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terça-feira, 7 de junho de 2011

Pappo’s Blues – Pappo’s Blues [1971]



Argentinos se veem como uma parcela do primeiro mundo perdida na América Latina.

Quer saber? É a mais pura verdade.

Enquanto brasileiros engolem corrupção, falta de cultura e estímulos ao analfabetismo funcional, os hermanos (se permitem chamá-los assim) são um povo educado e que lê muito. Se possuem problemas de terceiro mundo, mais se deve à colonização (exploração secular) espanhola do que à própria vontade de evoluir. Sofremos o mesmo, mas o problema por aqui foi justamente os grilhões que a coroa portuguesa criou ao mudar-se para cá em 1808. Isso segurou demais a nossa evolução.

Buenos Aires é um vulcão cultural. Do tango ao heavy metal, as expressões musicais da capital portenha ficam gravadas na memória de quem já teve o privilégio de as conhecer pessoalmente. Vide o post do Rata Blanca dessa semana. Não estou dizendo que o Brasil não tem expressões culturais, mas, apenas, que os vizinhos não ficam nem um pouco para trás nesse quesito (apesar de que eles não tem Parangolé, Jeito Moleque e outras maravilhas do estilo – não é preconceito, caro passageiro, mas um conceito racionalmente formado depois de ter escutado exaustivamente essas bostas veiculadas a todo momento na TV).

Pappo, ou Norberto Aníbal Napolitano, foi um argentino nascido nos anos 50 que viveu intensamente o estilo rocker, tocando sua guitarra baseada no blues, no hard rock e no stoner rock e mexendo em motores VTwin de Harley Davidsons envenenadas. Um músico completo que sempre primou pelas excelentes composições, independentemente do estilo adotado.



Pappo iniciou sua vida musical com a banda Los Abuelos de Nada, passando, a seguir, pela Los Gatos, no final dos anos 60. Criou seu próprio power trio em 1970, que gravou o auto intitulado Pappo’s Blues, lançado em 1971, postagem de hoje. Pappo’s Blues teve 7 volumes e, hoje, trago-vos o primeiro. Um petardo tanto nas composições como nas performances e nos timbres dos instrumentos.

Aliás, timbragem de instrumentos sempre foi um sério problema para o rock brasileiro, na minha opinião. Cortesia dos imbecis da Som Livre, Polygram e outras gravadoras que nunca tinham ouvido uma boa mixagem na vida. Ou eram incompetentes, mesmo. Afinal, até Mutantes e RPM, famosos por seus super equipamentos, tiveram seus timbres prejudicados na mixagem e na masterização final dos discos de estúdio.

Algo há cambiado abre a bolacha com uma pegada Stoner que lembra uma cruza do Sabbath da fase Ozzy com Grand Funk e tudo o mais que representa o estilo. Riffs poderosos, cozinha coesa e um wah wah pra lá de sem vergonha. A voz de Pappo nunca foi das melhores, mas se encaixa no contexto. El viejo segue na trilha do blues de raiz, com violões orquestrados misturando slide, riff de baixo e levada blues como nunca se fizera antes por estas bandas do trópico sul. Meu amigo Peter quer que eu tire isso na viola – que Bueno, que Bueno. Vamos às armas.



Hansen traz vocais e guitarras em uníssono, no melhor estilo Hendrix, mas com originalidade. Realmente feita para ouvir no dorso de uma Harley Davidson, a escola Hendrix está presente o tempo todo, mas Pappo sempre soube dosar suas influências em seu som. Mesmo na fase metal, com sua banda Riff, o cara trilhou seu próprio caminho.

Gris Y Amarillo tem um trato especial nos vocais. Encharcados de efeitos, levam o som do power trio a outras galáxias. Destaque, aqui, para o peso absurdo do baixo. Adiós Willy é a balada ao piano. Com cara de vinheta, traz apenas 1:46 minutos de muito feeling. Poderia ser melhor aproveitada, confesso, mas o resultado é excelente.



El hombre suburbano e Especies seguem a mesma sequência, com boas composições. O encerramento vem com Adónde Está La Liberdad, com uma letra politicamente ativa, denunciando o que aqueles anos de chumbo do pós guerra faziam com a liberdade de expressão. Pappo sempre foi underground, sem prospecção na mídia, o que lhe facilitava cantar o que bem entendesse.

Este não é um post que vá agradar a gregos e troianos. É um clássico, que expõe as veias abertas da América Latina a um mundo hoje regido pela comunicação de massa e em tempo real.

Se não tivemos a oportunidade de valorizar Pappo em vida – ele faleceu em 2005 – vale a oportunidade. Segue texto do seu site oficial:

En los últimos minutos del día 24 de Febrero, Pappo sufrió un accidente cuando junto a su hijo Luciano viajaban cada uno en su moto por la ruta 5 hacia la localidad de Luján, en dónde habían alquilado una quinta. En un momento las motos se tocaron haciendo que Pappo perdiera el control de su rodado y junto con él cayera en el asfalto a lo que se sumó la embestida de un automóvil recibiendo graves heridas que le provocaron la muerte.
El 25 de Febrero a la tarde, su cuerpo fue llevado en una caravana desde su casa de La Paternal hasta el cementerio de La Chacarita. Más de 3000 fanáticos y amigos lo despidieron cantando sus canciones y gritando a coro el clásico "Y Pappo no se va" que se acostumbraba usar al final de sus maravillosos conciertos.

Um grande cara que viveu a vida com o botão do “foda-se” sempre ligado, sem se preocupar com outra coisa que não a sinceridade de sua expressão musical. Curtam.

Track List

1. Algo ha cambiado
2. El viejo
3. Hansen
4. Gris y amarillo
5. Adios Willy
6. El hombre suburbano
7. Especies
8. Adónde está la libertad

Pappo (guitarra, piano e voz)
Davies (baixo)
Black Amaya (bateria)

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Por Zorreiro