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segunda-feira, 24 de março de 2008

Economia-Mundo: Recessão épica ou desregulação feérica?

(...) assistimos à criação em todos os sectores de redes de influência ou de sociedades secretas. Isso não é senão um produto natural do movimento de concentração do Capital, da produção e da distribuição. O que, neste complexo, não se desenvolve, tem que se extinguir; e nenhuma empresa consegue crescer se não adoptar os valores, as técnicas e os meios usados hoje pela indústria, o espectáculo e o Estado. Isso é, em última análise, a forma de desenvolvimento sui-generis que foi escolhida pela Economia actual, que impõe em todo o lado a formação de novos laços pessoais de dependência e de protecção”. In « Commentaires sur la société du Spectacle », por Guy Debord.

Estamos todos a assistir a uma abracadabrantesca crise do sistema financeiro norte-americano, nas últimas semanas. A chave do sistema - a desregulação e a supremacia do mercado - abrem brechas e mesmo o staff de GW Bush multiplica os ziguezagues para só muito poucos perceberem que o Estado tem que financiar as ribombantes (cada dia é um mundo, como dizem os economistas do Financial Times) perdas do sector financeiro, especialmente as ligadas com o surreal (e indescritível) sistema de empréstimos sem caução de espécie alguma, em especial para o sector imobiliário. A incerteza da perspectiva que moldou a teoria económica de J:M Keynes, a anteceder a Grande Depressão, parece estar de volta. Mas agora com novos processos de engenharia financeira e de política monetária, que só uma elite pode condicionar e manipular.

Como o escreve Edmund Phelps, Nobel de 2006 da Economia,, os riscos de gestão do crédito sem rede eram inverosímeis e inescapáveis, ao mesmo tempo…E vai direito à sua tese principal, defendida há uma semana atrás nas colunas do WS. Journal: “All the risks in economy, it was claimed, are driven by pureliy random (azar,chance…) shocks - like coin throws – subject to known probabilities, and not by innovations whose uncertain effects cannot be predicted “. A que se soma aquela ideia peregrina da política monetária que tenta equilibrar, num mundo opaco e já sem defesas contra a especulação, o nível médio das taxas de juro acoplado com a média do desemprego e da inflação. Coisas que geram, oscilam e são incertas: a quadratura do círculo, onde a boa prestação da economia real se torna capital, claro. E os grandes indicadores da economia USA, por exemplo, entraram no vermelho em Novembro passado. É o carrossel do poço da morte!

Paul Samuelson, o venerando e mítico deão do MIT, publicou dois artigos capitais no NY Times, em Novembro passado e no corrente mês. O primeiro tinha por título,” Nova Crise, controlar a liberdade do Mercado”; o segundo, de 19 do corrente, tinha por antetítulo,” Décadas perdidas”, e “ Repelir um demasiado longo colapso”. Samuelson assinala que, mesmo a heróica plêiade de economistas nipónica, ainda não conseguiu jugular os efeitos inflacionistas negativos gerados pela estagflação do estertor da “ bolha “ do mercado imobiliário dos anos 80…O que vale, do mal, o menos, é que a crise financeira parece confinada aos EUA e alguns sectores bancários da União Europeia, que fazem tudo para refinanciar e organizar o sector em perigo. Qual bola de neve, que pode esconder a responsabilidade das elites que nos governam. O que se verifica, acima de tudo, é que os países com grandes almofadas de divisas e funcionais sistemas bancários, bem como com pujantes sectores virados para a exportação, parecem estar imunes a esta real ameaça de contaminação económica e financeira. A curto ou a médio prazo, toda a política económica mundial terá que ser reavaliada para confinar a incerteza inerente ao mega-mundo.

FAR