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sábado, dezembro 09, 2006

Outras coisas

O debate sobre a questão do aborto está aí. Começam a definir-se os contornos da discussão e, como seria de esperar, de ambos os lados da barricada os argumentos, os métodos e as perspectivas não mudam grandemente. Quem estivesse à espera de alguma transformação na forma como a coisa vai ser equacionada bem pode tirar o cavalinho da chuva: está tudo na mesma... como a lesma!
A igreja católica chegou a dar a sensação de que iria colocar-se sabiamente à margem mas não é capaz, não tem maturidade suficiente para acreditar na maturidade dos indivíduos pelo que, mais uma vez, avança com infernos e demónios tentando inquinar uma discussão já de si bem envenenada. Tudo velho.
Cada vez mais se ouve falar do problema da obesidade (infantil ou nem por isso), havendo mesmo quem lhe chame "epidemia", nome feio que talvez não se ajuste ao caso vertente mas que já dança nalgumas cabeças pensantes.
Segundo uma tal de Ana Rito, doutorada em Saúde Pública na área da nutrição infantil (ver entrevista na Visão nº 718), combater esta "epidemia" (o termo é dela) "só é possível tendo por base parcerias com todos os intervenientes - media, Governo, escola, família, profissionais de saúde e indústria alimentar." Se for assim, se é necessário concertar esforços, conceitos e princípios envolvendo esta maralha toda lamento, mas não há hipóteses de vencer a batalha. Para conseguir congregar esforços de tão diferentes agentes e instituições teríamos de operar uma revolução social mais radical que aquela que saíu da Revolução Francesa.
Pedir aos industriais da alimentação que abdiquem de uma margem dos seus lucros em nome da saúde das criancinhas é o mesmo que pedir ao diabo que desfaça os negócios de compra e venda de almas que lhe garantem a subsistência. Tão grande inocência da parte desta senhora mostra bem que o exército não tem generais à altura desta guerra. Está perdida. Resta-nos a guerrilha nem que seja com pedras na mão. A coisa pede mesmo é uma intifada contra a obesidade. Estamos entregues a nós próprios.

A literatura não deixa de nos surpreender. Anuncia-se para breve um livro da autoria de Carolina Salgado. "Quem é essa senhora?" perguntarão os mais distraídos rebuscando nas prateleiras da memória outras obras com tal assinatura. Não se cansem, é livro de estreia e certamente único. Carolina Salgado é a senhora que viveu com Pinto da Costa durante uns tempos e que, agora que separaram os trapinhos, tem dado muitas dores de cabeça ao velho lobo dos futebóis. A publicação de tal obra-prima aguça já o apetite dos mais marotos prevendo com gozo antecipada um camião de roupa suja a lavar na praça pública com água de fonte luminosa.
Depois de Vítor Baía e Ricardo, de José Mourinho, Jorge Costa e o próprio Pinto da Costa terem brindado o mundo das letras com obras de primeira água porque não poderia também esta cidadã tentar a sua sorte nos escaparates?
Coisa linda, conforme se verá.

Enfim, o Natal aproxima-se a galope, as dietas e o bom senso vão fazendo as malas e em breve entrarão de férias para os lados do Havai. Nós, por cá, vamos andando. Com a cabeça entre as orelhas, como convém.

quinta-feira, novembro 30, 2006

Vítimas do conforto


Carta de Istambul

Europa restringe publicidade a alimentos calóricos destinada a crianças
quinta-feira, 16 de Novembro de 2006 Por: Lusa
Ministros e altos funcionários do sector da Saúde de 48 países europeus assinaram hoje, em Istambul, uma carta que fixa princípios comuns contra a obesidade, tais como a criação de leis que impeçam a publicidade de alimentos calóricos destinada a crianças.

(...)Em Portugal, segundo o vice-presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade, Davide Carvalho, mais de metade da população (52,4 por cento) sofre de excesso de peso ou obesidade. O país regista uma das mais elevadas taxas de obesidade em crianças com menos de onze anos da União Europeia.

Pois é, é um fenómeno consumista aparentemente incontrolável. Nos dias que correm há putos gordos a dar com um pau e cada vez há mais!
Hábitos alimentares destrambelhados aliados a um sedentarismo bovino estão a distorcer a imagem das nossas crianças até à caricatura. A ironia desta situação é que a obesidade infantil está relacionada, em larga escala, com aquilo que poderia designar por "excesso de conforto". Quem não gosta de se esparramar em frente a um écran comendo umas guloseimas enquanto vai vendo um filminho? Na boa, não há mal nenhum em semelhante actividade. O problema é que, nos dias que correm, as crianças têm demasiados écrans nas suas vidas e uma estrondosa falta de vida ao ar livre.
Jogar futebol ou correr aos gritos com quanta velocidade se possa são coisinhas para fazer na escola. Os tempos de lazer da maioria da pequenada são ocupados nas consolas de jogos, em frente aos 500 canais de televisão por cabo e coisas do género. Como se isso não bastasse, a leitura é uma bicho de sete cabeças. Se ao menos engordassem a ler umas coisas...
Como não podia deixar de ser as "autoridades" já começaram a olhar para esta questão com olhos reguladores. A publicidade, mãe de todos os vícios na sociedade de consumo, é apontada a dedo como tendo grandes culpas no cartório. Os putos raramente bebem água, substituem-na por sumos e outras bebidas açucaradas. Comem fast food à velocidade da luz e ainda fecham a refeição com um chocolatinho, para desenjoar. É complicado evitar tais desmandos alimentares já que as campanhas publicitárias são engendradas com uma eficácia assombrosa. TV, outdoors, revistas, flyers, imagens perfeitas de hamburgers, garrafinhas de sumo coloridas e outras iguarias e beberagens, inundam o horizonte e o pessoalzinho debate-se para se manter à tona. Comendo e bebendo como se isso fosse o objectivo primordial da existência humana.
Em Istambul (doce ironia turca) um grupo de responsáveis europeus tentou dar os primeiros passos no sentido de restringir a liberdade criativa dos publicitários quando se trate de vender porcarias às criancinhas. Louvável iniciativa. Será?
Na verdade o nosso modo de vida europeu baseia-se no consumo desenfreado. Não há produto que nos aconselhe um consumo moderado (só na publicidade a bebidas alcoólicas e com o seu quê de cinismo, convenhamos).
Crianças ou adultos, somos constantemente bombardeados com anúncios capazes de nos criarem as mais estranhas necessidades e temos as prateleiras cobertas de merdices inúteis. Mas isso já se tornou um modo de vida. Tentar contrariá-lo irá gerar situações complicadas de atentados à liberdade, em sentido lato. Temo que estejamos a entrar num beco sem saída... com uma porta de um restaurante da McDonald's ao fundo.