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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Graffiti de Papa Super-Homem

O serviço de comunicação do Vaticano partilhou na sua conta de Twitter uma fotografia tirada a um graffiti do Papa Francisco ao estilo Super-Homem. A pintura encontra-se num muro da cidade de Roma, refere a conta de Twitter.

O "tweet" reproduz a fotografia do graffiti em que o Papa Francisco surge vestido de branco, mas de punho em riste, posição popularizada pelo Super-Homem. Na outra mão segura uma pasta que diz "valores".
O "tweet" foi enviado em espanhol e em inglês: "Les compartimos este graffiti que vimos hoy" e "We share with you a graffiti found in a roman street near the Vatican" (Partilhamos convosco um graffiti que encontrámos numa rua de Roma perto do Vaticano).
O serviço de comunicação do Vaticano modernizou-se desde que o Papa emérito Bento XVI, antecessor do Papa Francisco, decidiu abrir uma conta no Twitter.
A conta do Papa é escrita em nove línguas e conta atualmente com mais de dez milhões de "seguidores".

sábado, 1 de junho de 2013

Anselmo Borges: "Já não há valores"

Texto de Anselmo Borges no DN de hoje:

Já não há valores! Aí está uma afirmação que se ouve constantemente, vinda de ex-presidentes da República, bispos, professores, padres, pais e mães, educadores. De quase toda a gente.

A afirmação, porém, não é verdadeira. Evidentemente, continua a haver valores. Não é possível viver sem valores. Não há sociedade sem valores. O que se passa é que mudou a escala de valores. A hierarquia dos valores, agora, é outra.

Abraham Maslow estabeleceu uma famosa pirâmide: a pirâmide das necessidades humanas. Segundo o psicólogo norte-americano, essas necessidades têm uma hierarquia ascendente, que vai, portanto, da base até aos níveis superiores. As necessidades básicas confundem-se com as necessidades fisiológicas, condição de sobrevivência: respirar, comer, beber, dormir, reproduzir-se. No segundo patamar, encontra-se a necessidade de segurança, que tem a ver com a integridade do corpo, da saúde, a salvaguarda dos bens e da propriedade. As necessidades de pertença estão no terceiro plano e referem-se à necessidade de identidade e de afecto; daí, a importância da amizade, do amor, da vida familiar e grupal. O quarto nível é ocupado pelas necessidades de estima, tanto no que se refere a si mesmo - auto-estima - como confiança nos outros: estimar-se a si e aos outros e ser estimado e respeitado pelos outros. No quinto nível, temos a realização pessoal, com tudo o que isso implica de criatividade, ética, vida interior, sentido e transcendência.

Evidentemente, esta escala é discutida e discutível, pois pode não ser tão universal como pode parecer, não tendo na devida conta a sua determinação histórica e cultural. No entanto, como escreveu Frédéric Lenoir, parece possível "considerar estes cinco tipos de necessidades como sendo todos, e com a mesma dignidade, condições do bem-estar, da felicidade, da realização de si".

A esta escala de necessidades corresponde uma escala de valores. É claro que as necessidades biológicas são as mais urgentes - sem a sua satisfação, não se sobrevive -, mas isso não significa que sejam as mais humanas, já que são partilhadas com os outros animais.
Valor vem de valere - vale, valete era a saudação romana: passa bem!, passai bem! -, que significa ser forte, ter saúde, passar bem, estar de saúde. E está em conexão com perguntas como: quanto custa isto?, quanto vale?, qual o seu preço? No contexto desta conexão, percebe-se que rapidamente venha à ideia a ligação ao dinheiro.

E não é o dinheiro um valor? A questão é saber se é o valor primeiro - é o mais urgente, pois dele depende a salvaguarda da vida -, mas é o mais humano, aquele que determina verdadeiramente a nossa realização humana?

Jesus disse que havia incompatibilidade entre Deus e o Dinheiro: "não podeis servir a dois senhores, a Deus e ao Dinheiro; ou a um ou a outro." É evidente que Jesus não condena o dinheiro enquanto tal, isto é, enquanto meio. Ele próprio teve de servir-se dele, ganhando a sua vida através do trabalho. O que se passa é que a palavra utilizada no Evangelho para dizer este dinheiro é Mamôn, isto é, o Dinheiro divinizado e fim em si mesmo. De facto, não é possível servir o Deus da Vida, que quer a vida de todos, e o Dinheiro enquanto ídolo. Quem faz do dinheiro e da riqueza o objectivo essencial da sua vida de certeza que fará muitas vítimas pelo caminho e impedirá muitos de viver.

Continua a haver valores. Mas a sua hierarquia transtornou-se e o que é meio tornou-se fim. E aí está o culto do bezerro de ouro, o egoísmo feroz, a avareza, a ganância sem limites. Mas são o dinheiro e a riqueza a finalidade última da vida? Os gregos apresentaram sabiamente a famosa lenda do rei Midas: tudo o que tocasse transformar-se-ia em ouro. Ora, quem ele tocou primeiro foi a filha. Depois, quando levava algo à boca para comer, também se transformava em ouro. E viu a sua desgraça trágica.

Precisamos é de repor uma escala decente de valores. Comecemos pela justiça, em ligação com a verdade e a igualdade; junte-se-lhe a liberdade, coroada pelo amor. Afinal, há gente riquíssima que é infeliz e quem viva feliz na sobriedade.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Algumas coisas que aprendi com Bento XVI - 1

Bento XVI disse:

A verdade há-de ser procurada, encontrada e expressa na «economia» da caridade, mas esta por sua vez há-de ser compreendida, avaliada e praticada sob a luz da verdade. Deste modo teremos não apenas prestado um serviço à caridade, iluminada pela verdade, mas também contribuído para acreditar a verdade, mostrando o seu poder de autenticação e persuasão na vida social concreta. Facto este que se deve ter bem em conta hoje, num contexto social e cultural que relativiza a verdade, aparecendo muitas vezes negligente se não mesmo refractário à mesma.

Caritas in veritate, 2

Não digo que o Papa tenha posto no lixo aquela expressão "a verdade na caridade", que nas suas aplicações habituais transformava a verdade numa verdadezinha, logo menos verdade, e contaminava a caridade. Mas reforçou, sem dúvida, a necessidade de busca da verdade como condição de vida cristã (vida enquanto pensamento e ação).

Certamente que a verdade é um fim. Mas também é uma condição quando aliada ao amor. Mas pelo facto de o amor ser mais alto, não deve deturpar a verdade. Pelo contrário, exige que ela seja sempre cumprida. Espanto-me por isso que alguns ratzinguerianos, e o próprio papa, em algumas circunstâncias ajam como quem tem medo da verdade. Na investigação teológica por exemplo (penso em Ratzinger enquanto prefeito da CDF e enquanto autor dos livros sobre Jesus). A questão não foi, boa parte das vezes o "se é verdade", mas antes o "se está de acordo com o Magistério", quando ambos, teólogos e Magistério devem ser servidores da verdade.

Em resumo, a verdade como imperativo da vida cristã (lá haveremos de chegar à questão do relativismo) é um dos legados de Bento XVI. Assumir a verdade em todos os âmbitos da vida eclesial e na relação com o mundo, no mundo, provocará muita dor.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Grande Interregno dos valores

G. Gusdorf citado por Georges Minois citado por A. Borges no livro aqui referido:
A humanidade do ano 2000 "vive no Grande Interregno dos valores, condenada a uma travessia do deserto axiológico de que ninguém pode prever o fim".
Georges Gusdorf, um francês de ascendência alemã e judaica, nasceu em 1912, em Bordéus, e morreu no dia 12 de outubro de... 2ooo. Mais uma ideia dele aqui.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A economia redescobriu os valores. Constatação ou desejo?


A economia redescobriu os valores. Nesse caso, não pensa apenas nos valores económicos, na criação de valor através do trabalho, mas sim nos valores éticos que tornam valiosa a nossa acção. Os valores são modelos para a nossa acção. Fala-se actualmente de uma alteração de valores; o lugar central já não é ocupado pelas quatro virtudes cardeais que caracterizam o nosso comportamento desde Aristóteles, mas sim valores como a liberdade, a autodeterminação, a responsabilidade e a felicidade. A esses juntam-se valores que só nos últimos anos saltaram para o centro da discussão, como a tolerância, a sustentabilidade e a solidariedade. Todos estes valores estimulam a humanidade.

Anselm Grun, “A vida e o trabalho. Um desafio espiritual” (Paulinas), pág. 158

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Valores, energia e sucesso - reflexão de Anselm Grun


Os valores conferem significado à minha vida; sem eles a vida não teria qualquer sentido. E a falta de sentido provoca desmotivação. Precisamos de modelos que nos motivem, que despertem em nós a vontade de trabalhar neste mundo. Oferecem-nos uma perspectiva e deixam-nos avistar, através do apertado horizonte dos problemas diários, o objectivo a que aspiramos. Os valores são naturalmente fontes de energia que não só me orientam, mas que também me dão força, geram prazer na acção. Se souber que a empresa para a qual trabalho se vai manter em funcionamento durante muito tempo, terei todo o prazer em empenhar-me nisso. Vejo nisso um sentido, e trabalho não só para mim e para o meu sucesso imediato, mas também para as gerações futuras. Poupo os recursos deste mundo e contribuo para um mundo mais humano.

Anselm Grun, "A vida e o trabalho. Um desafio espiritual" (ed. Paulinas) 9, pág. 70.

sábado, 13 de agosto de 2011

Anselmo Borges: Confiança e crédito

Artigo de Anselmo Borges no DN de hoje (aqui):

Os melhores comentadores vão escrevendo e dizendo que o que falta é confiança. Que não há crédito todos sabemos. Aí estão dois conceitos-base da religião. Confiança vem de fides, donde vem fé, fiar-se de, confiar. Crédito vem de credere, donde vem crer, crença, acreditar. Mas eles estão na base da existência. Quem pode viver sem confiança? Quem se meteria num avião, na estrada, sem confiança?

O problema é: o quê e quem tem crédito, para merecer a nossa confiança? Porque não podemos confiar de modo cego. No quadro do perigo possível e do medo, a confiança tem de ser razoável.

O teólogo Jürgen Moltmann refere o famoso conto dos irmãos Grimm sobre o jovem que partiu à procura de saber o que é o temor. E, a propósito, refere dois comentários sobre o conto.

Um é de Sören Kierkegaard: "Nos contos de fadas de Grimm, há o relato sobre um jovem que saiu à procura de aventuras para aprender a ter medo. Deixaremos que o aventureiro siga o seu caminho, sem nos preocuparmos com saber se nele se cruzou com o horror. O que quero afirmar, isso sim, é que se trata de uma aventura que todos têm de enfrentar: aprender a ter medo, para não se perder, porque nunca se sentiu receio ou porque se está afundado no medo; quem aprende a temer de modo correcto aprendeu o mais importante." O outro é de Ernst Bloch: "Havia uma vez um jovem que foi pelo mundo para aprender o medo. Em épocas passadas, isso acontecia de modo mais fácil e imediatamente: a arte do temor aprendia-se com terrível facilidade. Mas, agora, a não ser quando isso se justifica realmente, é apropriado cultivar um sentimento mais moderado. Agora, trata-se de aprender a ter esperança. A esperança nunca renuncia ao seu trabalho. Está enamorada do êxito, não do fracasso. A esperança é superior ao temor, pois não é passiva como este, nem tão-pouco está mergulhada no nada. O sentimento da esperança sai para fora, abre os seres humanos em vez de limitá-los."

Tanto a esperança como o temor se enfrentam com o possível. No medo, com o perigo possível; na esperança, com a salvação possível. O futuro é sempre imprevisível e ambíguo, pois a História é processo e ainda não está decidida. Sem o temor, não nos aperceberíamos do possível perigo; sem a esperança e só com o temor, ficaríamos paralisados. Sintetiza J. Moltmann: embora a esperança seja superior ao temor, "o medo é o irmão inevitável e óbvio da esperança".

Exemplifico. Há uns meses, num debate público, perguntei a um conceituado economista: vamos ser postos fora do euro, vamos sair do euro, a Alemanha vai abandonar o euro? E ele falou mais uma hora, para explicar que as três hipótese nos levariam a situações dramáticas. Mas há cada vez mais economistas, também nacionais, que falam da inevitabilidade da saída do euro. Agora, é Desmond Lachman, antigo director adjunto do FMI, que vem afirmar que "é inevitável Portugal sair do euro. Portugal não vai aguentar as políticas do FMI sem deixar o euro".

Atenazados, é sobre esta problemática que é preciso pensar, para não continuarmos no emaranhado dos enganos. Por mim, procuro ser fiel ao preceito de Plínio: "O sapateiro não deve ir além da sandália", e confesso que, seguindo a vontade, quero ser optimista, mas, quando faço contas e considero a situação, a inteligência encosta-me ao pessimismo.

E a União Europeia? Como está, isto é, sem integração política num caminho federativo, parece não ter futuro. Mas a Europa, sem euro e sem união, tornar-se- -á insignificante num mundo globalizado e, pouco a pouco, será preciso preparar-se para temer o pior.

Afinal, com a queda do Muro de Berlim, parecia ter chegado a paz perpétua e um futuro de confiança sem temor. Mas tudo está terrivelmente complicado.

Não gostaria de escrever estas coisas, sobretudo em tempo de férias, mas não é bom viver na cegueira. De qualquer modo, levo sempre comigo os versos célebres de Hölderlin: "Wo aber Gefahr ist, wächst das Rettende auch" (Mas onde está o perigo, cresce também o que salva).

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Back to basics



Ao ver os distúrbios de Londres e de outras cidades inglesas, lembrei-me de uma frase de João Maria Vianney que diz que numa paróquia sem padre, numa geração, a pessoas transformam-se em bestas. Quando comecei a escrever estas linhas foi confirmar a frase do pároco de Ars. E o que diz é outra coisa: “Deixai uma paróquia durante vinte anos sem padre, e lá adorar-se-ão as bestas”. Mas continua a servir para esta reflexão.


Isto é despropositado em relação ao que passa na Inglaterra? Será somente um caso isolado e fruto da crise económica? Penso que não ao ver o que move os que causam distúrbios. Não há ideologia (que não desculparia os distúrbios) nem causas ou valores. Aliás, a ausência de valores morais em todo aquele caos talvez explique o panorama – o que leva José Manuel Fernandes a escrever hoje no “Público”, que “se não existir um sentido moral nas nossas regas de vida em comum, não haverá ordem nas nossas cidades”.


É sabido que muitos daqueles jovens passaram a nada ter que fazer devido ao fecho de clubes e outras organizações que viram os seus orçamentos diminuídos por causa da austeridade imposta pelo governo. Mas já não é tão dito – isso geralmente não entra nas reflexões dos sociólogos e comentadores políticos – que é uma geração sem qualquer referência religiosa. E aqui entra, em dúvida, o pensamento do cura d’Ars, mesmo que não se simpatize com o seu estilo pastoral (duvido que tê-lo proposto como modelo para os padres actuais, coisa que fez bento XVI em 2009, tenha servido para algo).


Ouvi há tempos que um responsável prisional português disse que, no percurso dos que estão nas prisões portuguesas, geralmente faltou a catequese. Não o disse certamente por beatice.


Ainda está por provar que uma sociedade consegue viver sem uma ou várias religiões que lhe dêem um substracto moral. As tentativas voluntariosas de construir comunidades sem Deus nunca resultaram. Mas em sociedades em que a irreligiosidade é resultado da liberdade individual – a Inglaterra é dos países onde as liberdades individuais há mais tempo são respeitadas e dos mais descristianizados, onde hoje se discute se o cristianismo não estará a chegar ao fim, principalmente na versão anglicana –, fica por saber se restará espaço para os valores humanos. Temo que não.


sábado, 23 de julho de 2011

Anselmo Borges: Religião na responsabilidade

Helmut Schmidt

Texto do professor e padre Anselmo Borges, que, sabendo alemão, ao contrário da generalidade dos intelectuais portugueses, que já nem francês sabem, abre-nos as portas para outras ideias. No DN deste sábado (aqui). 

A caminho dos 93 anos, é um dos últimos sobreviventes daquela plêiade de gigantes políticos europeus que reconstruíram a Europa, souberam lidar com a Guerra Fria, contribuíram, sem tibieza, para o desanuviamento mundial, estabeleceram as bases da União Europeia. Quando a política não era mera Realpolitik, pois ainda se apoiava em saber e se movia por ideais. Foi ministro da Defesa, da Economia e das Finanças, chanceler federal. A sua influência continua hoje forte através do seu semanário DIE ZEIT. Falo de Helmut Schmidt.
Acaba de publicar Religion in der Verantwortung. Gefährdungen des Friedens im Zeitalter der Globalisierung (Religião na responsabilidade. Perigos da paz no tempo da globalização), reunião de textos de conferências em várias partes do mundo. Ficam aí algumas ideias marcantes.
1. Várias vezes se confessa cristão, embora cristão "distanciado". Apesar das dificuldades doutrinais e das desilusões, permanece na Igreja, porque ela "põe contrapesos à decadência moral na nossa sociedade e oferece apoio moral, que de outro modo se não tem".
2. A colega Marion Gräfin Dönhoff tinha razão: "Uma sociedade sem normas morais desfaz-se; uma liberdade desenfreada leva à brutalidade e à criminalidade. Todas as sociedades precisam de laços. Sem regras, sem tradição, sem consenso quanto a normas de comportamento, nenhuma comunidade subsiste." E acrescenta ele: "Não podemos viver em paz, sem os deveres e as virtudes desenvolvidos no cristianismo."
3. A existência humana não se deixa reduzir à satisfação das necessidades materiais. O ser humano precisa sobretudo de orientação para o sentido da sua vida, capaz de responder às "perguntas últimas". "Apesar do Iluminismo crescente desde há quatro séculos - e apesar do ateísmo comunista -, a necessidade metafísica de orientação por parte do Homem manteve-se viva." As religiões surgem precisamente desta exigência de orientação por uma verdade mais elevada.
4. O Estado deve ser religiosa e cosmovisionalmente neutro. Portanto, tem de salvaguardar e garantir os direitos fundamentais; quanto à salvaguarda e garantia dos valores fundamentais, aí aplica-se o princípio: tua res agitur, isso é assunto teu, "de cada um, de cada comunidade, da Igreja". As Igrejas com os seus valores participam no processo de formação da vontade política, mas "o Estado não pode garantir juridicamente convicções que as Igrejas não conseguem transmitir aos seus fiéis".
5. Tem muitas dúvidas quanto a uma política cristã. Mas procurou ser um político cristão, isto é, tentou, nas grandes tomadas de decisão, não esquecer a inspiração cristã. "Uma política sem consciência tende para o crime." Uma política não orientada pela razão, que não mede as consequências, os riscos e as chances, irresponsável perante a consciência e a História, é certamente "não cristã". Não deixou de rezar, concretamente o Pai-Nosso. Lembrou os dez mandamentos. Precisou da música coral da igreja, de um bom pastor (é luterano) ou bispo e do seu apoio pastoral. Aliás, o que hoje esperamos da Igreja é "cuidado e consolação, compaixão com os fracos e pobres, solidariedade com o nosso vizinho doente".
6. No tempo da globalização, é essencial a tolerância entre as Igrejas e entre as religiões - a tolerância positiva: respeito, conhecimento mútuo. Por isso, manifesta-se contrário às missões: converter outros, como se só a nossa religião fosse fonte de verdade e salvação.
Sabe por experiência própria, pois reúne responsáveis das diferentes religiões, que não estarão de acordo nas doutrinas, mas encontram consenso mínimo nas questões dos grandes interesses da Humanidade.
7. Princípio nuclear: o respeito pela dignidade inviolável de cada ser humano. O esquecimento de que o Homem não é para a economia, mas a economia para o Homem fez com que a especulação financeira desembocasse no "capitalismo de rapina". A par da Declaração Universal dos Direitos Humanos é preciso ensinar a Declaração Universal dos Deveres Humanos.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Maria José Nogueira Pinto: Nada me faltará



Morreu ontem, vitimada por um cancro do pâncreas, Maria José Nogueira Pinto. Desta vez os jornais não disseram que morreu de "doença prolongada", o que já revelador do modo aberto como viveu a sua  doença.
No DN, diário em que a deputada era colunista, está hoje um testemunho que vale a pena ler. Últimas linhas de "Nada me faltará":

Tem sido bom viver estes tempos felizes e difíceis, porque uma vida boa não é uma boa vida. Estou agora num combate mais pessoal, contra um inimigo subtil, silencioso, traiçoeiro. Neste combate conto com a ciência dos homens e com a graça de Deus, Pai de nós todos, para não ter medo. E também com a família e com os amigos. Esperando o pior, mas confiando no melhor.
Seja qual for o desfecho, como o Senhor é meu pastor, nada me faltará.
Ler tudo aqui.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

6 de Julho de 1535. Morre Tomás Moro

Estudo de Hans Holbein para o retrato da família More

Thomas More ou Tomás Moro, como também é conhecido, morreu no dia 6 de Julho de 1535, aos 47 anos, decapitado por antes querer obedecer à sua consciência e ao Papa do que ao rei contra Igreja, embora fosse fiel servidor da coroa inglesa. Em 2000, o Papa João Paulo II declarou-o patrono dos governantes e políticos. Ver aqui.

Escreveu a narrativa “Utopia”, que é basicamente o relato do marinheiro português Rafael Hitlodeu sobre a ilha Utopia, "nenhures", "não lugar".  O português é um marinheiro experiente “como Ulisses ou, melhor, como Platão”, “muito culto em grego”, que conheceu mundo com Vespúcio. O nome Hitlodeu, explica o tradutor, vem do grego “hutlos”, que significa patranha.

sábado, 2 de julho de 2011

Anselmo Borges: A sociedade líquida

Zygmunt Bauman
Texto de Anselmo Borges no DN de hoje (aqui).

Este nosso tempo é-o na perplexidade. Vejo muita gente angustiada com o que aí está e sobretudo com o que aí pode vir. De facto, ninguém reflexivo, que não tenha metido a massa encefálica no frigorífico, pode viver como se o amanhã não pudesse ser a hecatombe e o caos. Há épocas na História de relativo sossego, mas a nossa é de sobressalto. A crise é imensa, e é sobretudo moral. Crise de valores.
Três exemplos.
O ex-vice-presidente da Câmara do Porto Paulo Morais afirmou recentemente que "o centro de corrupção em Portugal tem sido a Assembleia da República". De facto, o Parlamento português "parece mais um verdadeiro escritório de representações, com membros da comissão de obras públicas que trabalham para construtores e da comissão de saúde que trabalham para laboratórios médicos". "A legislação vem dos grandes escritórios de advogados, que também ganham dinheiro com os pareceres que lhes pedem para interpretar essas mesmas leis e ainda ganham a vender às empresas os alçapões que deixaram na lei." "Os deputados estão ao serviço de quem os financiou e não de quem os elegeu."
Toda a gente ficou atónita, quando se soube que, no CEJ, os candidatos a magistrados e juízes tinham copiado no exame e que havia suspeitas de que teriam conhecido antecipadamente o seu enunciado.
Há casos de médicos com 80 e 90 anos e alguns até já mortos que continuaram a receitar medicamentos em 2010. Calcula-se que cerca de 40 por cento dos gastos do Estado com a comparticipação em medicamentos possa ser irregular.
E agora? Evidentemente, os crimes devem ser julgados. Mas é essencial compreender que a solução da nossa vida colectiva não pode ser entregue exclusivamente ao Direito Penal. Por duas razões fundamentais. Não é possível legislar sobre tudo e, depois, nesse quadro, seria necessário colocar um polícia junto de cada cidadão, mas, como os polícias também são cidadãos, ter-se-ia de pôr um polícia a guardar outro polícia e assim sucessivamente. Lá está Juvenal, que aqui já citei: "custos custodit nos; quis custodiet ipsos custodes?" (a guarda guarda-nos; quem guardará a guarda?).
Para dizer que a formação ética para os valores vinculativos (a honra, a virtude, a dignidade, o respeito, a lealdade, a solidariedade, a rectidão, a verdade...) é essencial.
Mas a questão é esta: quem formará para os valores? As famílias desestruturadas? As escolas sem norte e onde os professores lutam por um lugar de sobrevivência? A Igreja moralmente ferida? As televisões em guerra por audiências tolas?
Quando se instalou como valor primeiro o ter em vez do ser, começou a caminhada para o abismo. Por um lado, o ter; por outro, o individualismo.
O famoso sociólogo polaco Zygmunt Bauman, professor emérito da Universidade de Leeds (Reino Unido), chamou a esta situação "modernidade líquida". As nossas sociedades são individualistas, e nelas são precários os laços tanto íntimos como sociais. Diz ele: "Ao contrário dos corpos sólidos, os líquidos não podem conservar a sua forma, quando pressionados por uma força exterior, por mínima que seja. Os laços entre as suas partículas são demasiado fracos para resistir. Ora, este é precisamente o traço mais marcante do tipo de coabitação humana característico da 'modernidade líquida'. Daí, a metáfora que proponho."
Neste quadro, percebe-se a dificuldade de hoje para assumir compromissos de longo termo, pois não se quer restringir a futura liberdade de escolha. Daí a tendência para que "todos os laços que se dão sejam fáceis de desfazer, que todos os compromissos sejam temporários, válidos apenas até 'nova ordem'".
Cá está a dificuldade para manter o amor e a moralidade. Por um lado, quer-se um "parceiro leal e dedicado", mas, por outro, "ninguém se quer comprometer". E o cumprimento dos deveres morais "é custoso, não é uma receita para uma vida fácil e sem preocupações, segundo as promessas da publicidade para os bens de consumo".

Sinodalidade e sinonulidade

Tenho andado a ler o que saiu no sínodo e suas consequências nacionais, diocesanas e paroquiais. Ia para escrever que tudo se resume à imple...