O Vasco Barreto (logo ele!, hehehe) foi acusado de machismo estrutural por se propor a conversar com mulheres sobre o estilo da indumentária de uma ministra, e foi assim que fiquei a saber que esse tema está vedado aos homens. É pena: vou ter de combinar com ele tomarmos um café na clandestinidade para podermos trocar ideias sobre, por exemplo, a diferença de estilos de vestuário de uma Angela Merkel e uma Christine Lagarde. É certo que já debati esse tema no facebook, e na altura participaram homens e mulheres. Mas isso foi há uns anos. Em 2021 já não se pode. A não ser - se bem entendi o que lhe disseram no twitter - que os homens participantes na conversa tenham o cuidado de discutir previamente o que algum político (homem) vestiu. Só assim conseguem um visto que os autorize a conversar sobre estilos de roupa de uma mulher.
A culpa disto tudo, em minha opinião, é dos raixparta dos homens da política, que podiam ousar um pouco mais, para haver o que dizer sobre o que vestem, em vez de assentarmos todas as baterias nas mulheres. Mas não: andam sempre com aqueles fatos escuros, aquelas camisas brancas, aquelas gravatas azuis (nos dias normais) e vermelhas (na campanha eleitoral). Excepto o assessor da Joacine, abençoadinho!, que escolheu uma toilette bastante feiosa para o seu primeiro dia no Parlamento, e assim nos ofereceu abnegadamente vários dias de discussão: saia plissada, camisa fechada até ao gasganete, pffff!
(O apicultor que volta e meia vem cá resolver problemas com as nossas abelhas tem uns vestidos bem mais engraçados que aquilo.) (Vasco, falaste sobre a roupa do assessor da Joacine nessa altura? Se calhar ainda não prescreveu, e assim já ficavas autorizado a falar agora sobre a roupa daquela deputada.)
Este incidente lembra-me um outro, que aconteceu no início da plataforma Capazes, quando ainda se chamavam "Maria Capaz". Um dos homens que participavam no grupo foi tão mal tratado que às tantas perguntou se aquela era uma plataforma feminista ou uma plataforma feminina. E é aí que vejo o maior problema deste tipo de feminismo: ao pôr uma placa de "menino não entra" em certos temas, estamos a deslocar esse assunto para dentro de um gineceu - e nós com ele. O que é, obviamente, um empobrecimento.
Além disso, é difícil explicar aos homens - que queiramos ou não perfazem cerca de 50% da nossa sociedade - porque é que têm de aceitar a mordaça que algumas pessoas lhes querem impor. Corre-se o risco de uns largarem em gargalhadas trocistas e outros - os que podiam ser aliados importantes na luta feminista - encolherem os ombros enquanto cantarolam:
"vão sem mim que eu vou lá ter".