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Saturday, October 31, 2009

Recordar Rocha Martins (2)

Autodidacta, Rocha Martins foi um historiador atípico. Essencialmente divulgador, tendo do passado uma visão eminentemente relacionada com os sucessos biográficos dos «grandes homens», atraído irresistivelmente pelo que de romanesco existe no percurso de uma vida -- daí a propensão para o romance histórico -- nem por isso deixava de bater as fontes, com desenvoltura e particular argúcia, em arquivos públicos e particulares, não dispensando também os contactos com descendentes daqueles que eram objecto da sua atenção.

Texto publicado no desdobrável da exposição bibliográfica e documental «Rocha Martins -- 50 Anos Depois (1952-2002)», realizada no Museu Ferreira de Castro, em Maio-Junho de 2002.

Sunday, October 18, 2009

de passagem - Assis Esperança, PÃO INCERTO (1964)

Ao esboçar este seu romance, o autor pretendeu situá-lo no recuado período da dominação romana na Península, algumas das condições de vida nas «villae» rurais: trato e relações entre senhores, colonos e escravos, formas jurídicas da exploração do solo, corrupção de costumes, funções e procedimento dos «magistri» -- os capatazes de hoje -- em paralelo com o progresso moral e material dos nossos dias, muito principalmente no Alentejo e no Algarve. Acto de consciência pelo cotejo dos condicionamentos sócio-económicos de cada época, apreciaria, assim, o que fora, desde há séculos, a valorização da pessoa humana sob a pressão das contigências e retribuição do trabalho mais ou menos escravo, influências deprimentes, se não degradadoras, pela natureza das tarefas a que certas actividades sujeitaram e ainda sujeitam o Indivíduo. Houve, porém, que desistir desse intento por falta de elementos para a reconstituição avaliadora daqueles recuados tempos -- por muito que os rebuscasse na consulta a historiadores, investigadores e arqueólogos de maior crédito, Jerôme Carcopino e Menéndez Pidal (1) entre os de além-fronteiras. Quanto aos do nosso burgo, e sob aquele aspecto, nada mais que alusões. Nem admira. Quem os incita a esses estudos, subvencionado-os, ou subsidia as dispendiosas escavações arqueológicas? E sem arqueologia não há História.
(1) O leitor em parestos de curiosidade poderá consultar o 2.º volume da Historia de España: España Romana (218 anos a. C. -- 414 d. C.), dirigida por Menéndez Pidal, sobre os primitivos habitantes do Algarve, a invasão pelos Lusitanos, do Barlavento dessa província, no tempo dos Cónios, o arrasamento da sua capital, Conistorgis, a travessia para a conquista do Algarve Mauritano, e muitos outros sucessos, a darem-nos aquela tribo como laboriosa e pacífica. De interesse é, também, a hipótese de ter sido fundada, por ela, a cidade luso-romana de Conímbriga, Condeixa-a-Velha.
Assis Esperança, Pão Incerto, 2.ª edição, Lisboa, Portugália Editora, 1968, pp. 7-8.