Mostrar mensagens com a etiqueta Dos devaneios. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Dos devaneios. Mostrar todas as mensagens

domingo, 21 de março de 2021

Do teu ar sereno nos meus braços e da vida que não sei viver...

Há pouco, emocionei-me enquanto embalava a Isabel nos meus braços e a via adormecer.

Costumo adormecê-la no berço, durante o dia, mas hoje quis que ela adormecesse ao meu colo, enquanto eu a embalava e eu cantarolava para ela. Talvez pela consciência de que, um dia, estes momentos deixarão de existir. Ao vê-la fechar os olhos e deixar-se ir, senti os olhos encherem-se de lágrimas.

Estamos, desde quinta-feira, em isolamento profilático, por ela ter sido considerada contacto de alto risco. Estou tranquila em relação a isso, plenamente consciente de que a probabilidade de ela ter sido contaminada com Covid-19 é muito baixa.

Mas, ao mesmo tempo, não deixo de me sentir frustrada e angustiada com tudo isto. Estamos fechados em casa há um ano (excepção feita para duas semanas no Algarve). Estamos estupidamente isolados e confinados. Estamos a viver a experiência da parentalidade sozinhos, sem apoio, sem partilha, sem a celebração que este momento devia ser. Protegemo-nos, e a ela, o mais que podemos, e, com isso, afastamo-la dos nossos e de quem lhe quer bem. Tudo o que temos feito, é por acharmos que é o mais correcto. Mas, depois, bastam 4 dias na creche, para ela ser exposta e considerada contacto de alto risco por contacto directo com um infectado. E eu, que sempre vivi bem com as minhas decisões no último ano, não deixo de me questionar. Ao vê-la adormecer nos meus braços, ao deliciar-me com os seus contornos perfeitos e o seu ar sereno, não deixo de me perguntar se fará sentido continuar a privá-la do mundo, e a privar o mundo dela. Se a deixamos ir para a creche, com o resultado que está à vista, não faria sentido deixá-la estar com as nossas pessoas?... Ao mesmo tempo, a racionalidade em mim, pergunta-se se não será esse o pensamento errado que levou ao estado em que estamos de achar que "já que me exponho para ir trabalhar, então também não faz mal se me expuser para ir jantar fora, e estar com os amigos, e estar com a família...". O facto de ela ir à creche, deverá justificar que a resguardemos ainda mais, para minimizar riscos, ou deverá ser carta branca, em jeito de "perdido por cem, perdido por mil", para aproveitarmos a vida e vivermos esta experiência um pouco mais como ela deveria ser vivida?...

Não consigo chegar a nenhuma conclusão. Vivo dividida entre fazer o que acho correcto, não só porque o nosso governo o diz, mas porque a minha consciência assim o diz, e fazer o que vejo os outros fazerem, em actos que me fazem questionar o meu excesso de zelo.

De uma coisa não tenho dúvidas: o impacto social desta pandemia é absolutamente avassalador. Quem acha que vamos ter uma grande crise económica, devia preocupar-se igualmente com a forma como todos vamos sair disto em termos psicológicos, nos nossos afectos, nos nossos medos e ansiedades.

domingo, 7 de março de 2021

Dos pensamentos que me ocupam às cinco da manhã...

Não sei se tenho mais saudades das coisas que a Covid me tirou, se das coisas que a maternidade me tirou. Dadas as circunstâncias actuais, ambas confundem-se e é difícil identificar quais são quais. Pouco importa, na verdade.

Mas tenho saudades. Tenho saudades de restaurantes. De esplanadas. De ficar na praia até ao pôr do sol. De ir à Davvero comer um gelado. De ir a um concerto ou a um espectáculo. Tenho saudades das minhas pessoas. De estarmos juntos só porque sim. De respirarmos o mesmo ar sem medo do que daí pode vir. De nos abraçarmos. Eu, que nem sou de abraços. Porra. Tenho saudades de um abraço. Tenho saudades de tudo ser simples e fácil. De ir a algum lado, ser apenas ir a algum lado. Sem medos, sem paranóias, sem máscaras e sem desinfectantes. Tenho saudades de almoços de horas. De visitas inesperadas. De dias sem planos e sem horários. De dormir até tarde. De dormir, no geral. De me sentir leve e feliz. Tenho saudades da vida que tinha e que sei que nunca voltará. Com ou sem covid. Tenho saudades de correr nos trilhos. Das provas. A dois ou em equipa. Da sensação boa que vinha no final, que fazia esquecer o cansaço e eventuais maleitas. Tenho saudades de viajar. Daquela excitação boa que surgia sempre que entrava num avião, fosse qual fosse o destino. Ou num carro, pouco importa. Tenho saudades de Lagos. Dos percebes. Dos gelados. De Porto de Mós e do Zavial. Da pizzaria debaixo do prédio. Da mini varanda que aqui não temos. Tenho saudades dos pés descalços e dos chinelos. Do não ter pressa. Das caminhadas na marginal e nos passadiços. Tenho saudades de tanta coisa a que antes não dava o valor suficiente. Tanta.

É pena, é mesmo pena, que na maior parte dos casos, só demos valor às coisas quando deixamos de as ter. Seja por culpa da covid, seja por culpa da maternidade. 

Se tudo isto não servir para mais nada, que sirva para que eu aprenda a dar valor às pequenas coisas. 

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Das fotografias que dão alegria... - Day 336



Não tenho cozinhado tanto quanto gostaria. Pergunto-me, diversas vezes, o que raio é que eu fazia com o meu tempo, antes de a Isabel nascer. Nada, aposto. Eu não fazia nada. É a única explicação que encontro. 

Hoje acordámos mais tarde que o habitual (a noite foi má e "obriguei" a Isabel a dormir mais um bocadinho de manhã). Fiz panquecas para o pequeno almoço. Fomos para a expo. Eu corri, enquanto ele caminhou com ela. Eu peguei nela, voltei para casa, e ele fez o treino dele e voltou a correr para casa. Tomei banho e fiz o almoço. Almoçámos. A Isabel fez a sesta. Eu arrumei a cozinha e fiz estas bolachas. Pelo meio, trocar fraldas, dar de mamar, brincar e palrar. Recebi uma notícia menos boa que me deixou a pensar. Falei com o meu Pai. Ainda fiz sopa. Estivemos a fazer testes para a sessão fotográfica de Natal. Demos banho e deitámos a Isabel. Jantámos. A Isabel acordou e eu voltei a adormecê-la. Comemos bolachas e chocolates da árvore de Natal. Vegetámos. Eu escrevo este post. Não tarda, vou dormir que amanhã é dia de trabalho.

E dizia eu antes que não tinha tempo... 

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Do 13 de Maio e da peregrinação e d'O Caminho e de como tudo isto se une à corrida...

Eu não sou uma pessoa religiosa, como já devo ter dito por aqui.

Não acredito num qualquer deus supremo, não sou grande fã da igreja católica, e não me lembro da última vez em que assisti a uma missa (tirando as habituais e inevitáveis em casamentos e funerais).

O que não é o mesmo que dizer que desprezo ou não respeito a religião dos outros. Pelo contrário. Há, até, momentos em que quase que invejo os mais crentes, por conseguirem encontrar na sua religião um amparo, uma fé, uma força invisível que os guia, apoia e encaminha. Eu não tenho nada disso, e estou condenada a aceitar os desígnios da vida, que é como é, só porque sim, sem qualquer propósito superior.

Ao ver as imagens do Santuário de Fátima completamente vazio, sem a habitual procissão das velas, não pude ficar indiferente. Tal como não fiquei indiferente às imagens da Praça de São Pedro na Páscoa. Qualquer pessoa que já tenha estado naquela praça, sempre cheia de turistas, dificilmente fica indiferente.

O 13 de Maio não me diz nada. Tal como Fátima não me diz nada. Mas a peregrinação que todos os anos milhares de peregrinos fazem para lá chegar, diz-me muito. Não que algum dia a tenha feito. Ou que pense algum dia fazê-la. Mas porque admiro muito quem a faz, sejam quais forem os seus motivos, as suas crenças, a sua fé.

Como também já disse por aqui, um dia quero fazer O Caminho. Se não tivesse conseguido engravidar, era muito provável que o fizéssemos este ano. E não teria nada a ver com religião. Porque cada um tem os seus motivos para fazer a peregrinação a Fátima ou para fazer os Caminhos de Santiago.

Para mim, fazer o Caminho de Santiago, representa a oportunidade de voltar ao básico, ao essencial da vida, ao despojamento, a uma forma de meditação e de viagem ao nosso interior, que na vida actual é difícil, se não mesmo impossível. Representa um desafio físico e mental tremendo, que, suponho eu, se deve consagrar numa sensação única e indescritível ao ser atingido o objectivo.

Diz, quem o fez, que O Caminho não se explica, não se descreve, não se compara. Mas eu, na minha habitual arrogância sem, no entanto, querer ofender ou desrespeitar quem quer que seja, acho que talvez se possa comparar um bocadinho, só um bocadinho, a certas provas que certos loucos das corridas fazem por aí. Não sou a única a achar que certas provas de trail têm em si um pouco de peregrinação, de viagem espiritual, de meditação. A mim já me aconteceu, em provas em que passei quilómetro após quilómetro sozinha, perdida no meio dos trilhos, sem ver vivalma, dar comigo embrenhada nos meus pensamentos, nos meus dramas e dúvidas existenciais, e chegar ao fim da prova a sentir-me mais leve, mais viva, mais lúcida em relação ao que me rodeia.

Nunca fiz uma ultra (ainda), muito menos uma prova daquelas assim mesmo, mesmo grandes, mas acredito que tenha muitas semelhanças com o que se sente numa peregrinação ou n'O Caminho. Para algumas pessoas, pelo menos. Porque, tal como na Peregrinação a Fátima, cada um que começa uma prova fá-lo pelos seus motivos, fá-lo com os seus objectivos, fá-lo com um propósito e com vontade de atingir uma determinada sensação ao cortar a meta. Não há motivos certos ou errados. Não há sensações melhores ou piores. Há desafios individuais.. Há superações individuais. Há, em comum, uma certeza: ninguém acaba uma Peregrinação, um Caminho, ou uma prova, da mesma forma que a começou. Todos aprendem. Todos crescem. Com sorte, todos se tornam pessoas melhores. E, só isso, já valeu a pena. Que nos mova a religião ou a loucura, é só um pormenor de somenos.

quarta-feira, 25 de março de 2020

Das dúvidas que me inquietam...

Imaginem que tudo isto acabava daqui a um mês (que não vai acabar, mas faz de conta)...

Qual seria a primeira coisa que fariam?

quinta-feira, 11 de abril de 2019

Das relações... Dos outros, claro...

Nos últimos tempos, tenho falado com algumas pessoas sobre as suas relações. Não sei exactamente por que falam comigo sobre este tema, mas já pensei abrir um consultório sentimental. Já houve, inclusivamente, quem em tempos me enviasse emails através do blogue, pedindo ajuda com dúvidas amorosas, às quais eu tentei responder o melhor que sabia. O que acham? Inauguramos aqui a rubrica "Divã da Agridoce"?... Ou continuo a falar sobre bolhas? 

É que não deixa de ser curioso que eu, doutorada em relações falhadas e divorciada desde os 27 anos, ande a dar opiniões sobre relações alheias... Curioso, irónico e sem sentido, talvez. 

Apesar de, claramente, não perceber nada de relações, gosto de pensar sobre elas. E tenho pensado recentemente sobre a quantidade de gente que vejo à minha volta que põe fim a relações de anos e anos (com ou sem filhos), ou que não chega sequer a ter grandes relações fruto de uma qualquer incapacidade ou fruto de uma certa falta de vontade.

Será que nos tornámos mesmo permanentemente insatisfeitos? É cansativa esta coisa de estarmos sempre a questionar tudo, à procura de mais, à procura de melhor. Quando é que deixámos de saber apreciar o que temos para nos perdermos a pensar no que poderíamos ter?

Por outro lado, também deixámos de ser conformados. Também deixámos de aceitar toda e qualquer migalha que alguém nos dê, também aprendemos a lutar pelos nossos direitos, também passámos a ter consciência do nosso valor e daquilo que merecemos. 

O problema? O problema é traçar a tão fina linha que separa estes dois mundos. É conseguir perceber quando chegou a hora de nos darmos por satisfeitos e pararmos de procurar algo melhor. Haverá sempre algo melhor, mas também poderá haver algo pior. E nunca haverá nada perfeito.

Cansa, esta coisa de viver.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Das marcas quase imperceptíveis da passagem do tempo...

Ontem, mais uma vez, dei comigo a pensar sobre estas marcas do tempo que a vida nos vai mostrando. Que nos vai deixando. Como uma pequena ruga que nos surge no rosto, dia após dia, sem que nos apercebamos a não ser quando vemos as fotografias antigas e fazemos as inevitáveis comparações.


O tempo passa e a nossa vida muda. E nós crescemos, nós envelhecemos.

Ontem, enquanto estava no quarto velório em menos de um ano, dei comigo a pensar que crescer também é este aprender a lidar com a morte e a sua inevitabilidade. 

Crescer é ver a morte tornar-se banal. Não tão banal que deixe de nos chocar, mas banal ao ponto de quase aprendermos a aceitá-la. 

O tempo passa, a nossa vida muda e a morte começa a fazer parte da nossa vida. E nós crescemos, nós envelhecemos. 

Primeiro, passa apenas à nossa janela, acena-nos ao longe quando ouvimos falar na morte daquela tia afastada que víamos uma vez por ano. Depois, começa a aproximar-se, a pouco e pouco. Até ao dia em que nos entra pelo peito adentro em toda a sua força.

E nós crescemos, nós envelhecemos.

domingo, 27 de janeiro de 2019

Dos Trilhos de Lousa...

Foi há uma semana que fiz os Trilhos de Lousa, no meu regresso às provas de trail, depois de mais tempo do que seria razoável ou do que eu gostaria...

A escolha desta prova foi uma escolha muito prática: era perto de casa, tinha uma distância curta simpática (12km), a prova não era cara (e o valor podia ser usado em compras da Prozis) e não chocava muito com o plano de treinos.

A organização não foi brilhante, lamentavelmente. A começar pelo levantamento dos dorsais, seguindo-se a hora de início da prova, passando pelos abastecimentos, e acabando na escassez do abastecimento final... Mas valeu a pena!

Chegámos em cima da hora (é o que dá ser tão perto de casa), levantámos os dorsais e eis que me deparo com isto...


É verdade... Tive de fazer o trail com um dorsal a dizer... Lontra! Para a próxima, trato eu das inscrições, está visto.

O início do trail longo foi às 10h, mas o trail curto, que no regulamento estava marcado também para as 10h, tinha sido adiado para as 10h30. Perante algumas reclamações, acabaram por começar às 10h20. Por um lado, foi bom, mas por outro houve alguma falta de informação oficial e coordenação, para que as pessoas se pudessem organizar... 


Lá começou a prova, sempre a subir, e lá fui eu. As pernas não respondiam, não queriam correr, já não se lembravam bem do que aquilo era e recusavam-se a fazer os movimentos que eu queria que elas fizessem... Mas lá fui.

Acabei por ficar mais para trás, no grupo dos mais lentos, o que se veio a revelar um pequeno problema...


Comecei a apanhar trânsito. Muito trânsito. Trânsito compacto e parado... 


Eu não sou pessoa de correr propriamente depressa (não sei se já tinham reparado), mas até eu comecei a desesperar com a lentidão a que estávamos a progredir. Ou a não progredir, dado o tempo que estávamos parados. 

As subidas não eram fáceis, eu sei. Para mini-pessoas como eu, menos ainda. E as descidas também tinham algumas dificuldades, eu sei. Mas estava a desesperar e em conversa com outros atletas fiquei a saber que o ano passado, nesta subida (fotos acima e abaixo), demoraram quase uma hora. Este ano não sei ao certo, mas talvez meia hora, pelo que até nem foi assim tão mau... Mas foi um exagero, até para mim!...


Quando vimos a meteorologia para esta prova, não estava prevista chuva. E eu estava muito contente com esse facto, porque me apetecia tudo menos chuva e lama, no meu regresso ao trail. Ainda assim, enfiei na mochila um corta-vento, just in case, porque queria ir de manga curta, e podia ter frio ou sentir falta de mais qualquer coisa. Pois que depois da subida infinita começámos a descer, o céu ficou mais escuro, e começaram a cair as primeiras pingas. E depois os primeiros pingos gordos, e depois mais e mais chuva. Estávamos ao quilómetro 5, mais ou menos, e com mais de uma hora de prova, quando eu pensei desistir. A prova estava a ser mais dura do que eu esperava e a chuva não estava a ajudar. Nesta fase, passei junto a um carro da organização, em que estava outra atleta a desistir e a dizer que não estava preparada para algo assim. Eu também não. Eu também não. Só pensava que se aquilo estava a ser assim até ali, com a chuva a sério que tinha começado entretanto, só ia piorar. Hesitei. Mas limitei-me a pousar a mochila no chão, vestir o corta-vento e seguir viagem. Esperavam-me umas descidas simpáticas, já bem enlameadas e perfeitas para cair. 

Enquanto descia só pensava no disparate que tinha sido levar aquele corta-vento. Aquele corta-vento tinha sido comprado no longínquo ano de 2016, para a famigerada Meia dos Descobrimentos, que quem fez nunca esquecerá, tal foi o dilúvio durante a prova. Eu, que corria há relativamente pouco tempo (foi a minha 2ª ou 3ª meia, já nem sei), fui em cima da hora à Decathlon comprar o corta-vento/impermeável mais barato que eles lá tinham, numa fase em que me recusava a gastar muito dinheiro em material de corrida, porque achava que era uma moda que a qualquer momento me ia passar (ainda hoje acho, na verdade, que isto de eu correr e gostar ainda é coisa que está por explicar...). E foi um disparate levá-lo porque ele é, de facto, muito fraquinho, e eu tinha recebido na véspera o novo que encomendei e que é bem melhor, mas que achei sensato não levar para estrear em prova. E não ia chover, lembram-se?... Pois que choveu, e muito. E eu tinha frio e estava desconfortável e só rogava pragas a mim mesma, pelas minhas decisões pouco inteligentes.

Ao mesmo tempo, perguntava-me por que raio é que eu sou capaz de gastar umas dezenas de euros num impermeável para correr, e não sou capaz de fazer o mesmo para comprar um sobretudo para usar todos os dias... Isto da corrida afecta-nos o cérebro, não é verdade? É que eu olho para o meu calçado e para os meus ténis e passa-se o mesmo. Alguém me explica?...

Bom, talvez seja hora de voltarmos ao trail... 

Lá vesti o corta-vento pouco impermeável, consegui não cair na lama, consegui ter os pés só mais ou menos ensopados, e lá fui eu.


Aqui já com sol, em modo Teletubby cor-de-rosa pela serra fora. Curiosamente, ia a sentir-me relativamente bem. O princípio da prova foi mesmo o mais duro, mas depois a coisa melhorou.


Encontrei esta foto por acaso, de uma participante que ia atrás de mim e a partilhou no evento da prova no Facebook. Tivemos de atravessar este mini-riacho e consegui não molhar os pés. Kudos para mim!

Do outro lado estava o abastecimento. E temos de falar sobre o abastecimento.

O abastecimento estava previsto, em regulamento, aos 8km. Eu sei que estas coisas são flexíveis. Sobretudo, em trail. Eu sei. A sério que sei. Mas fazê-lo só aos 9,3km? Ninguém merece!... Numa prova de 12km, pôr o único abastecimento aos 9,3km, é pouco equilibrado, parece-me... Mas... Isso nem foi o pior. E também não me chocou o facto de o abastecimento só ter água e isotónico. Nunca tinha visto nada assim, confesso, que a malta do trail gosta de comer. Mas tudo bem. Já tinham dito que seria só de líquidos, era só de líquidos. O que me chocou, mesmo mesmo, e que vai dar direito a um email para a organização, foi estarem a servir a água aos participantes em garrafas de um litro e meio de água. Talvez seja mania minha, talvez seja ilusão minha, mas na minha cabeça eu gosto de acreditar que a malta do trail tem uma maior consciência ecológica. Não sei. Talvez por andarmos no meio dos trilhos, no meio da natureza, no meio de serras, talvez por estarmos mais próximo da natureza, eu gosto de acreditar que também tomamos mais conta dela. Mas parece que não. Parece que alguém achou razoável gastar dezenas de garrafas de água para dar abastecimento a quem estava a correr. Também nunca tinha visto nada assim. E não gostei.


A prova seguiu-se, com um percurso interessante, com alguma dificuldade, com muito sobe e desce, com muita lama, com paisagens incríveis. Conseguiram fazer uma prova gira, aqui tão perto de Lisboa, e isso é de louvar!

Aqui já ia mais isolada, consegui soltar-me mais nas descidas, fazer as subidas num ritmo menos lento, e aproveitar os singletracks mais apertados como eu gosto (sozinha, só eu no meio da floresta de verde a envolver-me).


A prova acabou por ter quase 13,5km e o último quilómetro era sempre a descer, e aí aproveitei para me soltar e para me lembrar por que razão gosto tanto de trail. Cortei a meta com medo de ouvir chamarem-me Lontra (mas, vá lá, estavam a ver os nomes no computador e disseram o meu nome verdadeiro...), cheia de lama e com as pernas a escorrerem sangue, mas a sentir-me bem. Mesmo bem.

Fico sempre espantada com o mar de emoções que atravesso durante uma prova, sobretudo, de trail. Tenho momentos de desespero, momentos em que acho que não vou aguentar mais as dores (entre os gémeos a doer a subir, e as coxas a doer a descer, venha o diabo e escolha...), momentos em que me pergunto o que estou ali a fazer, momentos em que sinto uma sensação de liberdade incrível, momentos em que paro para contemplar as vistas à minha volta, momentos em que me sinto imparável. Felizmente, regra geral, a sensação no fim é sempre a mesma: sinto-me feliz e orgulhosa por mais um desafio superado.

Sei que para a semana vou sofrer, sei que ir fazer o que vou fazer é assim a modos que um meio disparate, sei que me vai custar, mas espero cortar aquela meta com a mesma sensação que senti a semana passada e que senti hoje depois do meu primeiro treino de 12km em estrada depois de muitos, muitos meses. Se conseguir chegar ao fim assim e sem me magoar, está o objectivo cumprido!

Perdoai o testamento, mas a pessoa agora escreve tão pouco, que quando escreve tem necessidade de escoar o stock de palavras acumuladas.

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Do peso da felicidade...

A felicidade tem um peso. E não é um peso metafórico, como quem diz que a felicidade nos sobrecarrega os ombros ou que nos alivia a alma, consoante nos abandona ou nos agracia.

A felicidade pesa exactamente quatro quilos. Quatro quilos inteiros. Quatro quilos que se acumulam nas ancas, nas coxas, nas bochechas e até nos pulsos. São quatro quilos que fazem as roupas parecerem mais estreitas e as pernas mais pesadas. São quatro quilos que nos sugam o ar dos pulmões quando tentamos correr. São quatro quilos que não nos permitem sorrir quando nos vemos ao espelho.

Como é que eu, que nunca sei nada sobre nada, sei agora que a felicidade pesa quatro quilos quando se cria que a felicidade era algo intangível, impalpável, sem peso nem forma?

Foi uma constatação óbvia, na verdade.

Esta semana ele enviou-me uma mensagem com a primeira fotografia que tirámos juntos. A mesma que está numa moldura na nossa sala. A mesma que tirámos a medo, no meio de algum constrangimento, quando um fotógrafo nos desafiou a isso, depois da nossa primeira São Silvestre de Lisboa juntos. 

É das minhas fotografias preferidas. É a minha nossa fotografia preferida. Gosto do nosso ar, dos nossos sorrisos, da sensação de dever cumprido típica de quem acabou uma prova, da nossa inocência e ingenuidade típica de quem está a começar uma nova relação. Foi a nossa primeira fotografia e foi logo para as bocas do mundo, para esse poço sem fundo que é a internet, para que o mundo inteiro a pudesse ver. E foi o início da nossa história tão nossa, como que num prenúncio do que estava para vir. E o que veio depois disso foram mais sorrisos, mais provas, mais desafios superados.

E mais quatro quilos. Os quatro quilos que separam a nossa primeira foto e o peso que cada um de nós tem hoje.

É o peso da felicidade, não tenho dúvidas.

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Das várias vidas que temos numa só vida...

Há 9 anos atrás a esta hora, eu estava a casar-me. Eu, de vestido de noiva e véu na cabeça, estava a jurar amor eterno perante uma centena de convidados, a prometer amor e respeito até que a morte nos separasse. Sendo que nenhum de nós morreu entretanto foi então, naturalmente, a vida que nos separou. Como seria expectável, até.

Há 9 anos atrás eu não sabia que aquele casamento não ia resultar. Ou, e nunca o admiti até agora, talvez soubesse. Talvez no fundo de mim eu já soubesse que aquele casamento não podia resultar. Mas, na minha ingenuidade, na minha vontade de ser feliz, na minha necessidade básica e primária de ser amada e ter alguém ao meu lado, eu quis acreditar que tudo ia correr bem. Eu quis acreditar que, acreditando muito, aquele casamento podia resultar. Na minha habitual arrogância, eu achei que a minha vontade e empenho, seriam suficientes para levar aquela relação a bom porto. Nada disto foi suficiente. Obviamente.

Curiosamente, se há coisa que eu tenho bem resolvida na minha cabeça é este episódio da minha vida. Talvez seja redutor chamar-lhe isto. Mas a verdade é que é algo tão distante, de uma pessoa tão diferente do que sou hoje, que parece que não foi a mesma pessoa que se casou há nove anos atrás, e a que hoje escreve sobre isso. São mesmo pessoas diferentes e hoje falo disso com toda a tranquilidade e naturalidade do Mundo.

Mas não foi sempre assim. Não foi fácil assumir aos 27 anos que estava divorciada. Não foi fácil terminar um casamento ao fim de apenas 2 anos. Assumir o falhanço, o fracasso, o erro. Mas não tenho a mínima dúvida de que foi a decisão certa. Nunca tive, aliás.

Ter casado, ter estado casada, ter passado por um divórcio, foi apenas uma das muitas vidas que já levo nesta vida. Sem dúvida que foi algo que me fez crescer, aprender, evoluir, chegar onde cheguei.

São curiosas as vidas que a volta dá, as vidas que vivemos, as pessoas que vamos sendo, as crenças que deixamos de ter, as novas crenças que passamos a ter, as inseguranças que vão e vêm. A nossa essência está sempre lá, mas não deixo de me maravilhar com o tanto que pode acontecer com o passar dos anos. A vida continua a espantar-me com a forma como nos surpreende, como nos muda e molda, com tudo o que nos oferece durante o período de tempo em que por cá nos permite andar. Fico sempre a pensar no que será que a vida tem para mim a seguir.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Das coisas em que eu penso...

Ainda penso em ti. Muitas vezes. Demasiadas vezes, talvez.

Não penso em ti por ter saudades, por sentir a tua falta, por querer ter-te de novo na minha vida.

Penso em ti, apenas e só, porque ainda não fui capaz de me perdoar por todo o mal que me fizeste. Talvez um dia consiga ultrapassar isso. Talvez um dia volte à terapia. Talvez toda a terapia do Mundo não seja suficiente para eu aceitar que ter-te permitido que me fizesses tanto mal, não faz de mim uma pessoa menor.

Além de todas as feridas evidentes e óbvias, há todas as outras que ninguém sabe, que ninguém conhece, mas que trago gravadas em mim e das quais não me consigo livrar, por mais que queira.

Não sou uma pessoa bem resolvida, não levo uma vida perfeita, não tenho as ideias milimetricamente arrumadas e não estou cheia de certezas. Tenho dúvidas, tenho medos, tenho uma bagagem imensa que me faz questionar-me. Muito.

Gostava de escrever sobre o quão feliz sou. Sobre o quão grata me sinto pelas coisas boas que a vida me deu. Sobre o quão sortuda me sinto, tantas vezes. Que sou. Feliz. Grata. Sortuda.

Mas não o sou todos os dias. Não consigo. E, hoje, só consigo ficar a olhar para mim e para o passado, e continuar a tentar perceber como foi possível, como é que eu, pessoa que se considera inteligente, permiti que tudo aquilo acontecesse, como é que eu desperdicei tempo de vida daquela maneira, como é que eu não fiz nada. Como?... E o pior? O pior é saber que pode voltar a acontecer. Porque é tão fácil!...




Nota: este post já foi escrito há algum tempo. Hoje estou como sou. Não no Alta Definição, mas feliz, grata e sortuda, nesta casa de onde pouco ou nada tenho saído e que me dá para devaneios com pouco sentido.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Das dúvidas que me surgem a meio de mais uma crise...

Qual é a quantidade de lágrimas que o nosso corpo consegue produzir? Corremos o risco de desidratar? De onde vem tanta água?

Todas estas dúvidas me assaltaram um dia destes quando, mais uma vez, chorei sem parar durante mais tempo do que o que seria recomendável. Eu, imóvel, e as lágrimas ali a escorrer, umas atrás das outras.

E eu, confesso, comecei a questionar-me sobre a origem de tanta água e sobre a capacidade do nosso corpo de produzir mais e mais lágrimas. Achava eu que devíamos ter um depósito de lágrimas algures (no saco lacrimal, talvez?), e que esse depósito seria finito. Parece que não. Parece que o nosso corpo consegue produzir mais e mais lágrimas, umas atrás das outras.

E, não se preocupem, não é possível desidratar por chorar demasiado. Diz o Tio Google que o nosso corpo sabe gerir a água que tem disponível e que, antes de nos deixar desidratar, corta-nos o stock de lágrimas.

Estou muito mais descansada agora. E esclarecida, já agora! Que uma pessoa não pode seguir com a sua vida, sem encontrar resposta para estas questões fundamentais da nossa existência.

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Das coisas que só acontecem na minha família... Ou de como a vida dá e tira a um ritmo que eu não consigo acompanhar...

Aos 34 anos de idade, ganhei uma avó.

Talvez seja ainda prematuro dizer que ganhei uma avó. Que uma avó não é prémio que se ganhe ou receba em qualquer jogo de lotaria ou de feira popular. Talvez uma avó se conquiste, se quiser ser conquistada, se a quisermos conquistar. Que isto das relações de sangue pouco ou nada valem, como a vida tão bem já fez questão de nos ensinar.

Ontem conheci a minha avó paterna. A mãe do meu pai, sangue do sangue dele, que lhe deu vida e luz. Não a avó a que chamei avó durante 31 anos da minha existência e que nos deixou há quase 5 anos. Coisa estranha esta em que uma avó não é só uma avó. Uma avó, ou duas avós, neste caso, são muito mais do que isso. São toda uma história, são muitas histórias, mas são histórias que não são minhas e que não me sinto no direito de contar, de partilhar, de expor assim para que o mundo as leia e julgue, como é tão hábil em fazer com tudo o que não conhece, com tudo o que não entende. Quem somos nós para entender o que seja das histórias dos outros? Eu, certamente, não sou ninguém.

Foi então ontem que conheci a minha avó. E nela vi, desde logo, os olhos do meu pai, que eu gostava de ter e não tenho. Vi também, não no imediato mas em pouco mais do que algumas palavras, o feitio do meu pai, que eu gostava de não ter mas tenho. Vi as parecenças, vi as semelhanças, vi aquilo que os une, mesmo tendo estado uma vida inteira separados. Quanto do que somos está nos nossos genes para além dos sinais exteriores visíveis e óbvios? Teria Platão razão? Será possível que tenhamos em nós também um pouco dos que nos deram vida? Que sejamos mais do que a carne e ossos deles, mas também o espírito, o querer, o ser?

Entre tantas dúvidas, ainda não sei se saberei acolher uma avó com esta idade. Todos estamos habituados a nascer com avós, crescer com elas, tê-las sempre ali por perto. Num mundo ideal, pelo menos. Ainda que eu não saiba o que é isso de um mundo ideal. Mas depois lembro-me da avó que perdi este ano. Que também soube acolher quando já tinha quinze anos. E apercebi-me que, como dizem, o nosso coração é mesmo elástico, que estica, que consegue sempre adaptar-se a estas manobras estranhas da vida, que nos faz ganhar e perder pessoas, mesmo que nos pareça fora de tempo. Creio, cada vez mais, que a vida não sabe o que é isso do tempo, dos timings ideais que perdemos tanto tempo a idealizar e que raramente conseguimos aplicar na prática. A vida tem o seu tempo. O seu ritmo. A sua vontade.

E a vida quis que em 2018 eu perdesse uma avó e ganhasse uma avó. E eu, resignada, não tento sequer entender.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Das discussões...

Por todo o lado e a toda a hora, somos bombardeados com artigos e notícias que nos dizem que discutir faz bem, que discutir é saudável, que todos os casais discutem.

E eu, confesso, durante algum tempo, acreditava nisso.

Talvez por ter passado por relações em que se discutia muito. Talvez por à minha volta ver relações em que se discute muito.

Depois, vi-me numa relação em que não havia discussões. Estranhei nos primeiros tempos. Comentava, incrédula, com as pessoas mais próximas. Porque não percebia. Porque não me parecia normal. Mas os meses foram passando, e continuámos sem discutir.

Dizem os artigos da especialidade que quando um casal diz que não discute, é porque algo de muito estranho se passa. Dizem também, os mesmos artigos da especialidade, que a não existência de discussões é sinónimo de indiferença, de falta de preocupação, de um fosso entre o casal.

E eu, cada vez mais preocupada. Cada vez mais incrédula.

Até que, numa semana, discutimos duas vezes. E eu achei que estávamos safos.

Isso ou foi preciso eu estar numa fase estupidamente exigente (a todos os níveis, incluindo o profissional), extremamente cansativa, emocionalmente fragilizada, e com um humor de cão, para que nós nos deixássemos discutir.

Não, ninguém precisa de discutir para ter uma relação feliz e saudável. Podemos ser felizes sem discutir. 

Só posso falar por mim mas, a sensação que eu tenho, é que já discuti tanto na minha vida, que agora quero é paz e sossego. O que não é o mesmo que indiferença. É sim, o mesmo que uma busca pela tranquilidade, é o saber ceder quando devemos ceder, é o não bater o pé para ser sempre tudo como eu quero, é o aceitar que, por vezes, temos de deixar o outro ter razão, mesmo que não a tenha. É o perceber que somos diferentes, e aceitarmos que somos assim. É o não querermos que o outro seja o que nós queremos que ele seja. É o encontrar alguém com quem conseguimos chegar a um equilíbrio tal, que não precisamos discutir. Porque nos completamos de tal forma, porque nos encaixamos de tal forma, que conseguimos sempre estar de acordo no que verdadeiramente importa, e conseguimos saber pôr de lado as coisas sem importância em que não encaixamos, mas que minam as relações e o dia-a-dia.

É também o ter chegado a uma fase na minha vida em que não acredito em relações perfeitas, em que não acredito no para sempre, em que não dou nada como garantido. Hoje, encaixamos, funcionamos e não discutimos. Daqui a um mês, se eu continuar com este humor de cão, talvez seja diferente. Mas, pelo menos, que eu possa ter sempre a clareza de perceber os motivos por que discutimos. Que eu possa nunca esquecer tudo o que nos une, pondo de lado o que nos separa.

E que eu não esteja daqui a uns tempos arrependida de estar para aqui a escrever disparates sobre temas que me transcendem. Porque, aos 34 anos de idade, as relações humanas ainda me transcendem. Só vou fingindo que já sei alguma coisa sobre o assunto...

sábado, 21 de julho de 2018

Das marcas que o nosso corpo carrega...

Na quarta-feira à noite, enquanto tirava o verniz das unhas dos pés (mais uma das coisas que eu tive de fazer para ser operada... ah, espera!... não fui operada...), e contemplava a minha linda unha negra não-tão-linda-assim, pensava para mim que, se alguém me perguntasse o que me tinha acontecido, eu havia de encher o peito de ar e havia de responder: uma Maratona. O que me aconteceu foi uma Maratona.

E quando me perguntam o que me aconteceu à perna, eu digo sempre que o que aconteceu foi uma luta entre mim e uma rocha, ali para os lados da Ericeira. Uma luta em que eu ganhei, porque a rocha continua lá, e eu cheguei ao fim do trail que estava a fazer.

Não gosto da minha unha negra, tal como não gosto da tremenda cicatriz que tenho no joelho e na perna, tal como não gosto de outras não tão tremendas cicatrizes que tenho nas pernas. Mas olho para elas e lembro-me da Maratona de Madrid, do Ericeira Summer Trail, do Cork Trail, da primeira vez em que fiz trail em Monsanto.

Chateia-me querer vestir um vestido bonito, calçar uns saltos, e pôr-me em modo princesa (dentro do que isso é possível, para quem nasceu Cinderela), e não ter umas pernas bonitas. Por vezes, custa-me olhar para elas. Mas, na maioria dos dias, olho para elas e sorrio, ao lembrar-me de todas as memórias boas que elas me trazem.

Os nossos corpos, seja por que motivos for, carregam consigo marcas, cicatrizes. E todas elas carregam consigo memórias. Umas mais felizes, outras menos. Mas todas elas fazem parte de nós. Todas elas fazem parte da nossa história. E estão ali para nos lembrarmos do que já fomos, do que somos, do caminho que nos trouxe até ao dia hoje.

Que nunca nos esqueçamos disso.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Do Estrela Grande Trail 2018... - I

E amanhã lá vou eu em direcção à Serra da Estrela, para mais um Estrela Grande Trail.

Não sei bem o que vou lá fazer. Acabei de ler o relato do ano passado, e preocupa-me ligeiramente saber que este ano vai ser diferente. Completamente diferente.

Se o ano passado estava super nervosa e morta de medo com o que ia encontrar, ao mesmo tempo que me sentia entusiasmada porque era o meu 3º ou 4º trail e, sem dúvida, o mais difícil, este ano estou mais em modo "vou lá passear e não quero saber, só espero não sofrer muito".

Esta ida à Estrela não estava exactamente nos planos. Quando o ano passado acabei a prova, e feliz e contente que estava com o meu resultado, disse que gostava de lá voltar para tentar um 3º lugar. Uma pessoa pode sonhar, não é verdade? Mas o louco mais louco que eu, a quem a prova correu terrivelmente mal (e a muitas outras pessoas que fizeram os 49km porque, de facto, houve muita coisa que não correu bem e não foi só o calor excessivo), disse que não queria lá voltar. E eu nunca mais pensei nisso.

Entretanto surgiu a maratona, treinos e treinos e treinos, e eu com outras preocupações.

A dada altura, o louco mais louco que eu começou a olhar para o calendário de provas e a perceber que tinha de ir à Estrela. Ou melhor, que a Estrela era a opção mais viável entre todas as disponíveis que o permitiam cumprir o objectivo que tinha: fazer o ponto que lhe falta para em 2019 irmos a Chamonix. Eu em modo passeio para me deliciar com aquelas paisagens, ele em modo louco no seu melhor, para ir sofrer no UTMB. Opções.

E foi assim que dei por mim inscrita no Estrela Grande Trail. No trail mais curto, claro. Mas não deixa de ser um trail na Estrela. Considerando que desde a Maratona corri exactamente 13,22km, o que não chega sequer à distância do trail, isto promete.

Resta-me a esperança de achar que vou tirar fotos bem giras, já que não vou correr.

Por outro lado, estou a precisar desesperadamente de uma coisa destas. Preciso de estar sozinha. De estar no meio de lado nenhum, rodeada de verde e de natureza. De não pensar em nada. De pensar em tudo. De me sentir fisicamente cansada, para que não seja apenas o esgotamento psicológico a pesar. Preciso de desligar do mundo. De estar eu e os trilhos. De me perder. De me encontrar. De me preocupar apenas com as coisas simples durante umas horas. Tenho pensado muito em voltar à terapia. Mas talvez seja esta a verdadeira terapia da qual eu preciso.

Bom fim-de-semana, Mundo!

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Das coisas que me preocupam...

Uma das coisas que me tem passado pela cabeça diversas vezes e que, de certa forma, me preocupa no que ao dia M diz respeito é a solidão.

Sim. A solidão.

Nas provas que faço habitualmente, salvo raras excepções (normalmente, em trails no meio de lado nenhum), há sempre muitas e variadas caras já conhecidas. Vou sempre acompanhada, vai sempre gente do grupo do meu ex-subúrbio, vai sempre gente da equipa pela qual já corri, vai sempre gente deste mundo da blogoesfera, vai sempre gente que fui conhecendo das mais diversas formas. Há sempre, sempre caras conhecidas.

Trocam-se palavras de ânimo e incentivo antes da prova, partilham-se os momentos de nervosismo antes do arranque e, sobretudo, ao longo do percurso e quando há retornos, há sempre um olhar que procura ver quem vem em sentido contrário, para gritar um "força", para acenar e sorrir, para um high-five. E isto, senhores, isto tem um peso inimaginável! Já houve muitas provas em que o simples facto de me cruzar com uma cara conhecida, me deu ânimo para continuar, para não desistir, para ir buscar energias onde julgava já não as ter.

E em Madrid eu não vou ter isso. Em Madrid vamos ser apenas eu e ele. 

E isso assusta-me. Porque é verdadeiramente confortável a ideia de ver caras conhecidas, de partilhar as alegrias e os sofrimentos, do sentimento de união que se cria nas provas de corrida quando as partilhamos com os nossos. Do saber que não estamos sozinhos.

E em Madrid eu não vou ter isso.

Eu sei. Vou ter os loucos dos espanhóis a fazer a festa toda. Vou ter os corredores que estiverem ao meu lado a sofrer o mesmo do que eu. Vou ter muito boa gente a torcer por mim aqui.

Mas não é a mesma coisa. Não é mesmo. E eu, que nas horas vagas tenho um part-time como drama queen, que sei que não sou tão forte psicologicamente como gostaria de ser, que sei por experiência própria que a mínima quebra mental pode arruinar por completo uma prova, eu tenho receio da forma como vou lidar com essa solidão, quando me vir sozinha com os meus pensamentos durante aqueles quarenta e dois quilómetros e cento e noventa e cinco metros (isto escrito por extenso é muito mais dramático!).

Será que é mesmo possível sentir-me sozinha no meio de milhares e milhares de pessoas? Logo vos conto!


sexta-feira, 30 de março de 2018

Dos sítios onde eu vou... - VI

Ontem fui pela primeira vez ao Campo Pequeno, meio contrariada, para assistir a um concerto do Benjamin Clementine.



E gostei. Não é música que eu adore, mas gosto. E não adorei o concerto, mas gostei bastante.

Como disse, nunca tinha estado no Campo Pequeno e não tinha ideia de como seria um concerto ali. Honestamente, pensava que seria pior. Mas a acústica até que não é má, e a sala, sendo bastante grande, não é tão grande que a atmosfera e a emoção se percam.

Se não adorei o concerto foi, entre outros motivos, por a minha cabeça não ter lá estado a maior parte do tempo. Andei a divagar, a tentar adivinhar o futuro, a pensar em tudo o que aconteceu no dia de ontem, a pensar na semana que aí vem, e ainda, como se não bastasse, a pensar no que aconteceria se houvesse um atentado durante o concerto. Uma bomba. Homens armados. Ou até um incêndio ou um tremor de terra.

Sim, eu penso neste tipo de coisas. Eu tenho uma tremenda dificuldade em desligar o meu cérebro e deixar-me, simplesmente, ir. Eu não consigo parar de pensar e depois dou comigo a pensar neste tipo de coisas.

Podia ser pior, não podia?

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Da minha palavra do ano (que passou)...

Já sei. Já chega de balanços e de falar sobre 2017. Prometo que é o último post. Por agora, pelo menos.

O ano passado defini como a minha palavra para 2017 a palavra emoção.

Tentei cumprir aquilo a que me propus: viver mais, sentir mais e pensar menos. Não acredito que tenha conseguido inteiramente, porque eu vou ser sempre eu, mas acho que melhorei em muita coisa.

Entre medos e receios, fui-me deixando ir, fui sentindo, fui vivendo. Não deixei de ter as minhas crises existenciais, não deixei de questionar muita coisa, mas aprendi a partilhar mais, a tentar deixar que acalmassem os meus medos e dúvidas.

Para 2018 não sou capaz de escolher uma palavra. Talvez força, talvez luta, talvez persistência. Talvez todas elas juntas. Perguntem-me daqui a uns meses.

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Das coincidências (que as há?)...

Em 2017, comecei o ano a partilhar no meu instagram uma fotografia em que, de caneca de Guinness na mão, fazia um brinde a todos os que me estavam a ler e pedia apenas a 2017 que fosse um ano sereno.

364 dias depois, escrevi este post, em que o terceiro adjectivo que usei para descrever 2017 foi, precisamente, sereno.

Só me apercebi desta coincidência entretanto, mas a verdade é que na meia-noite da passagem deste ano, também pedi apenas um desejo.

No final do ano venho cá contar-vos se se concretizou.


Os devaneios Agridoces mais lidos nos últimos tempos...