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domingo, maio 05, 2024

Paul Auster (1947-2024)


    Há uma certa diferença entre usufruir da leitura e compreender a obra lida no contexto do universo criativo do autor. 

    Mais ainda, há uma certa diferença entre ler vários livros de um autor e conseguir locazilá-lo na imensidão do cosmos da criação literária. Enfim, Paul Auster ofereceu-me excelentes momentos, outros nem por isso. 

    A qualidade artística é sempre intermitente, raramente ou nunca é constante. A genialidade é meramente ocasional.


quarta-feira, julho 12, 2023

A beleza da morte

     Hoje faleceu Milan Kundera.

    Impressiona-me a rapidez com que os meios de comunicação fazem o elogio fúnebre dos defuntos célebres. Ainda a alma não disparou em direcção ao céu e já os ecos da morte se misturam nos da vida, foram recolhidos testemunhos dos que privaram com o cadáver quando tinha dentro o sopro da vida, encontraram-se familiares que choram, amigos que suspiram, é espectacular! Tem de haver ali segredo.

    Pensando bem, nos tempos que correm, tempos de chatgpt, a coisa fica ainda mais aerodinâmica. Temos a possibilidade de pedir a uma máquina que nos recorde o valor e a grandeza da vida de pessoas especiais. E a máquina não se acanha. No seu estilo limpo (o correspondente escrito a uma voz de atendedor automático) a máquina explica-nos com rigor e transparência o que é ser-se humano e ter valor.

    Em tempo record.


domingo, janeiro 08, 2017

Adeus Marocas

Morreu Mário Soares. Esteve tanto tempo internado em estado terminal que os jornalistas tiveram oportunidade de escrever toneladas de artigos, quase todos elogiosos. Hoje, no dia imediato ao passamento do velho democrata, a coisa explode: são centenas, milhares de artigos nos jornais, documentários nas TV's, repetições de entrevistas e debates, depoimentos, testemunhos, recordações... por uns dias Soares será perfeito. Ele que foi o mais imperfeito de nós e, por isso mesmo, o mais admirável de todos.

Disse um dia que "só os burros não mudam de opinião". Entre muitas outras coisas que julgo ter aprendido com ele esta foi a que mais vezes recordo.

sexta-feira, novembro 11, 2016

So long Leonard


Esta noite recebi a notícia da morte de Leonard Cohen. Até um dia, Leonard, talvez te veja outra vez. Ou talvez não.

Reparo agora que os meus ídolos musicais estão, cada vez mais, enterrados na mesma cova da minha memória. Strummer, Reed, Bowie, agora Cohen, Morrison já morreu faz muito, muito tempo. Palma, meu amigo, continua bem vivo e dou graças a Deus, pelo menos por isso.

A estante onde vou amontoando os meus CD's cada vez mais se parece com um cemitério. Hoje, quando falei nisso à Ana ela perguntou-me se eu sabia o que poderia significar tal coisa? Eu sei o que ela queria sugerir, que estamos a envelhecer, mas respondi: sim, sei o que significa, significa que toda a gente morre, mesmo os imortais, qualquer coisa assim.

Resposta parva, provocada por uma mistura de desencanto e alguma raiva temperadas por um pouquinho de tristeza e desespero. Já só poderei ouvir o que eles fizeram, já não poderei esperar o que eles vão fazer.

Quando falecem estes seres humanos ficamos um pouco mais sozinhos, um pouco mais abandonados aos nossos sonhos. Já não poderemos ser estimulados pelas suas visões magníficas para vermos o mundo melhor iluminado. Resta-nos a memória, a revisita.

Até um dia Leonard, meu magnífico companheiro.

segunda-feira, janeiro 11, 2016

Bowie

Hoje de manhã entrei no meu carro e liguei o rádio. Eram 8 horas e o noticiário na TSF abriu com  Space Oditty de David Bowie. Estranhei: "que raio de coisa, o homem edita um novo álbum e abrem o noticiário com um tema tão antigo..."

Estacionei e ouvi até ao fim para tomar conhecimento que Bowie morrera durante a madrugada (acho eu). PORRA!!!

Há pessoas que não imaginamos mortas.
Há pessoas que, imagino eu, não morrem.

segunda-feira, janeiro 06, 2014

O Eusébio

Faleceu Eusébio da Silva Ferreira. A comoção é grande, o país está de luto. Tenho sensações estranhas em relação a isto.

A onda de notícias, opiniões, testemunhos, epitáfios e mensagens de condolência é avassaladora, um maremoto de tristeza a varrer o mapa de Portugal. Pensei que me era indiferente mas já me comovi uma ou outra vez ao ouvir o rádio. Sobretudo ao ouvir palavras de pessoas anónimas em programas radiofónicos. Palavras simples de agradecimento e admiração por um homem cuja principal qualidade fora dos relvados de futebol era, ao que parece, uma extrema simplicidade.

O que me comove, penso eu, é constatar que, para o cidadão comum, a simplicidade é um valor superior. Num mundo doentiamente mediatizado e repleto de vedetas em pose surge este ícone modesto e de face humana. Um deus dentro do campo e um ser humano fora dele.

Quanto mais não seja é isto que a gradeço ao Eusébio. Todos o tratávamos por "o" Eusébio. Único e irrepetível Eusébio.

domingo, outubro 27, 2013

terça-feira, maio 21, 2013

Memória do futuro

Durante a minha infância vivi em estado semi-selvagem. O máximo de tecnologia a que tive acesso era um velho aparelho de televisão a preto e branco que de vez em quando se recusava a funcionar e a minha avó paterna arranjava com uns valentes murros na caixa.

Quando cheguei à adolescência foi com alguma emoção que recebi (já não sei de onde terá vindo) um leitor de cassetes, daqueles mono, como os que usavam os repórteres dos anos 70 para fazer entrevistas. As cassetes que tocava nesse aparelho primitivo eram todas dos Doors.

Ouvia as cassetes tantas vezes que as fitas se partiam e tinha de as arranjar com pedaços de fita-cola. E voltavam a rodar e a rodar e a fazer-me sonhar já não me lembro com quê. Aquela música hipnotizava-me. Nos dias de hoje tenho vários dos discos dos Doors na minha prateleira e, de vez em quando, regresso a eles mas falta-me a frescura da adolescência para nadar até à lua.

Ontem faleceu Ray Manzarek. Lá se foi mais um pedaço do tempo. É estranho quando recordamos uma destas personagens. Ray tinha 74 anos mas, para mim, será sempre aquele jovem com grandes patilhas, óculos sem aros e longo cabelo escorrido e louro, debruçado sobre o órgão; genial, absolutamente extraordinário.

Um homem assim nunca morre de verdade enquanto não morrer o mundo em que viveu.

sexta-feira, dezembro 07, 2012

A força da Palavra

Joaquim Benite

Há dias em que só me apetece dizer "foda-se"!

Expressão profundamente grosseira, de uma deselegância próxima da boçalidade camponesa que enformou a minha mais tenra infância, "foda-se" é mais do que uma palavra, foda-se é um estado de espírito.

Foda-se a morte, foda-se a vida, fodam-se os mortos e fodam-se os vivos. Dita assim muitas vezes, a palavra foda-se tem qualquer de catártico, esconjurando fantasmas e traumas com uma eficácia desarmante.

Dizer foda-se muitas vezes e de forma apropriada poupa-nos uma ida ao psiquiatra e faz-nos evitar a cartomante da esquina. Foda-se é uma expressão libertadora que contribui para a poupança de uns dinheiros que, de outra forma, seriam (mal) aplicados em terapia desnecessária.

Anteontem faleceu o Joaquim Benite, ontem o eterno deixou de fazer sentido com a morte de Niemeyer. Dizer a palavra (foda-se) ajuda a aliviar a sensação de que há fantasmas que o Inverno liberta e ficam por aí a reclamar vidas a que pensam ter direito, mesmo do outro lado do mar oceano onde nem sequer faz sentido que se morra por não estar o frio que aqui se faz sentir.

Foda-se.

Dickens intuiu a coisa com o seu Scrooge e os fantasmas natalícios. Mas, como era um homem bem educado, não utilizou, no seu conto imortal, a palavra mágica: foda-se. Convenhamos que é a palavra que falta ao conto para que seja uma obra-prima absoluta e não aquilo que realmente é, uma extraordinária obra-sobrinha.

Termino este mal-humorado post com a sugestão: leitor amigo, experimenta dizê-lo alto - FODA-SE. Se porventura não sentiste um leve sopro libertador, então repete, di-lo mais alto, grita-o se necessário for. O mundo não merece mais do que isso. Estranhamente, também não merece menos.




quarta-feira, abril 25, 2012

25 de Abril


Em jeito de comemoração da revolução de 25 de Abril deixo aqui este tema de Gabriel O Pensador.
Gosto de o ler e de o ouvir e de pensar com O Pensador e perceber que aquilo que, para mim, significa este dia é algo que não fica por aqui, enfiado nas estreitas fronteiras do nosso país.
O sonho é universal.

Post Scriptum: paz para Miguel Portas que morreu antes do dia.

sábado, março 10, 2012

Au revoir

Acabo de saber que morreu Jean Giraud, também conhecido por Moebius (ou vice-versa). Giraud foi um dos mais extraordinários desenhadores que o mundo já conheceu. Desde miúdo que acompanhei com admiração e reverência a sua obra extraordinariamente variada.

Giraud desenhava como se falasse. As suas personagens raramente repetiam um gesto, os seus cenários eram sempre de uma minúcia e de uma inventividade de cortar o fôlego. Tenho muitas das suas obras nas minhas prateleiras que vou lendo, relendo ou, simplesmente, admirando. Quantas vezes tentei copiar os seus desenhos!

Fiquei triste com a notícia. Foi como se tivesse falecido um amigo chegado. É uma sensação estranha.

Au revoir, mon vieux ami.

domingo, julho 24, 2011

Mais um anjinho


Morreu Amy Winehouse (toda a gente sabe, claro). Pois foi, lá se passou a cantora da imagem esquisita, tinha os tais 27 anos. A lista de personagens geniais do mundo da música que faleceram com essa idade fatídica é impressionante. No jornal chamam-lhe o "clube dos 27": Brian Jones, Jim Morrison, Jimmy Hendrix, Janis Joplin e Curt Cobain, uma coincidência dos diabos!
Cá para mim, as almas destas personagens estão algures no Paraíso, são anjos, não restam dúvidas. Deus não cometeria a imprudência de prescindir dos serviços de tão distintos fantasmas. Sem eles o Paraíso seria, definitivamente, o tal lugar aborrecido que muitos imaginam mas que, estou em crer, terá concertos divinais com uma frequência extraordinária como só pode acontecer no Mundo das Nuvens.
Talvez Lucian Freud lhe pinte o retrato.

sexta-feira, julho 22, 2011

Lucian Freud


Morreu o pintor Lucian Freud, 88 anos, cidadão inglês, considerado pela crítica como um dos mais excelentes pintores, senão mesmo o maior, dos últimos anos em todo o mundo. Um pintor deveras marcante. Uma pintura de Freud é uma coisa desconcertante.

Segundo o velho pintor, a solidão do trabalho proporcionava-lhe muita alegria e não gostava que o vissem durante o acto de pintar. Mas quando um observador se confronta com uma tela saída das suas mãos poderosas é isso que ele pode apreciar: a pintura. Não vendo artista em acção, a observação de uma obra de Freud mostra-nos o poder mágico do gesto pictórico.

Uma pintura é um repositório de energia em suspensão. Quando o observador cruza o olhar com o objecto de arte acciona uma fusão de energias, a sua própria com aquela que obra contém, pondo em movimento os mecanismos maravilhosos do fenómeno da revelação artística.

Foi isto que Lucian Freud nos legou, obras de uma energia intensa, capazes de gerar campos de força avassaladores que nos sugam a alma para o centro de uma tremenda tempestade pictórica. Paz à sua alma, lá na solidão da morte.

sexta-feira, junho 18, 2010

Homenagem póstuma


O Amoroso
(na sombra de um pilar)
desenho concluído em 15 de Novembro de 2009



Inscrição no verso


Na verdade, após ter concretizado este desenho (que começou por ser um "Chapeleiro Louco"), saíu uma longa entrevista na Pública (que não li) com a senhora Pilar del Rio, a amorosa do gajo que dá a cabeça deste meu amoroso.


José Saramago faleceu esta tarde. Plácidamente, ao que consta. Paz ao que dele restar (duvido que seja uma alma, já que ele não acreditava nessas coisas).

quinta-feira, janeiro 07, 2010

Lhasa



Morreu Lhasa de Sela. Não há grande coisa a dizer que não sejam lugares comuns acerca de uma cantora que de comum não tinha nada. Escrevo este post apenas para que aqueles que nunca tiveram a felicidade de a ouvir possam agora fazê-lo. Vale bem a pena.
Aqui pode ler-se um pequeno artigo sobre Lhasa. Paz à sua alma luminosa.

domingo, agosto 09, 2009

A Morte não vai de férias


Mesmo de biquini e óculos escuros, a Morte não pára de trabalhar e procura, incessamente, mais clientes e novas formas de aplicar fundos em investimentos lucrativos. Guerras, doenças, acidentes, os recursos da senhora são inesgotáveis e dão sempre lucro. Constantemente.

A Morte é sempre notícia. Quando morrem desconhecidos o valor da notícia mede-se pelo número de vítimas. Quando morre uma figura pública tem mais a ver com a sua popularidade. De uma maneira ou de outra, a Morte consegue sempre páginas inteiras a ela dedicadas, grandes manchetes e fotos espectaculares. Seja aqui ao lado ou lá longe, o fascínio pela Morte aguça-nos o ouvido, desperta-nos a atenção e põe-nos a comentar com maior ou menor intensidade as suas mórbidas tropelias. Umas vezes provoca terna saudade, outras violenta indignação, mas nunca pára de trabalhar, a malvada.

Entre os 37 xiitas iranianos que foram despedaçados por uma bomba em Mossul e Raúl Solnado, falecido serenamente numa cama de hospital, o resultado prático do trabalho da Morte é semelhante.

Imagino o que seria se a Morte, cansada de tanto trabalhar, resolvesse tirar umas férias. Quero dizer, não imagino, é uma coisa inimaginável. Um dia que fosse sem a visita da morte... na verdade, se isso acontecesse, nem sequer iríamos reparar. Como poderíamos confirmar uma bizarria desse calibre? E não haveria de haver nos jornais uma linha que fosse sobre o assunto. Se calhar é por isso que a Morte não tira férias, ela é uma grande vaidosa e só quer que lhe dêm atenção. Se calhar é isso...

quarta-feira, maio 06, 2009

O Senhor dos Desenhos


Desde anteontem que tenho pensado muito em Vasco Granja. É das tais coisas; já me esquecera há que tempos da existência deste homem e, agora que morreu, regressou em força à minha memória. Há situações em que a morte acaba por ser mais justa do que a vida, pois estou convencido que milhares de pessoas estarão na mesma situação que eu.

Todos os que gostam de cinema de animação e de Banda Desenhada e andam na casa dos 40-50 anos se recordam dos programas televisivos em que Granja mostrava com igual paixão os filmes da Checoslováquia e do National Film Board, do Canadá. Foi Vasco Granja quem me apresentou Droopy, um dos heróis mais queridos da minha infância.

Leitor compulsivo de revistas de Banda Desenhada, habituei-me a ler os textos de Granja no Tintin e a comprar as mais variadas edições por ele promovidas. Enfim, Vasco Granja foi uma personagem importantíssima na divulgação das narrativas desenhadas em Portugal. Para mim foi super-importantíssimo pois foi através dessas narrativas que descobri e desenvolvi o meu gosto pelo desenho e, mais tarde, pelas artes plásticas, de um modo geral.

Granja estava meio desaparecido (aqui uma entrevista de 2003). A Banda Desenhada caíu em desuso e um velhote meio maníaco pela idade de ouro das revistas de histórias em quadrinhos não é a personagem mais mediática. E foi esquecido. Até anteontem, data da sua morte. Durante uns dias regressa em força o velho Vasco Granja com a sua voz característica e as palavras meio enroladas umas nas outras. Uma personagem agradável de quem era fácil gostar e que foi responsável por um sem número de coisas maravilhosas que aconteceram a milhares de portuguesinhos de gema.

Enfim, fica bem, Vasco, que nós também.

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Interior Luxuoso


Ao saltar para a página do Público online dei de caras com esta notícia. Lux Interior morreu com 62 anos de idade. Não deixa de causar uma certa impressão na boca do estômago o facto de a notícia estar na secção de "cultura" (Ouvi e vi o vídeo de "What's inside a girl?" 3 vezes seguidas só para matar saudades. Saudades mortas.)

Os Cramps foram uma das bandas que me ajudaram a suportar o fim da adolescência sem ser assaltado por uma vontade incontrolável de me atirar abaixo de uma ponte. Sempre que era assaltado por essa fatalidade ouvia uns temazinhos dos Cramps e pronto, voltava tudo ao sossego habitual. Havendo Cramps neste mundo, todos os adolescentes de finais dos anos 70 podiam respirar um pouco mais aliviados.

A música desta banda constituída por horripilantes personagens tem qualquer coisa de hipnótico que nos faz desejar manter os faróis ligados mesmo que estejam a apontar e a iluminar algo que preferíamos não ver ou, pelo menos, ignorar. Uma espécie de alegria de viver ao contrário.

O 100 Cabeças envia condolências a Poison Ivy, viúva de Lux.

A partir de agora resta-nos ouvir o som arrasador dos Cramps e continuar a sorrir e a abanar a cabeça enquanto tentamos segurar os pézinhos que teimam em bater e as pernas que não sossegam de tanto quererem dançar.

domingo, dezembro 07, 2008

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Soube hoje ao jantar que o Paulo Rodrigues faleceu. O Paulinho. Já aconteceu há algum tempo. Não percebi quanto tempo. Mas percebi porque não respondeu ás últimas mensagens de SMS que lhe enviei. Vou apagar o número dele da lista de contactos no telemóvel.

sábado, setembro 27, 2008

Morreu o Homem Novo

A notícia da morte de Paul Newman não surpreende. Ele desistiu do tratamento de quimioterapia com que tentava debelar um cancro no pulmão para descansar na paz da sua casa enquanto esperava a visita derradeira da dama da gadanha. E pronto. Já está.
É um pouco estranho quando morre um ícone do cinema. Ainda ontem milhões de pessoas o terão visto em diferentes filmes e em diferentes situações. Em casa, num cinema de reprise, com 30 anos, 50, 60, um Paul Newman representando várias idades da existência humana, numa aparente indeferença para com o passar do tempo. Agora está morto. No mundo real está morto. No mundo virtual permanece jovem ou nem por isso. Mas permanece.
Seguem-se os habituais exageros post-mortem. Toda a gente vai descobrir como ele sempre foi adorável, admirável, extraordinário, um actor fora-de-série. Vai haver rios de gente a considerar uma injustiça ter recebido um único Oscar em tão longa carreira. Vai haver montanhas de gente a recordar episódios em que o velho Paul protagonizou alguma situação picaresca. A morte santifica-nos a quase todos. Um mar de gente nos ama depois de morrermos.
Newman (Homem Novo) era uma figura carismática. Nem o envelhecimento lhe retirou aquele aspecto digno e galante que foi a sua imagem de marca. Um tipo duro, com um queixo perfeito para enfiar um par de sopapos e uma boca rasgada, óptima para sorrisos enigmáticos, trocistas de preferência. O olhar não deixou de ser azul mas a doença retirou-lhe fulgor. É estranho como a vida tantas vezes se apaga no olhar das pessoas.
Descansa em paz, Homem Novo, se é que a morte traz algum descanso.