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segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Da Gravidez... - XVII (ou da [in]fertilidade...)

Uma pessoa passa a vida a ouvir histórias de pessoas que engravidam sem querer, que engravidam só por respirar, que engravidam à primeira, e mais um sem fim de coisas que nos fazem acreditar que engravidar é fácil. Uma pessoa fica a achar que é só fazer o amor e puff... Fez-se o bebé! (só para quem se lembra do anúncio do Chocapic).

Depois uma pessoa depara-se com a realidade, que é bem diferente do que vemos nos filmes e ouvimos nas histórias, e percebe que engravidar pode não ser assim tão fácil.

Numa outra vida, eu já tinha tentado engravidar durante um ano, pelo que já sabia que não era fácil.

Desta vez, com mais uma cirurgia pelo meio e mais uns aninhos em cima, eu sabia que ia continuar a não ser fácil. Mas quis fazer diferente. E a melhor forma de fazer diferente, é informarmo-nos. E eu informei-me. Muito.

Antes de mais nada, tive de esperar que passasse o tempo necessário após a minha cirurgia. Depois disso, e de termos a certeza de que era isto que queríamos e que estava na altura certa (se é que isso existe!...), fiz os exames habituais para ter a certeza que estava tudo bem, e comecei a tomar a suplementação recomendada.

Depois disso, fui então informar-me. Comecei pelo trabalho da Patrícia Lemos, com o seu Círculo Perfeito. Vasculhei o seu site de uma ponta à outra, devorei o seu ebook, li tudo o que tinha no Instagram. E eu aprendi. Aprendi tanto, tanto, tanto sobre mim e sobre o meu corpo, que fiquei a achar que passara 35 anos da minha vida completamente a leste do que se passava em mim. Sem fundamentalismos nem extremismos, mas a verdade é que somos muito mal preparados para estas questões do auto-conhecimento e da fertilidade. Acho que todas as mulheres deviam ler o ebook dela e perder um bocadinho de tempo a pensar sobre este tema, que não tem nada a ver com querer engravidar. 

Ainda me choca a quantidade de mulheres que oiço dizer que tomam a pílula para regular o período, ou que usam aplicações para ver o dia da ovulação (que, curiosamente, calha sempre no meio do ciclo...). Não critico, não condeno, não censuro. Eu também era assim. Mas, depois, informei-me. E agora sinto-me um bocadinho no dever de informar e espalhar a palavra pelas pessoas à minha volta.

Nesta luta para perceber melhor o meu corpo e o meu sistema reprodutor, também comprei a bíblia da fertilidade feminina: o livro Taking Charge of Your Fertility. Mais uma vez, não se trata apenas de conseguir engravidar. Trata-se, acima de tudo, de entender o nosso corpo, saber percebê-lo, conhecê-lo e ler os seus sinais.

Em ambos os casos, é abordado o Método Natural de Fertilidade (Fertility Awareness Method), que é um método que ajuda a engravidar, evitar uma gravidez e, acima de tudo, a conhecer o nosso ciclo e detectar eventuais problemas (as hormonas que produzimos dizem muito mais sobre nós do que poderíamos imaginar). Foi assim que eu comecei a olhar para mim e para o meu ciclo com outros olhos, a estar atenta aos sinais, a fazer o registo da minha temperatura basal, a olhar para gráficos e curvas. Aqui sim, existem aplicações que podem ser úteis, desde que devidamente alimentadas com a informação necessária (a informação é mesmo tudo e, sem ela, não há milagres).

Foram meses de descoberta, de aprendizagem, sempre com um sentimento de choque em relação ao quão mal andei a tratar o meu corpo durante tantos anos!... Não percebo como é que não há mais informação e mais atenção a um tema tão importante, e andamos a encher as adolescentes, e futuras mulheres, de pílulas, só porque sim e porque é mais prático.

No meu caso, mesmo assim, a coisa não foi tão rápida como gostaria, e em Setembro passado tive uma consulta na MAC. Nessa consulta, e perante o meu historial e a minha idade, a obstetra decidiu encaminhar-me para a Consulta de Apoio à Fertilidade. Ainda me lembro do que me custou subir as escadas até esse departamento, o ar pesado que lá senti, e a quase vergonha ao dizer que estava ali para me inscrever naquelas consultas. Deram-me um monte de papéis para preencher com dados meus e dele, pediram-me para aguardar uns minutos que pareceram horas, e fizeram uma primeira consulta de triagem. Aí, disseram-me logo: os tempos de espera para a primeira consulta eram de cerca de um ano.

Como se não bastasse o que custa uma pessoa andar a tentar e, mês após mês, não conseguir, ainda tem de esperar um ano por uma consulta de especialidade, numa especialidade que, só por si, luta contra o tempo. Triste país o nosso, no que toca à saúde!...

Apesar de tudo, do choque do encaminhamento para esta consulta, do choque do tempo de espera, do abanão que levei, ao fim de uns dias eu consegui mentalizar-me que isto não era uma sentença de morte. Que era apenas uma recomendação da médica, uma forma de "pouparmos" tempo se eu não conseguisse entretanto, porque os tempos de espera eram mesmo absurdos. Apesar de tudo, eu tentei não desanimar, continuei a cuidar do meu corpo, continuámos a tentar.

No ciclo seguinte, engravidei. 

Nove meses depois, no mesmo dia em que eu soube que ia fazer uma cesariana, no preciso instante em que saía dessa consulta, toca o meu telemóvel e eu vejo no ecrã: MAC. Era para marcarem a primeira consulta.

Coincidências ou curiosidades da vida. Nem sei...

Isto tudo para dizer: informem-se, leiam, aprendam, conheçam o vosso corpo e os sinais que ele vos dá. Não se deixem levar (e frustrar) pela história dos ciclos de 28 dias e a ovulação ao 14º dia. Esqueçam aplicações com algoritmos fraquinhos que dão o mesmo resultado a toda a gente, quando toda a gente é diferente. Seja para engravidar, para evitar uma gravidez, ou só para saber se está tudo bem: oiçam o vosso corpo.


E, com este post, encerro (por ora) o tema da gravidez. Talvez se me lembrar de mais alguma coisa, volte a ele, mas acho que isto já se arrasta há demasiado tempo, já nem eu tenho paciência para mim, e acho que acabamos em bom. Seguem-se 137 posts sobre a aventura que é a maternidade e o pós-gravidez, pois claro.

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Da Gravidez... - III (ou de como tudo começou...)


Corria o longínquo mês de Outubro.

O meu período já estava atrasado uns dias, ainda que eu não soubesse dizer quantos. 

Depois de ter deixado de tomar a pílula, o meu período foi tudo menos regular. Por isso, quando lhe disse que achava que o meu período estava atrasado, não lhe soube dizer quantos dias. Dei-me ao trabalho de calcular a média do meu ciclo nos últimos seis meses. 27 dias. O único assim mais longo tinha sido de 29 dias. Pelo menos nisso, o meu corpo foi generoso comigo e não andou a brincar comigo e a criar-me falsas expectativas, enquanto andámos a tentar.

Ainda assim, quando este ciclo chegou aos 29 dias, eu tentei ser racional e pensar que era só mais um ciclo mais longo, que tinha sido um mês particularmente stressante (com dois dias de 12 horas de trabalho, com um dente arrancado, e com mais coisas que não interessam para aqui). 

Quando chegou aos 30 dias, eu achei que era normal, e achei que as dores que sentia ao fim do dia no fundo da barriga e no peito, eram apenas sintomas de um período que estaria a chegar. 

Quando chegou aos 31 dias, falei com ele. Ele, ainda mais racional do que eu, perguntou se não poderia acontecer saltar um período. Não, não poderia. Na versão simplista da coisa, pelo menos. Eu sabia que tinha ovulado, por isso, o período havia de aparecer. Também sabia que tinha ovulado mais tarde do que o normal, por isso, achava perfeitamente normal que o período viesse mais tarde. 

Quando chegou aos 32 dias, disse-lhe que estava a dar em louca. Que precisávamos definir um prazo para considerar que eu estava mesmo com um atraso e que havia uma possibilidade... Decidimos esperar até ao Domingo seguinte, que seria o dia 34 do meu ciclo. Li na net muitos relatos de mulheres que, antes mesmo de terem o período atrasado, já estavam a fazer testes de gravidez. Não me identificava minimamente com isso e pareceu-me bastante razoável esperar pelo dia 34. Sabia que ia ter dificuldade em lidar com um resultado negativo, por isso, quis fazê-lo apenas quando o atraso já era evidente. 

Sábado. Fomos ao supermercado e eu comprei o teste. Não fui a correr fazê-lo. Mais uma vez, não queria lidar com um resultado negativo, por isso, quis garantir que o fazia na melhor altura para os melhores resultados: de manhã. 

Domingo. Dia 27 de Outubro e dia 34 do meu ciclo. Acordámos super cedo, graças à mudança de hora. Ele foi à casa de banho e voltou para a cama. Passado um bocado, perguntou-me se não queria ir também à casa de banho e fazer o teste. Tínhamos combinado que era ele que ia ver o teste. Mais uma vez, eu não queria ter de lidar com um resultado negativo, por isso, fiz a coisa egoísta e quis deixar essa responsabilidade para ele. 

Fui à casa de banho, reli as instruções todas, vi-me aflita para tirar o teste de dentro da embalagem (e ainda pensei que o pudesse ter estragado, por isso, se desse negativo, podia ser por isso - toda eu a inventar desculpas...). Lá fiz chichi para a palheta. Contei os segundos. Um. Dois. Três. Quatro. Cinco. Nem mais, nem menos, para não estragar o teste. Pus a tampa na palheta e pousei o teste no lavatório, na horizontal, como mandavam as instruções. Acabei de fazer chichi. Arrumei a embalagem vazia e preparei-me para lavar as mãos. Olhei para o teste. Vi a linha de controlo aparecer. Pensei que estava tudo bem e ainda bem. Comecei a ver ao lado a outra linha a aparecer. Gritei pelo nome dele. Gritei outra vez e insisti para que ele viesse à casa de banho. 

- Então? 
Mostrei-lhe o teste. 
- O que é que isso quer dizer? 
Dei-lhe o papel das instruções para a mão, apontando para a parte que explicava os resultados. 
- Então mas não era preciso esperar 3 minutos? 
- Supostamente... 
- Então mas isso pode não estar bem. Vamos esperar os 3 minutos. Vá, anda para a cama. 

Não sei qual dos dois o mais incrédulo. Voltámos para a cama e eu expliquei-lhe a lógica do funcionamento do teste e falei-lhe na beta HCG. Entretanto, passaram uns minutos e ele foi à casa de banho outra vez. Voltou passados uns segundos, para vir buscar o telemóvel porque queria tirar uma fotografia. 

Era real. Estava grávida.

Os devaneios Agridoces mais lidos nos últimos tempos...