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segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Da polémica das provas virtuais pagas...

Por essas redes sociais fora, têm-se visto todo o tipo de comentários e críticas às organizações de provas, que estão a cobrar por provas virtuais.

A mais recente polémica estalou hoje, com a abertura das inscrições para a São Silvestre de Lisboa.

Vamos lá ver... 

Ninguém é obrigado a inscrever-se em prova nenhuma, certo? Também ninguém é obrigado a pagar, se não o quiser fazer, certo? E não é porque umas organizações fizeram provas gratuitas, que todas têm de o fazer. Até porque muitas há que recebem apoios e fundos das autarquias para o fazerem, por exemplo. 

Eu já estou inscrita para a São Silvestre de Lisboa. Porquê? Porque faço questão de fazer aquela que é a prova mais especial para mim, ainda que este ano seja apenas de forma virtual. Porque faço questão de ficar com a t-shirt da prova, para juntar às 5 que já tenho. Porque faço questão de apoiar a HMS, que é, no que toca a provas de estrada, a que considero a melhor organização que existe. Em última análise, já estou inscrita porque me apetece.

Quem não quer pagar, não se inscreve e não paga. 

Para mim, faz sentido inscrever-me e pagar. E acho que também devia fazer para todas as pessoas que gostam de fazer provas (que não são todas as pessoas que gostam de correr, naturalmente).

Estamos a atravessar um período único, uma situação extraordinária, uma pandemia como nenhum de nós já tinha visto. Tudo isto, terá consequências devastadoras para a nossa economia. Já está a ter, aliás. São raros os sectores que não vão sofrer com isto. São raros os sectores onde não existiram ou existirão despedimentos.

Eu gosto de ir a provas de corrida. E quero que elas continuem a existir. E eu gosto (muito) da São Silvestre de Lisboa. Se a minha inscrição puder contribuir um bocadinho que seja para que a HMS ultrapasse tudo isto e continue a organizar a São Silvestre de Lisboa, e todas as outras provas que organiza, então aqueles 9€ foram muito bem gastos.

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Dos altos muito altos e dos baixos muito baixos desta vida...

 


Há dois anos estávamos em Nova Iorque, naquela que foi uma das viagens das nossas vidas.


Há um ano estávamos no Porto, a viver dias muito felizes, a gozar um segredo que ainda era só nosso.

Este ano, estamos fechados em casa há 9 meses, num confinamento sem fim à vista. Um confinamento que nos consome, que nos suga as energias positivas, que nos arrasta numa espiral de desespero.

Tenho muita curiosidade em saber como vai ser o fim de tudo isto. Já nem me pergunto o quando, porque já sei que essa resposta não existe. Mas o como. Como é que vamos voltar à normalidade? Como é que vamos voltar a dar beijinhos e abraços? Como é que a nossa sanidade mental vai recuperar? Como é que eu vou ser capaz de voltar a uma sala de espectáculos? Como? Como? Como?... Parece uma realidade ainda tão distante e impossível, que eu não consigo sequer imaginá-la.

Tenho demasiado medo do impacto que esta pandemia teve em mim. Não me revejo na pessoa que sou agora. Não me revejo nestes medos e paranóias. Não me revejo na ansiedade que certas idas ao exterior me provocam. Nos raros momentos de lucidez que vou tendo, sei que, talvez, esteja a exagerar. Mas, depois, assisto às notícias, leio relatos, vejo o caos no SNS, vejo os números a aumentar, e fico a perguntar-me se estarei mesmo a exagerar. Porque também não me revejo nos comportamentos à minha volta. Porque também não me revejo nas teorias da conspiração. Porque também não me revejo em quem acha que está tudo bem e continua com a sua vida social habitual. Não consigo. Não sou capaz.

Sanidade mental procura-se.

sexta-feira, 31 de julho de 2020

Da Gravidez... - XIII (ou da forma como toda a gente te diz que te deves sentir, que nem sempre corresponde à forma como te sentes...)

O tema da maternidade está, todo ele, envolto em muitas e variadas opiniões, que são, muitas vezes, extremadas e radicais. Isso, só por si, já me cansa. Pior ainda quando, na maior parte dos casos, as minhas opiniões não condizem com as da maioria.

Comecemos pelo princípio. 

Para a larga maioria das mulheres, ser mãe é algo relativamente óbvio e natural. Para algumas, é mesmo algo com que sonham desde crianças. Para umas e outras, é algo que faz parte dos planos, do caminho natural da vida, dos passos que pretendem ir dando e dos objectivos que querem alcançar. Não conseguem sequer conceber a vida sem filhos. E está tudo bem.

Depois, há as outras. As que não querem ter filhos. As que não se imaginam com filhos. As que acham que também pode haver vida sem filhos. E já não está tudo assim tão bem.

Eu fiz parte do segundo grupo durante muitos anos. Nunca me imaginei como mãe, nunca pensei que as crianças fossem o melhor do mundo, nunca me derreti particularmente com bebés, nunca me senti "mãezinha", nunca achei que me faltasse essa peça na minha vida para ser feliz. Mas quis a vida que, um dia, eu mudasse de opinião, e eu passei a querer ter filhos. Mas essa foi a única coisa que mudou. Não baixou em mim todo um instinto maternal, nem passei a adorar criancinhas de um momento para o outro, ainda que possa vir a achar que a minha criança é o melhor do mundo (mas só a minha, sorry!).

Eu sou uma pessoa (relativamente) racional. Pouco emocional e fria, até, em algumas coisas. Calhou (ou não calhou porque fui eu que escolhi assim) ter ao meu lado uma pessoa igual ou ainda pior do que eu. Não era por acaso que, nos inícios da relação, eu lhe chamava cubo de gelo. Somos os dois assim, e está tudo bem.

Daí que, ao longo de toda a gravidez, eu tivesse dificuldade em lidar com perguntas como "estão super felizes?", ou afirmações como "aproveita a gravidez que é uma experiência única e vais ter saudades", ou ainda "ser mãe é a melhor coisa do mundo". Também é comum vermos e ouvirmos relatos de quem diz que amou os seus filhos desde o momento em que soube que estava à espera deles, num amor gigante e crescente. E eu, confesso, senti-me meio alien por não ter sentido isso. Na nossa racionalidade, a verdade é que acho que sentimos os dois dificuldade em criar relação com um ser que não víamos e que ainda não era bem real para nós. Até ao momento em que a Isabel nasceu, eu tive dificuldade em acreditar que ela era mesmo real, e tive dificuldade em sentir esse amor de que toda a gente me falava.

Também tive dificuldade em adorar a gravidez, mas já falámos sobre isso.

Agora, que a Isabel nasceu, eu continuo a sentir-me alien, por continuar a não me identificar com muitas das coisas que oiço e leio por aí. Não devia, mas fico a questionar-me se haverá algo de errado em mim, se não nasci mesmo para ser mãe, se terei algum defeito. Talvez daqui a uns anos se venha a descobrir que sim, que tenho, e já fica aqui o registo da minha consciência do facto.

Nestas 5 semanas (fez ontem!), eu já me afastei da Isabel algumas vezes. Três, se não estou em erro. Todas para ir ao médico e cerca de 2 horas de cada vez. Em momento algum eu me senti culpada ou preocupada. Não me custou, não fiquei a sofrer, não morri de saudades. A Isabel estava com a pessoa que, a par de mim, melhor pode cuidar dela. E eu não vi qualquer razão para estar preocupada. Mas fiquei preocupada por não ficar preocupada. O que é só parvo, mas é o que toda a pressão em torno deste tema me faz sentir.

Hei-de voltar a falar nisto, noutra perspectiva, mas confesso que é algo que me preocupa: não estar a sentir a maternidade como a generalidade das pessoas a sentem.

Também já me perguntaram coisas como "estás a adorar ser mãe?" ou "apaixonaste-te pela tua filha assim que a viste"?. E eu fico sempre na dúvida se dou a resposta verdadeira, ou a resposta politicamente correcta. 

No caso da primeira pergunta, depende da hora a que me perguntarem. Neste momento, em que tenho a Isabel envolta no pano, em pele com pele, encostada ao meu peito, sem chorar há uma hora, e lhe vou dando beijos na testa enquanto escrevo este post, sim, estou a adorar ser mãe. Se me perguntarem às duas da manhã, quando ela berra desalmadamente, quando nada a acalma, e quando ninguém neste prédio dorme, talvez eu responda que não estou a adorar assim tanto. 

No caso da segunda pergunta, não, não me apaixonei pela Isabel assim que a vi. Peço desculpa por isso, mas a verdade é que não acredito em amor à primeira vista (desculpem, não resisti!). A seu tempo, hei-de pôr aqui o texto sobre o nascimento dela, o que poderá ajudar a explicar isto.

No fim do dia, estou a adaptar-me a esta nova condição da minha vida, a esta nova realidade, a este novo ser que me desafia e apaixona em medidas (quase) iguais. E está tudo bem.

quinta-feira, 30 de julho de 2020

Da ilustração que faltou no post anterior...


Os exemplos são mais do que muitos, mas cruzei-me agora mesmo com esta publicação no Facebook e achei tão apropriada ao post anterior, que não resisti... 

Da Gravidez... - XII (ou da Toxoplasmose...)

Um dos temas que causa muito debate e troca de opiniões durante a gravidez é a toxoplasmose. O nível de desinformação é chocante, e o alarmismo é elevado.

Calhou que eu não sou imune à toxoplasmose. Eu tinha esperança de ser e poder ter uma gravidez sem me preocupar com esse tema, mas não sou.

Assim, investiguei muito sobre a gravidez e a toxoplasmose. Li artigos, pesquisei, informei-me. Informação é poder e fiquei com a clara sensação de que ainda não há informação suficiente sobre a gravidez e a toxoplasmose, o que leva à proliferação de mitos e crenças tontas. Talvez seja um tema que não renda muito dinheiro, e ninguém se dedica muito a estudá-lo, apesar de ter encontrado um artigo que referia estar em estudo uma vacina para a toxoplasmose... 

O único estudo que encontrei que referia a taxa de prevalência da toxoplasmose na gravidez em Portugal, falava numa taxa de 1,04%, mas era um estudo antigo. Ainda assim, este é uma taxa bastante baixa, o que não significa que este tema não mereça preocupação, uma vez que apesar da baixa probabilidade, o impacto de contrair toxoplasmose durante a gravidez, pode ser muito elevado, e ninguém quer isso.

Além das confusões habituais que se multiplicam nos famosos grupos de mães no Facebook, em que a toxoplasmose é associada a coisas como marisco, e em que há quem ache boa ideia excluir completamente da alimentação coisas como alface, tomate e frutas que não se possam descascar, há o eterno drama à volta dos gatos, que mexe com o meu sistema nervoso.

Sim, em 2020 ainda há quem use a toxoplasmose como desculpa para se ver livre dos gatos, durante a gravidez. Não sei se por ignorância ou por conveniência, mas é assustador.

Vamos lá ver...

Não vou entrar aqui em explicações demasiado técnicas e perdoem qualquer incorrecção, que não sou minimamente da área mas, basicamente, para um gato poder espalhar toxoplasmose por aí, ele tem de ter ingerido carne de animais infectados com toxoplasmose (ratos ou pássaros, por exemplo). Só assim, o gato contrai o parasita e expele os seus "ovos" nas suas fezes, coisa que acontece durante cerca de 14 dias e apenas uma vez durante toda a existência do gato (em gatos saudáveis, pelo menos). Para que uma grávida contraia toxoplasmose, a grávida tem de ingerir esses "ovos". Ou seja, precisa de comer essas fezes contaminadas ou andar a mexer-lhes com as mãos e levá-las à boca sem as lavar. Aqui entra também a questão dos cuidados com frutas e legumes frescos, que devem ser bem lavados, porque pode dar-se o caso de um gato que tenha o parasita durante aqueles exactos 14 dias ter feito as suas fezes em cima da maçã ou alface que vamos comer. Escrito assim, parece-me meio ridículo, mas talvez o problema seja só meu. 

Voltemos aos gatos de casa. No caso do meu Snow, que está comigo há 4 anos, que não tem contacto com outros animais, que não tem acesso ao exterior (ele bem queria), que não come carnes cruas (ele bem queria), digamos que a probabilidade de ele poder ter o parasita da toxoplasmose é assim a modos que nula... E, mesmo que o tivesse, seria por um período muito limitado no tempo. E, ainda assim, eu tinha de ingerir os ditos "ovos"... Assim, a probabilidade de eu poder contrair toxoplasmose graças a ele, é assim a modos que menos que nula... 

Eu sei que, saindo do contexto de cidade, há muita gente que tem gatos que andam na rua. Também sei que há muitos artigos estrangeiros, em que as realidades são bem diferentes, uma vez que em países como o UK o normal é os gatos entrarem e saírem de casa a toda a hora. Nesses casos, a preocupação deve ser diferente. Mas precisamos de ter a capacidade de pensar na nossa situação específica e no nosso caso.

E, no meu caso, não seria pelo Snow que eu iria contrair toxoplasmose. Ainda assim, o louco mais louco do que eu, a partir de certa altura, insistiu em ser ele a limpar a casota. Por mais que eu lhe tentasse explicar que não havia problema, ele quis fazer essa tarefa. E eu, obviamente, também não me queixei, não é verdade?

Posto isto: parai de crucificar os gatos por causa da toxoplasmose, e preocupem-se mais com as carnes mal passadas e as saladas e frutas fora de casa. Mas também não entrem em paranóia e não excluam da alimentação alguns alimentos que são tão importantes e saudáveis... Bom senso e informação nunca são demais... E deixem os gatos em paz!

quinta-feira, 9 de julho de 2020

Da Gravidez... - X (ou da minha relação com o meu corpo...)

Não é exagero dizer que há, pelo menos, 20 anos que eu não tenho uma relação particularmente saudável com o meu corpo. Já houve momentos melhores e momentos (muito) piores. Já houve alturas em que eu não suportava olhar-me ao espelho, e já houve alturas em que eu até conseguia gostar do que via.

Naturalmente, a gravidez e as inevitáveis alterações que provoca no corpo de qualquer mulher, voltaram a trazer este tema à baila. 

Houve vários momentos em que tive dificuldade em lidar com a imagem que via ao espelho e com os números na balança, e fui passando por várias fases ao longo dos meses.

Tinha para mim que não queria engordar muito na gravidez, que me queria manter activa, controlar o peso e manter-me relativamente elegante (para uma pequena lontra, entenda-se). 

Nos primeiros tempos, e por causa dos enjoos, cheguei mesmo a perder peso. E percebi que não podia continuar assim... De todas as alturas da vida em que eu podia estar preocupada com dietas, a gravidez não devia ser uma delas. E comecei a obrigar-me a comer, tentando contrariar os enjoos e a falta de apetite.

Depois veio o Natal e a passagem de ano (fomos tão felizes em Lagos!), depois veio o deixar de correr, vieram jantares e almoços, veio Berlim, os meus anos e o confinamento... E eu fui engordando. E o meu corpo foi crescendo. E os números na balança foram aumentando.

Com 5 meses, quando levei suspiros cor de rosa para o escritório, para anunciar que vinha uma menina a caminho. 

A juntar a isto, uma opinião externa a criticar o quanto eu já tinha engordado e eu a sentir-me um pequeno cachalote. Pessoas, não se comenta o peso dos outros, muito menos de uma grávida! Vá lá... Não é assim tão difícil. Na altura, por mil e um motivos, isso mexeu demasiado comigo. Feliz ou infelizmente, coincidiu com a época em que eu tive indicação para começar a fazer as minhas caminhadas. Entre o regresso à actividade física, e a neura por me acharem gorda, a verdade é que o meu peso estabilizou e pouco engordei nos últimos meses.

Também me dediquei aos treinos de força em casa.
Aqui, com quase 7 meses. 

Foi difícil para mim ver o meu corpo mudar. Ver a barriga crescer, as ancas e o rabo (ainda) maiores, a perda de mobilidade, a incapacidade de fazer uma série de coisas. Desde cedo, fiquei meio em choque quando me faltava o ar ao subir dois lanços de escadas. Como é que eu já tinha feito duas maratonas, e agora ficava cansada com as escadas do metro?... Foi uma luta para mim ir aceitando as minhas crescentes limitações, com o passar do tempo. Uma parte do meu cérebro deve ter achado que eu engravidava mas que ia continuar tudo igual, a fazer na mesma tudo o que já fazia antes, como se nada se passasse. O meu corpo fez o favor de, rapidamente e sem margem para dúvidas, me mostrar que não ia ser assim.

Com quase 8 meses. 

Foram meses de adaptação a esta nova realidade, de sentimentos estranhos e confusos, de alguma frustração e de muito espanto. Tanto dava por mim a olhar para o espelho e a sentir-me disforme, como dava por mim a olhar para o espelho e a sentir-me maravilhada com a minha barriga gigante, casulo da nossa filha.

Agora, precisamente duas semanas depois do parto, continuo com dificuldade em ver-me ao espelho. Se antes procurava consolo na ideia de carregar em mim uma nova vida que viria a este mundo, agora não há consolo possível que advenha destes quilos a mais aqui instalados. Já perdi 8 quilos, faltam 5,5. E eu conto os dias para poder voltar a treinar...

terça-feira, 23 de junho de 2020

Do que pensamos que é a vida dos outros, que raramente é o que a vida dos outros realmente é...

Soubemos este fim-de-semana da morte do actor Pedro Lima e muito se tem dito e escrito sobre isso nos últimos dias. Por todo o lado, se multiplicam as fotografias, as homenagens, as últimas palavras, as mensagens de apoio.

Também não têm faltado os textos de partilha de quem já passou por uma depressão, de quem já esteve no fundo do poço, de quem já viu de perto o difícil que a vida pode ser. Partilham-se desabafos, desenterram-se fantasmas, dão-se conselhos. Por todo o lado, a mensagem é unânime: não tenham vergonha e peçam ajuda.

O problema reside, precisamente, aí: pedir ajuda. Sobretudo, pedir ajuda em relação a algo que ainda é tão tabu na nossa sociedade. Nós não falamos sobre saúde mental. Nós achamos que tudo o que diga respeito ao foro psiquiátrico, é coisa de maluquinhos. Nós não estamos conscientes para procurar em nós sintomas de um possível desequilíbrio mental. Falando pelas mulheres, dizem-nos para fazermos citologias, para fazermos o auto-exame do peito, para controlarmos os sinais e manchas que temos no corpo e a sua evolução, e todo um sem fim de coisas a que devemos estar atentas, cuidando do nosso corpo, que é só um. Mas em momento algum nos dizem para estarmos atentos ao que nos vai na alma, ao que nos passa pela cabeça, ao nosso estado de espírito. Não há um despiste, não há uma lista dos sinais de alerta a que devemos prestar atenção, não há um protocolo de como devemos cuidar da mente, como cuidamos do corpo.

Se estamos em baixo, é porque a vida é difícil, é a pressão do trabalho, é o dinheiro que não estica, é a rotina do dia-a-dia que cansa. Se estamos desanimados, dizem-nos que logo passa, que as férias estão aí à porta, que uma noite de copos tudo resolve.

Se um amigo tem febre, não hesitamos em dizer-lhe que tome paracetamol e que vá ao médico, caso não passe. Se um amigo nos diz que se sente sistematicamente em baixo, na melhor das hipóteses, sugerimos um jantar, uma conversa para desabafar. Na pior das hipóteses, trocamos umas mensagens com palavras de consolo e assobiamos para o lado, que isto a vida é difícil para todos e todos temos os nossos problemas.

É fácil dizer: peçam ajuda. Difícil é oferecer essa ajuda a quem é incapaz de a pedir. Porque pedir ajuda é uma tarefa hercúlea para quem nem percebe bem o que se passa consigo... Quando achamos que estamos, de facto, maluquinhos, torna-se difícil, senão mesmo impossível, reconhecer isso perante os outros, quanto mais pedir ajuda!... O problema das doenças do foro psíquico é que, raramente, nos apercebemos delas. Raramente temos consciência que delas padecemos. Raramente percebemos que precisamos de ajuda. E vamos andando, no lento correr dos dias, de sorriso de dia e lágrimas de noite, num desespero profundo, sem perceber o que se passa, achando que está tudo bem e que nós é que fazemos tempestades em copos de água, que temos tanta coisa boa na vida, que somos uns ingratos e insatisfeitos permanentes. À nossa volta, tudo nos diz que devíamos estar felizes. Dentro de nós, tudo nos faz sentir miseráveis. E não percemos. E, em não percebendo, também não percebemos por que raio haveríamos de pedir ajuda, se nem saberíamos para quê pedir ajuda. 

A depressão é uma merda. É uma grandessíssima merda. Porque não é visível. Porque não vem no relatório de um exame. Porque ainda olhamos para ela como uma coisa abstracta, intangível, subjectiva. E é uma merda. 

E enquanto, todos e cada um de nós, não mudarmos a forma como olhamos para a nossa saúde mental, enquanto não formos todos sensibilizados desde cedo para tomarmos conta do espírito como tomamos conta do corpo, vai continuar a ser uma grandessíssima merda. Porque vamos continuar sem pedir ajuda. E vamos continuar a assistir a estas tragédias que nos deixam em choque, impotentes, culpados. 

sábado, 16 de maio de 2020

Das fotografias que dão alegria... - Day 137 (ou do medo do que aí vem...)


Ele correu. Eu caminhei. Ao final da tarde, perto da hora de jantar, num Parque das Nações demasiado cheio, que me assustou e deixou preocupada. 

Se calhar, sou eu a paranóica. Se calhar, sou eu a pessimista. 

Mas fiquei em choque com o que vi. Fiquei arrependida de ter ido. Encurtei o meu percurso e, mesmo de máscara, esforcei-me por me afastar sempre o mais possível de quem se cruzava comigo. Mas senti-me a maluquinha. Porque mais ninguém parecia preocupado com isso. Raras foram as pessoas que vi de máscara (não é obrigatório, eu sei). Muitas foram as pessoas que passaram coladas a mim (entre ciclistas e corredores que me ultrapassaram, perdi a conta). Vi grupos de mais de 10 pessoas a fazer piqueniques. Vi os dois skate parks, ambos completamente vedados com grades, cheios de miúdos e graúdos. Fiquei na dúvida se as grades estariam ali para impedir a Covid de entrar, protegendo quem se encontrava lá dentro.

Se calhar, sou eu a paranóica. Se calhar, sou eu a pessimista. 

Mas também fiquei em choque com as imagens de um Primeiro-Ministro a passear no Chiado, a jogar ao põe e tira a máscara. A dar o pior exemplo possível. A dizer às pessoas que saiam de casa e vão às compras, quando horas antes tinha dito que continua a existir dever de recolhimento.

Se calhar, sou eu a paranóica. Se calhar, sou eu a pessimista.

Mas tenho medo do que aí vem. Muito medo. 

terça-feira, 17 de março de 2020

Da COVID-19, que me fez voltar a escrever - haja alguma coisa positiva no meio disto...

Li por aí que, tal como houve um mundo antes e depois do 9/11, também haverá um mundo antes e depois da COVID-19.

Não tenho dúvidas disso.

Para a maioria das pessoas da minha geração, e de outras mais jovens, que nunca passámos por guerras, privações de liberdade, ou qualquer outra calamidade com impacto directo no nosso país que não a crise económica de 2008, tudo isto é novo. Mesmo para muitas outras pessoas de muitas outras gerações, tudo isto é novo.

Nunca nos tinha sido pedido que ficássemos em casa. Desconhecíamos o conceito de "isolamento social". Beijinhos e abraços eram o dia-a-dia das nossas vidas. Ir à rua, ao supermercado, ao café, eram actos banais que fazíamos sem pensar.

Agora, tudo isso acabou. Ou, pelo menos, acabou para a generalidade das pessoas com dois dedos de testa que já percebeu que isto não é uma brincadeira. Para as pessoas que já perceberam que temos tudo para ser uma Itália, mas que a nossa economia não suportará se nós nos tornarmos uma Itália. Na verdade, de que importará a economia, se uma boa parte de nós não estiver cá para contar a história?...

Choca-me, irrita-me, frustra-me. Nunca, tanto como agora, me cansaram as pessoas. É em períodos de crise que vemos o pior das pessoas: o egoísmo, a falta de civismo, a burrice, a inconsciência, a leviandade dos comportamentos, a falta de respeito pelo próximo.

Mas é também em períodos de crise que vemos o melhor das pessoas: a solidariedade, a disponibilidade para emprestar casas, para ir às compras, para fazer companhia à distância de um telefonema.

No fim de tudo isto, e certa de que o fim ainda está longe, sei que vamos todos ser diferentes. Quero acreditar que seremos melhores. Que daremos mais valor às pequenas coisas. Que teremos mais vontade de estar com os nossos mais vezes. Que iremos aproveitar as pequenas liberdades que hoje tomamos como garantidas.

Ou então vamos todos acabar mortos, porque entre a COVID-19, as bulhas no supermercado por um rolo de papel higiénico, e a falta de capacidade para viver em modo Big Brother durante 24 horas por dia, não vai sobrar ninguém.

Gostava que fosse a primeira opção, mas não ponho as minhas mãos no fogo que não seja a segunda.

Agora, como nunca, nunca fez tanto sentido: cá estaremos, sentados, à espera para ver.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Do fim-de-semana no Porto...

Eu sei que faz amanhã duas semanas que fomos ao Porto. Também sei que já aconteceram mil e uma coisas nos entretantos. Mas não queria deixar de deixar aqui este registo.

O fim-de-semana no Porto foi... Cheio. Cheio de comida. Cheio de chuva. Cheio de gente boa. Cheio de memórias.

Fomos para o Porto na quinta-feira a meio da manhã, e ainda parámos pelo caminho para almoçar com os sogros.

Já quase a chegar ao Porto, demos conta de que o carro já devia ter ido à inspecção há uns dias... Estávamos sem inspecção, a chegar ao Porto, a entrar num fim-de-semana prolongado. Que disparate. Tenho carro há 15 anos e nunca deixei passar uma inspecção. Nunca. O meu pequeno cérebro não anda bem e isto é só mais um reflexo disso mesmo... Mas... Graças às novas tecnologias, num instante marquei inspecção na Controlauto mais próxima, e foi assim que demos connosco em Gaia, debaixo de uma chuva tremenda, a fazer a inspecção ao carro. 


Passou sem anotações e nem disseram nada por já estar uns dias fora do prazo. Ufa!...

Lá seguimos para o Porto. Tínhamos marcado um apartamento na Alfândega, onde fomos pousar as tralhas, descansar um pouco, e seguimos em busca de um sítio para jantar. Pois. Como se fosse fácil. Não foi. Eram 21h20 quando começámos a comer, depois de várias tentativas. O concerto dos Ornatos começava às 22h. Foi uma pequena correria, mas chegámos a tempo.


O que dizer do concerto? Não sei bem por onde começar... São os Ornatos Violeta, não é verdade? Nunca os tinha visto ao vivo e superaram todas as expectativas. Tocaram muitos dos clássicos, tocaram outras menos conhecidas. O público começou meio amorfo, mas lá ganhou ritmo e aquela sala (incrível, já agora) encheu-de e aqueceu-se. Foi muito, muito bom! Acima de tudo, o que eu vou recordar é a energia deles em palco, é a entrega, a emoção, o gozo que estavam a ter no que estavam a fazer. Eles pareciam mesmo felizes por estar ali, e isso é contagiante. Foi um grande concerto e ainda bem que pudemos estar presentes!

No dia seguinte, sexta-feira, começámos a manhã no Diplomata. Chegámos antes de abrir, e ainda bem! O tempo todo em que lá estivemos, houve sempre fila à porta... E vale a pena! Atendimento super simpático e comida deliciosa!


Seguiu-se um passeio pelas ruas do Porto... Estava a chover, por isso, andar na rua não era o que mais nos apetecia e lá decidimos que era desta que íamos à Lello. E fomos! 


E sim, é linda, maravilhosa e espectacular. Mas uma pessoa está imenso tempo na fila (à chuva, lembram-se?), e depois lá dentro é todo um caos e mal nos conseguimos mexer, quanto mais aproveitar o que quer que seja... Claro que aproveitámos os 5€ do bilhete para trazer um livro para cada um, o que sempre melhora a experiência.



Ainda a recuperar do pequeno-almoço, chegámos ao Lado B, para almoçar com a Fabiana! E o bom que foi pôr a conversa em dia! Talvez um dia voltemos a correr juntas mas, por agora, já deu para matar saudades. Quanto ao Lado B, acabamos por lá ir sempre porque é dos poucos sítios que tem francesinha vegetariana (e é bem boa!).


O almoço prolongou-se até às quatro da tarde e acabámos por adiar o lanche que já tínhamos marcado em Matosinhos. Fomos ao Terrárea, e eu tive a sensatez de me ficar por um chá. Já alguém, pediu uma fatia da banoffee, que eu fiz o sacrifício de provar, só para concluir que era mesmo boa! 


O sítio é super giro, vegan, e está ligado a uma loja de plantas e decoração com muita pinta. Fiquei com vontade de lá voltar para um almoço super saudável!

Depois do lanche, e porque já era hora de jantar, decidimos ficar mesmo por Matosinhos, onde fizemos a refeição mais saudável de todas: caldo verde e lulas grelhadas, na grande tasca que é o Rei da Sardinha Assada


Nem comemos sobremesa (apenas e só para irmos comer belgas de chocolate para o apartamento... Glicogénio, já ouviram falar?).

Sábado começámos o dia no Hungry Biker Cafe, outro sítio da moda, com pequenos-almoços mais ou menos decadentes, frequentando essencialmente por turistas, mas com um espaço muito engraçado e comida muito boa!



Demos um passeio pelo centro do Porto, fizemos a Rua das Flores, descemos até à Ribeira, e fomos andando junto ao rio, até à Alfândega, para irmos ver a feira da Maratona e levantar os dorsais. 

Um dia hei-de fazer o Caminho e passar por aqui... 




Pouco depois de entrar na feira, encontrámos o João Lima, a Isa e o Vítor. Mais um bocado, encontramos a Sofia e o André, com quem íamos almoçar. Mais outro bocado, encontramos o Perneta-Mor e a sua Pikinita. Só celebridades naquela feira! Lá levantámos os dorsais, demos uma volta, e eu quase perdi a cabeça e comprei o corta-vento da New Balance da Maratona de Sevilha de 2019. Estava a 20 euros e é cor de rosa e é lindo de morrer. Mas achei que era parvo ter uma coisa de uma prova que não fiz, e não comprei nada... 

Próxima paragem? Almoço na Casad'oro. Que sitio giro! Mesmo junto à Ponte da Arrábida. Mesmo em cima do rio! A vista, apesar do tempo horrível e da chuva, era muito bonita, e as pizzas eram gigantes e muito boas! Recomendo! 


Não deixa de ser curioso os amigos que fazemos neste mundo. Só conheço a Sofia e o André deste mundo da blogoesfera e das corridas, e já tínhamos estado juntos em Lisboa, depois em Aveiro, e agora no Porto.

Depois do almoço fomos para o apartamento descansar. Claro. Passar os dias a comer cansa imenso!

Ao final da tarde, partimos em direcção a Santa Maria da Feira, para um jantar muito particular. Mais um jantar com pessoas que conheci através deste blogue. Que sortuda que eu sou, não é verdade? Fomos muito bem recebidos na casa do Perneta e da Pikinita, e pude confirmar que o Perneta não só cozinha mesmo, como cozinha muito bem! A conversa não parou um segundo, com histórias e mais histórias, partilhas de experiências e sonhos. Como na manhã seguinte havia prova (ou pseudo-prova, no meu caso), não podíamos deitar demasiado tarde, para tentar descansar, se não fosse isso, acho que ainda lá estávamos na conversa...

Domingo. Dia da Maratona para muitos bravos campeões, dia de passeio no Parque para mim. 

Estive até à última da hora com muitas dúvidas sobre a participação nos 15km da Family Race. Não tenho treinado grande coisa, o tempo estava mauzito, e eu sabia que não queria (nem podia) arriscar nenhum disparate. Não foi uma decisão fácil, mas acabei por tomar a decisão consciente: ia fazer apenas 6 ou 7km, apenas e só se me estivesse a sentir bem. O objectivo mesmo era participar da festa que é uma Maratona, e tentar dar algum apoio a quem por lá andava.


Foi com este espírito que alinhei na partida desta prova. Despedi-me do meu louco, que ia fazer os seus 15km também em ritmo de passeio (duas semanas depois da Maratona de Lisboa, e durante as quais passou 90% do tempo constipado e entupido...). 

Felizmente, logo nas primeiras centenas de metros, encontrei o João Lima. Perguntei-lhe se estava bem e ele respondeu-me com um redondo "NÃO!". Juro que me assustei um bocadinho e resolvi remeter-me ao silêncio!... Decidi ir ali a chateá-lo, repetindo o que fizemos em Aveiro, e achei que talvez ele precisasse de se distrair. Sempre na conversa, sempre tranquilos, os metros foram passando, e eu comecei a ver um João mais animado. Também vimos a Isa e o Vítor, que iam próximos de nós, e muitas outras caras conhecidas. 

Foto da Organização que já devem ter visto por aí

Foi assim que chegámos à placa dos 6km. Era o meu limite. Custou-me horrores não seguir em frente, deixar ali o João (não que ele precisasse de mim para alguma coisa, que já ia bem melhor!), não seguir naquela festa. Estava a sentir-me bem melhor do que esperava, mas obriguei-me a ter juízo. Voltei para trás, ainda encontrei o Perneta-Mor e as meninas das Women Runners Portugal, e fui plantar-me junto à Anémona, a bater palmas e a incentivar todos os que já voltavam para trás em direcção ao Porto. Passado um bocado passou o meu louco, depois o João, que vinha com a Isa e o Vítor, e ainda corri uns metros com eles. Despedi-me, certa de que ainda os voltaria a ver, e de que eles iam acabar mais uma Maratona.

Passei para o outro lado da estrada e fiquei, mais uma vez, a aplaudir aqueles campeões todos que entravam na fase final dos 15km. Quando passou o meu louco, ele insistiu para que eu fosse com ele, e lá fui eu. Fizemos os últimos 500 metros juntos e cortámos a meta juntos (coisa que já não fazíamos há uma eternidade...). Claro que não contou, porque eu não fiz verdadeiramente a prova, e em consciência não me senti muito bem a cortar aquela meta assim, mas espero que me tenham desclassificado por não ter passado nos pontos de controlo e, convenhamos, com aquele tempo, não roubei nenhum prémio a ninguém... Ainda assim, não o devia ter feito e também aí devia ter tido mais juízo. Para a próxima, não me deixo levar pelas emoções.

Era hora de regressarmos ao apartamento, tomar banho e fazer o check-out. Tínhamos uma missão importante: ir para a rua, dar apoio aos maratonistas!

O nosso apartamento ficava em pleno percurso da Maratona, pelo que ainda vi alguns atletas a passar pela janela, e depois optámos por ficar mesmo ali a apoiar quem passava. Não que tivéssemos grande opção, dado que não seria fácil tirar dali o carro...

Levei os meus cartazes à sua segunda Maratona e lá me pus na beira do passeio, a incentivar quem passava. O louco, que consegue ser ainda mais bicho do mato do que eu!, ao princípio estava meio amorfo e envergonhado, mas a verdade é que nem ele conseguiu ficar indiferente e já batia palmas, já gritava palavras de incentivo, já se metia com as pessoas e ria com elas. É mesmo impossível ficar indiferente ao que vemos ali!

Foto da Isa no nosso "cheering point"

O meu cartaz preferido voltou a fazer sucesso, e muita gente reagia muito bem, vinha bater no cartaz, ria-se, dizia que era mesmo aquilo que precisava, e ainda havia os corajosos que largavam num sprint depois de bater no cartaz (como no jogo!). Foi muito, muito bom, saber que ajudámos a animar um bocadinho os 42km daqueles que naquele Domingo se desafiaram e superaram! Muito respeito por todos os que se metem a fazer uma Maratona!

A Isa e o Vítor ao km 34

Claro que esperámos para ver a Isa e o Vítor, primeiro, e o João, depois. Estávamos ao quilómetro 34 e eu sabia que, quem chega ali, chega ao fim. E eles chegaram! Obviamente, chegaram! E eu fiquei muito feliz por eles! Quando for grande, quero correr assim!

A nós, restava-nos encontrar um sítio para almoçar, voltar para tirar o carro (já depois de terem aberto as estradas), e regressar a Lisboa.

Acabo como comecei. Foi um fim-de-semana cheio. Cheio de comida. Cheio de chuva. Cheio de gente boa. Cheio de memórias.

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Dos dias em que viver cansa...

Hoje o acordar foi difícil. Ele é que fez uma Maratona, e eu é que tenho a sensação de ter sido atropelada por um camião.

Talvez seja das dores de dentes. Ou da sua ausência. Já que o que me dói é o vazio deixado pelo dente que arranquei na sexta-feira.

Não consegui dormir em condições, o que seria bastante razoável, depois de ontem ter acordado antes das seis da manhã. Eu nasci para dormir. Eu preciso de dormir. E, se não durmo, não funciono.

Acordei cansada, (ainda mais) rabugenta, desanimada e deprimida.

Ontem ao final do dia tomei uma decisão importante. Havia uma pequena esperança de uma grande mudança na minha vida em breve, mas ontem eu disse adeus a essa esperança. Ontem, no rescaldo da Maratona dele, pus-me a fazer contas à vida e decidi fechar uma porta. Talvez se abra uma janela, já diz o cliché. Mas eu não gosto de clichés, nem neles acredito. Acredito no que é racional. E ontem fui racional.

Talvez por isso tenha acordado assim. Pesada, no espírito e no corpo. Com o semblante carregado e a barriga inchada, reflexo dos abusos do fim-de-semana. Ele é que ia correr, mas eu fui solidária na ingestão dos hidratos. Ou talvez tenha tentado encontrar nos hidratos o consolo que não encontro na vida.

Faltam dois meses para o final do ano. E isso deprime-me. Cansa-me. Desanima-me. 



Ou então está tudo lindo, maravilhoso e fantástico na minha vida, e eu acordei mesmo foi com TPM.

domingo, 20 de outubro de 2019

Das fotografias que dão alegria... - Day 293


Dia de fazer de roadie na Maratona de Lisboa.

Em Cascais, em Carcavelos, na Cruz Quebrada e na meta.

A dar apoio ao louco mais louco do que eu (que fez uma prova incrível, ainda que ele diga que não), de dar apoio a colegas de equipa, de dar apoio a amigos e conhecidos, de dar apoio a perfeitos desconhecidos.




Para quem já viu ou fez provas lá fora (olhem para mim, a armar-me em atleta internacional...), é deprimente ver a falta de apoio que há nas provas em Portugal. No que depender de mim, hei-de sempre tentar contrariar isso. Porque já estive do lado de lá, e sei a diferença que isso pode fazer.

Foi uma manhã de Domingo incrível e daqui a duas semanas há mais. 

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Das eleições...

Acho que nunca acompanhei tanto umas eleições como estas. Nem sei bem por que motivo, mas talvez por estar, de facto, preocupada com o que aí vem nos próximos anos. Algo me diz que não será nada de bom... Mas talvez seja apenas eu a ser pessimista.

A verdade é que li artigos e programas eleitorais, assisti a debates mais sérios e assisti ao "Gente Que Não Sabe Estar" (mais relevante do que se possa imaginar, e a única altura em que dou audiência à TVI), tentei informar-me o mais possível, apesar de o meu voto já estar relativamente decidido há bastante tempo.

Por curiosidade, experimentei uma daquelas "Bússolas Eleitorais", que não me deu novidade nenhuma.

E Domingo lá fui votar. Porque não via outra opção que não essa.

Estas eleições (ou os seus resultados) surpreenderam-me a vários níveis. Alguns mais óbvios, outros menos.

A abstenção continua a surpreender-me. E vai surpreender-me sempre. Não entendo. A sério que não entendo quem tem a possibilidade de ir votar, de mostrar a sua opinião, de expressar o seu desejo, e opta por não o fazer. Quem opta por se desresponsabilizar do que se passa no país. Não entendo. Não é por mal. E se houver por aí alguém que me queira tentar explicar, a caixa de comentários ou a de email estão à disposição. Porque eu gostava de conseguir perceber.

A vitória do PS não me surpreendeu. Obviamente, não me surpreendeu. Preocupou-me, mas não me surpreendeu.

O que também me surpreendeu foram os três novos partidos com assento parlamentar! Escusado será dizer que o facto de o Chega ter conseguido um deputado me surpreendeu e preocupou. Que país é este que quer um partido destes no Governo? Mais uma vez, aceito quem me explique... Já a eleição de um deputado do Iniciativa Liberal e uma deputada do Livre, a que se juntam mais deputados do PAN, é algo que vejo com muito bons olhos. Ainda que a deputada do PSN por Setúbal saiba menos do programa eleitoral deles do que eu, mas é o que temos... 

Precisamos de mais diversidade no parlamento. Precisamos de novas ideias, de sangue novo. Independentemente de concordar com muito ou pouco do que cada um destes partidos defende, acho que é bom que o poder não esteja tão concentrado nos dois do costume. Há muitos países por essa Europa fora em que os dois maiores partidos têm menos poder, estando o mesmo mais distribuído por partidos mais pequenos, o que acaba por resultar.

Estou curiosa para ver o que aí vem. Já há quem diga para se reservarem as suites do Ritz para os amigos da Troika voltarem... Espero que não, mas acredito que seja uma possibilidade. 

Espero mesmo estar enganada. Espero mesmo que estas novas presenças em São Bento consigam abanar as águas, por pouco que seja. Espero que este país se endireite, e possamos ter a qualidade de vida que merecemos. Ou será que não merecemos? É que olhando para a taxa de abstenção, tenho as minhas dúvidas...

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Do 11 de Setembro...


Nunca cheguei aqui a falar sobre a viagem que fizemos em Novembro passado a Nova Iorque e Cuba. O que é pena, porque foi uma das viagens da minha vida e uma das que mais me marcou, sem dúvida. 

E uma das coisas que mais me marcou e que nunca esquecerei foi a ida ao World Trade Center. Hoje, 18 anos depois dos ataques do 11 de Setembro, é inevitável voltar ao que ali senti e voltar a parar para pensar nas 2977 vidas que se perderam na sequência destes ataques. 

Adorei Nova Iorque e se me perguntarem o que é que alguém não pode deixar de visitar numa visita à Big Apple, eu não tenho dúvidas: o World Trade Center e o Museu e Memorial do 9/11. O Empire State Building é espectacular, o Central Park é incrível, a Brooklyn Bridge dá umas fotos espectaculares. Mas não há nada que se compare a estar ali, naquele sítio, a conhecer os rostos, os nomes, as vidas, de todos aqueles que o 9/11 levou. 

A reconstrução do espaço ficou incrível, com a Freedom Tower a reforçar que a América é um país incrível e que se uniu para ultrapassar uma tragédia que nós nem conseguimos imaginar, a Survivor Tree (que sobreviveu no meio dos destroços, foi tirada daquela zona e novamente ali plantada em 2010), e as duas piscinas negras, que nos impressionam pela sua dimensão, pelos 2997 nomes que têm gravados, pela água que nos lembra do ciclo ininterrupto da vida.

O 9/11 marcou o Mundo. Não só a América, mas o Mundo. O 9/11 mostrou-nos o pior do que o ser humano é capaz, mas também nos mostrou o melhor do que o ser humano é capaz. Mostrou-nos a tragédia, o desespero, o horror, dos que não sobreviveram, mas mostrou-nos a força, a resiliência, a coragem dos que ficaram cá. São muitas as histórias incríveis dos sobreviventes, da forma como ultrapassaram este acontecimento tão marcante, daquilo que fazem nos seus dias para homenagear os que pereceram. 

Para que nunca nos esqueçamos. 

terça-feira, 6 de agosto de 2019

Da minha ausência por aqui...

Poderia dizer-se que estarei de férias, mas não é o caso.

Simplesmente, não me tem apetecido escrever. Ando mais introspectiva. Há muita coisa a acontecer à minha volta. Há muita coisa a acontecer em mim. Estou numa fase decisiva da minha vida. Uma fase de muitos medos, dúvidas, incertezas, que se misturam e confundem com esperanças e desejos. 

À minha volta, vejo mundos e rochedos a desmoronar-se. Vejo o certo virar incerto. Vejo tristeza, revolta, frustração e mágoa. Não tomo para mim as dores dos outros, mas é impossível ficar-lhes indiferente. 

Mundo estranho, este. Inventamos tanta coisa, e não inventamos o que mais importa. 

Podemos saltar já para Dezembro?... 

Os devaneios Agridoces mais lidos nos últimos tempos...