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quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A família Guebuza

Guebuza family has finger in every pie
After he became President at the beginning of 2005 Armando Guebuza, did not stop developing his portfolio of investments. Better still, he and his family have since then expanded their business network via various companies in which they own stakes. The firm Moçambique Gestores (MG), of which the President is one of the shareholders, is present in the Maputo Port Development Company (MPDC) which runs the capital's port. Meanwhile Guebuza's family
company Focus 21 owns a stake in the navigation company Navique, is a partner in the South African energy company Sasol and is involved in the bank BMI. Furthermore, the President is also a shareholder in the mobile telephone company Vodacom via his stake in Intelec Holdings. He can also be found in Moçambique Capitais, a firm which has just launched the Moza Banco in
partnership with Geocapital owned by the Macao magnate Stanley Ho.
Guebuza's new partners. Intelec Holdings, the company chaired by the head of the Confederaçao das Associaçoes Economicas (CTA, employers' association), Salimo Amad Abdula, is to go into exploring for chalk and other ore with the aim of opening a cement works. To this end, it is participating in the creation at the beginning of May in Elephant Cement Moçambique Lda (ECM) with a 15% stake. The leading shareholder in ECM, with 85%, is Shree Cement Ltd, an Indian cement manufacturer represented in this transaction by its financial director, Ashok Bhandari. Intelec Holdings has at the same time launched into another project. Represented by its general manager Tomas Arone Monjane, it has founded a consulting and expertise company called Intelec Business Advisory & Consulting Lda (Intelec B.A.C) jointly with a Mozambican resident in Cape Town (South Africa), Tania Romana Matsinhe (the company's CEO, with a 35% stake), Catarina Mario Dimande from Maputo (12.5%) and Armando Ndambi Guebuza (12.5%).
The latter is none other than one of President Geubuza's sons who has studied in South Africa. Intelec BAC will carry out market studies and reports on the business environment for its clients. All the family is involved. Ndambi Guebuza is already a shareholder, as are his brother, his two sisters and his parents, in the family firm Focus 21. His sister Valentina Guebuza owns a small minority (2.5%) in Beira Grain Terminal SA, a company created at the beginning of 2007 to operate the cereals terminal at the port of Beira (ION 1209), while the Mozambican President's eldest daughter, Norah Armando Guebuza, has joined forces with Zimbabweans and
Mozambicans to launch the firm MBT Construçoes Lda, specialised in construction and public works, at the beginning of the year. She is married to the Mozambican Tendai Mavhunga, who for his part is in partnership with Miguel Nhaca Guebuza, one of the Mozambican President's brothers, in a construction industry consulting company Englob-Consultores Lda (ION 1200). This is the same Miguel Guebuza who has just been appointed to the board of the new firm
Mozambique Power Industries, which will manufacture and market electricity transformers. This company's shareholders are Wilhelm François Jacobs, Munir Abdul Sacoor, Marilia Americo Munguambe and Christoffel Cornelius Koch. For her part, Ana Maria Dai, the twin sister of Mozambican First Lady Maria da Luz Dai Guebuza, is a shareholder in Macequece Lda alongside another member of her family, José Eduardo Dai. Her brother, Tobias Dai, is a former Defence
Minister. Last year, Macequece created the mining company Mozambique Natural Resources Corp in partnership with International Minerva Resources BV.
Discreet withdrawal. Nevertheless, President Guebuza has just sold his stakes in two companies. In mid-April he withdrew from Mavimbi Lda (fishing) whose ownership is now split between Moises Rafael Massinga (38%) and a consortium whose members have not been revealed. Similarly, Mozambique Gestores and the former Minister Teodato Hunguana have sold their stakes in Sociedade de Aguas de Moçambique Lda to Joao Manuel Prezado Francisco and Totem Investments whose shareholders are not known since this company was created before the law obliging their disclosure. The time has come for Guebuza to become more discreet in business!
INDIAN OCEAN NEWSLETTER - 31.05.2008
José Pinto de Sá

quinta-feira, 5 de junho de 2008

E nem um postalinho ao presidente Guebuza?

Carta aberta ao presidente José Eduardo dos Santos

Exmo. Senhor Presidente:
Ao sabermos do propósito de promover em Setembro próximo eleições legislativas, acontecimento há muito esperado, considerámos oportuno solicitar de novo, como achega a tão elevado sinal democrático, a sua atenção para a nossa pretensão que reclama pelo esclarecimento da verdade, desejo antigo e tão ansiado por larga fatia da sociedade angolana, que viu muitos dos seus desaparecerem na sequência dos acontecimentos de 27 de Maio de 1977.
Já vai longa a troca de acusações manifesta por sobreviventes, familiares dos desaparecidos e de outros participantes no processo ou por seus representantes. Reclamam-se todos de justiça e pela restauração da imagem e dignidades manchadas. Porém, se os primeiros apelam ao mais alto dignitário da nação para que promova a constituição de uma Entidade Independente dotada de poderes necessários para indagar o passado, dos outros há quem espere venha a ser o MPLA a dar explicações para o seu comprometimento, enquanto outros, integrantes do Partido e do Estado, estão dispostos a sugerir a investigação e recolha das evidências históricas como contributo para a busca da verdade sobre o que deveras ocorreu a 27 de Maio de 1977, privilegiando a acção daquele que foi, em última instância, o responsável por todos os gestos do Estado, o então presidente Agostinho Neto.
Senhor Presidente, volvidas três décadas de resignação e silêncios forçados, torna-se premente, que de forma decisiva nos conceda a sua indispensável cooperação para se desenvolver um trabalho sério e uma pesquisa rigorosa. E porque todos os processos têm um início, quem melhor posicionado que V.Exa., para proporcionar o acesso a toda a informação e documentação, abrir à investigação a consulta dos arquivos do MPLA e do Estado Angolano, permitindo válidas e esclarecedoras conclusões, como por exemplo trazer a público o resultado conseguido pela Comissão de Inquérito a que então presidiu por incumbência do B.P. do MPLA, conclusão essencial, pois dirá a forma e a medida da “implicação fraccionista”, que se dizia ter invadido o MPLA, os seus meandros e práticas, afinal para benefício de quem.
Senhor Presidente, se até aqui foi nosso propósito apelar do seu
compromisso na prossecução desta tarefa que propõe restabelecer a verdade na história de Angola e na do MPLA, de onde o 27 de Maio de 1973 não pode ser arredado, vamos arriscar de novo sensibilizá-lo para que atenda anteriores pedidos que, uma vez satisfeitos, engrandeceriam a Nação e dignificariam o seu Presidente. Já passaram mais de trinta anos e ainda não foram entregues as certidões de óbito que atestem a causa da morte de
inúmeros cidadãos. Conhecer os locais onde se encontram os seus restos mortais, proceder-se à sua exumação e sequente entrega às famílias para que estas procedam ao seu digno funeral, seria um gesto de enorme humanidade.
Tendo sido criada por iniciativa de V.Exa. uma “Comissão Multisectorial”, um projecto que visa valorizar e divulgar figuras históricas angolanas, no intuito de fortalecer a unidade nacional e que terá competência para conceber e edificar estátuas e monumentos históricos, permita-nos desde já que possamos candidatar como figura histórica digna de tal merecimento, todos aqueles que pereceram na sequência dos acontecimentos de 27 de Maio de 1977. Afinal, das mais faladas figuras aos demais anónimos que desapareceram, todos concorreram, cada qual à sua maneira, para pôr fim ao colonialismo, para vencer os invasores e para erigir Angola como Nação independente.
Aguardamos verdadeiramente pelo Vosso interesse na prossecução desta nobre tarefa, que visa repôr verdades, fazer justiça e devolver dignidade, jamais esquecendo o passado para que não se repita no futuro.

Associação 27 de Maio,
Lisboa, 27 de Maio de 2008



E nem um postalinho ao presidente Guebuza?
A carta acima reproduzida foi divulgada em Lisboa dias atrás, quando se completaram 31 anos sobre o início da sangrenta repressão da dita “intentona fraccionária” liderada por Nito Alves. A missiva é subscrita pela Associação 27 de Maio, que congrega sobreviventes e familiares de vítimas da chacina que ensombrou Angola. Volvidas mais de três décadas, a verdadeira história ainda está por contar, as vítimas não foram reabilitadas nem sequer os seus corpos devolvidos às famílias, e os algozes, entre os quais se contam conhecidas figuras angolanas como o romancista Pepetela, continuam impunes e impenitentes.
Se em vez de “romancista Pepetela” se escrevesse “poeta Sérgio Vieira”, a frase anterior poderia aplicar-se, sem tirar nem pôr, a Moçambique. Do outro lado do continente, o zelo dos burocratas também fez das suas, em tristes episódios que passaram à História com nomes como Operação Produção e “campos de reeducação”. Também lá milhares de pessoas sofreram na carne a violação sistemática e massiva dos direitos humanos, em desmandos como deportações, detenções sem culpa formada, execuções sumárias, chambocadas e outras formas de tortura. E também lá a história está por contar, as vítimas por reabilitar, os culpados por punir.
Também lá caberia instar o Presidente da República a responder aos múltiplos pedidos de esclarecimento e de reparação que esta triste situação justifica e impõe. Pedidos que, “uma vez satisfeitos, engrandeceriam a Nação e dignificariam o seu Presidente”, como dizem os subscritores da carta angolana. Tanto mais que, no caso moçambicano, o actual Presidente da República, Armando Guebuza, na altura ministro do Interior, foi o principal obreiro da referida operação e da dita reeducação. Ninguém mais que ele deveria estar interessado em virar de vez uma das páginas mais sombrias da história de Moçambique. E ninguém mais que ele tem capacidade e poder para tal. Só lhe ficava bem, e devia aproveitar a oportunidade. Porque, como escreveu Patrice Lumumba diante da morte, “l’Afrique écrira un jour sa propre histoire, et ce sera une histoire de verité et dignité”.

José Pinto de Sá

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Campos de reeducação: O silêncio cúmplice de Cavaco Silva

De visita a Moçambique, Cavaco Silva perdeu uma excelente oportunidade de servir para alguma coisa. Além de descomprometido com a “esquerda”, tinha ainda a vantagem de ter pela frente a pessoa certa para tratar de um assunto que há décadas ensombra a história conjunta de Moçambique e de Portugal, a tal história do “cheiro a terra molhada e a temperos exóticos” (traduza-se: cheiro a cadáver e a trampa em geral). O dito assunto (os campos de reeducação, lembram-se?) é um dossier que continua por fechar. Aliás, continua por abrir. Cavaco podia tê-lo feito agora, é só lhe ficava bem. Teria dado uma excelente lição aos seus predecessores de esquerda. Mas não. Faltaram-lhe tomates, ou interesse, ou vontade política. Sucede que houve Operação Produção. Sucede que milhares de moçambicanos foram detidos e degredados sem qualquer julgamento. Sucede que na onda foram também muitos portugueses, e que, até hoje, nunca houve um sinal de arrependimento, um pedido de desculpas, ou uma reabilitação pública, já para não falar de indemnizações mais que justificadas. Armando Guebuza, actualmente Presidente da República de Moçambique, era na altura ministro do Interior, e foi o mentor do cambódjico processo, responsável directo por milhares de detenções sem culpa formada, e, pelo menos, centenas de mortes. Quer dizer: a pessoa certa para reabrir os arquivos, e informar de uma vez por todas quantos portugueses foram na leva, quais os seus nomes, qual o destino que tiveram, e, na pior das hipóteses, onde param os seus ossos. É chato, é macabro, mas há famílias e amigos que gostariam de ver este assunto arrumado. Pela minha parte, exijo a reabilitação da memória do anti-fascista e anti-colonialista português Virgílio David da Silva Faustino, meu grande amigo e companheiro de exílio, detido e deportado sem culpa formada. Sem culpa nenhuma, aliás. Cavaco optou pelo silêncio, e quem cala consente. É pena. Os moçambicanos, afinal as principais vítimas do monstruoso “processo reeducativo”, apreciariam por certo outra atitude do PR português, já que há muito aguardam em vão pela reabilitação dos seus “reeducandos”. Guebuza tem as mãos manchadas de sangue. Nada de estranho num dirigente africano, daqueles que o Ocidente patrocina e sustenta no poleiro. Só que, neste caso, também há sangue português, e Cavaco, se pretendia ser de facto o presidente de todos os portugueses, tinha obrigação de não se calar. Mas calou-se. Se existe de facto algo em comum entre Portugal e Moçambique não é o Eusébio nem o seu marisco favorito. Se existe um passado comum, é esse, o da tirania. E se existe um futuro comum, passa pela liquidação efectiva de heranças como a Operação Produção. O resto é demagogia, paternalismo e cobardia perante a História. O resto é merda, em resumo.

José Pinto de Sá