia (19 de junho de 1931; Joseph tinha quatro anos), o cardeal de Munique e Freising foi a Tittmoning, onde residia então a família Ratzinger, administrar o crisma. Conta Georg (pág. 68-69):
"O carro parou, mas a porta permaneceu fechada até que o nosso pai, estreando o uniforme de gala com sabre, capacete e cinturão brilhantes, a abriu. O cardeal desceu lentamente e observou a multidão com olhar majestoso. Ficámos todos extraordinariamente impressionados, e o meu irmão disse laconicamente: «Um dia, vou ser cardeal». 
Uns dias mais tarde, pintaram o nosso apartamento. O pintor fazia tudo com tanto jeito, que o meu irmão o observou com admiração até declarar por fim: «Um dia também vou ser pintor»".

sábado, 23 de julho de 2011

O meu irmão Papa. Georg Ratzinger fala de Bento XVI


Será lançado em Setembro, em Munique, Alemanha, o livro “Meu irmão, o Papa”, com histórias contadas por alguém que conhece Bento XVI há muito e de perto: o seu irmão mais velho, Georg Ratzinger.


O livro de 256 páginas apresenta as memórias do irmão do Papa, narradas ao escritor e historiador Michael Hesemann, da infância ao presente, passando pela ordenação presbiteral conjunta, no dia 29 de Junho de 1951. Será publicado na Alemanha pela editora Herbig.


Li aqui. Editora alemã aqui.


Georg Ratzinger e Michael Hesemann

Sinodalidade e sinonulidade

Tenho andado a ler o que saiu no sínodo e suas consequências nacionais, diocesanas e paroquiais. Ia para escrever que tudo se resume à imple...