Não é exagero dizer que há, pelo menos, 20 anos que eu não tenho uma relação particularmente saudável com o meu corpo. Já houve momentos melhores e momentos (muito) piores. Já houve alturas em que eu não suportava olhar-me ao espelho, e já houve alturas em que eu até conseguia gostar do que via.
Naturalmente, a gravidez e as inevitáveis alterações que provoca no corpo de qualquer mulher, voltaram a trazer este tema à baila.
Houve vários momentos em que tive dificuldade em lidar com a imagem que via ao espelho e com os números na balança, e fui passando por várias fases ao longo dos meses.
Tinha para mim que não queria engordar muito na gravidez, que me queria manter activa, controlar o peso e manter-me relativamente elegante (para uma pequena lontra, entenda-se).
Nos primeiros tempos, e por causa dos enjoos, cheguei mesmo a perder peso. E percebi que não podia continuar assim... De todas as alturas da vida em que eu podia estar preocupada com dietas, a gravidez não devia ser uma delas. E comecei a obrigar-me a comer, tentando contrariar os enjoos e a falta de apetite.
Depois veio o Natal e a passagem de ano (fomos tão felizes em Lagos!), depois veio o deixar de correr, vieram jantares e almoços, veio Berlim, os meus anos e o confinamento... E eu fui engordando. E o meu corpo foi crescendo. E os números na balança foram aumentando.
| Com 5 meses, quando levei suspiros cor de rosa para o escritório, para anunciar que vinha uma menina a caminho. |
A juntar a isto, uma opinião externa a criticar o quanto eu já tinha engordado e eu a sentir-me um pequeno cachalote. Pessoas, não se comenta o peso dos outros, muito menos de uma grávida! Vá lá... Não é assim tão difícil. Na altura, por mil e um motivos, isso mexeu demasiado comigo. Feliz ou infelizmente, coincidiu com a época em que eu tive indicação para começar a fazer as minhas caminhadas. Entre o regresso à actividade física, e a neura por me acharem gorda, a verdade é que o meu peso estabilizou e pouco engordei nos últimos meses.
| Também me dediquei aos treinos de força em casa. Aqui, com quase 7 meses. |
Foi difícil para mim ver o meu corpo mudar. Ver a barriga crescer, as ancas e o rabo (ainda) maiores, a perda de mobilidade, a incapacidade de fazer uma série de coisas. Desde cedo, fiquei meio em choque quando me faltava o ar ao subir dois lanços de escadas. Como é que eu já tinha feito duas maratonas, e agora ficava cansada com as escadas do metro?... Foi uma luta para mim ir aceitando as minhas crescentes limitações, com o passar do tempo. Uma parte do meu cérebro deve ter achado que eu engravidava mas que ia continuar tudo igual, a fazer na mesma tudo o que já fazia antes, como se nada se passasse. O meu corpo fez o favor de, rapidamente e sem margem para dúvidas, me mostrar que não ia ser assim.
| Com quase 8 meses. |
Foram meses de adaptação a esta nova realidade, de sentimentos estranhos e confusos, de alguma frustração e de muito espanto. Tanto dava por mim a olhar para o espelho e a sentir-me disforme, como dava por mim a olhar para o espelho e a sentir-me maravilhada com a minha barriga gigante, casulo da nossa filha.
Agora, precisamente duas semanas depois do parto, continuo com dificuldade em ver-me ao espelho. Se antes procurava consolo na ideia de carregar em mim uma nova vida que viria a este mundo, agora não há consolo possível que advenha destes quilos a mais aqui instalados. Já perdi 8 quilos, faltam 5,5. E eu conto os dias para poder voltar a treinar...