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quinta-feira, 1 de março de 2012

Um grande vinho (Moscatel Roxo 2011, JMF)!

                                                    
                     Sendo hoje um espaço de referência na blogosfera que se expressa em português e dedicada ao tema culinário/gastronómico, o Outras Comidas apresenta uma gritante lacuna no que toca a vinhos e muitos têm sido os leitores que me têm feito esse reparo, com razão.
Penso, por isso, que devo a todos os que me lêem, uma explicação.

Eu tenho com o vinho uma relação de amante, forte, mágica e visceral: eu gosto de beber vinho e gosto de senti-lo sem peias nem preconceitos intelectuais, para mim é coisa de palato e de interacção directa, gosto ou não gosto, que me interessam essas habilidades, que acho meio circenses, de identificar  que carvalho é o das barricas ou se a vinha é nova ou velha ou se o frutado é de ameixa ou de mirtilos azuis… isso pode ser um divertimento complementar, e sei que o é, para muitos, mas é assunto que não me interessa!
Um vinho é, para mim e antes de tudo o mais, o prazer que me dá, a maneira como me impressiona: a cor, o aroma, o corpo, os sabores que ficam no palato, sentidos, não classificados e não preciso de mais para saber, sem qualquer outro esforço adicional, se gosto ou não.
Como vinho não é água-tónica, não me forço a gostar de nada de que o palato não goste; se amargou, foi áspero ou azedo, bem pode vir o mais pintado a falar que aquilo é efeito da famosa e raríssima casta “xpto”, que extasia os entendidos. Pois sim, para mim é um vinho azedo, áspero ou amargo e não volto a bebê-lo, por maior que seja a pontuação que a enofilia lhe der, num sistema de classificação, hermético para mim, supostamente valores de 0 a 20, mas em que a pior zurrapa leva sempre, pelo menos, 13, e o melhor dos néctares nunca passa os 18. Coisas…

É por isso que não vou cair na pecha de tentar pontuar ou falar-vos em calão enófilo deste Moscatel Roxo, rosé 2011, que a casa José Maria da Fonseca acaba de pôr no mercado, integrado na “colecção privada” de Domingos Soares Franco e feito de um modo inovador com uma casta tinta, moscatel roxo, até aqui reservada aos vinhos generosos.
Bebi uma das 15.563 garrafas deste néctar cor de salmão, da maneira que mais gosto, a acompanhar conversa, palavra puxa palavra, gole puxa gole, mais um copo e já acabou, diabo, era só uma!
Mas que “uma”!
Este Moscatel Roxo é uma sinfonia de frutas, aromas, frescura e personalidade, foi uma verdadeira epifania para mim, que tenho com os rosé uma longa história de desencantos e desencontros, eu que era, até ontem, um dos muitos para quem os vinhos a sério eram tintos ou brancos, sendo esses mestiços rosados, coisa mesmo boa para americano beber, com um donut, hambúrguer ou pipocas.
Mas não este Moscatel Roxo 2011, que me conquistou, encantou e que me fez olhar o vinho rosé de uma forma bem diferente. 
Servi-o a 8ºC (aquilo a que chamamos bem fresco mas não gelado) e não o deixei muito tempo no copo: ele está pronto a beber quando sai da garrafa e se o deixasse aquecer acima dos 10ºC seria mesmo uma pena.

Nota: Aqui sim, uma  nota, e "20", à rolha,
de cortiça aglomerada, a mostrar que já há entre nós grandes casas que vão esquecendo marialvismos conservadores e estéreis, e que decidem fechar garrafas de grandes vinhos com soluções recicladas e amigas do ambiente, que agradece, obrigado, à José Maria da Fonseca.
                                Vinho oferecido pelo produtor

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Quinta do Rosário 2010 e um jantar de verão

          O calor do verão esmorece-me o gosto invernal pelas longas horas à volta da confeção de um prato ou do esmiuçar de algum conceito culinário mais nebuloso e a pedir experimentação. O forno entra numa espécie de defeso e eu fico cozinheiro molengão, fugindo-me a criatividade para as frescuras e levezas, coisas rápidas que, sem muito trabalho, se possam depois ficar a tasquinhar como álibi para um vinho e conversa.

Este é um exemplo do que eu acho um reconfortante jantar/ceia de Julho, 20 minutos de confeção, 2 horas de degustação, parece-me justo e correspondeu ao ensaio da mariadagem (diria o enófilo), entre o vetusto peixinho da horta e essa maravilha de maionese alhada que dá pelo nome de aioli.
Não vamos agora perder tempo com receitas de peixinhos da horta que por aqui e por todo lado já se fizeram e escreveram, nem tão-pouco com o bom aioli que hoje se fez, suave, com um ovo, dois alhos sem veio central, sal pimenta e vinagre e uma mistura de 2 partes de óleo de girassol e uma de azeite, tudo emulsionado até ficar uma maionese firme quanto baste, que, para mim, é mesmo bem firme.

Na verdade, do que vos quero mesmo falar é de um vinho engraçadíssimo (e seguramente é a primeira vez no mundo em que alguém diz “engraçadíssimo” sobre um vinho): como todos os que me leem sabem eu não sou enófilo nem sequer candidato a aprendiz de tal e as notas que aqui vou por vezes deixando não são notas de prova de coisa nenhuma mas impressões, umas boas, outras nem por isso, que me ficaram do que vou bebendo e gostando ou desgostando, sendo que o meu gosto por vinhos é até, em termos da enofilia “oficial”, bastante vulgar ou até rafeiro, sabendo-me muito bem os vinhos que os especialistas acham fáceis ou “feitos para gostar”.  Claro que me fascinam aqueles longos momentos de quietude zen em que os enófilos ficam com o nariz enfiado no copo dos vinhos difíceis, com uma expressão de beatitude transcendental, mas o que se há de fazer, eu não atinjo esses nirvanas e, depois de cheirado por um momento, um vinho há que “buêlo” que foi para isso que o fizeram, arte de perfumista também é arte mas é outra coisa.

O Vinha do Rosário 2010, branco, é um vinho da Casa Ermelinda Freitas feito com Fernão Pires e um cheirinho de Moscatel (para agradar a gente como eu) e que pelo preço ( 1,99€ no Lidl) pertence ao que se chama gama-base, por oposição a gama-alta ou “topo-de-gama”. 
Até aqui tudo bem, mais um branco barato para a guerra dos supermercados, não fosse o caso do Vinha do Rosário 2010 ser um vinho light!
Exato; um vinho light, não por ser de baixas calorias (como o honesto contra-rótulo frisa)
 mas porque tem pouco álcool, apenas 10,5%vol. declarados, embora eu esteja convicto que tem menos ainda pela absoluta ausência de efeito grão-na-asa após uma garrafa “virada”, mas não pude verificar pois o meu alcoolómetro, por questões de conceção técnica (é ótico), só funciona com tintos.

O certo é que este light é sim uma bênção! Sabe bem, cheira bem, custa quase nada, não dá ressaca, pode-se beber muito como se fosse uma água-pé, bem gelado para alegrar este verão de todas as crises. 
O que se pode pedir mais?

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Do Destino dos Homens e dos Vinhos (Herdade das Pias T&T 2008)

                O simples facto de um indivíduo de elevado potencial ter nascido no sul do Sudão, em Lisboa ou em Helsínquia, poderá traçar de imediato aquilo que será o seu futuro.
Vinte e cinco anos depois, haverá grande possibilidade de o finlandês estar já a caminho do segundo doutoramento financiado pelo estado e com uma carreira brilhante à sua frente, o português terá concluído o 12º Ano e debater-se-á na procura desesperada de um emprego qualquer, depois de duas breves passagens por empregos temporários e o sudanês terá sucumbido de fome e de malária aos 6 meses de vida.
O finlandês sonha com um Nobel, o português com um trabalho, o sudanês não sonha. São assim a vida, a morte e os sonhos dos homens!

O simples facto de um vinho de elevado potencial ter nascido lá para Beja, na península de Setúbal ou no Douro, poderá traçar de imediato aquilo que será o seu futuro.
Após os devidos tratos vinificadores e merecidos estágios nas madeiras certas estes três excelentes vinhos vão enfim enfrentar os seus sonhos e destinos: para o Sr. Vinho lá de cima isto não é sequer motivo para qualquer ansiedade, ou não fora ele feito por um desses enólogos míticos a quem todos os enófilos se curvam e cujos vinhos já têm nota assegurada ainda a uva está em flor, além de que nunca se sujeitará a essas infâmias das provas cegas*, não é preciso tal para topos de gama e, de qualquer modo, o seu estiloso rótulo faz parte integrante da inolvidável experiência que deve constituir a sua degustação.
Já para o pretendente sadino a vida, pelo menos em terras lusas, é dura: apesar de ser reconhecido em todo o mundo como um vinho “cinco estrelas”, disputado e premiado por quem classifica vinhos por aquilo que são e não pela aristocracia marialva do dr. que o fez, cada menção honrosa é arrancada a ferros. É que a quinta onde ele nasceu foi comprada por um tipo rico mas sem pedigree nenhum, não tem sequer um cursito qualquer para ser dr. e teve de se contentar com o humilhante título de comendador de qualquer coisa, o título que se dá aos pés-descalços muito ricos mas de quem ninguém se lembra, lá na ilha donde veio, quem era o avô. Um horror!
Quanto ao de Beja, não há qualquer problema: não existe! 
Como qualquer enófilo suficientemente gourmet sabe, já Olleboma** dizia “…/… sendo Borba a única região … importante e interessante, são consumidos na região a seguir à colheita; não são tratados nem engarrafados, não interessando ao consumo dos apreciadores gastronómicos.”  
Fica pois o bejense já fora do concurso e por imensos motivos, a saber: toda a gente sem graduação enófila gosta dele, vende-se muito, se fosse roupa vendia-se na Zara, é fácil de gostar, vende-se no supermercado e entra em promoções e, last but not least, é alentejano e aquilo lá para os mouros é tão grande que nem se nota o “terroir!.
No universo de elite da moda vínica e das sábias confrarias de santos inquisidores, estas incursões de vinhos bons   vindos de terras plebeias é mais que crime, é heresia e castiga-se em Auto de Fé, na fogueira: ainda há dias vi  no blog de um desses Torquemada (um tal Pingus Vinicius), temperar-se, por puro acinte, um pargo no forno com ….. Pêra Manca!
 Aqui no Outras Comidas não tenho por hábito falar de vinhos a não ser como nota complementar a uma comida qualquer e mesmo assim só às vezes. Na verdade, como sei do assunto menos que pouco e o que me interessa num vinho é a impressão que me deixa na boca e na memória, não se a barrica era francesa ou americana ou se a vinha tem 10 ou 20 anos, deixo essas conversas de exibição técnica para quem sabe e gosta  (alguém já assistiu a uma conversa entre dois colecionadores de qualquer coisa, desde bonecas Barbie raras, primeiras edições ou selos de correio da Mongólia? É a mesma coisa!).
Se hoje abro uma exceção e vou falar de um vinho foi porque encontrei um “alentejano” notável, um vinho inesquecível, mas esquecido naquela terceira categoria da brincadeira de abertura deste post.
Nascido perto de Beja, o Herdade das Pias, T & T de 2008 é um vinho de que não encontrei ( na Internet, pois não sou assinante de revistas de vinhos) qualquer nota de prova, mas que provei, não no sentido técnico que o enófilo dá a palavra “prova”, mas sim querendo apenas dizer que bebi a uma refeição uma (infelizmente única) garrafa do dito.
Complexo, mineral, cheio de aromas e sabores sedutores, este T & T feito de Touriga Nacional e Trincadeira em partes iguais foi uma experiência de equilíbrio que recomendo vivamente a todos os que queiram ousar os néctares que escapam aos radares da enologia corporativa “oficial”. A 9-10 €.   


Notas: * Provas Cegas - Os sistemas de avaliação em cego (blind random) ou duplo-cego (double blind random), são os únicos admitidos, em qualquer área do saber e da investigação,  pelo mundo científico em todos os casos em que a avaliação pretendida depende de um qualquer fator humano. Não é tanto a questão da fraude (sempre possível em qualquer sistema) que está em causa mas a impossibilidade reconhecida de o avaliador não influenciar inconscientemente os resultados pelas suas convicções ou expectativas. No universo das provas de vinhos, em que a avaliação é, na prática, apenas dependente de impressões subjetivas e a organolética de um vinho o grande determinante da sua classificação, seria, por maioria de razão, de esperar que o duplo-cego fosse o sistema único adotado para as provas classificativas de vinhos. No entanto, à parte alguns grandes painéis de algumas revistas e organismos oficiais ligados ao setor (mesmo assim com resultados sujeitos a "correções"!!!), o sistema é mal visto por muitos dos provadores e para vinhos topo-de-gama, a que atribuem uma nota que é absolutamente legítima para efeitos de organização pessoal mas que  ao ser divulgada a terceiros gera inevitavelmente uma hierarquização de resultados forçosamente distorcidos na sua qualidade classificativa. Nas provas cegas, algumas singularidades famosas têm acontecido, como a do vinho de 14€ que ficou em 2º lugar à frente de uma dezena de outros consagrados de muitas centenas de euros por garrafa. Argumentos bizarros como o de que a prova de um vinho destes é indissociável da informação cultural prévia e do rótulo, que as provas cegas são propícias a exibições circenses, etc., justificam a recusa do método por muitos "especialistas"que, ainda assim, não se coíbem de divulgar classificações baseadas em notas de prova pessoais.
** Olleboma, Culinária Portuguesa, Assírio e Alvim, Lisboa 1994, pp.432

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Bag in Box - Amoreira da Torre 2009



Fui um dos cavalheiros da enorme távola redonda do David, mas pouco sei sobre adstringência, excesso de taninos, pouca acidez, vou para sempre evoluir mal na garrafa, só sei se gosto ou não gosto.”
     Rui Cardoso Martins in Evocando David Lopes Ramos, Clube de Jornalistas, 30-4-2011

Há palavras que dizem tudo de nós, apesar de vindas de outra pena e é inútil procurarmos outra forma de dizê-las: este sou eu frente aos vinhos, igualzinho ao Rui Cardoso Martins, que as escreveu e a muitos dos meus leitores que, como eu, bebem um copo de vinho à refeição, não a todas ainda assim, e  confrontam-se diariamente com a questão de como conservar uma garrafa de vinho aberta por dois ou três dias sem que o bom vinho do dia de abertura perca grande parte da graça e, para o fim, já não tenha mesmo graça nenhuma.
É para todos nós que gostamos de vinho mas não estamos na esfera iniciática das provas, dos enófilos, dos néctares raros, do wine pairing, dos vinhos "difíceis" dos grandes conhecedores, que este sistema de acondicionamento de vinho de que vos vou hoje falar é absolutamente indicado: o Bag in Box!

 O formato “bag-in-box” (BiB) fecha o vinho em bolsas de plástico alimentar, por regra PET, cobertos por uma folha de alumínio. O princípio é em tudo semelhante à técnica isolante das famosas embalagens Tetra-Pak. Estes sacos (bags), que permanecem invisíveis dentro de uma caixa de cartão (box), costumam conter  2, 3, 5, 6 e 10 litros, sendo os mais vulgares de 3 ou 5 litros. Incluída na embalagem está  uma torneira de serviço com uma válvula de passagem que impede a entrada de ar. Essa torneira permite dosear com precisão o volume de vinho a ser servido.
O formato BiB é comum nos países mais evoluídos do norte da Europa  onde chega a representar 50% do volume de vinho vendido, mas no  sul da Europa a sua aceitação tem sido mais controversa, estando a enofilia destes países, tradicionalmente elitista e conservadora, renitente em aceitar esta inovação técnica e criando no consumidor a ideia de que grandes volumes (exceto as suas queridas magnum) são sinónimo de vinhos de qualidade inferior.
As vantagens do “bag-in-box” para o consumidor são evidentes: como o vinho é embalado em vácuo e o saco vai-se esvaziando sem que haja entrada de ar à medida que o vinho vai sendo consumido, mantém-se sempre fresco, sem quaisquer sintomas de oxidação.

Do ponto de vista ambiental, a passagem para esta embalagem teria um impacto positivo tremendo, como refere a Revista de Vinhos nº227: "Um BiB de 3 litros gera cerca de metade das emissões de uma garrafa de 0,75l. Se 97% dos vinhos a serem bebidos jovens passasse para BiB, conseguiam-se reduzir a emissões de gases de efeito de estufa em 2 milhões de toneladas, o equivalente a retirar de circulação 400 mil automóveis".
Infelizmente são ainda muito poucos os produtores que, entre nós, têm a ousadia de apresentar esta opção de embalagem para os seus vinhos, sendo que alguns, envergonhados, o fazem para exportação mas não se atrevem ao mercado nacional.
Felizmente, porque há em todos os campos uma valorosa pequena percentagem de inovadores e gente que não se deixa amedrontar pelas mainstream ideológicas, já vai sendo possível encontrar vinhos de valor em BiB's nos nossos supermercados, distinguem-se pelo preço , um pouco mais alto que os correntes mais vulgares (infelizmente, nenhum enófilo se atreve ainda a dar nota a um vinho BiB).

Produzido em Montemor-o-Novo em vinhas antigas da Herdade da Amoreira da Torre, reconvertidas para agricultura biológica, agora certificada, com castas Trincadeira, Aragonês e Cabernet, este Amoreira da Torre 2009 é um vinho de que muito gosto, que conheci nas noites de tertúlia no Espaço do Tempo, o espaço coreográfico e cultural de Rui Horta, no castelo de Montemor-o-Novo.
Pode comprá-lo a 8.99€ nos Continente, em BiB de 3 litros e é um encontro com um vinho que Paulo Laureano faz respeitando o que a Natureza opera quando transforma uvas em vinho.
Não esqueça, quando o beber, de esperar um pouco para deixar o néctar "abrir" no copo: é que no sistema BiB, de cada vez que se serve, é como se a "rolha" tivesse sido acabada de tirar!

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Alvarinho Quinta dos Loridos 2007

Sendo que vinho é vinho e pronto, é vinho, há duas maneiras fundamentais de ser encarado: ou é aquilo com que acompanhamos a nossa comida ou, pelo contrário é aquilo que é acompanhado pela nossa comida.
Eu pertenço à primeira tranche, acho que nunca fiz um prato para acompanhar um vinho (os da outra tranche dizem "harmonizar"), embora alinhe às vezes por uma outra via que é a de beber vinho à conversa que, aqui para nós, é como eu mais gosto dele.

Existe ainda uma terceira vertente, a do Vinho Cor-de-Rosa, que Tiago Teles examina de forma magistral aqui e que, sendo a minha exacta opinião mas não conseguindo nem por sombras chegar-lhe aos calcanhares em brilho e assertividade, recomendo uma leitura atenta.

Sendo que leitor é leitor e pronto, é leitor, há duas maneiras fundamentais de sê-lo: ou é dos que, sem tempo, treslê pela rama, mais intuindo que lendo ou, pelo contrário, dos que se detêm no espírito e na letra, tentando chegar à pessoa oculta por detrás daquelas letras.
Não se pense que eu alimento qualquer animosidade ou desdém por qualquer destes leitores: eu próprio, consoante os ditames do tempo, esse tirano, vou sendo um e outro.
Se agora aqui falo disso é porque o texto de Tiago Teles que acima referi é o pano de fundo para o que a seguir vos direi deste maduro, Quinta dos Loridos Alvarinho 2007.

A Quinta dos Loridos é uma propriedade de cerca de quatro dezenas de hectares paradisíacos a que se chega saindo do Bombarral em direcção a Óbidos e virando à direita na primeira rotunda. Após uma longa e ilustre história foi há poucos anos adquirida pelos Vinhos Bacalhôa de Joe Berardo devido às particularidades únicas daquele terroir para a produção de espumantes brancos de excelência que começam agora a dar os primeiros frutos.
. Por entre as copas e exércitos, pode ver-se o verde das vinhas.
Ali, no meio de exércitos de terracota chineses e gigantescos budas que Berardo decidiu ali implantar num impulso de indignação quando os taliban afegãos dinamitaram os budas de Bamyam, crescem as vinhas de Alvarinho, a mais prestigiada casta branca portuguesa, tradicional do melhor vinho verde, mas que aqui, vinificada como maduro, é a prova provada que o terroir, esse conceito intraduzível que abrange o conjunto ambiental de uma vinha, desde o solo ao clima, é um factor fundamental, talvez mesmo mais que a casta, para definir a personalidade de um vinho.

E que personalidade tem este Alvarinho, Quinta dos Loridos 2007!

De cor citrina, fresco, exuberante e com a acidez “certa” a lembrar o alvarinho da sua origem, firme na boca e um final enorme, com aroma frutado e madeira muito ténue, que aqui não se caiu na pecha nacional de “tratar” qualquer zurrapa em carvalho francês, a fingir de grande vinho.
O Quinta dos Loridos Alvarinho 2007 fermentou apenas 40% do mosto na madeira, de modo a temperar sem abusar, qualificar sem mentir!
.
Se for visitar este parque temático budista e improvável no meio de vinhas do Oeste (entrada livre), não esqueça uma paragem na loja de vinhos, à saída, onde tem à disposição todo o universo dos Vinhos da Bacalhôa, até as raridades como alguns dos melhores Palácio da Bacalhôa, e, claro, o Alvarinho Quinta dos Loridos 2007.

domingo, 14 de junho de 2009

Periquita 2005

Não é impunemente que se nasceu em 1850!
Com o título incontestado de ser a mais antiga marca de vinhos em Portugal, o Periquita, nascido há 169 anos, tem-se mantido ao longo de toda a sua vida centenária como uma nota de continuidade e valor no universo vínico da José Maria da Fonseca.

Claro que em quase dois séculos, teve tempo para ser moda, para passar de moda, para ser distinto e popular, vinho de jovens e depois, de velhos.

Feito com Castelão, Trincadeira e Aragonês, está mais uma vez a renascer e reafirmar-se neste período em que Portugal vai percebendo a tolice da recente moda das castas ditas globais, Chardonnay, Sirah, Cabernet, etc., ideais para as potências vínicas emergentes mas que nada têm a dizer num universo riquíssimo e único como o das castas que fazem os vinhos portugueses.

O Periquita 2005, obra da mão sábia de Domingos Soares Franco, com 85% de Castelão e 7,5% das outras duas tem uma estrutura muito mais no estilo Periquita pré 1999 (quando era 100% Castelão, um dos primeiros monocasta portugueses).
Intenso de aroma, abre devagar, frutado e agradável. Na boca é bem firme, com uma acidez delicada, ainda jovem, bem estruturado e com um final simples mas persistente.

Apesar do peso de toda a tradição, o Periquita 2005 é bem o exemplo da pujança com que renasce a península de Setúbal no que respeita aos seus vinhos.

Nota:

Saliente-se a coragem com que a José Maria da Fonseca adoptou para este vinho centenário uma rolha reciclada que, nesta área tão cheia de purismos marialvas, ainda faz torcer muitos narizes. Mas esse é um assunto tão importante que será tema central de um post, daqui a uns dias.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Monte da Casta 2007

Gosto de um bom vinho!
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Este gosto não quer, de modo nenhum, dizer que seja grande conhecedor e, para dizer a verdade, é coisa que não me importa nem um bocadinho: já vou sendo velhote para andar a fingir que gosto do que os outros gostam de mostrar que gostam. E, continuando nisto de verdades, estou mesmo convencido que, atrás de muito "bom" vinho que aí anda há simplesmente "cagança", aquele sentimento que leva alguém a sentir-se superior ao próximo porque uma roda do carro dele custa tanto como o carro inteiro do vizinho da cave, ou porque cada golinho daquele Barca Velha custa mais que o almoço todo da família do rés-do-chão!
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Bom, mas como eu não sou de caganças e, principalmente, tenho boca e paladar, não preciso para nada que algum "entendido" me venha com aquelas conversas que ninguém sabe o que querem dizer das "madeiras exóticas", "ameixas maduras", "bouquet de não-sei-quê" e mais um sem número de "bocas" pretensamente sábias do jargão de quem tem um paladar "melhor" que o meu. Melhor uma ova, que o único paladar que me interessa é o meu e ninguém pode provar por mim!
Que me interessam os "finais requintados" ou os "taninos elegantes"? Prefiro de longe quem dá um estalo de língua e solta um genuíno "bela pomada!", a dizer o que aquela boca sentiu e não a ensinar o que, evidentemente, não é ensinável. Lembro-me, quando era jovem e ainda não sabia nada de vinho, tudo me sabia bem parecido e eu distinguia só dois vinhos: os que faziam arrepios no fim e os que deslizavam sem problemas; eram os maus e os bons! Na altura, porque era o que eu podia, era o que era preciso.

Tudo o que antes disse é para frisar que aquele "bom" da primeira frase quer apenas dizer que um bom vinho é um vinho de que eu gosto!
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Tenho uma idéia geral bem negativa dos vinhos ribatejanos, os quais, justa ou injustamente, associo a vinhos muito vulgares para consumo a granel, a garrafão ou à pipa, os "carrascões" do Cartaxo e de Aveiras de Cima, que alimentavam as tabernas e bebedeiras de uma Lisboa pobre e pouco exigente. Dizem-me que o panorama está a mudar e que já existem tentativas válidas para inverter este estado de coisas e aproveitar as excelentes condições climatéricas e de terreno para produções de qualidade. A ver vamos!
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Surpresa, surpresa foi mesmo este Monte da Casta 2007, um branco que comprei por pura curiosidade (ou ignorância) pelo facto de ser um maduro que inclui ..... Alvarinho, a casta-rei do vinho verde!
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Não sei se é comum, eu nunca tinha visto, mas o resultado é altamente recomendável: este Monte da Casta, que se vende no Lidl por cerca de 3 Euros, nem chega, é um "caso" de equilíbrio, de vida esfusiante, de frescura bem disposta e disposta a acompanhar o que se quiser, nestes dias quentes que aí vêm (espero).
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sexta-feira, 13 de março de 2009

Vinha da Tapada 2005 - Cinema

Hoje não vos falarei de comida mas de bebida e de outro prazer menos gastronómico, o Cinema.

A Herdade dos Coelheiros, com área de 14 hectares, foi comprada em 1981 por Joaquim Silveira, que iniciou a plantação da vinha seis anos depois. No encepamento predominam as castas tintas Cabernet Sauvignon, Trincadeira, Castelão Franco e Aragonez, mas há também talhões das brancas Chardonnay e Roupeiro. Em 1992 Joaquim Silveira construiu uma adega moderna, com apoio do enólogo António Saramago e desde então os vinhos produzidos têm conquistado uma posição cada vez mais marcada no panorama dos grandes vinhos alentejanos.
.Actualmente com uma área vinícola de 38 hectares, a Herdade dos Coelheiros produz o "topo de gama" Tapada de Coelheiros Tinto e Branco, o monocasta Chardonnay, o Roda dos Coelhos e o Vinha da Tapada, o vinho de que nos ocuparemos hoje, feito com uvas das castas Aragonês (40%), Trincadeira (20%), Cabernet Sauvignon (15%), Syrah (15%) e Castelão (10%). Estagiou durante 6 meses em madeira de carvalho francês e 4 meses em garrafa, antes de se transformar na delícia que acompanhou o borrego de que vos falei anteontem.

O Vinha da Tapada 2005 pertence à mesma linhagem do seu irmão mais velho, Tapada de Coelheiros, mas felizmente tem um preço bem diferente; este comprei-o a 6.99€, sensivelmente um quarto do preço do outro .
Com uma cor rubi intenso o seu aroma traduz frutas maduras, especiarias, cedro e um toque floral que lhe dá um encanto e mistério originais. Há muito boa integração entre fruta e madeira, tem boa acidez que lhe dá frescura, além do corpo e taninos de qualidade com final persistente e elegante a frutas. Embora ainda vá evoluir, já está no ponto para beber e harmoniza-se na perfeição com assados e conversa, que foi o experimentado e com muito mais certamente, a ver.
É, decididamente, um vinho a não perder de vista e que será uma presença habitual nas prateleiras, mercê da sua recente integração no universo comercial da Pernod-Ricard Portugal.


CINEMA - MEDEIA CARD

Do mesmo modo que e-book, para mim, não é Livro, também por melhor que seja o "plasma" ou o "HD", o conceito de Home Cinema nunca me convenceu!

Para mim, Cinema é algo que necessita de muito mais que poltrona e filme: é também preciso escuro, sala, o grande écran , o "ir" e, se possível, aquele ruidinho da máquina que se ouve nas filas de trás... são estes os ingredientes para fazer do filme, magia!

O preço dos bilhetes é o "espinho" desta mágica rosa. Entre 5 e 7 Euros por bilhete, pelo menos em Lisboa e suponho que também no Porto, uma ida familiar semanal ao cinema passa a ser uma despesa a ter em conta no orçamento do mês.

O Medeia Card de que aqui vos falo é um extraordinário cartão lançado há pouco pela Medeia Filmes, de Paulo Branco, que, por 15,5 € mensais, permite o acesso a todos os cinemas Medeia, um conjunto de 17 salas em Lisboa e 7 no Porto onde, neste momento, pode ver: - O Leitor- Imagens de Palermo- o Wrestler- Quem Quer Ser Bilionário- Homem Arame- Vicky Cristina Barcelona- Watchmen- Milk- Gran Torino - O Complexo Baader Meinhof- O Visitante- Revolutionary Road- Dúvida- Coraline e a Porta Secreta- Um Dia de Cada Vez- Tempo de Verão - Valquíria- Ensaio Sobre a Cegueira. E mais 8 estreias até final de Março.

Já não há desculpas para não ir ao cinema!

Nota: Juro que não sou amigo de Paulo Branco, não tenho comissão nem sequer tive qualquer desconto no meu cartão Medeia Card, que me custou os mesmos 15,5€ que lhe custará a si! :-)