O Foucault de Paul Veyne surgiu. Vai fazer acontecimento. Tem o rigor de um trabalho minucioso de filosofia e de história. Conta episódios fundamentais da vida quotidiana do autor de "As palavras e das coisas". Paul Veyne é um dos maiores historiadores do século XX/XXI, e conheceu M. Foucault nos bancos da ENS da Rue d´Ulm.
"A humanidade pode passar sem a existência de mitos, tais como os da consciência e do progresso? Não sei, mas não se imagina que o consiga. Assim como não se consegue vê-la sem religiosidade ou ainda sem curiosidade filosófica. Apesar de todos os Nietzsche e Foucault do mundo, a humanidade gosta de invocar a Verdade e acredita ser verdadeiro aquilo em que crê. "Mitos" é uma palavra demasiado carregada de sentidos múltiplos, falemos porventura mais de enganos; o calvinismo foi o engano da economia da empresa capitalista."
"Essa palavra engano apareceu com grande insistência sob a caneta de Foucault, e tentamo-nos para lhe dar um destino, afirmando que constitui a primeira facilidade das estetizações: não é uma necessidade (cria-a, antes do mais), e não visa qualquer finalidade; as que pretendem continuar são pretextos: a salvação, a tranquilidade da alma, o nirvana, etc. A sua energia procede da sua liberdade, de uma pulsão do eu, da misteriosa "caixa negra" íntima, mais do que qualquer doutrina persuasiva: esta serve tão-somente de engano, de racionalização e de terreno de exercício".
In « Foucault », de Paul Veyne, Albin Michel Editeurs, Paris, Abril, 2008
FAR