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24 novembro 2025

pão nosso de cada dia

 


Fui ao pão.
No caminho, vi um homem a ter um rendez-vous com uma árvore. Abraçou-a, encostou-se a ela longamente...
Se não houvesse mirones (como eu), se calhar fazia o mesmo. Deve ser muito bom.
(Sim, nevou. Mas ainda não dá para descer encostas de trenó. E recuperei o meu andar de pinguim. E também recuperei os transportes públicos, porque o carro está com pneus de Verão. E Berlim está coberta por uma camada densa de nuvens.)
(Nada disto é uma queixa.)
(As fotografias estão uma bela porcaria, reconheço. Ainda pensei espetar-lhes um filtro em cima, mas depois lembrei-me das minhas teorias sobre o botox, e ficámos assim.)

07 novembro 2025

o que é preciso é ter saudinha...

 

Ontem de manhã fui à ginecologista para uma consulta de rotina. O consultório tem um ambiente muito cuidado, com móveis caros e obras de arte nas paredes, mas as assistentes irritam-me sempre, porque atendem as pessoas de forma mecânica, antipática e arrogante, dão ordens secas, não fazem um único sorriso. Fazem-nos sentir como se tivéssemos ousado entrar numa Chanel ou numa Valentino (as lojas ali ao lado) sem termos cara de jovem esposa de um oligarca russo.
Enquanto esperava, liguei para um otorrino na parte Oxfam da mesma rua (é a avenida Ku'damm, há muita diversidade ao longo dos seus 3,5 km) para saber de uma vacina covid, fui atendida de forma extremamente simpática, e disseram-me para aparecer a meio da tarde, mesmo sem marcação.
O consultório tinha paredes vazias, cadeiras sólidas e sem graça, alguns brinquedos. E duas senhoras extremamente simpáticas na recepção. Uma delas usava hijab. A terceira, que veio falar comigo para me explicar que sou uma velhinha muito jovem e portanto devia tomar a vacina mais leve da gripe, era ainda mais simpática e calorosa que as da recepção.
Não resisti a fazer um comentário:
- Há algo neste consultório que o torna muito diferente dos outros...
- É por termos muitas crianças?
- Bem, estava a pensar na maneira calorosa como tratam as pessoas.
Ela sorriu.
Daí a pouco chegou o médico. Vacinou-me, falou um pouco, contei-lhe que este mês não posso apanhar gripe nem covid porque está a decorrer o Portuguese Cinema Days in Berlin, ele explicou que estas vacinas não me livram de apanhar as doenças, mas limitam os estragos, e depois quis saber mais sobre a nossa mostra de cinema. Dei-lhe um flyer, ele folheou, chamou a mulher (era a terceira senhora que me tinha atendido), pediram-me recomendações dos filmes, e saí de lá feliz da vida a pensar:
- Será que também fazem ginecologia?

24 outubro 2025

e vocês, como foi o vosso lançamento do Astérix na Lusitânia?

 




E como foi o vosso lançamento de Astérix na Lusitânia?

O meu foi bom.
O Obélix é um doce (e não é nada tão gordo como dizem!) e o tradutor, que me autografou o livro, é outro doce. Andou vários meses a traduzir, depois o trabalho dele foi retraduzido para francês, para os autores reverem e aprovarem.
E tanto trabalho para quê?, perguntarão.
Bem… 1,8 milhões de exemplares chegaram hoje às livrarias alemãs.

Diz-se que há muito tempo não havia um Astérix tão bom. Diz-se que os autores quiseram pôr no livro o ambiente ensolarado de Portugal. Eu cá, a julgar pela amostra das pessoas com quem falei no lançamento, digo apenas isto: vão vir charters de turistas.




19 outubro 2025

entardecer

 

Lembra-me o facebook que neste dia, em 2013, parei encantada junto a um canal perto do antigo aeroporto de Tegel. Apesar de ter fotografado com o meu telemóvel jurássico, ainda agora consigo sentir a paz daquele momento.
Entardecer junto ao aeroporto de Tegel
(ou: das vantagens de fazer biscates de taxista)










10 outubro 2025

festival of lights



Tenho uma amiga que ontem à noite estava no centro de Berlim, até sabia que o Festival of Lights estava a começar, e não lhe ocorreu ir dar uma espreitadela.

Esta manhã descobriu que deixou distraidamente passar isto.
(Às vezes dá-me vontade de me divorciar de mim própria, mas depois não sei o que faria sem mim...)


05 agosto 2025

vá para fora cá dentro

 


Uma das coisas boas de receber amigos em Berlim é sair com eles a redescobrir a cidade. Como por estes dias: uma velha amiga veio visitar-nos, e andámos a dar na boa vida à grande e à francesa (e à alemã, e à cingalesa, e à australiana, e a todas as nacionalidades que calha, que a vida, quanto mais se mistura melhor fica).





Começámos por ir à exposição de Pissarro no Barberini. Excelente, como é habitual neste museu.

Apesar de já estarmos cansadas no fim da exposição temporária, não nos fomos embora sem ver também a colecção de impressionistas de Hasso Plattner. E ainda bem, por todos os motivos, e também porque nos cruzámos com um senhor sentado em frente ao "Chemin Montant", de Caillebotte, mortinho por ter alguém com quem se maravilhar. De modo que ficámos a conversar com ele e a ajudá-lo a matar saudades daquele quadro que andou em digressão dois anos e meio e só agora regressou a casa.


Depois fomos almoçar numa casa de madeira do princípio do século XIX, na colónia russa Alexandrovka (será que já contei a história do czar que ofereceu um coro cossaco ao seu novo cunhado, e simplesmente mandou essa gente toda para a Prússia?).
Antes de regressar a Berlim ainda fomos visitar o palácio do velho Fritz. Continua lindo.







Conhecemos dois novos restaurantes: o alemão Engelbecken e o de inspiração cingalesa Sathutu (muito bom, mas se forem tão pelintras como eu é melhor comerem um kebab ou uma salsicha antes de ir ao restaurante, porque se calha de entrarem lá com fome levam um rombozito nas finanças domésticas). Também nos deram uma lista de outros restaurantes a explorar, que aqui deixo a quem interessar possa: Otto e Wen Cheng.


Ao anoitecer, fomos ao Chamäleon ver A Simple Space, o primeiro show da companhia australiana Gravity and Other Myths, que já caminha para uns 20 anos de existência mas continua fresco e adorável. Gostei muito da abertura: o anúncio "I'm falling!", o deixar-se cair, o confiar que alguém vai parar a queda. Gostei muito do humor do show.




E ainda nos rimos imenso com a nossa amiga, lembrando o dia em que chegámos em cima da hora e nos mandaram ir pelas traseiras, Mal nós sabíamos que nos punham a entrar directamente para o palco: o show passava-se num apartamento, e nós chegámos pela porta do frigorífico. A ideia seria talvez envergonhar os que chegavam por último, mas a nossa amiga não se atrapalhou. É mãe de um artista desses circos, conhecia metade das pessoas que estavam em palco, tudo a postos para começar e ela ali parada a conversar com eles animadamente: "olá, como estás? que giro encontrar-te aqui!"




Depois voltámos para casa, pelo centro da Berlim nocturna, e tirei uma fotografia à torre da televisão à maneira de um quadro que vi no Barberini: com uma ponte a atravessar a imagem separando motivos completamente diferentes. Acho que era uma ideia de Pissarro, mas não tenho a certeza. De modo que agora vou esperar pacientemente por algum outro amigo que nos venha visitar, para voltar lá e confirmar quem é o autor que plagiei. É isto a minha vida... Note to self: nunca, nunca, nunca! sair de casa sem a câmara fotográfica. Estas fotos de telemóvel ficam muito aquém.

19 maio 2025

metamorfose

 


TV-Asahi Allee, em Teltow, Berlim.
Onde dantes era o corredor da morte, há agora centenas de cerejeiras japonesas. Por estes dias, estão em flor.

22 junho 2024

adeus, relva

 





O clima de Berlim está a mudar. Dantes, podia ir descansadamente de férias de verão para Portugal, porque o verão berlinense regava-me o jardim. Hoje em dia, Berlim parece aquela aldeia do mapa dos livros do Astérix: chove em toda a Europa! Em toda? Não! Berlim resiste heroicamente.

Portanto: fartei-me da conta da água para regar a relva, tirei a relva, fiz uma breve investigação sobre plantas que se dão bem em terreno arenoso e sem água, fui comprá-las a eito e atirei-as para a terra ao deus dará. Je suis Esparta.

Isto que aqui se vê são as plantas que sobreviveram a mim e ao clima berlinense. Também tem algumas daninhas pelo meio, mas quero lá saber! Desde que atraiam insectos, está tudo bem.



(Escusado será dizer que só fotografei o único meio metro quadrado do meu jardim que se pode mais ou menos mostrar sem morrer de vergonha.)
(Dizem-me que tenho um jardim de polinização, e eu faço de conta que foi de propósito mas de facto nem sequer sei o que isso é. Andava a especializar-me em permakultur.)
(Quando digo "andava a especializar-me" quer dizer: compro dois ou três livros, folheio distraidamente, e avanço. Meia bola e força.)
(Aquela de ter um jardim de polinização sem saber o que isso é até me lembra a outra que foi para uma entrevista de emprego,
- Então, o que é capaz de fazer?
- Olhe, falo português, inglês, francês e espanhol.
- Pode dizer alguma coisa em espanhol?
- Buon giorno!
- Isso é italiano...
- Ah, querem lá ver que também sei falar italiano?!)

27 maio 2024

é Berlim, está tudo dito


Da newsletter "Checkpoint" do diário berlinense Tagesspiegel, 27.5.2024, partilho estes dois sinais da vitalidade de Berlim e do humor perante o caos:



Precisamente em simultâneo com o encerramento de todas as ruas entre a Coluna da Vitória e a Potsdamer Platz, à volta da zona onde se vai instalar o relvado, os stands e a baliza gigante do Campeonato Europeu de Futebol, soa o apito para os trabalhos nocturnos de manutenção no túnel do Tiergartentambém esta passagem será encerrada a partir de hoje, durante quinze dias, de segunda a sexta-feira, entre as 21h00 e as 5h00 da manhã. Os viajantes que vêm do sul e pretendem chegar à estação ferroviária central podem apanhar o comboio de levitação magnética ou um táxi aéreo. Percurso alternativo: em direcção ao Cabo da Boa Esperança e depois sempre em frente.


*** 

Por fim, uma notícia da série “Autocarro, mas feliz”: a nossa leitora Barbara Pickel tem encontro marcado com a Staatsoper às 19h00. Pouco antes das 18h00, na estação do Zoo, entra no autocarro com o seu andarilho - mas é o autocarro errado. O seu plano de mudar para um táxi na Potsdamer Platz corre o risco de falhar devido ao trânsito intenso e às muitas paragens. Pouco antes das 18h30, com muito esforço consegue chegar perto do motorista do autocarro, e pergunta-lhe se chegarão a tempo à Potsdamer Platz... “Nem pensar!”, responde ele com a crueza berlinense, e logo abre a janela lateral, fazendo sinal ao taxista perto dele para parar imediatamente. “Tenho aqui uma senhora idosa que quer ir à ópera às 19h00, dê-lhe boleia!”, grita na sua direcção. O taxista abre a porta e Barbara Pickel sai apressadamente pela porta da frente do autocarro com a “carroça”, como ela chama ao seu andarilho, e entra na parte de trás do táxi. Mas já lá está sentada outra senhora. Para onde é que ela quer ir? “ Ora bem, à Staatsoper, às 19h00!” E mais uma vez nos damos conta de que os melhores filmes de Berlim continuam a passar-se na vida real - mesmo com finais felizes.


26 maio 2024

trabalhar ao domingo

 



Esta manhã, bem cedinho, vi que a nossa produção de mel vai de vento em popa. Somos capitalistas à moda antiga: em troca de um tecto por cima da cabeça, um pouco de água no verão e algum conforto no inverno, o nosso povo trabalha de sol a sol, todos os dias da semana. Nós esfregamos as mãos de contentes e vez por outra elogiamos muito a sua moral do trabalho.

(Nota mental: distribuir uns frasquitos de mel aqui na rua para agradecer o uso dos recursos e da propriedade alheia. É certo que a lei é omissa quanto ao uso das rosas dos vizinhos, mas ao fim e ao cabo nem com uma dúzia de gripes e constipações consigo dar cabo dos nossos produtos em armazém.)

Caso perguntem porque andava eu própria a fazer figura de capataz de abelhas tão cedo a um domingo, sim, adivinharam: o Fox veio cá passar uns dias. O Matthias está de férias, e há dias o amigo que ficou a cuidar do Fox, lá no apartamento que partilham, avisou-me que o bichinho andava com diarreia, e nessa manhã tinho estado a tremer e a arquejar. Fui buscar o Fox, levei-o à veterinária, tive direito à cena habitual de "ai eu por esta porta é que não entro, deves estar tola, é que nem penses!", entrámos, e enquanto eu falava com a veterinária o Fox teve novo ataque lancinante de diarreia, desatou a arquejar e a tremer junto à porta, aflitíssimo.

- Dá-me licença de o levar à rua num instantinho?, perguntei eu à veterinária.
- Então?! Estamos em plena consulta, e quer sair?
- Mas não vê que ele está a ter um ataque de diarreia?
- Vamos terminar isto que estamos a fazer, e depois leva-o lá fora. O ataque lancinante de diarreia do Fox terminou tão depressa como tinha começado. De modo que vou anotar a frase "Vamos terminar isto que estamos a fazer, e depois leva-o lá fora", porque mais milagroso que isto só mesmo homeopatia... (E o Óscar de melhor actor vai para o Fox, esse grande artistolas a quem fiquei a dever o meu embaraço mais recente.)

Depois da trovoada de ontem, hoje fez-se um dia lindíssimo. Fomos ao lago, o Fox e eu, e encontrei um pássaro pousado na água, imóvel. Parecia uma pomba. "Então as pombas agora sabem nadar?", pensei eu. "Será um boneco de plástico? Será uma cena da inteligência artificial?"

Olhei melhor: as coisas brancas na água, junto ao pássaro imóvel, não eram pétalas de rosa. Eram penas. Terá acontecido ali uma das muitas tragédias da natureza que todos os dias acontecem naquele lago aparentemente tão plácido e paradisíaco, e a pomba, ou lá o que seria, estava ainda em estado de choque, em estado de luto.

Também vimos uma cadelinha muito mansa, sem coleira nem dono, que andava pela rua tranquilamente, como se fosse uma raposa. Perguntei-me se seria um caso de Rómulo e Remo dos cães, mas pouco depois apareceu um homem de bicicleta a olhar em todas as direcções, e disse-lhe por que rua a cadelinha tinha continuado o seu caminho.

Ainda nem tomei o pequeno-almoço, e já aconteceu isto tudo. Daqui para a frente, por azar, não me vai acontecer mais nada: tenho imenso trabalho para fazer, corro a cortina para deixar o sol lá fora, e tento esquecer que hoje em Berlim é dia de festa das portas abertas na Filarmonia (pode-se acompanhar aqui, online) e dia de festa na rua para comemorar os 75 anos da constituição alemã.

De agora em diante, podem ter pena de mim. Mas só até às 3 da tarde, que é a hora a que vou tomar um cafézinho a casa de amigos, e comer o bolo de limão que ainda tenho de fazer. (Ai! Quase ia esquecendo que ainda tenho de fazer um bolo de limão!)








11 maio 2024

quase ia sendo uma notícia fantástica (para mim)

 




Quando fiz 50 anos, o Joachim prometeu-me uma viagem ali para os lados do Pólo Norte, para ver a aurora boreal. Só que nós percebemos tanto de aurora boreal como sei lá do quê. Na internet mostram alojamentos espectaculares com vidro por cima da cama para podermos assistir ao milagre no quentinho e tal, tudo caríssimo, mas ponho-me a pensar que se calhar gastamos o dinheiro e não vemos nada porque calha de irmos nos dias em que a aurora boreal deixa um recado na montra a dizer „volto já“, e nós ali. Além do mais nunca dá jeito tirar férias nessa altura, e mais isto e mais aquilo. Ainda não fomos.

O que se segue é um caso de „tenho uma notícia boa e uma notícia má, qual querem primeiro?“
De facto, é um caso de „tenho uma notícia boa, quase ia tendo uma notícia fantástica e tenho uma notícia má, qual querem primeiro?“
A boa: ontem viu-se a aurora boreal em Berlim.
A que quase ia sendo uma notícia fantástica: ontem fomos com amigos ver o pôr do sol no céu sobre Berlim, no Klunkerkranich.
A má: vimos o pôr do sol no céu sobre Berlim, acabámos a garrafa de vinho, decidimos que era hora de ir para casa... e quando chegámos a casa ficámos a saber que durante a viagem o céu sobre Berlim se enchera de magia.

Suspeito que seja o universo a dizer „Ó moça, já fui tantas vezes simpático contigo, vieram-me dizer que andava a exagerar e que até parece que tenho filhos e enteados...“
E eu: „Pronto, está bem. De facto já tive muita sorte até agora.“

(Mas hoje à noite - não contem ao universo - vou para o terraço no topo da casa e fico lá de atalaia.)

(E espero que hoje venha em verdes e azuis, porque os rosa que vi nas imagens de ontem não são assim tão interessantes. 😉 )

29 fevereiro 2024

padaria

Fui à padaria à hora a que estava para fechar, e já não havia quase nada. A senhora à minha frente fez o pedido, e logo a seguir voltou-se para mim e perguntou "não queria isto, pois não?". Eu disse que não, e quando chegou a minha vez pedi tudo o que queria, mas antes perguntava sempre à pessoa atrás de mim se estava interessada. E até rimos um bocado, porque ela queria o outro pão parecido com o meu, mas com passas, e temia que eu o comprasse.

E de repente, ali pelas 17:50 da tarde, uma padaria berlinense tornou-se um local cheio de seres humanos, e foi bonito.

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Há 20 anos vi um filme onde se informava que o pão que se deitava fora todos os dias em Viena era suficiente para alimentar toda a cidade de Linz. Consequência dos hábitos dos consumidores que vão comprar 5 minutos antes do fecho da loja, e ainda querem ter todas as variedades de pão e de produtos frescos ao seu dispor.

Esta mentalidade está a mudar - e parece-me excelente.

11 fevereiro 2024

mouvement perpetuel

 - Mãe, já estamos a caminho da vossa casa. - Ai! Ainda não comecei a fazer o almoço! - Então vou votar primeiro, e depois vou para aí. - OK. Mas deixam entrar o Fox? - Deixam. Já votei... [pausa breve, gargalhada] ...já votámos muitas vezes juntos.


Hoje, em certos bairros de Berlim, repetem as eleições de 2021.

(E não, a culpa não é do Costa, nem dos woke, nem dos queer, nem do politicamente correcto, nem nada.)

18 agosto 2023

a irreverência quotidiana de Berlim

 

O diário berlinense Tagesspiegel tem uma newsletter diária, o Checkpoint, que é uma pequena brisa do ar de Berlim. Ali se encontra a irreverência, o mau feitio, a ironia das gentes desta cidade. 

Alguns exemplos da edição de hoje:

I.
A propósito da notícia de que, em 2024, a polícia berlinense vai gastar 432.000 euros em carros "à paisana":

Olá, James Bond! Ligámos para a polícia: "
Como são esses carros à paisana?" Silêncio do outro lado da linha. E depois: "Claro que não posso dizer." Smart.


II.
Depois de Frankfurt (aqui) na terça-feira, ontem foi a vez de Nuremberga ficar submergida (aqui a prova). É o tempo, ou o fim do mundo? Decida cada um por si. (*)


III
Por falar em clima: Lichtenberg acaba de publicar a primeira caderneta de poupança climática em toda a Berlim, para ter o melhor ambiente no bairro. Em 44 páginas, há dicas para actividades amigas do clima e para uma vida mais sustentável e económica - incluindo uma saudação do Presidente da Câmara da CDU, Martin Schaefer. O livro está disponível em PDF, mas os cupões e os descontos para bebidas gratuitas só estão disponíveis na versão impressa. Assim é que é! Tchim-tchim.


IV
Por fim, voltamos a Schöneberg - e paramos no "Rüyam" (outrora um segredo de insider que nós revelámos, agora infelizmente com filas como no Mustafa's Gemüsekebab do Mehringdamm). Na semana passada, uma criança de dois anos fugiu para trás do balcão deste restaurante na Hauptstraße, relata um leitor do Checkpoint. Queres trabalhar aqui? Claro que sim! Deram-lhe logo um barrete de cozinheiro. Qual é a tua canção preferida? "Quem foi que roubou o coco?", é claro - subiram o volume e o ajudante de cozinha interrompeu o trabalho para dançar com o miúdo. Mais uma razão para nunca deixar esta cidade.

 

(*) Pequena adenda, sobre o que aconteceu em Frankfurt: no espaço de uma hora, foram contados mais de 25.000 relâmpagos na região. Mais do que em todo o ano de 2022 no Estado de Hessen. É o tempo, ou o fim do mundo?

07 junho 2023

e porque andas tu tão calada, ó Helena?



Ultimamente tenho andado muito calada por cá. Não é que não se passe na minha vida nada digno de contar, é mesmo só porque se anda a passar tudo ao mesmo tempo. Este fim-de-semana, por exemplo: juntaram-se a festa da minha rua, que organizo com os vizinhos do lado, mais a fantástica Festa da Cultura Portuguesa, no 10 de Junho, mais o extraordinário concerto do meu coro, que de facto são quatro, dois no sábado e dois no domingo, em cuja organização tenho grandes responsabilidades.

Se quiserem saber mais sobre a Festa da Cultura Portuguesa no 10 de Junho...

- a extraordinária festa do tudo em bom, com uma enorme diversidade de artistas (desde o grupo folclórico ao Carlos Bica, passando por cantoras líricas, música pop e outra que nem sei bem descrever, mas é muito boa, e ainda, claro claro, o fado que não poderia faltar) e os habituais petiscos portugueses, incluindo sardinha assada. Ah, e poncha! Mas não precisam de contar a ninguém que vai haver poncha, quero muito que sobre toda para mim... -

...podem seguir este link.


Se quiserem saber mais sobre o concerto Misatango...

- o fantástico concerto do meu coro, com uma pequena orquestra que inclui bandonéon (foi preciso afinar o piano de cauda alemão para o ajustar ao bandonéon, nem sei que me parece, vêm estes instrumentos estrangeiros mudar as nossas referências, em vez de tratarem de se integrar nesta sociedade, enfim, se os estrangeiros continuam a desrespeitar a nossa cultura desta forma, o melhor é fechar as fronteiras e passar a fazer unicamente cultura nacional...) (confesso que me rio sempre quando digo "nossa" e "nacional" quando estou a falar da Alemanha e dos alemães; lembro-me logo dos emigrantes portugueses em França que votam Le Pen), mas adiante: para além de a Misatango ser um peça lindíssima, no palco vai haver artistas de uma escola de dança berlinense a interpretar aquela música com as suas danças. Desde um amoroso bailado clássico de meninas de seis anos, até street dance e sapateado. Sim, podem esbugalhar os olhos, que eu também esbugalhei. É Berlim mais uma vez a experimentar caminhos -

...podem seguir este link. Eu, propriamente dita, estarei na festa da minha rua na sexta-feira à noite, na Festa da Cultura Portuguesa no sábado e nos dois concertos do Misatango no domingo. Isto, nos intervalos de fazer os trabalhos que me pagam a conta da luz (estive a pagá-la hoje, ainda não recuperei do trauma).