Sexta-feira era o nosso último dia útil em Chamonix, dado que no Sábado tínhamos de ir para Géneve pela hora de almoço.
Sexta-feira era também o dia do pós-prova dele, pelo que queríamos um dia relativamente calmo, só mesmo para acabar de aproveitar o que ainda não tínhamos visitado.
Começámos o dia a tomar um pequeno-almoço numa padaria perto da casa da Heidi, por onde costumávamos passar e víamos sempre cheia. Rapidamente percebemos o motivo.
De barriga (bem) cheia, fomos até Saint Gervais (nos 850 metros de altitude), onde íamos apanhar o Tramway du Mont-Blanc, para fazer o seu trajecto na quase totalidade, já que na terça-feira tínhamos feito apenas uma muito pequena parte entre o Col de Voza e Bellevue. Agora, iríamos até ao Nid d'Aigle, nos 2380 metros.
Mas é incrivelmente bonito! Vamos por ali acima, vamos vendo o vale cada vez mais pequeno lá em baixo, e à nossa volta as paisagens são incríveis!
Lá de cima saem, como sempre, muitos e variados trilhos, que devem ser incríveis, mas que terão de ficar para uma próxima oportunidade... Há um trilho que desce junto ao Glacier de Bionnassay (aquele que vêem atrás de mim na foto acima), que deve ser verdadeiramente espectacular! Ficou na lista, para ser feito um dia...
Depois de uma volta para ver as vistas, voltámos a apanhar o tram para descer tudo outra vez.
Fomos em direcção a Chamonix, onde fomos almoçar a um sítio absolutamente decadente: o Cool Cats, um sítio muito trendy, de cachorros quentes artesanais, com mil opções, cada uma mais gordurosa do que a anterior...
Eu optei por um com salsicha vegetariana e... Ovo estrelado! Nunca tinha visto, muito menos comido, um cachorro quente com ovo estrelado. Mas, afinal, é possível!
Depois disto, restava-nos o último passeio: queríamos subir o teleférico até Planpraz (nos 2000 metros), e aí apanhar outro que nos levaria até Brévent (nos 2525 metros). Esta subida era do lado do Grand Balcon Sud, do mesmo lado onde tínhamos andado Domingo, e de onde teríamos vista para o Mont-Blanc e o Aiguille du Midi. Teríamos... Se o tempo o permitisse.
A subida até Planpraz foi tolerável, mas meio assustadora... O facto de o tempo não estar grande coisa, não ajudava, mas vimos muitos loucos a subir pelos trilhos a pé, mesmo por debaixo do teleférico, numa subida terrivelmente inclinada.
Subimos até Brévent, de onde a vista para o vale era incrível, e começámos a ver o tempo a piorar cada vez mais. O Mont-Blanc estava tapado, e tínhamos a clara sensação de estar no meio das nuvens, que parecia que estavam mesmo ali ao nosso lado...
Alguém andou todo o dia a passear o seu boné de finisher do OCC...
Não cheguei a perceber bem porquê, mas em Brévent senti-me verdadeiramente desconfortável. Estávamos numa altitude bastante elevada, com grandes escarpas à nossa volta, eu não me sentia segura, o tempo estava cada vez pior, e à minha volta só via dezenas de corvos. A sério. Eu só me lembrava do filme do Hitchcock. Estava mesmo a sentir-me mal e acabámos por não ficar lá muito tempo.
Nas duas imagens anteriores, uma fotografia de um mapa que lá estava e a fotografia real do que se via dali, dá para perceber bem o caminho que tínhamos feito na segunda-feira, do Plan de l'Aiguille até Montenvers e ao Mer de Glace, no Grand Balcon Nord.
Foi giro ver o outro lado do vale, que foi, mas eu só queria mesmo sair dali. Apanhámos o teleférico até Planpraz, e depois o outro teleférico até lá abaixo, e durante esse percurso começou a chover imenso e começaram também trovões... Mal saímos do teleférico, abrigámo-nos debaixo de um telheiro, porque estava a chover mesmo muito. Poucos minutos depois, pararam o teleférico. Pararam-no, simplesmente. Com pessoas lá dentro! Eu só imaginava o que seria se tivéssemos apanhado o teleférico uns minutos mais tarde e o tivessem parado connosco lá dentro, no meio de chuva e trovões... A sério. Eu não nasci para estas coisas!...
Eventualmente, a chuva acalmou, e fomos em direcção a Chamonix, porque queríamos assistir à partida do UTMB.
Que mar de gente! Que emoção! Que loucura! Tanta gente, de tantos países, com tantos objectivos e sonhos diferentes... Em Chamonix só se respirava UTMB. Em toda a parte atletas, apoiantes, habitantes e visitantes, toda a gente focada no início da prova. Quisemos encontrar um sítio para assistirmos ao início da prova, e nem isso foi fácil. As ruas estavam completamente cheias de gente! Eram corredores infinitos de pessoas a bater palmas e a gritar palavras de incentivo. Nunca tinha visto nada assim!
Foi muito bom assistir a esta partida, bater palmas a todos aqueles heróis, e ficar ali a torcer por eles, para que pudessem chegar ao fim daqueles 171km.
Saímos de Chamonix de coração cheio, com um pequeno abastecimento de macarons, e voltámos à casa da Heidi.
Neste dia jantámos com a minha amiga porto-riquenha e a sua filha (que também foi finisher do OCC!), e acabámos por ficar horas na conversa, até sermos (literalmente) expulsos do restaurante. É incrível como a corrida nos aproxima de pessoas da outra ponta do mundo, e podemos estar horas a trocar experiências de provas, de vida, de viagens... Ficou o convite para virem a Portugal, quiçá, participar em alguma das nossas provas!
Fomos dormir, já bem tarde, e já com saudades de Chamonix...