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sábado, junho 14, 2025

Exactamente aqui

     Este mundo deprime-me talvez até mais do que a perspectiva de vir um dia (mais cedo que tarde) a mudar a minha morada estabelecendo-me no outro. No outro mundo. Não, não estou a falar do continente chamado "amaricano", estou mesmo a falar do dito Além, para lá do Estige, não sei se estás a visualizar. Pronto, ok, simplificando: o mundo dos mortos... "I see dead people", esse tipo de coisas. Dizia que este mundo me deprime talvez mesmo mais que essoutro. 

    Não tendo cão sinto-me desabilitado a parafrasear aquele gajo (não me lembro bem a quem me refiro) que elogiava o canito ao mesmo tempo que cagava um pouco nos Homens, assim, com "H" grande querendo referir-se à Humanidade. Isto de tomar a Humanidade pelos Homens é uma cena bué machista ou patriarcal ou o caralho (nestas circunstâncias não fica mal abusar da virilidade lexical) e deixa o universo feminino à beira da contracção. E com razões para barafustar, sejamos justos.

    Enfim, perco-me, como é meu hábito, e tenho de meter travões, parar, reler e perceber onde pretendia chegar quando comecei a escrever este texto. Reflicto um pouco e concluo que pretendia chegar aqui. Exactamente aqui. 

quarta-feira, novembro 22, 2023

Porcarias

     O mundo é uma pocilga mas nós não temos de ser porcos. O sentido da vida de cada um de nós poderá ser, precisamente, a acção de manter limpo o espaço que habitamos. Estabelecer e cumprir esse objectivo é alcançar a Glória em tempo de vida. Viver cada dia de vassoura na mão a varrer porcaria e a acertar cacetadas nas trombas dos filhos-da-puta, eis uma bela forma de existir!

    Normalmente teria um certo prurido em classificar este ou aquele como sendo um filho-da-puta mas há dias em que a filha-da-putice é tão óbvia e o filho-da-puta tão evidente que o cabo da vassoura voa direitinho à dentuça do bicho. E é um prazer sentir a dentuça a estilhaçar-se, os dentes a voarem em todas as direcções, um ou outro a engasgar o pedaço de asno.

    Um gajo esforça-se por ser bonzinho mas ninguém está livre de se transformar num monstro de um momento para o outro. Já os filhos-da-puta não deixam de o ser só porque sim ou porque perderam a dentadura no caminho.

    O mundo é uma pocilga mas nós não temos de ser porcos.

domingo, junho 25, 2023

Era tão fixe que o mundo fosse fixe!

     Era tão fixe que as coisas do mundo se desenrolassem de acordo com aquilo que nos parece ser mais correcto e mais justo. Era tão fixe que existisse, de facto, um Deus capaz de amar a Humanidade e de influenciar os seus caminhos e horizontes temporais. Era tão fixe que fosse assim: que houvesse justiça, que vislumbrássemos uma nesga de esperança, um plano a longo prazo bem delineado, iluminado por uma centelha divina. Era tão fixe.

    Se fosse assim, aquela marcha sobre Moscovo ontem iniciada não se teria diluído à medida que comia a distância e ia assustando o pequeno Putin. Que palhaçada! Oh, como teria sido um momento de justiça poética que o pequeno homem tivesse sido abafado por um mero cozinheiro, um merdas tão merdas quanto ele. Mas, no entanto..

    ... no entanto ninguém sabe o que poderia acontecer logo a seguir. Não temos bem a noção da cáfila sanguinária (eu sei que a imagem é um tanto surreal) que se perfila para tomar a cadeira de Putin. Um camelo apeado, logo substituído por um camelo maior e mais sedento de maldade não é cenário agradável. Daí que seja avisado termos alguma cautela com os pedidos que fazemos ao génio enquanto lhe esfregamos a lâmpada.

    Concluo manifestando uma vez mais a minha perplexidade com a extraordinária ausência de qualidades humanas que normalmente caracterizam os "grandes" deste mundo.

domingo, março 05, 2023

Da beleza

     A beleza nem sempre é uma mentira. Por vezes ela é difícil de compreender por não ter equilíbrio nem simetria nem proporção. Por vezes está ali mesmo, à espera de ser vista, e não há quem a vislumbre. A beleza pode ser uma coisa triste (nesses casos dizemos que é coisa melancólica), pode ser um abandono, um vento levemente soprado que verga com graciosidade flores à beira do Inverno, pode ser uma ausência que se transforma em saudade.

    Sinto-me atraído pela beleza imperfeita embora seja sensível à sua extrema perfeição (quando o milagre acontece). Não é que a procure, não. Penso que seja preferível deixá-la acontecer. Forçar a beleza é pedir ao mundo que nos dê algo que pode não ter para oferecer.

sexta-feira, julho 29, 2022

BUM!

     Cada vez mais sinto uma certa nostalgia do futuro. Nostalgia do futuro!? "O gajo está a asnear" pensa o leitor desprevenido. Como pode alguém sentir falta ou saudade daquilo que ainda não aconteceu? Pois é, não é fácil de explicar; é um sentimento tão profundamente difuso que as palavras o trespassam sem lhe sentirem a pele.

    É uma nostalgia daquilo que nunca virei a ser, acrescentando já as expectativas defraudadas, as que já lá vão mais as que haverão de vir; uma nostalgia da própria civilização tal como a conheci, não exactamente como ela é agora. Começo a ficar azedo, a pensar "no meu tempo é que era". Mas o meu tempo é também este tempo. Ainda não estou morto, pelo menos ainda não completamente.

    Cada vez mais tenho a incómoda sensação de que a nossa civilização não tem muito futuro. Não sei se esta sensação é provocada por estar a assistir, ao vivo e a cores, ao desabamento da suposta supremacia do "Ocidente". Não sei se por me aperceber que estamos a tornar impossível a sobrevivência da espécie humana nestes moldes, quero dizer, nada se expande infinitamente a não ser (ao que parece) o Universo. A expansão infinita da Economia provocará o rebentamento da bolha civilizacional e... BUM!!!

    Silêncio.

sexta-feira, março 18, 2022

O mundo de relance

     Vivemos durante anos imaginando que as nossas sociedades democráticas evoluem continuamente em direcção a uma certa ideia de perfeição. Essa perfeição engloba, entre outros valores e ideais, a defesa das minorias, a liberdade religiosa e de expressão, o estado social, uma distribuição da riqueza progressivamente mais justa.

    A justiça básica destes valores parece-nos inquestionável, logo irrefutável. A esmagadora maioria dos cidadãos estaria de acordo com esta evolução em direcção ao paraíso na Terra. Assim sendo, tornou-se quase desnecessário lutar por aquilo em que acreditamos. O natural desenrolar da História haveria de encarregar-se de ir colocando cada coisa no seu devido lugar.

    Mas, na verdade, nunca foi bem assim. Há uma luta constante, uma imparável necessidade de estar atento, reivindicar, questionar, tomar partido e nunca desistir de fazermos aquilo que é, para nós, correcto. Surpreendentemente, ou talvez não, surgem todos os dias adversários que põem em causa a justeza dos nossos ideais e dos nossos valores. Mais surpreendentemente ainda esses adversários são eleitos pelas populações. 

    Temos, espalhados pelo mundo, autocratas e candidatos a tiranos que governam a vida de milhões, que são apoiados e idolatrados pelos que os elegem, que são inimigos dos nossos ideais e dos nossos valores. Põem em causa os direitos das minorias, segregando-as, impõem uma religião perseguindo aqueles que acreditam noutros deuses, calam e reprimem as vozes discordantes, fomentam a desigualdade social e concentram a riqueza nas mãos de supostas elites que vampirizam literalmente milhões de deserdados da sorte.

    As democracias estão em perigo.

domingo, dezembro 26, 2021

Lugar comum

     Uns falam de paz e vão preparando as coisas para fazerem a guerra. Outros postulam a solidariedade e praticam a mais vil avareza. Outros ainda batem no peito e juram amor a Deus mas nada nas suas vidas justifica outra coisa que não seja a profundeza do inferno. Palavras, discursos: tretas! 

    Sabemos bem que "palavras leva-as o vento" mas não conseguimos resistir ao perfume de um discurso enganoso; sabemos bem que "quem vê caras não vê corações" mas babamo-nos perante a imagem bonita de um líder qualquer, mesmo sabendo que se trata de alguém cujas qualidades se ficam pela fotografia. Sorrimos com condescendência perante estes ditados populares (são tão pueris, tão básicos!) mas não aprendemos nada com eles.

    Este mundo é um lugar comum.

quarta-feira, fevereiro 03, 2021

Memória do mundo

Tenho uma vaga recordação de ser criança e brincar. Brinquei muitas vezes sozinho, outras vezes brinquei acompanhado, mas aquilo que recordo é a sensação de plenitude que por vezes alcançava, a sensação de que tudo se encaixava, que todas as coisas encontravam o seu devido lugar tornando o momento uma coisa perfeita. Era a felicidade.

Agora que sou aquilo que designamos por adulto tenho a vaga percepção de que continuo a perseguir aquela sensação que me era proporcionada pelas minhas brincadeirinhas de criança. O patamar é diferente, os meios que tento convocar e organizar são outros, mas o objectivo é o mesmo: alcançar a sensação de plenitude, a sensação de que tudo está no seu devido lugar e que o universo faz sentido. E eu com ele.

domingo, abril 19, 2020

Um mundo pior

 cartaz de uma exposição na Galeria Abysmo por volta de 2016 (se não estou em erro)


"Vai ficar tudo bem", a frase vai-se espalhando como perfume primaveril. Ao lê-la renasce a esperança nos nossos corações aborrecidos, um sorriso triste desenha-se nos lábios, o olhar atira-se da janela num salto, saudoso de rua, saudoso de paisagem, saudoso de toda a banalidade entretanto perdida.


Mas, pensando melhor, para que tudo fique bem muita coisa terá de mudar radicalmente em relação ao mundo pré-covid19. Sim, porque o covid-19 veio apenas suspender algo que, sejamos justos, não estava lá muito bem, antes pelo contrário. A pandemia proporciona um mundo pior para a maioria das pessoas; para a minoria que já vivia num mundo bom tanto se lhe dá como se lhe fica.


sábado, fevereiro 01, 2020

Say see you

E pronto, it's done, o Reino Unido cortou amarras da União e voga agora, alone, nos mares da Globalização. Sou pouco versado em política internacional mas isto, assim às primeiras, parece uma bad idea. Mas posso estar enganado.

Não sei bem o que irá mudar. Antes mesmo de Portugal ter entrado para a União já a Great Britain preenchia o meu imaginário muito por via da Pop Culture e não estou a ver que isso possa mudar significativamente com o Brexit. Como não sou um business man talvez não sinta a coisa no pêlo.

A sensação incómoda é a de que há um mundo inteiro a fazer pressão no sentido de esvaziar a União Europeia do seu significado. Russos, chineses, árabes e agora até mesmo os Estados Unidos da América, todos nos olham com desdém, como se devolvessem uma certa arrogância civilizacional que nos caracteriza.

Sem o Reino Unido ficamos mais pequenos, mais frágeis, reduzidos. Não há como ignorar isso. Mas pronto, cumpriu-se a vontade da maioria dos votantes lá da ilha. Resta dizer see you later e pouco mais. Hoje é o primeiro dia do resto das nossas vidas. Assim será amanhã e depois, e depois, e depois, ...

terça-feira, janeiro 07, 2020

Valha-nos Santa Sorte

Trump é um cretino. Toda a gente está de acordo que Trump é uma refinada besta, um pedaço d'asno, como diria o meu avô Mário. Pessoas estúpidas há-as às pazadas, trazem pequenos problemas ao mundo que podem ser grandes problemas para os seus vizinhos ou familiares e gente próxima. É uma questão de escala e distanciamento. Mas Trump, um dos maiores cretinos de que há memória, é presidente dos EUA e, por enquanto, um dos seres humanos mais poderosos à face da Terra. Logo traz gravíssimos problemas agarrados à sua tremenda estupidez.

Trump foi eleito pelos cidadãos dos EUA. Serão esses cidadãos maioritariamente estúpidos como o seu presidente? Serão os cidadãos dos EUA um infindável bando de cretinos mentecaptos?

O mundo treme perante a boçalidade maldosa dos tiranos: Trump, Putin, Xi Jinping, Khamenei, Kim Jong-un, e por aí fora; não me recordo de viver num lugar tão perigoso como é este planeta nos tempos que correm. Não se vê como descalçar esta bota. Os equilíbrios de interesses são impossíveis de conjugar sem que alguém se enfureça ou sinta uma avidez insaciável de riqueza e poder.

Resta-nos inventar uma santinha que nos acuda, a Santa Sorte é forte candidata ao lugar.

sexta-feira, setembro 27, 2019

O coração da Coisa

Começam a ouvir-se algumas vozes que admitem termos ultrapassado o ponto de não-retorno. Pessoas que falam alto nos media, que afirmam que não há volta a dar-lhe, que, apesar de estarmos a empurrar o nosso sistema de sociedade global em direcção ao abismo esse mesmo sistema permitiu reduzir (e muito) a pobreza. Apesar de aumentar as desigualdades, as diferenças entre ricos e pobres, apesar disso reduzimos muito a pobreza. Estamos de parabéns?

Estas pessoas compreendem a angústia, a fúria e o desvario dos que se revoltam contra a crescente poluição ambiental mas, dizem, e dizem-no alto, nos mass media, é impensável mudar o que quer que seja assim de um momento para o outro, sem provocar uma convulsão social e política de tal magnitude que o mundo, tal como o habitamos, acabasse por se devorar a si próprio. Não é bonito de ser visto mas tem de ser assim. Tem muita força.

Compreendo. Compreendo que os jovens se revoltem, compreendo que os tipos de meia-idade se acomodem e compreendo os velhos agarrados à saudade que têm da juventude perdida, parece-me que sou capaz de compreender esta malta toda. Ok, podem ficar tranquilos, todos têm razões suficientemente fortes, razões suficientemente válidas que justifiquem essas ideias que lhes estão a passar pela cabeça. Todos os seus actos são aceitáveis apesar de contraditórios. Vivemos numa sociedade livre... vivemos, não vivemos?

A reflexão fica por aqui, salto directo para a conclusão: estamos a trabalhar arduamente para a extinção, não da espécie humana mas do sistema capitalista enquanto paradigma sócio-económico. Enquanto a coisa foi mais ou menos localizada, mais ou menos parcial (a Coisa é a exploração capitalista, exploração dos seres vivos e dos recursos naturais com o fim absoluto do enriquecimento de uma casta de cabrões enxertados numa outra, de filhos da puta) o mundo apenas vacilou. A partir do momento em que a Coisa se globalizou, já fomos! Não há retrocesso nem , como dizem as tais vozes que referi lá mais atrás, volta a dar a isto sem que tudo acabe a ruir à nossa volta.

Assim, o melhor, é deixarmos andar, ir aproveitando enquanto pudermos viver como vivemos, os que vierem depois de nós é que se fodem.

segunda-feira, setembro 02, 2019

A cabeça e as suas orelhas

O tempo vai passando, e a tua vontade de mudar o mundo vai-se transformando. Já não é aquele ímpeto avassalador que te fez acreditar piamente que a razão era toda tua, já não é aquele discurso estruturado e lógico que encurralava os argumentos dos teus adversários fazendo brilhar a visão do Mundo que professas, muito menos é a perspectiva do grupo com o qual te identificas uma vez que há ali muitas falhas que tentas ignorar para poderes fazer parte, sentires-te integrado.

Com o tempo nasce dentro de ti uma outra coisa, um misto de irritação, fastio e desencanto, um bicho informe que te rói o pensamento e te faz azedo aos olhos dos outros. Começas a creditar que, afinal, não há volta a dar a esta merda, começas a acreditar que foste ingénuo, que sonhar é coisa frágil. Quando chegas a este ponto estás lixado.

Que fazer, então? Como podes conviver com o tal bicho que, na verdade, és tu, um reflexo de ti? Não sei. Não tenho respostas para tais questões. Pessoalmente opto por ir alimentando o bicho na esperança de que, mais adiante, haja ainda outra coisa, uma salvação qualquer que de momento nem sequer posso adivinhar qual seja.

Como diz a canção: "cá se vai andando co'a cabeça entre as orelhas".

quinta-feira, agosto 29, 2019

Casamento falhado

Poderá a nossa espécie alguma vez recuperar o rumo que, aparentemente, havia tomado quando a Democracia se assemelhou a algo justo? O casamento da Democracia com o Capitalismo já corria mal, o pior foi quando o casal pariu a estirpe de governantes democraticamente eleitos, com merda no lugar dos miolos, que se vão assumindo os cadeirões do poder.

Percebia-se que Trump e Bolsonaro (e Duterte e Órban, etc.) eram coisas más mas estava-se longe de imaginar que fossem uma infecção tão radicalmente mortífera. O resultado será, inevitavelmente, a morte do sistema económico-social que ainda se vai aguentando no mundo global. Isto será dramático para o mundo ocidental e, estou em crer, para o mundo inteiro.

Um mundo desregrado, governado ao sabor dos caprichos destas alimárias, será ainda mais injusto e perigoso do que já era. Talvez seja necessário passar por uma fase de terrível agitação para que, no futuro, algo diferente (para melhor) possa surgir. Para ser sincero, este desejo não me desperta qualquer entusiasmo.

Não consigo acreditar que depois da tempestade que estamos a viver venha bonança capaz de nos reconciliar com a vida humana. Mas isso sou eu a imaginar o Futuro com a minha cabeça limitada. Talvez Deus exista...

sexta-feira, outubro 26, 2018

Questão de coração

Andamos todos confusos com o desenrolar alucinante dos acontecimentos que nos últimos tempos têm alterado a ordem que vinha definindo o nosso mundo. A coisa passa-se tão perto de nós, tão à frente do nosso nariz, que não temos afastamento suficiente que nos permita percepcionar os contornos do bicho, compreender o fenómeno.

Há quem trema de receio que o Fascismo regresse, quem levante as bandeiras do "politicamente correcto", quem aponte o dedo acusador aos emigrantes, aos pretos, aos pobres, aos comunistas, aos homossexuais, aos velhinhos e aos amantes da Natureza, há grupos de apoio para tudo e de oposição a mais alguma coisa. Andamos numa roda-viva.

No meio da refrega vemo-nos impelidos a escolher um dos lados da barricada e é nesta situação que se revela a massa de que somos feitos pois uma escolha como esta é feita com o coração; absolutamente. Eu sei que procuramos uma justificação mais ou menos racional que corrobore a nossa opção mas isso não passa de reflexo cerebral condicionado, é no tambor do nosso coração que encontramos a explicação para a essência das escolhas que fazemos nesta refrega.

Assim vivemos estes acontecimentos pré-apocalípticos com o coração ao pé da boca. Braços no ar, punhos erguidos contra mãos estendidas, a história a repetir-se, desta vez como Tragédia. Novos fascistas, novos comunistas, novos anarquistas, novos sociais-democratas, socialistas, tudo remisturado pela varinha mágica do tempo, preparando-se para um novo embate, semelhante a todos os anteriores mas em diferentes locais, com novos actores, diferentes figurinos e cenografia renovada.

Nesta Tragédia cada um escolhe a personagem que pretende interpretar. Segue o teu coração.

sexta-feira, outubro 13, 2017

Bombas

Sinceramente não sei porque hei-de ficar inquieto caso o Irão consiga fabricar armas atómicas. Nem sei porque hei-de ficar mais inquieto por essas armas já fazerem parte dos brinquedos do rei-comunista da Coreia do Norte. Inquieto já eu estou pelo simples facto de armas desse género existirem um pouco por todo o planeta. É o bastante.

É suposto eu, na minha qualidade de cidadão ocidental, ser a favor da existência, manutenção e expansão dos arsenais nucleares dos países considerados democráticos? Veja-se o caso dos EUA e do tolo alucinado que agora senta o olho do cu no vértice da pirâmide do poder lá da terrinha. Com uma besta daquelas a ter acesso ao botãozinho nuclear podemos nós estar descansados? Claro que não.

O problema da sociedade global e informatizada parece ser a sua novíssima capacidade de eleger anormais para cargos de poder e publicitar com estrondo os peidos e arrotos de todos os mentecaptos que orientam os destinos dos povos. Sim, dos mentecaptos, porque aqueles que governam com sabedoria e equilíbrio raramente são motivo de notícia.


sexta-feira, julho 07, 2017

Reflexão preguiçosa

EUA, Coreias, Arábia Saudita, Qatar, Egipto, Venezuela, Iémen, Sudão, Líbia, Filipinas, a lista é curta, como a minha memória, um esboço deste mundo feito com traço tosco. Leio o jornal e a sensação é a de que o mundo está dentro de uma panela de pressão posta ao lume.
A temperatura sobe.

Por aqui as coisas vão rolando calmas. O festival de Teatro de Almada oferece espectáculos diários. O povo assiste, sereno e divertido, discutem-se qualidades e defeitos de encenações, cenografias, interpretações... visões artísticas do tal mundo, da tal panela de pressão.

Por vezes recordo vagamente os anos 80, a Guerra Fria, o no future, nem sequer me apetece sorrir. A espécie humana é uma ameaça constante para si própria e, no entanto, é também a sua única esperança. Deus não é para aqui chamado embora, numa certa perspectiva, faça muita falta.

quinta-feira, novembro 10, 2016

Perguntas, perguntas…


É o presidente Trump um retrato do mundo actual? É ele o espelho mágico no qual nos olhamos e a quem perguntamos se há alguém mais democrata do que nós? Nós… nós… mas quem somos nós, aqueles por quem o Senhor Director fala no seu editorial de 10 de Novembro, “Este território desconhecido”? Somos os que estão surpreendidos com a vitória do Donald? Os que vivem preocupados com os movimentos populistas de pendor totalitário que medram um pouco por toda a União Europeia? O que nos une, o que nos torna um todo?

Tal como nos comics americanos, por cada super-herói há um super-vilão. Se “nós” existimos “eles” também estão por aí e, de momento, são “eles” quem está a ganhar. Temo que o problema resida precisamente na possibilidade que “nós” não existamos, que “nós” sejamos uma personagem ficcional e “eles”, pelo contrário, sejam reais. Temo que “eles” saibam o que (não) querem enquanto “nós” queremos coisas diferentes uns dos outros. “Eles” têm inimigos definidos e unem-se, “nós” não temos como nos unir pois não identificámos ainda o inimigo, estamos divididos. “Nós” acreditávamos que personagens como Trump, Farage e Le Pen só poderiam crescer noutro tipo de contexto sociopolítico. Erro crasso, percebemos agora. Seremos,"nós" e "eles", a mesma coisa, a mesma gente?

Olhando para os resultados das duas votações (a do Brexit e a eleição do Donald) que obrigam a reflectir sobre que mundo é este, verificamos que uma e outra foram razoavelmente renhidas, que há uma tendência clara para uma divisão em duas partes que se equivalem. Estará o Ocidente a partir-se ao meio, a abrir uma brecha através da qual se esvaziará irrevogavelmente?
Se Trump for o tal espelho mágico decerto não tardará a dar-nos respostas.

Carta enviada ao Director do jornal Público

sábado, outubro 08, 2016

Um homem triste

Tenho alguma simpatia para com António Guterres. Sempre me pareceu um gajo fixe metido em sarilhos muito maiores do que aqueles que estava preparado para enfrentar. Agora mais do que nunca.

Será necessário observar que Guterres não é santo embora possa parecê-lo, tais os panegíricos com que o têm presenteado nos últimos dias. É um homem vulgar com alguma predisposição para o sofrimento. Daí que seja escolhido para liderar causas perdidas.

A sua carreira política em Portugal não foi isenta de erros, alguns deles graves (como o de trazer José Sócrates para a ribalta) mas custa a crer que tenha errado em proveito próprio como o fazem tantos outros candidatos à canonização pública.

Enfim, agora que é secretário-geral da ONU resta desejar-lhe alguma felicidade. O homem parece sempre infeliz. Era tão bom que o mundo lhe pusesse um sorrisinho nos lábios...

terça-feira, junho 28, 2016

Vontade popular

Até que ponto o resultado do referendo britânico reflecte a divisão entre um mundo urbano e cosmopolita e um mundo rural, menos formado nas visões que o Mundo oferece aos que para ele olham e nele viajam?

Até que ponto a elaboração de um discurso complexo, resultado da observação do mundo, que tenta reflectir sobre a sua variedade, um discurso construído no coração da cidade, vai perdendo consistência e clareza à medida que se desloca em direcção às periferias, até ser transformado no antiquíssimo "bar-bar", a linguagem que os gregos da antiguidade clássica atribuíam aos povos que lhes eram estranhos?

Em Democracia, o conhecimento e a ignorância equivalem-se no momento do voto, misturam-se e diluem-se na contagem dos boletins e acabam por ser uma e a mesma coisa quando são publicados os resultados da votação, expressando a vontade popular.