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terça-feira, 27 de julho de 2021

Do 1º ano da Isabel...


Um ano de Isabel.

12 meses. Uma volta completa ao Sol. Um ano inteiro. O primeiro de muitos, espera-se. É inevitável não fazer um balanço de tudo o que aconteceu. Foi um primeiro ano atípico, patrocinado pela Covid-19. Não foi nada do que tinha imaginado, e tem sido um longo trabalho fazer esta gestão de expectativas. Foi um ano de mais recolhimento do que gostaria. Foi um ano de isolamento, de falta de apoio, sem aldeia à nossa volta para criar a Isabel.

A Isabel continua igual a si mesma. A distribuir sorrisos e beijinhos. A fazer sucesso na creche. Sempre bem-disposta. Gatinha pela casa fora e não dá descanso ao gato. Ele, por seu lado, já faz questão de se deitar perto dela, quando ela está no chão da sala a brincar. Tolera as palmadas dela com mais paciência do que eu poderia imaginar. Ela continua a adorar comer. É só dizer banana e os olhos dela iluminam-se. Comeu o seu primeiro pêssego à dentada e não se atrapalhou. Diverte-se a chupar o esparguete, já comeu percebes e adora beber água. Fica a olhar para nós quando estamos a comer e em breve vamos ter guerras por causa disso. Não gosta de usar chapéu nem óculos de sol. Voltámos à praia e divertiu-se a encher as mãos de areia, apenas para as esfregar e sacudir a seguir. Não ficou fã da água fria do mar e eu entendo-a. As noites continuam uma incógnita. Já dorme algumas seguidas, mas dorme pouco, e acorda sempre cedo. Continua no limite mínimo de horas de sono para a idade dela. Percebe muitas das palavras que dizemos, mas só diz de forma mais ou menos intencional papá e gato. Mamã aplica-se a tudo, de forma mais ou menos aleatória. O pai ensinou-a a deitar a língua de fora. Teve a sua primeira gastroenterite. Foi ao Oceanário no dia de aniversário e voltámos à Quinta Pedagógica dos Olivais. Adora cerejas e framboesas. Fez a primeira birra para ficar na creche. Aponta para tudo e fala lá na língua dela. Já percebeu que nos derrete e faz as suas gracinhas. Teima em ser ela mesma a lavar os seus dentes. E já tem mais dois a nascer. Está longe de começar a andar e está tudo bem. 12 meses de Isabel. Que venham muitos, muitos, muitos mais.



Nota: a Isabel fez um ano a 25 de Junho. Mas o mês que passou foi estupidamente longo e duro, e, apesar de já ter o texto escrito há algum tempo, faltou a vontade de aqui vir escrever. E teria tanto para dizer!... Talvez um dia.

terça-feira, 25 de maio de 2021

Dos 11 meses da Isabel...


Onze meses de Isabel. 

Onze. Só falta um para os doze. O último mês trouxe a grande novidade de um dos marcos do seu desenvolvimento: já gatinha. Ninguém a pára e acabou-se o sossego. O nosso e o do gato. Que ela continua a adorar. Já foi arranhada, claro. Continua na creche e não houve mais sustos com covid-19. Espalha charme e sorrisos e já tem um clube de fãs. Ainda não perdeu as bochechas, mas já esticou um bocadinho. Adora comer. Sopa, fruta, peixe, carne, legumes, panquecas. O que seja. Dêem-lhe comida e os olhos dela brilham. Consta que começa a guinchar mal vê as cadeiras de refeição na creche. Ainda não fala, mas já procura com o olhar quando lhe perguntamos pela mãe, pelo pai, pelo gato ou pela bola. Gosta de partilhar. Eu peço-lhe para dar a banana à mamã e ela nem hesita em enfiar-ma na boca. E ri-se perdidamente com isso. Continua bem disposta. E boa onda. E simpática. Continuo sem saber a quem sai. Passámos o nosso primeiro fim de semana fora de casa e portou-se lindamente. Não estranhou a cama, não estranhou comer no restaurante, não estranhou nada. É uma santa. Ou não fosse Isabel. Estabilizou nos seis dentes há já umas semanas. Nunca nos deu nenhum susto de saúde. Imita-nos a piscar os olhos e nós rimos perdidamente. Diz adeus. Manda beijinhos. Imita-me a suspirar e ri-se. Também bate palmas. Atira coisas para o chão e fica a olhar para elas, a tentar perceber isso da gravidade. Já não berra desalmadamente na maior parte do tempo das viagens de carro e até já aconteceu adormecer sozinha. Já tem o seu primeiro fato de banho mas ainda não o usou. Já quase percebeu o conceito de dar abraços e derrete corações quando encosta a cabeça no nosso peito. As noites estão incrivelmente melhores. Mesmo quando ela acorda às cinco e meia e entende que não precisa de dormir mais. As sestas continuam de trinta minutos. Tem potencial para ser uma autêntica gralha. Adora o reco reco e foi maravilhoso ver a evolução dela até ela perceber como ele toca. Já é menos careca e não tem o cabelo tão escuro como o da a mãe. Ainda hoje dei comigo a olhar para ela e a perguntar-me como era possível eu ter feito algo tão incrível. 

Onze meses de Isabel. Não é cliché, passa mesmo a voar. 

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Dos 9 meses da Isabel...

 


Nove meses de Isabel.

Nove. Já viveu tantos meses no mundo, como em mim. A partir de agora, será sempre mais do mundo do que minha. Se é que algum dia foi minha. Continua a adorar comer e já provou de tudo um pouco. Morre de medo da Alexa. Distribui sorrisos por onde passa. Já só acorda 1 ou 2 vezes por noite, mas entende que o dia começa às seis e meia da manhã. Continua preguiçosa para gatinhar, mas lá vai rastejando. Já tem 5 dentes, desalinhados e com um buraco entre eles, com um sorriso que, só por si, dá vontade de rir. Continua a rir-se perdidamente quando vê o Snow e já levou a primeira arranhadela. Continuou a rir-se perdidamente depois disso. Gosta de fazer barulho com as mãos, a bater na mesa, nas paredes, onde calhar. Também gosta de bater com os brinquedos uns nos outros, para os ouvir. Quando nos escondemos para fazer "cucu", estica-se toda para ver onde estamos. Fomos a uma pediatra nova e gostámos. Andou a devorar laranjas que trouxemos dos avós. Começou a comer o segundo prato, e comeu tudo, obviamente. Foi visitar os primos e estava deslumbrada, ao olhar para eles, a vê-los tocar piano e a contarem-lhe histórias. Descobriu o iogurte e despacha um em menos de nada. Faz as caretas mais cómicas e eu acumulo centenas e centenas de fotografias. Provou limão e não se queixou. Regressou à creche, apenas para voltar para casa ao fim de 4 dias. Fez a sua primeira viagem de carro sem berrar e até adormeceu sozinha. Ainda olho para ela e me pergunto como é que é possível. Não sei. Nunca saberei.


(com 15 dias de atraso, mas está tudo bem...)

domingo, 7 de março de 2021

Dos pensamentos que me ocupam às cinco da manhã...

Não sei se tenho mais saudades das coisas que a Covid me tirou, se das coisas que a maternidade me tirou. Dadas as circunstâncias actuais, ambas confundem-se e é difícil identificar quais são quais. Pouco importa, na verdade.

Mas tenho saudades. Tenho saudades de restaurantes. De esplanadas. De ficar na praia até ao pôr do sol. De ir à Davvero comer um gelado. De ir a um concerto ou a um espectáculo. Tenho saudades das minhas pessoas. De estarmos juntos só porque sim. De respirarmos o mesmo ar sem medo do que daí pode vir. De nos abraçarmos. Eu, que nem sou de abraços. Porra. Tenho saudades de um abraço. Tenho saudades de tudo ser simples e fácil. De ir a algum lado, ser apenas ir a algum lado. Sem medos, sem paranóias, sem máscaras e sem desinfectantes. Tenho saudades de almoços de horas. De visitas inesperadas. De dias sem planos e sem horários. De dormir até tarde. De dormir, no geral. De me sentir leve e feliz. Tenho saudades da vida que tinha e que sei que nunca voltará. Com ou sem covid. Tenho saudades de correr nos trilhos. Das provas. A dois ou em equipa. Da sensação boa que vinha no final, que fazia esquecer o cansaço e eventuais maleitas. Tenho saudades de viajar. Daquela excitação boa que surgia sempre que entrava num avião, fosse qual fosse o destino. Ou num carro, pouco importa. Tenho saudades de Lagos. Dos percebes. Dos gelados. De Porto de Mós e do Zavial. Da pizzaria debaixo do prédio. Da mini varanda que aqui não temos. Tenho saudades dos pés descalços e dos chinelos. Do não ter pressa. Das caminhadas na marginal e nos passadiços. Tenho saudades de tanta coisa a que antes não dava o valor suficiente. Tanta.

É pena, é mesmo pena, que na maior parte dos casos, só demos valor às coisas quando deixamos de as ter. Seja por culpa da covid, seja por culpa da maternidade. 

Se tudo isto não servir para mais nada, que sirva para que eu aprenda a dar valor às pequenas coisas. 

sábado, 27 de fevereiro de 2021

Dos 8 meses da Isabel...

Oito meses de Isabel.

Dois terços de um ano. Que voaram. Ela está cada vez mais pessoinha. Um bebé, mas pessoinha. Já tem 3 dentes, 2 em baixo e 1 em cima, completamente desalinhado dos outros, o que lhe dá um ar particularmente delicioso. Continua a comer lindamente. Adora manga, abacaxi e kiwi. Mas também descobriu que adora brócolos. Também continua apaixonada pelo gato, e já lhe arrancou umas boas doses de pêlo. Ele, por sua vez, continua a ignorá-la. Fala, fala, fala. E bem alto. E continua a rir-se. Muito. Até a comer, ela se ri muito. Aliás, se há momento em que é evidente que ela é feliz, é quando come. Ou quando o pai lhe faz tropelias e ela dá as maiores gargalhadas. É preguiçosa e está longe de começar a gatinhar. Sai ao pai e já tem uma obsessão por comandos. Dormiu a primeira noite toda seguida. Mas foi, claramente, por engano. Tivemos direito a umas noites a acordar a cada hora ou a cada meia hora. Maravilhoso, portanto. Descobriu as sestas de 20 minutos. Desconfio que esteja farta de estar em casa a aturar-me todo o santo dia. Continua a gostar das nossas caminhadas e faz as suas sestas na Ergobaby. Adora o elefante de peluche que recebeu de presente da empresa do pai e ri-se perdidamente só de o ver. Está extremamente sensível a barulhos estranhos e atira-se para trás a chorar quando isso acontece. Já se magoou, claro. Começa a mostrar os primeiros sinais de vontade própria. Gosta de abanar as maracas e ouvir o seu barulho. Deixou a shantala e começou a tomar banho numa banheira maior. Chorou muito nos primeiros dias, mas já percebeu que tem mais água e espaço para chapinhar. Olha deslumbrada para o mundo e já quer ver e mexer em tudo. Continua bochechuda, mas está a ficar mais comprida. É bem disposta e ri-se muito para as raras pessoas com quem se cruza. Berra desalmadamente quando entende que não quer dormir. Mesmo que sejam duas da manhã. Continua a chuchar no dedo e a recusar a chupeta. Eu sou suspeita, mas acho que está cada dia mais bonita. E eu, cada dia mais derretida.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Do parto da Isabel...

O parto da Isabel não foi nada do que eu queria, sonhara ou idealizara. Em parte, já sabia que assim seria, desde que ficou decidido que seria cesariana. Mas, ainda assim, foi muito diferente do que esperava.

Não consigo dizer que foi o momento mais bonito da minha vida. Se bem que também não consigo dizer qual foi o momento mais bonito da minha vida. O problema está em mim, certamente. 

Quando penso no nascimento de um bebé, no acto de trazer um novo ser humano a este mundo, penso em algo muito carnal, muito animal, muito natural. Penso no regresso aos nossos instintos mais básicos e ao que faz de nós aquilo que somos. Penso na vida a gerar vida. Penso no milagre da natureza. 

Ora, numa cesariana não há nada disso. Uma cesariana é um procedimento cirúrgico. Numa cesariana não há nada de animal, de instinto, de vida a gerar vida. Numa cesariana há alguém inerte deitado numa mesa de operações, há muitos e variados profissionais de saúde em redor, há uma barriga que é cortada e de onde é extraído, contra a sua vontade, um pequeno ser. Não consigo ver grande beleza nisto. O problema está em mim, certamente. 

Achei o procedimento frio. Senti-me meio perdida naquele bloco operatório, até o Pai se ter juntado a mim. Foram minutos que pareceram horas. Tive medo. Senti-me ansiosa. Achei que tudo podia correr mal. Senti-me impotente e inútil, incapaz de trazer a minha filha ao mundo. 

Foi estranho sentir tudo. Sentir o frio do desinfectante a ser esfregado na minha barriga. Não senti o corte, mas senti a pele a ser afastada, a barriga como que esventrada, os movimentos dentro de mim, tudo demasiado real. Sem dor, mas sentindo perfeitamente o que se passava. Foi rápido. Muito rápido. 

Em poucos minutos, o choro da nossa filha. Da nossa Isabel. Nesse momento, já tinham baixado o campo cirúrgico e o Pai pode vê-la vir ao mundo. Eu, só podia ouvi-la. E que bem que ela se fez ouvir! Guardo na memória aqueles primeiros gritos. Vi, depois, as primeiras imagens que o Pai fez questão de captar. A nossa filha no mundo, gritando desalmadamente, mostrando a garra que traz consigo.

Quando ma mostraram, não pude não chorar. No meio de toda aquela estranheza, as lágrimas caíram, ao ver a nossa filha pela primeira vez. Era real. Ela estava ali, junto a nós, a iniciar a sua longa jornada, nesta viagem que é a vida. E nós, ali, a iniciar a nossa longa jornada, nesta viagem que é a parentalidade. 

Senti-me assoberbada por tudo. Custou-me não poder reagir, não lhe poder pegar, mal a conseguir ver. Parecia tudo demasiado surreal e eu continuava a sentir-me mais num procedimento cirúrgico do que naquele que se queria que fosse o momento mais bonito da minha vida. 

Eventualmente, levaram-na. E ele foi com ela. E eu fiquei ali, sozinha e perdida, no meio de estranhos, a ser suturada. Acho que só quando cheguei ao recobro e os reencontrei aos dois, é que respirei de alívio e me caiu a ficha. Só quando ficámos ali os três, em namoro completo, com ela junto a mim, comigo a querer examinar cada centímetro do corpo dela mas sem me conseguir mexer, é que eu percebi o que estava a acontecer. 

Eventualmente, ficámos só as duas. A conhecer-nos. A reconhecer-nos. A cheirarmo-nos mutuamente. A ver ao vivo o que imaginámos durante meses a fio. Não sei quanto a ela, mas eu, o que senti, é que era tudo infinitamente melhor do que eu poderia ter imaginado. 

O parto da Isabel não foi uma experiência bonita, ou memorável, ou o melhor momento da minha vida. Mas o que é que isso importa, com tudo o que virá depois?... 



[Texto escrito a 9 de Julho, duas semanas depois de a Isabel nascer. Não o publiquei na altura, por ter sido escrito a quente. Mas, hoje, o sentimento não melhorou. Sobretudo, porque tenho agora a certeza de que fui sujeita a uma cesariana desnecessariamente. Talvez um dia eu ultrapasse isto. Talvez eu tenha outro filho e o parto que idealizei. Ou talvez não. Mas teremos sempre a terapia, não é verdade? Foquemo-nos na última frase e em tudo o que já veio e o que ainda está para vir.]

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Dos 7 meses da Isabel...

 

Sete meses de Isabel.

Este foi, sem dúvida, o mês em que mais aconteceu. Foi o mês em que a Isabel começou a comer. E que bem que ela come. Também foi o mês em que começou a creche. Apenas para voltar para casa, ao fim de três semanas. Ficou conhecida por ser bem disposta e tagarela. Já se senta muito bem. Já rebola e "desrebola". Apareceram os primeiros dentes e está ainda mais deliciosa. Fica tão feliz com água como com banana, com sopa ou com papas. Continua a rir-se muito. E já estica as mãos para chegar ao gato, que lhe dá umas lambidelas de quando em vez. Começou a dormir no quarto dela, deixando os pais indecisos entre a culpa de a abandonar e o alívio de recuperarem o seu canto. Nasceu para comer, e, toda ela é sorrisos, quando o assunto é comida. Faz umas mini-micro sestas, para desespero de quem está em teletrabalho. Gosta de ver bater palmas e estalar os dedos. Ri-se para si mesma, ao espelho. Gosta de estar à janela. Gosta de cenoura. Continua a levar os pés à boca, sempre que pode. Não gosta da textura dos brócolos e parece ter nojo de lhes tocar. Não tenho termo de comparação, mas ela ri-se mesmo muito, já disse? Gosta quando lemos para ela e gosta de morder os livros. Gosta de morder tudo, na verdade. Continua a falar imenso, seja dia ou noite. Hoje riu-se como nunca, a comer papa de espelta pela primeira vez. Aninha a cabeça no meu ombro e derrete-me ainda mais. Quer explorar tudo, tocar em tudo, agarrar tudo. Já rasteja um bocadinho e foge do tapete de actividades, se não estamos atentos. É uma bebé bem disposta e boa onda. Não sei a quem sai. No meio desta pandemia, estamos a conseguir criar uma bebé sociável e tranquila. Não me perguntem como. Mas, apesar de terrivelmente dura, tem sido uma viagem incrível.

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Da Blue Monday que afinal é Tuesday...

Hoje fui-me um bocadinho abaixo. Só um bocadinho. Mas aquele bocadinho suficiente para ficar de coração apertado e lágrimas nos olhos.

Estou cansada da Covid. Dos casos, dos números, dos medos, das inseguranças.

A Isabel está na sua terceira semana de creche e são muitos os emails que já recebemos a falar sobre o tema. Hoje, recebemos mais um. A creche que escolhemos tem sido irrepreensível na forma como partilha a informação, como nos coloca a par de tudo, como nos tenta sossegar. Mas, hoje, fui-me um bocadinho abaixo. Só um bocadinho.

A nossa miúda passou 6 meses fechada em casa. Foram 6 meses no nosso colo, no nosso ninho, na nossa bolha de protecção. Fechámo-la, isolámo-la, protegemo-la. Talvez tenhamos exagerado. Talvez tenhamos roçado a paranóia. Mas é a nossa filha e só temos esta. Se isso fez com que mal visse a família e os amigos? Fez. Se nos custou? Custou. Mas fizemos o que fez sentido para nós, nestes tempos estranhos que vivemos.

E agora? Agora ela está entregue a estranhos, exposta a riscos, enquanto vivemos a maior pandemia dos tempos modernos. Agora já não está no nosso colo, no nosso ninho, na nossa bolha de protecção. A nossa miúda está na sua terceira semana de creche, mas só hoje é que me caiu a ficha. E custa. Horrores. 

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Dos 6 meses da Isabel...


Seis meses de Isabel.

Meio ano. Uma metade de um ano. Já passou meio ano desde que a Isabel chegou a este mundo, e virou as nossas vidas de cabeça para baixo. Seis meses que voaram, respeitando o cliché que toda a gente nos repetiu até à exaustão: aproveitem, que passa depressa. E passou. Passou tão depressa que ela, não tarda, vai para a creche. Vai ser do Mundo, a minha filha. Vai deixar de ser minha e do Pai, para ser de quem a agarrar. Cresceu tanto nestes 6 meses. A última novidade foi ter conseguido rebolar sozinha. Claro que a gracinha aconteceu enquanto eu estava a trabalhar. Claro. Vai ser sempre assim, não vai? A partir de agora, vou ter de me habituar à ideia de poder perder muito do que acontece na vida dela. Chama-se crescimento, dizem. Independência, autonomia, vida para além da minha. Ela vai crescer e eu nem sempre vou lá estar. Mas vou lá estar sempre, quando ela quiser repetir as gracinhas. O rebolar, o agarrar os pés, os ruídos novos que todas as semanas explora com a boca. Agora aprendeu a imitar um toiro enraivecido. Do alto dos seus seis meses, faz um misto de rosnar com zurrar, e põe um ar de fazer chorar as pedras da calçada... De riso. Continua uma bem disposta. Ri-se que nem uma perdida. Por tudo, e por nada. Ri-se cada vez mais para o gato quando ele passa por ela. Passou aí uma fase muito crítica nas noites, mas parece estar ligeiramente melhor. Resta saber por quanto tempo. Vai começar a comer nos próximos dias. Fez um sucesso tremendo no Natal. Como faz sempre, aliás, nas raras vezes em que está com outras pessoas. É uma bebé Covid. Estranha barulhos e confusões. Mas distribui sorrisos e ninguém lhe resiste. Gostava que ela tivesse estado com mais pessoas este Natal, que tivesse andado em mais colos, em mais casas. Mas um dia vou contar-lhe o quão estranho foi o seu primeiro Natal. Hoje, para celebrar os seis meses, fui dar com ela a chuchar no dedo... Do pé. Acho que ela o fez apenas para calar as más-línguas que dizem que ela é gordinha. Pode ser gordinha, mas agilidade não lhe falta e vá de comer os pés. Outras más-línguas talvez digam que ela passa fome e, por isso, come os pés. Mas, olhando para aquelas bochechas, ninguém acredita. A minha filha faz hoje seis meses. Caramba. Seis meses. E eu que ainda não consigo olhar para mim como mãe. 

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Dos 5 meses da Isabel...

 

Cinco meses de Isabel.

No último mês a grande descoberta da Isabel foram os pés e as pernas. Se antes já não parava quieta com eles, agora passa tempos infinitos com eles no ar. E tenta apanhá-los e agarrá-los. Mudar a fralda tornou-se um desafio muito mais interessante, claro. Quer ver tudo o que a rodeia e distrai-se facilmente, mesmo quando está a comer. Olha para o Snow e ri-se. Ele, continua a ignorá-la, mas já encostou o nariz ao dela. Já quase se aguenta sentada. Tentamos que ela rebole, mas os presuntos que tem no lugar das pernas, não ajudam. Continua a adorar o banho e ri-se quando percebe que a vou levar para ele. Curiosamente, ri-se ainda mais quando a tiramos da água. Também berra, quando lhe dá para isso. E agora tem-lhe dado para isso a meio da noite. Compensa na fofura durante o dia. Toda ela é bochechas e ninguém lhe resiste. Ri-se muito, já disse? É um pequeno génio e já abre a boca e deita a língua de fora quando chega a hora de lhe dar as gotas da Vitamina D. Continua a não gostar da chucha, e nós continuamos a insistir para que ela goste. Continua a portar-se lindamente na Ergobaby. Gosta de passear e de ir de cabeça no ar, a ver o céu, as árvores, os pássaros, e o que quer que seja que lhe apareça à frente. Dizem que é igual a mim, mas eu acho-a demasiado bonita para ser igual a mim. Olha fascinada para a forma como a comida desaparece na nossa boca. Não tarda, está ela a comer também. Cinco meses. Como? Não sei.


(quinze dias de atraso... diz muito sobre os últimos tempos...)

domingo, 8 de novembro de 2020

Dos dias que marcam o mundo...

 


Hoje voltei a correr. 317 dias depois da São Silvestre de Lisboa, onde tinha corrido pela última vez. Pelo meio, uma gravidez, uma cesariana, e um pós-parto chato. 

Foram só quatro quilómetros e feitos a um ritmo miserável, mas souberam-me a uma maratona. Quando hoje comecei a correr, estava em crer que nem um quilómetro seria capaz de fazer, e contava ir alternando corrida e caminhada. Afinal, foram quase 11 meses parada. Fui fazendo caminhadas, fui fazendo algum treino funcional, mas só isso. Quando o primeiro quilómetro acabou, pensei que era giro fazer mais um. E quando o segundo acabou, achei que três eram uma bela conta. Mas depois acabou o terceiro, e já só faltava um para o carro. E foi assim que eu fiz quatro quilómetros. Quatro míseros quilómetros, que me souberam a tanto, que me deram tanto. 

Estava a precisar disto. Muito. Tanto. Durante quase meia hora, sozinha com a minha música e o rio como pano de fundo, eu voltei a ser eu. Eu deixei de ser só a mãe da Isabel, e voltei a ser a Inês. Eu não pensei em nada. Eu pensei na passada, na respiração, na música que me inspirava, nas dores boas que voltaram a surgir. Quando cheguei ao fim, estava cansada, mas sentia-me incrivelmente bem e orgulhosa de mim mesma. Superei-me. E já não me lembrava da última vez em que isso tinha acontecido. 

Agora é não parar. 

domingo, 25 de outubro de 2020

Dos 4 meses da Isabel...


Quatro meses de Isabel.

Quatro meses de descoberta, de crescimento, de deslumbramento. Os avanços são, nesta fase, gigantes. A nossa mini-pessoinha está cada vez mais crescida. Já dá gargalhadas, e derrete-nos completamente. Continua tagarela. Cada vez mais. Aprendeu a guinchar e usa e abusa da sua voz para chamar a atenção. Continua a não gostar da chucha. Decidiu deixar de gostar de andar de carro, e berra desalmadamente. Faz mini-micro sestas. Todas as noites me brinda com um jogo incrível: nunca saber quantas horas vou conseguir dormir, porque as noites dela são, ainda, completamente aleatórias. Adora a girafa Sophie, que rói com afinco. Está cada vez mais desperta para o mundo que a rodeia. Já percebeu que o Snow existe e já olha para ele. Ele continua a desprezá-la, excepção feita a uma ou outra cheiradela. Ponho-a a ouvir muita música, e gosto, sobretudo, de a pôr a ouvir coisas como Patrick Watson e The National, apenas para lhe dizer que os ouviu ao vivo quando ainda estava na barriga da mãe. Sobrevive, sabe deus como, a ouvir-me cantar para ela. Adormeço-a a cantar-lhe Silence 4 e Jeff Buckley. Danço com e para ela. Encho-a de beijos e ela enche-me de baba. Continua a chuchar no dedo. Não é por ser minha filha, mas está cada dia mais bonita. A nossa gordinha. Que nos arrebatou. Definitivamente.

terça-feira, 1 de setembro de 2020

Das fotografias que dão alegria... - Day 245


Há quem fale em Setembro como um mês de recomeços, de regresso à rotina, à vida, à escola, ao trabalho. 

Para a Isabel, este Setembro é um mês de estreias. Hoje foi dia de se estrear na praia.

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Dos 2 meses da Isabel...

 


Dois meses de Isabel. 

Está enorme. A diferença nas últimas semanas é abismal. Sai à sua mãe no gosto por comer. Não sai à sua mãe no gosto por dormir. Ri-se muito. Porque fazemos palhaçadas, porque acabou de comer, ou só porque sim. Sorri muitas vezes antes de adormecer e eu gosto de acreditar que ela é feliz. Acumula toneladas de cotão no seu triplo queixo. Suja mais roupa num dia do que eu numa semana. Faz muitos e variados barulhinhos, e o Pai chama-lhe Gremlin. Já se aguenta melhor na espreguiçadeira. Não se aguenta tanto no tapete de actividades. Gosta de tomar o seu banho relaxante na shantala. Não gosta de chucha. Dizem que é igual a mim quando eu tinha esta idade. Gosta de conversar. Sobretudo, sozinha. Gosta de passear. 

Dois meses de Isabel. 

Dois meses do maior desafio da minha vida. Dois meses da minha vida virada do avesso. Dois meses de um novo papel, no qual ainda não me reconheço. Dois meses de altos e baixos. Dois meses de aprendizagens e descobertas. Dois meses de medos e deslumbramentos. Dois meses de dúvidas e certezas. 

Dois meses de Isabel. 

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Da Gravidez... - XV (ou do dia em que eu soube que ia fazer uma cesariana...)

Corria o longínquo dia de 2 de Junho de 2020 quando, depois de mais uma CTG, a minha obstetra me disse, definitivamente, que a Isabel iria nascer de cesariana.

E eu tive, mais uma vez, a confirmação daquilo que já vinha a descobrir nos últimos meses na gravidez: nada é como tínhamos imaginado. Podemos ler, fazer cursos, sonhar, planear, tudo e mais alguma coisa. Mas a maioria das coisas fogem do nosso controlo, e resta-nos aceitar.

Lembro-me de me ter sentido particularmente inútil. Eu não servia para trazer a minha filha ao mundo. Dramático, eu sei. Exagerado, eu sei. Mas foi o que senti naquele momento.

A opção da obstetra pela cesariana era discutível e, apesar de ela já ter falado nisso uns meses antes, eu achei que era apenas uma possibilidade e que continuaria a haver a hipótese de se tentar um parto natural. Naquele dia, eu percebi que não. E fiquei sem chão.

Questionei tudo. Questionei-me a mim. Muito. Falei com várias pessoas e pedi várias opiniões, que se dividiam.

Eu não queria fazer uma cesariana. E não era um mero capricho meu de quem acredita em fadas e unicórnios. Eu não queria fazer uma cesariana porque eu não tinha a certeza de que a cesariana fosse a única opção, ainda que a minha obstetra achasse que era a melhor opção, para minha segurança e da bebé.

Mas a opinião da minha obstetra não era consensual, não era completamente objectiva, não era a única. E, com 36 semanas de gravidez (quase 37), eu só tinha duas opções: aceitar o que a obstetra dizia e queria fazer, ou mudar de obstetra (o que implicava mudar também de sítio onde a bebé ia nascer). Ainda consegui que uma amiga falasse com uma obstetra que seria uma hipótese para mim, e que achava que não era linear que eu fizesse uma cesariana, mas que não estava a aceitar novas grávidas. 

Foram tempos confusos em que, na verdade, não tinha muito tempo para uma decisão. Se, por um lado, uma parte de mim achava que eu devia ir à procura de outro obstetra que me desse uma hipótese, uma parte de mim já estava contaminada pelo grilo falante que iria estar sempre a perguntar-me se insistir num parto normal não seria um erro e se não estaria a pôr em causa a minha segurança e a da bebé. Conhecendo-me, eu sabia que mesmo que mudasse de obstetra, iria ter sempre aquela dúvida de saber quem é que teria razão e do que seria realmente melhor no meu caso. Até podia ter avançado para um parto normal, mas era provável que passasse o tempo todo com medo de uma eventual complicação (que podia ser muito complicada). Ou então não, e eu podia ter tido um parto natural espectacular. 

Nunca vou saber. Na altura, decidi manter-me com aquela obstetra. Hoje? Arrependo-me profundamente. Já aceitei e já quase me perdoei. Sei que tomei a decisão que me fez sentido na altura, com a informação que tinha. Também sei que me faltou alguma força e coragem, mas, às 36 semanas de gravidez, eu tive medo de bater o pé e pôr em risco a bebé. Também sei que não seria fácil arranjar novo obstetra naquela fase da gravidez. E sei que nunca me perdoaria se alguma coisa tivesse corrido mal, porque eu tinha mudado de obstetra de repente. Na altura, mesmo sabendo que talvez a opção pela cesariana não fosse a melhor, eu decidi como me fez sentido. Agora, já não há nada a fazer em relação a isso. No futuro, já sei quem será a minha nova obstetra.

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Da Gravidez... - XIV (ou do meu primeiro breakdown... e de todos os outros...)

Uma das coisas boas da gravidez, é que podemos culpar as hormonas por 99% das coisas que nos acontecem. Têm as costas muito largas, as pobres hormonas.

Curiosamente, eu não me senti muito "hormonal". Bom, talvez alguém cá em casa discorde. Mas foi o que eu achei.

Claro que tive os meus momentos e as minhas crises. Claro que chorei pelas coisas mais tolas e me emocionei por coisas que antes talvez ignorasse. Mas podia sempre culpar as hormonas, e estava tudo bem.

Culpa das hormonas, ou não, lembro-me perfeitamente do meu primeiro breakdown a sério. De repente, já não sei a propósito de quê, eu dei comigo na casa de banho a chorar convulsivamente. De repente, eu pus tudo em causa.

Naquele momento, eu perguntei-me se seria capaz de ser mãe, se estaria à altura do desafio, se teria nascido para ser mãe, se não seria tudo um grande erro. Chorei, chorei, chorei. Depois enfiei-me na banheira, chorei, chorei, chorei, e, eventualmente, passou. Podia sempre culpar as hormonas.

Mas culpa das hormonas, ou não, ao longo da gravidez fui tendo diversos momentos de dúvidas e medos.

O meu principal medo? Aquele que mais me assaltou, que mais me tirou o sono, que mais me fez chorar? O mais óbvio: serei eu capaz de ser melhor mãe do que a minha mãe foi para mim? Se, por um lado, a resposta parece evidente: não é difícil ser melhor mãe do que ela foi. Por outro lado, é difícil eu conseguir acreditar que posso ser melhor mãe, quando não tenho grandes referências ou exemplos. Houve muitos momentos em que eu me questionei se seria capaz de, não tendo tido uma boa mãe, ser uma boa mãe.

Ainda me faltam muitos anos de terapia para resolver e arrumar de vez aquilo que foi a minha relação com a minha mãe. Com ela morta, a coisa fica ainda mais difícil. Mas um dia eu hei-de lá chegar. Enquanto não chego, é inevitável que isso condicione a minha experiência enquanto mãe. Claro que, de forma muito racional, eu sei perfeitamente o impacto que isso pode ter e uso todas as estratégias possíveis para que isso não me influencie negativamente. Posso não ter as coisas bem resolvidas, mas tenho consciência delas e, lá está, sendo muito racional, sei perfeitamente que posso fazer diferente. Muito diferente. O problema são aqueles momentos em que eu não consigo ser muito racional, e em que eu me vejo condenada ao fracasso, incapaz de ser uma boa mãe para a Isabel. São poucos esses momentos, são cada vez menos, mas, de quando em vez, ainda me assaltam os pensamentos.

Para além de todos os grandes desafios que a maternidade nos traz, para mim, trouxe este muito difícil: o obrigar-me a olhar para mim, para a relação que tive com a minha mãe, para o que fui enquanto filha e o que (não) quero ser enquanto mãe. E tem sido uma luta monstruosa!...

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Do nosso nível de (in)sanidade...

Ontem à noite, estávamos os dois no sofá (nos 35 minutos que conseguimos que a Isabel dormisse depois de jantar), quando ele me mostra o telemóvel com a seguinte imagem, e me diz que devíamos comprar isto para o quarto da bebé:
Eu olhei para o telemóvel, olhei para ele, voltei a olhar para o telemóvel, balbuciei qualquer coisa incompreensível, e, ao fim de vinte segundos, peguei no meu telemóvel e fui ver o meu email. Quando o meu cérebro voltou a funcionar, consegui dizer-lhe: "Mas nós já encomendámos isso. Deve chegar até ao final desta semana."

Não só ele não se lembrava (mas sabia...), como eu própria, que fiz a encomenda, já estava na dúvida e tive de ir confirmar.

A privação de sono faz coisas maravilhosas ao nosso pequeno cérebro!



A quem possa interessar, é da Vertbaudet, mas eles não me pagam pela publicidade, por isso, fica aqui escondido em letras muito pequeninas!

domingo, 2 de agosto de 2020

Das fotografias que dão alegria... - Day 215


Esta manhã ele foi correr e eu resolvi ir estrear a Ergobaby com a miúda, numa voltinha aqui pelo bairro. 

Primeira caminhada a duas, em modo canguru, para apanhar sol, queimar calorias, espairecer e esquecer a noite de ontem (não necessariamente por esta ordem de prioridades). 

Que venha a próxima! 

sexta-feira, 31 de julho de 2020

Da Gravidez... - XIII (ou da forma como toda a gente te diz que te deves sentir, que nem sempre corresponde à forma como te sentes...)

O tema da maternidade está, todo ele, envolto em muitas e variadas opiniões, que são, muitas vezes, extremadas e radicais. Isso, só por si, já me cansa. Pior ainda quando, na maior parte dos casos, as minhas opiniões não condizem com as da maioria.

Comecemos pelo princípio. 

Para a larga maioria das mulheres, ser mãe é algo relativamente óbvio e natural. Para algumas, é mesmo algo com que sonham desde crianças. Para umas e outras, é algo que faz parte dos planos, do caminho natural da vida, dos passos que pretendem ir dando e dos objectivos que querem alcançar. Não conseguem sequer conceber a vida sem filhos. E está tudo bem.

Depois, há as outras. As que não querem ter filhos. As que não se imaginam com filhos. As que acham que também pode haver vida sem filhos. E já não está tudo assim tão bem.

Eu fiz parte do segundo grupo durante muitos anos. Nunca me imaginei como mãe, nunca pensei que as crianças fossem o melhor do mundo, nunca me derreti particularmente com bebés, nunca me senti "mãezinha", nunca achei que me faltasse essa peça na minha vida para ser feliz. Mas quis a vida que, um dia, eu mudasse de opinião, e eu passei a querer ter filhos. Mas essa foi a única coisa que mudou. Não baixou em mim todo um instinto maternal, nem passei a adorar criancinhas de um momento para o outro, ainda que possa vir a achar que a minha criança é o melhor do mundo (mas só a minha, sorry!).

Eu sou uma pessoa (relativamente) racional. Pouco emocional e fria, até, em algumas coisas. Calhou (ou não calhou porque fui eu que escolhi assim) ter ao meu lado uma pessoa igual ou ainda pior do que eu. Não era por acaso que, nos inícios da relação, eu lhe chamava cubo de gelo. Somos os dois assim, e está tudo bem.

Daí que, ao longo de toda a gravidez, eu tivesse dificuldade em lidar com perguntas como "estão super felizes?", ou afirmações como "aproveita a gravidez que é uma experiência única e vais ter saudades", ou ainda "ser mãe é a melhor coisa do mundo". Também é comum vermos e ouvirmos relatos de quem diz que amou os seus filhos desde o momento em que soube que estava à espera deles, num amor gigante e crescente. E eu, confesso, senti-me meio alien por não ter sentido isso. Na nossa racionalidade, a verdade é que acho que sentimos os dois dificuldade em criar relação com um ser que não víamos e que ainda não era bem real para nós. Até ao momento em que a Isabel nasceu, eu tive dificuldade em acreditar que ela era mesmo real, e tive dificuldade em sentir esse amor de que toda a gente me falava.

Também tive dificuldade em adorar a gravidez, mas já falámos sobre isso.

Agora, que a Isabel nasceu, eu continuo a sentir-me alien, por continuar a não me identificar com muitas das coisas que oiço e leio por aí. Não devia, mas fico a questionar-me se haverá algo de errado em mim, se não nasci mesmo para ser mãe, se terei algum defeito. Talvez daqui a uns anos se venha a descobrir que sim, que tenho, e já fica aqui o registo da minha consciência do facto.

Nestas 5 semanas (fez ontem!), eu já me afastei da Isabel algumas vezes. Três, se não estou em erro. Todas para ir ao médico e cerca de 2 horas de cada vez. Em momento algum eu me senti culpada ou preocupada. Não me custou, não fiquei a sofrer, não morri de saudades. A Isabel estava com a pessoa que, a par de mim, melhor pode cuidar dela. E eu não vi qualquer razão para estar preocupada. Mas fiquei preocupada por não ficar preocupada. O que é só parvo, mas é o que toda a pressão em torno deste tema me faz sentir.

Hei-de voltar a falar nisto, noutra perspectiva, mas confesso que é algo que me preocupa: não estar a sentir a maternidade como a generalidade das pessoas a sentem.

Também já me perguntaram coisas como "estás a adorar ser mãe?" ou "apaixonaste-te pela tua filha assim que a viste"?. E eu fico sempre na dúvida se dou a resposta verdadeira, ou a resposta politicamente correcta. 

No caso da primeira pergunta, depende da hora a que me perguntarem. Neste momento, em que tenho a Isabel envolta no pano, em pele com pele, encostada ao meu peito, sem chorar há uma hora, e lhe vou dando beijos na testa enquanto escrevo este post, sim, estou a adorar ser mãe. Se me perguntarem às duas da manhã, quando ela berra desalmadamente, quando nada a acalma, e quando ninguém neste prédio dorme, talvez eu responda que não estou a adorar assim tanto. 

No caso da segunda pergunta, não, não me apaixonei pela Isabel assim que a vi. Peço desculpa por isso, mas a verdade é que não acredito em amor à primeira vista (desculpem, não resisti!). A seu tempo, hei-de pôr aqui o texto sobre o nascimento dela, o que poderá ajudar a explicar isto.

No fim do dia, estou a adaptar-me a esta nova condição da minha vida, a esta nova realidade, a este novo ser que me desafia e apaixona em medidas (quase) iguais. E está tudo bem.

terça-feira, 28 de julho de 2020

Da Gravidez... - XI (ou do enxoval...)

Uma pessoa pensa que ter um filho, é só ter um filho. Não é, Senhores. Há todo um mundo que gira à volta disto de trazer um pequeno ser ao mundo.

Eu, pessoa precavida, investiguei sobre o tema, fiz um excel xpto que partilhei com ele, fiz toda uma listagem e levantamento do que íamos precisar, e íamos registando o que já tínhamos, o que faltava comprar, comparávamos preços, líamos artigos e reviews.

Isto é mesmo um mundo. Ou então não, que uma criança precisa de muito pouco, e nós é que gostamos de complicar. Quem sabe?!...

Comecemos pela roupa. Não há respostas objectivas sobre a quantidade de roupa de que um recém-nascido vai precisar. Cada pessoa diz uma coisa e não há um consenso. Eu achei por bem não comprar demasiada coisa, porque ela podia nascer maior ou mais pequena, porque era Verão, porque logo se via, porque seria para usar pouco tempo... Claro. Nos primeiros dias sujou muito mais roupa do que eu estava à espera, e lá foi preciso pedir um reforço de emergência. Ninguém me tinha dito que havia uma elevada probabilidade de ela precisar de várias mudas de roupa num só dia. Aliás, no dia em que escrevo este post, já ela tem um mês, e em menos de 24 horas, já vai em 4 mudas de roupa. Ninguém me preparou para isto, e eram 5 da manhã e estava eu a fazer mais uma encomenda de roupa (mal sabia eu que, horas depois, ela me estaria a vomitar em cima e a mudar de roupa outra vez)... Também nisto, a Covid-19 nos condicionou: a generalidade das pessoas tem tendência a oferecer conjuntinhos fofinhos e amorosos mas, dado que mal saímos de casa, não lhes temos dado grande uso. A necessidade passa mesmo pelos básicos, que é o que ela veste na maior parte do tempo.

Também ninguém me preparou para o tédio que seria estar horas a cortar mini etiquetas de mini roupas nem outras tantas horas a estender e a passar as mini roupas. São amorosas, mas são uma canseira!...

Além da roupa, passámos pela escolha do berço, do carrinho, do ovo, da espreguiçadeira, do intercomunicador, da banheira, e de mais 137 mil coisas que fico cansada só de pensar...

Para nós, havia duas coisas importantes: o ovo, fundamental do ponto de vista da segurança, e o carrinho, que queríamos que fosse assim mais xpto para grandes passeios e eventuais corridas.

Diria que o carrinho foi, provavelmente, aquilo em que perdemos um bocadinho mais a cabeça. Vimos várias opções de carrinhos de corrida, sempre online (obrigada, Covid-19!), das marcas mais reconhecidas: Thule, Baby Jogger, Bob Revolution, etc. Estes carros pensados para correr são caros. Bem mais caros do que os carros normais... Mas queríamos mesmo um modelo de 3 rodas, com mais suspensão, pneus xpto, mais confortável, e mais umas quantas coisas, que permitissem aventuras maiores do que a voltinha pelo quarteirão ou pelo centro comercial. Acabámos por ir para uma solução intermédia, o B-Motion 3 Plus da Britax Römer, que, não sendo específica para correr, tem todas as características que procurávamos e que está feito também para correr (em modo jogging, pelo menos...). A verdade é que não sabemos se vamos usá-lo assim tanto para correr, até porque as opiniões dividem-se mas nunca seria para usar antes dos 6/9 meses, e tínhamos excelentes opiniões sobre a marca, pelo que achámos que era a opção sensata. Já o testámos em Monsanto e portou-se lindamente!

Também perdemos um bocadinho a cabeça no berço, e optámos pelo famoso Next 2 Me, da Chicco. Até agora, estamos muito satisfeitos com a compra! É, de facto, muito prático, apesar da ginástica que me obriga a fazer sempre que entro e saio da cama... Mas tolera-se. Se é um bem essencial? Não é, de todo. E hoje talvez tivéssemos optado por outra solução, mas acho que a Covid-19 e o facto de não podermos andar nas lojas a ver e experimentar tudo, acabou por condicionar algumas decisões.

Como em tudo na vida, há um sem fim de opções no que diz respeito aos artigos de puericultura. O marketing é agressivo e ficamos sempre com o nosso inconsciente a perguntar-nos "será que estou a comprar o melhor para o meu filho?". Porque, em princípio, todos queremos o melhor para os nossos filhos, e a pressão é muita, nesse sentido. Há coisas em que conseguimos ser mais racionais, noutras, nem tanto. E está tudo bem. Não somos melhores nem piores pais por comprarmos isto ou aquilo. Mesmo que nos queiram fazer sentir assim. O melhor que lhes podemos dar é colo e amor e, isso, não se compra.

Os devaneios Agridoces mais lidos nos últimos tempos...