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quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Oxalá que sim

No sínodo parece que não se entendem. E isso é capaz de ser bom. Para continuar tudo na mesma, não era preciso deslocaram-se a Roma. Mesmo em low cost.

domingo, 15 de junho de 2014

Anselmo Borges: "Jerusalém e Roma"

Já temos pás. Falta a paz

Artigo de Anselmo Borges no DN de ontem:


A política está em tudo mas não é tudo. A oração também pode ser força política. E condição essencial para a paz é a conversão interior, do coração. Por outro lado, a História não está pré-escrita em parte alguma e, por isso, é preciso construí-la e ao mesmo tempo ter a capacidade de se deixar surpreender por ela. Cá está: quem poderia supor há apenas um mês que seria possível o Presidente de Israel, Shimon Peres, e o Presidente da Palestina, Mahmoud Abbas, encontrarem-se no Vaticano para rezar? Mas o inesperado, o que se diria impossível, aconteceu.

Na sua visita à Jordânia, à Palestina e a Israel, inesperadamente, o Papa Francisco desafiou os dois presidentes para um encontro na "sua casa", no Vaticano, para rezarem pela paz. E essa oração histórica ocorreu nos jardins do Vaticano, no domingo passado, dia 8, com a presença de um quarto convidado, o patriarca ortodoxo Bartolomeu, de Constantinopla. O abraço dos dois líderes, palestiniano e israelita, com o Papa como testemunha, fica para a História. "Que Deus te abençoe!", disse Peres a Abbas, saudando-o. E Francisco: "Sim ao diálogo e não à violência; sim à negociação e não à hostilidade; sim ao respeito pelos pactos e não às provocações. Senhor, desarma a língua e as mãos, renova os corações e as mentes: Shalom, paz, salam".

Após um breve intróito musical, seguiu-se a oração. No centro, Abbas, Francisco e Peres, à esquerda, Bartolomeu. De um lado e de outro, representantes das três religiões abraâmicas, também ditas monoteístas, proféticas e do Livro, e dos governos palestiniano e israelita. Por ordem histórica, a primeira oração coube aos judeus, seguindo-se os cristãos e os muçulmanos. Louvou-se a Deus pela Criação, pediu-se perdão pelos pecados, ergueram-se súplicas pela paz entre judeus e palestinianos, na Terra Santa, em todo o Médio Oriente, para toda a humanidade. No fim, um novo abraço e um gesto simbólico: os quatro líderes plantaram uma oliveira. A paz "não será fácil, mas lutaremos por ela no tempo que nos resta de vida".

Se, como escreveu a grande filósofa Hannah Arendt, também a economia é um problema teológico, eu diria que a Palestina o é muito mais. Para quem quiser aprofundar a questão, pode ler as duas obras monumentais do teólogo Hans Küng: O Judaísmo e O Islão.

Como é sabido, em 29 de novembro de 1947, por maioria sólida e com o beneplácito dos Estados Unidos e da antiga União Soviética, as Nações Unidas aprovaram a divisão da Palestina em dois Estados: um Estado árabe e um Estado judaico, com fronteiras claras, a união económica entre os dois e a internacionalização de Jerusalém sob a administração das Nações Unidas. Note-se que, apesar de a população árabe ser quase o dobro e os judeus estarem então na posse de 10% do território, ficariam com 55% da Palestina.

O mundo árabe rejeitou a divisão. Mas, à distância, mesmo admitindo a injustiça da partilha e as suas consequências - é preciso pensar na fuga e na expulsão dos palestinianos -, considera-se que a recusa árabe foi "um erro fatal" (Küng). Aliás, isso é reconhecido hoje também pelos palestinianos, pois acabaram por perder a criação de um Estado próprio soberano pelo qual lutam.

Como se tornou claro, a guerra não gera a paz, que só pode chegar mediante o diálogo, a diplomacia, cedências mútuas, com dois pressupostos fundamentais: o reconhecimento pelos Estados árabes e pelos palestinianos do Estado de Israel e o reconhecimento por parte de Israel de um Estado palestiniano viável, soberano e independente. E Jerusalém: internacionalizada?

O conflito do Médio Oriente é sobretudo político. Mas lá não haverá paz enquanto os membros das três religiões monoteístas, que se reclamam de Abraão, se não tornarem politicamente activos, impedindo o fanatismo religioso. Com base nos seus livros sagrados - Bíblia hebraica, Novo Testamento, Alcorão -, judeus, cristãos e muçulmanos devem reconhecer-se mutuamente e lutar a favor da paz. Esta é a mensagem de Roma para Jerusalém.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Vaticano II em Roma

Ainda não li a exortação apostólica de Francisco (que agora já está em português no vatican.va). E só li títulos dos comentários. Assim de repente, parece que o Vaticano II chegou a Roma. Ou então vem aí o Vaticano III.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Esses romanos...

Rome Reborn 2.2: A Tour of Ancient Rome in 320 CE from Bernard Frischer on Vimeo.

Roma, uns aninhos depois da liberdade para o cristianismo. Ano 320. Manda Constantino. Espantoso.

Apenas um edifício se aguentou tal e qual até aos dias de hoje. Sabe qual? Quem conhece minimamente Roma de certeza que já nele entrou.

sábado, 21 de setembro de 2013

Três dedos que apontam para o Papa

O Papa deu uma entrevista a 16 publicações dos jesuítas. Um dia é um texto no "Repubblica", no outro uma entrevista (que esteve em tantas mãos durante um mês e ninguém se descaiu), mais uma encíclica, um sermão diário e não sei quantas comunicações por semana... Ufa. É difícil tem pedalada para o Papa. Já com os outros assim era. Mas quanto aos outros, poucos lhes ligavam. Com este, há uma certa pressão mediática e social e que nos diz: "Já ouviste o que o Papa disse". Na verdade, já não ouço muito do que o Papa diz. Vou ouvindo umas coisas. E por vezes guardo para ler mais tarde, o que, nestes tempos de informação torrencial, quer dizer nunca. Da entrevista jesuítica, cheguei a este ponto. E procurei as imagens.

 Três dedos que apontam para Mateus (clique para ver bem)
Vindo a Roma sempre vivi na Via della Scrofa. Dali visitava frequentemente a igreja de São Luís dos Franceses e ali ia contemplar o quadro da vocação de São Mateus, de Caravaggio». Aquele dedo de Jesus assim… dirigido a Mateus. Assim sou eu. Assim me sinto. Como Mateus. É o gesto de Mateus que me toca: agarra-se ao seu dinheiro, como que a dizer: “Não, não eu! Não, este dinheiro é meu!”. Este sou eu: um pecador para o qual o Senhor voltou o seu olhar.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Humor pontifício - 2

Como é agora?

- Ir a Roma e não ver os Papas?
- Ir a Roma e não ver um Papa sequer?
- Ir a Roma e não ver qualquer Papa?

Humor pontifício - 1

Um amigo, o Luís, quando viu que o eleito era argentino, comentou:
- Esperemos que traga buenos aires à Igreja.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Lá e aqui. "Igreja precisa de mudar", diz Policarpo


No CM de hoje. Até me admira como não insistem que a principal mudança é a conversão pessoal de cada um, frase omnipresente quando se fala de "mudanças na Igreja".

domingo, 6 de janeiro de 2013

Bento Domingues: "Presépio aberto"



Grande texto de Bento Domingues no “Publico” de hoje. Vale mais que muitos livros sobre o Natal e o presépio.

A banalização ou a ocultação dos presépios escondem as teologias das construções literárias do presépio dos evangelhos de S. Mateus e de S. Lucas. Reflectem, ambos, um debate interno ao próprio judaísmo. As primeiras gerações dos discípulos de Jesus eram formadas por mulheres e homens judeus que desejavam abrir por dentro o próprio judaísmo. O presépio reflecte o que se passou na vida adulta de Jesus e na construção das comunidades com a presença do mundo pagão. 
Jesus não nasce na cidade de Jerusalém, centro do poder político e religioso. Os pastores representam, precisamente, os que não frequentavam o culto oficial e são os primeiros a chegar ao presépio. Os Magos passam por Jerusalém, mas não ficam lá. A estrela desloca-os para a periferia, significando que se trata não de um fenómeno astronómico, mas teológico. Se os judeus da religião ortodoxa não reconhecem Jesus, os Magos, pagãos, procuram-no. Jesus, com Maria e José, depois da viagem pelo Egipto, não vão morar no templo. Vão trabalhar para Nazaré, no meio de toda a gente. O presépio realiza, em miniatura, o que foi a revelação de Jesus na sua vida adulta: Deus anda à solta e faz a sua morada, o seu templo, onde menos se espera e faz família com quem não é da família.

E mais este bónus, a pequena história que revela muito:
Não se esqueça que L'Osservatore Romano, no dia seguinte ao anúncio do Concílio, feito por João XXIII, ocultou essa notícia, a mais importante no campo religioso do século XX e quando já ocupava a primeira página da imprensa mundial. Foi um boicote falhado, mas indicava que o presépio do mundo em mudança, com as suas alegrias e tristezas, não fazia parte da Cúria Vaticana.

Esclarecimento às 11:52. Um leitor informa que a quando do anúncio do Concílio, que foi 25 de janeiro de 1959, o jornal da Santa Sé não era diário. Tinha saído no próprio dia (acrescento que não fazia sentido antecipar na imprensa o anúncio papal) e deu destaque no número seguinte. Ver comentários.

domingo, 23 de dezembro de 2012

"O padre que foi de Leiria para Roma salvar judeus"


No "Público" de hoje, a história de um padre leiriense que, no Colégio Pontifício Português, em Roma, deu refúgio a alguns judeus. "Um novo Aristides de Sousa Mendes?" Trata-se do último trabalho do jornalista António Marujo neste jornal (é estranho que a imprensa de debata com dificuldades e prefira despedir os melhores). Alguns dos trabalhos deste jornalista, podem ser lidos aqui (75 referências!).

Deixo-lhe nestas linhas o meu reconhecimento. Graças a ele, pudemos ler as melhores reportagens e entrevistas de cariz religioso publicadas em português.

Quanto à reportagem, talvez no início do ano novo a copie para aqui.

sábado, 10 de novembro de 2012

Anselmo Borges: Diálogos de Coimbra na Joanina

Artigo de Anselmo Borges no DN de hoje.
Sorver cultura. Um dos tetos da Joanina

A Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra, um templo de rara beleza ao Livro, foi, no ano lectivo transacto, palco para três diálogos sobre as raízes da Europa. A iniciativa partiu do Padre Nuno Santos, Director do Instituto Universitário Justiça e Paz, e os intervenientes foram o biblista Virgílio Antunes, bispo de Coimbra, e três eminentes professores: o penalista José de Faria Costa, da Faculdade de Direito, o historiador Fernando Catroga, da Faculdade de Letras, o físico Carlos Fiolhais, da Faculdade de Ciências e Tecnologia. Moderou o jornalista Manuel Vilas-Boas, da TSF.

Todos estiveram de acordo na afirmação de que a Europa tem três heranças fundamentais: Atenas, Jerusalém e Roma, sugerindo alguém um quarto fundamento: o vitalismo bárbaro, a partir do Norte.

O primeiro diálogo teve como linha de orientação "Razão. Pessoa. Direito". Aí está a convergência entre Atenas e Jerusalém: o Evangelho segundo São João inaugura-se com a afirmação: "No princípio era o Logos, a Palavra, a Razão, e tudo foi criado pelo Logos". A criação pelo Logos diz que o mundo é racional e, por isso, racionalmente investigável. Como ninguém põe em causa que o cristianismo foi decisivo na descoberta da pessoa, do seu valor e dignidade. A herança de Roma é o Direito.

Partindo do espaço escolhido para o debate, Faria Costa sublinhou a importância da perspectiva, que impõe colocar-se no ponto de vista do outro: "ser pessoa é estar dentro e fora, em simultâneo, procurar a interioridade e a exterioridade." Não existe sociedade sem Direito. Somos seres morais, respondendo perante o outro, "humilde- mente e independentemente da sua condição: pobre ou rico, velho ou novo". E somo-lo, independentemente do Transcendente, "por muito que esse Transcendente seja a mais bela forma de dizer o indizível".

O bispo Virgílio Antunes concorda, sublinhando que "numa leitura cristã, que enforma a cultura que somos, quando entra em crise uma destas variáveis - Razão, Pessoa, Direito - fica em causa a construção da pessoa humana". Mas quis acrescentar um novo elemento: a fé - porque a razão não esgota o Mistério -, que permite "a superação da lei pela liberdade e pelo amor". Sem liberdade, justiça e amor, não há construção da dignidade da pessoa, numa sociedade justa e fraterna.

No segundo diálogo, o tema era: "Natureza. História. Identidades". De Atenas herdámos a natureza, a physis. A História é uma herança essencialmente bíblica. As identidades constroem-se na confluência de natureza e história.

O homem teve sempre "uma relação umbilical com a natureza", que se impunha como grande modelo interpretativo do sentido, começou por sublinhar Fernando Catroga. A consciência histórica, herança fundamental da religião judaico-cristã, é, na luta do homem pela memória e contra o esquecimento, um conceito essencialmente moderno, que dá sentido à vida colectiva. As identidades "hoje herdam-se, constroem-se e estão sujeitas a movimentos históricos, numa pluralização de sentidos de pertença".

O bispo pôs o acento na História, lugar de revelação e salvação, não permitindo que Deus seja confundido com a natureza, sua criação. E pensa que há na Europa o esquecimento da herança judaico-cristã, que explica, pelo menos em parte, o vazio em que se vive actualmente, "numa profunda crise de identidade, sem referências, como órfãos que não conhecem os pais nem sabem donde vêm e que perderam os critérios de procura e conhecimento da verdade."

"Acaso. Criação. Sentido" foi o último tema. O universo não se rege só pelo acaso ou pela necessidade, mas por um e outro, e mostra-se probabilístico. Carlos Fiolhais afirmou que a ciência e a religião não são incompatíveis. Se houve tempos de conflito, não é esse hoje o caso, havendo inclusive grandes cientistas que são crentes. O bispo confirmou: a Bíblia não é um livro científico, mas religioso. O homem é só um e aproxima-se da realidade de modos diversos e com métodos diferentes.

Só o homem tem o sentido do mistério. Há sentido na compreensão científica do mundo e na sua unificação, mas o crente religioso espera mais: uma palavra definitiva de salvação sobre a História.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Embate entre Paulo VI e a Cúria Romana


Paulo VI e D. Pericle Felici

Faz amanhã 50 anos que começou o II Concílio do Vaticano. Entretanto, decorre o sínodo dos bispos sobre a nova evangelização. A grande figura que une estes dois acontecimentos, por ter concluído o primeiro e ter inventado o segundo, é Paulo VI.

Gianni Gennari , no "Vatican Insider", num texto em que diz que a Cúria Romana pode, no fundo, boicotar os desejos e decisões dos bispos (os sínodos só são consultivos), conta uns episódios curiosos sobre o embate entre Paulo VI e a Cúria Romana. Texto todo aqui. Mais uma vez, a grandeza de Paulo VI.

No verão de 1963, exatamente três meses após a sua eleição ao pontificado, portanto no dia 21 de setembro, falando com a Cúria Romana, ele [Paulo VI] afirmou que se o Concílio então em andamento prospectasse a ideia de "associar alguns representantes do episcopado de um certo modo e para certas questões (…) ao Chefe supremo da própria Igreja (...) seguramente não será a Cúria Romana que se oporá a isso".

Quem conhece a história daqueles tempos e a história pessoal de Giovanni Battista Montini entende também o não dito dessa expressão. Ele se tornara papa há três meses e sabia bem que "a Cúria Romana" em grande parte não havia sido entusiasta da sua eleição. Era aquela Cúria Romana que sempre o havia considerado como um vigiado especial e que 10 anos antes o havia afastado de Roma, enviando-o certamente a Milão, a diocese italiana mais importante, mas sem prover a sua elevação à púrpura cardinalícia. Em 1958, recém-eleito papa, João XXIII imediatamente havia agido, como primeira nomeação, para preencher esse vazio...

E mais: eu me lembro de um episódio significativo. No momento da eleição de Paulo VI (21 de junho de 1963), foi forte o desconforto em alguns ambientes da Cúria, e mesmo um homem da Igreja muito estimado, de grande cultura e de grande espiritualidade, Dom Pericle Felici, então "secretário-geral do Concílio" em andamento, muito estimado por João XXIII, que o quisera nesse papel até a antepreparação do evento, chegou a comentar diante de testemunhas: "Para nós – e ele se referia aos homens da Cúria Romana – realmente acabou!".

Essa era a realidade nas previsões humanas, que, na verdade, eram muito humanas, e eu posso contar o seguinte, com testemunhas ainda vivas: alguns dias depois da sua eleição, Paulo VI recebeu em audiência justamente os homens da Cúria Romana, e uma das primeiras coisas que ele fez quando se encontrou diante da multidão dos curiais foi chamar Dom Felici pessoalmente para perto dele. Este se aproximou, e o papa o abraçou e, na frente de todas, pediu que continuassem ajudando-o na difícil tarefa de levar adiante o Concílio, reconfirmando-o no posto de secretário-geral. É inútil lembrar que o pobre Felici chorou na frente de todos!

 Gianni Gennari

domingo, 15 de julho de 2012

Roma

Todos os caminhos levam a Roma, o que é uma razão para que muita gente nunca lá tenha ido.


Chesterton

sábado, 2 de junho de 2012

Anselmo Borges: Os javalis na vinha do Senhor

Texto de Anselmo Borges no DN de hoje (aqui).

Na semana passada, os escândalos e a vergonha ou a falta dela sucederam-se no Vaticano.

Primeiro, foi a publicação por Gianluigi Nuzzi do livro Sua Santidade. Os Dossiers Secretos de Bento XVI. O jornalista teve acesso a uma centena de cartas e documentos confidenciais reservados. Evidentemente, a sua publicação, embora nada traga de surpreendente, causou irritação no Vaticano, já que a obrigação de manter o segredo foi violada. Nestes textos, "emergem os confrontos secretos e as armadilhas a todos os níveis", que percorrem os palácios apostólicos do Vaticano. Nuzzi defende-se, dizendo que não pagou nem um euro a ninguém e que "não é um livro contra a Igreja, nem contra a fé, nem contra o Santo Padre". Pelo contrário, "há vontade de limpeza; são pessoas que vivem há anos no Vaticano e que querem expulsar os vendilhões do templo".

Depois, foi a destituição do presidente do Instituto para as Obras da Religião (IOR), mais conhecido como o Banco do Vaticano, Ettore Tedeschi. Isso aconteceu, após uma moção de censura no Conselho de Supervisão. Há quem fale em casos de lavagem de dinheiro. No entanto, Tedeschi, apresentado como católico fervoroso, simpatizante do Opus Dei, respeitado pelo Papa, especialista em ética nas finanças, antigo professor de Economia na Universidade Católica de Milão e director da filial do Santander na Itália, tinha até há pouco tempo a "total confiança" da Santa Sé. Após a demissão, declarou: "Prefiro não falar, para não dizer grosserias."

Por fim, um caso sem precedentes: o mordomo do Papa, Paolo Gabriele, de 46 anos, homem de confiança, no lugar desde 2006, e um dos poucos com contacto directo com Bento XVI, foi preso por posse de documentos sigilosos. Segundo o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, "a pessoa detida por posse ilegal de documentos confidenciais, encontrados no seu domicílio situado no território do Vaticano, é o senhor Paolo Gabriele, que permanece preso". Mas será ele o principal responsável?

Afinal, o que se passa? Há um Papa debilitado (tem 85 anos), amargurado, que talvez nem sequer imaginasse o que vai pela Cúria e cujos interesses são de outra ordem que não propriamente a administração, pois o que o preocupa é a fé e a sua inteligência. Depois, está instalado o carreirismo eclesiástico, que tantas vezes denunciou. E, agora, os especialistas em vaticanologia vão chamando a atenção para os rancores entre cardeais e, sobretudo, para as lutas e intrigas de poder, já que a sucessão papal está para breve.

Diz-se, por exemplo, que há os que querem desfazer-se do cardeal Tarcisio Bertone e dos que lhe são próximos. Por outro lado, o ex-secretário de Estado do Vaticano e actual decano do Colégio Cardinalício, cardeal Angelo Sodano, está "ferido", porque o actual Papa não o defendeu, quando o cardeal Christoph Schönborn, arcebispo de Viena e amigo pessoal de Bento XVI, o acusou publicamente de ter protegido Marcial Maciel, um dos homens que mais escândalos e danos causou nos últimos tempos à Igreja.

Jesus foi tentado três vezes, e as três tentações estão referidas ao poder: poder económico, poder político, poder religioso. O poder religioso é o que oferece mais perigos. Por isso, foi dizendo: "Sabeis que os governantes das nações as dominam e os grandes as tiranizam. Entre vós não deverá ser assim. Ao contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós seja aquele que serve e o que quiser ser o primeiro seja o vosso servo. Eu não vim para ser servido, mas para servir."

O cancro da Igreja é mesmo a Cúria Romana. Sem a sua reforma urgente e radical (mas ela será reformável?), que tem de começar pela transparência económico-financeira, a Igreja Católica assistirá a uma descredibilização crescente. Quando, no meio de uma crise global e sem fim à vista, seria mais necessária do que nunca uma palavra moral limpa por parte da Igreja, ela afunda-se em escândalos. "Os javalis entraram na vinha do Senhor", queixa-se, com razão, o Papa Bento XVI. Chegou-se a este paradoxo: a última monarquia absoluta do Ocidente parece sentir-se impotente para pôr ordem na sua casa.


Sem culpas para o animal, claro.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

E a seguir, Vaticano?

No JN de ontem. Entretanto, sobre as recentes fugas de informação, as notícias já falam de "um cardeal" envolvido (no DN, aqui; no "Público", aqui). Que mais acontecerá ao Vaticano? O pedido de implosão? Que o Papa se mude para um modesto bairro suburbano de Roma, como sugeriu o insuspeito Hans Urs von Balthasar?

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

"Sucessor de um pescador"

O leitor Daniel indicou na caixa de comentários de "Pedro, o pescador..." que a citação de Bernardo a que me referia surge na página 77 do livro-entrevista de Bento XVI "Luz do Mundo". Aqui fica a página do livro.




O leitor deixou também um link para a obra de Bernardo em questão, "Da Consideração", escrita entre 1149 e  1152 (nos primeiros anos de Portugal!). A obra é composta de cinco livros. O primeiro e o segundo estão disponíveis online. Mas não é nestes que vem a expressão em causa.


Já agora, quem gosta da Idade Média, não deixe de ler aqui uma série de textos medievais traduzidos.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Próximo Papa só por milagre não será italiano

No "Expresso" de sábado passado.

Que o próximo Papa vai ser italiano, também é da minha opinião que sim. Mas nunca se sabe se surge um Jorge Bergoglio (argentino, 76 anos), de quem dizem já ter recolhido muitos votos no último conclave, ou um Timothy Dolan (dos EUA, 62 anos - seria curioso ouvir falar da mãe do Papa; da sogra já se ouviu uma vez, nos Evangelhos).

Antes de Bento XVI falava-se de Maradiaga (hondurenho, 71 anos), mas este está queimado na imprensa norte-americana por causa de certas afirmações - não, não teve nada a ver com a sexualidade nem com a pedofilia.

Quanto aos italianos, há Ravasi, da cultura, e Scola, de Milão.

Que Bento XVI não fez reformas, também é da minha opinião que não. Fez, está a fazer, umas coisas tímidas. (Para alguns fez tudo perfeito; e para outros, até fez demasiado.) Os teólogos nunca são bons a fazer reformas. Isso é coisa de pastores. Os teólogos, como pensam demasiado, veem convenientes e inconvenientes em tudo. E isso paralisa.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Milão e Roma, duas polaridades na Igreja Católica

Mons. Montini (Paulo VI)

Num texto sobre Paulo VI, no “Il Sole 24 Ore”, diz-se que há um dualismo na Itália, entre Milão e Roma, que é também religioso e perpassa pela comunidade dos católicos. A Milão católica e a Roma pontifícia. “Um dualismo reconhecível subterraneamente”. É curioso que o autor usa o termo “polaridade”. No texto de T. Radcliffe a partir do qual fiz o esquema dos católicos do Reino e da Comunhão (aqui), falava-se em "tensões" e “polarizações” (termo que não usei no resumo).

Milão e a polaridade ambrosiana
Catolicismo mais social
Mais secular
Mais dialogante

Roma e a polaridade romana
Catolicismo mais temporal
Mais burocrático
Mais intransigente
Papal e curial por definição
Jesuítico e antimoderno

Mas o texto é mesmo é sobre Paulo VI, acerca do qual saiu um livro, “Mons. Montini”. Aqui.

Sinodalidade e sinonulidade

Tenho andado a ler o que saiu no sínodo e suas consequências nacionais, diocesanas e paroquiais. Ia para escrever que tudo se resume à imple...