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sexta-feira, setembro 19, 2025

Um grande jornalista desmonta, num excelente livro, o maior embuste da nossa democracia: o Chega


Embora algumas personagens fabricadas pela televisão, acreditem que é no "espelho", que está o segredo do sucesso, que basta dizer muitas vezes à imagem que aparece à nossa frente, quase, quase, igual a nós, que somos os melhores, que nos tornamos uns "gigantes", elas sabem que não é suficiente. Por muitos disfarces que usem falta sempre qualquer coisa...

O que nos torna realmente grandes, é o nosso trabalho, aquilo que fala por nós, sem ter à frente e atrás o nosso retrato.

Eu já sabia que o Miguel Carvalho era um grande jornalista. E fiquei a saber que também era um grande ensaísta e investigador, quando escreveu um livro único sobre o Verão Quente. Livro que deve ser amaldiçoado por todos aqueles que agora tentam agarrar com as duas mãos o 25 de Novembro de 1975, mesmo que nesses tempos andassem mais entusiasmados em queimar sedes do PCP na região Norte, que em participar em golpes revolucionários (a participação do PPD no 25 de Novembro é residual e a do CDS praticamente nula...). Estão lá os nomes todos...

Falo de Quando Portugal Ardeu - Histórias e Segredos da violência Política no pós-25 de Abril.

E agora voltou a oferecer-nos outro grande livro, cheio de peripécias. Falo de Por Dentro do Chega - a Face Oculta da Extrema-direita em Portugal.

Falo em "grande", não pelo tamanho (mesmo que ultrapasse as setecentas páginas...), mas pela qualidade, pelo excelente trabalho de investigação realizado. 

As ameaças, os boatos e as perseguições feitas ao Miguel, promovidas por este grupo de malfeitores que anda por aí disfarçado de partido político, com o sucesso que todos conhecemos, não conseguiu vencer a realidade nem a história. 

Sim, neste livro não se poupa qualquer palavra sobre o antes e o durante de uma quase "seita", que nunca escondeu ao que vinha, nem por quem era patrocinada, embora ande por aí demasiada gente distraída. Gente que além de adorar mentiras, parece estar saudosa dos regimes autocráticos...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, junho 11, 2025

Ser português e defender o país, não é isto...


É importante dizer que o Dia de Portugal é de todos os portugueses, e não de apenas alguns.

E não é o facto de um partido ter agora sessenta deputados no parlamento, que fica com mais legitimidade para dizer e fazer tudo o que lhe apetece. Deveria ser sim, mais responsável. Mas isso é pedir quase o impossível, como se percebeu pelos comentários xenófobos, provocadores e ignorantes de alguns deputados da extrema-direita, em relação aos discursos de Marcelo Rebelo de Sousa e de Lídia Jorge durante a cerimónia comemorativa de Lagos. 

Mas o pior ainda estava para acontecer, em Santos, com agressões cobardes a actores que fazem parte do elenco da peça, Amor é um fogo que arde sem se ver, da companhia de teatro a  Barraca, por um grupo de "neo-nazis".

Se em relação aos deputados, parece não haver muito a fazer, já em relação às agressões, ainda somos um Estado de direito, e quem agride de forma gratuita tem de ser severamente punido.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, junho 03, 2025

«Já faltou mais, para que o humanismo volte a ser crime»


Ele podia utilizar outras palavras para falar destes tempos, onde começam a crescer sombras por todo o lado, mas usou Humanismo, talvez a mais sensata, mais profunda, mais abrangente, e por isso, também a melhor.

É muitas vezes usado quase como "emblema" de um tempo em que os homens que lutavam pela liberdade, aliás nem era preciso lutar, às vezes bastava "pensar"... Não se chateia nada, nem tem problemas em falar desses tempos, da prisão em Caxias e em Peniche, ou de quando percebeu que o único Deus que existe, está na cabeça de alguns homens, demasiado crédulos, pelo menos para as coisas que lhes convêm...

Tudo isto, porque o "profeta" do partido fascista, que agora que tem sessenta deputados e passou a ser apenas de "direita", já começou a falar do fim do regime, anunciando para breve o começo de uma "nova coisa", que os que espalham a tal palavra de Deus, chamam "novos tempos"...

Mas nem precisamos de falar do nosso "vendedor de ilusões", basta olhar para Gaza, para várias regiões africanas ou para a Ucrânia, para percebermos que o Humanismo é cada vez mais "uma treta"... 

E sim, ele tem razão, o Humanismo está quase, quase a ser crime...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, maio 26, 2025

«As pessoas gostam mais de um mundo faz de conta, onde a mentira tem a mesma validade que a verdade, que de um mundo com leis e valores claros»


Nunca pensei vir a concordar com o Rui, mas basta olhar para os acontecimentos do último ano no nosso país, para se perceber que a ética e a moral são cada vez mais, coisas da ficção (dos livros e do cinema).

Cada vez tenho  menos dúvidas de há cada vez mais gente que vive satisfeita dentro da realidade paralela, alimentada sobretudo pelas redes sociais. Quando ele disse, «As pessoas gostam mais de um mundo faz de conta, onde a mentira tem a mesma validade que a verdade, que de um mundo com leis e valores claros», ninguém foi capaz de discordar.

Sei que não é um fenómeno nacional, basta olhar para Trump, que não consegue dizer uma frase sem introduzir qualquer dado falso. E pior ainda, em poucos minutos é capaz de dizer uma coisa e também o seu contrário. Bolsonaro foi o que foi (e continua cheio de saudosistas...), Milei é o que é. E Ventura pode ser uma coisa mais perigosa do que se pensa (o seu crescimento começa a assustar aqueles que acham que ele não passa de um "palhaço", como eu)...

No dia a dia, é capaz de ser mais divertido, andarmos a mentir uns aos outros, colocando a realidade num segundo patamar. Só que isso tem um preço...

Mais tarde ou mais cedo, vamos todos pagar um preço demasiado alto, por alimentarmos este "mundo faz de conta". É assim que surgem as ditaduras, onde a mentira passa a ser a "linguagem oficial" do poder, ao mesmo tempo que quem defende a democracia, os factos e a liberdade, é empurrado para o lado errado da sociedade. Ou seja, é preso ou silenciado, por vezes da pior maneira. 

Exemplos não faltam por esse mundo fora...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sábado, março 01, 2025

Humanizar o "fantasma" de Salazar...


Li com atenção o artigo de opinião de Pacheco Pereira de hoje do "Público", sobre a participação do Arquivo Ephemera na instalação de um espaço museológico em Santa Comba Dão dedicado ao estudo do Estado Novo (Centro Interpretativo do Estado Novo - Regime e Resistência).

Quem como eu passa uma boa parte do tempo a fazer investigação histórica, a remexer papeis cheios de pó (que me fazem espirrar mais vezes do que as que queria...), ficou satisfeito com a explicação do historiador. 

Até porque a passagem da "Escola Cantina Salazar" a "Centro Interpretativo do Estado Novo" tem muitas vantagens. Além de preservar a memória desses 48 anos, quase sempre tenebrosos, vai contribuir para se acabar com a "mitificação" de um homem, que por vezes chega a ser confundido com um "fantasma". 

Como Oliveira Salazar existiu mesmo, o melhor que temos a fazer, é encará-lo de frente, com as suas virtudes e defeitos, como qualquer ser humano e dar-lhe o espaço devido na história.

Ao limparmos "a poeira" e a destapar "os panos" que cobrem este período da nossa história recente (que nos deixou bastantes marcas físicas e psicológicas...), estamos a dar outro contributo, não menos importante: esvaziamos o mito e o culto que se presta a um ditador de má memória, por uma extrema-direita (que a esta hora deve estar a torcer o nariz a esta decisão da autarquia local...), que sempre que pode, tenta branquear a história. 

É com esta transparência (muito diferente da do primeiro-ministro...) e abertura histórica, que se irá conseguir derrotar a mentira e todas as mistificações salazaristas, que se têm perpetuado no tempo.

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


terça-feira, fevereiro 18, 2025

Ter e não ter memória, gostar e não gostar de liberdade...


Talvez quem tenha a memória mais fresca, quem nunca conseguiu deitar fora as piores coisas que lhe aconteceram durante as ditaduras salazarista e marcelista, se sinta mais chocado, e até envergonhado, com o que se está a passar à nossa volta. 

Talvez.

É por isso que o Mário, por muito que se esforce, não consegue perceber como é que se chegou até aqui, como é que as pessoas têm sido capazes de eleger quem lhes quer dar cabo da vida e roubar direitos, que ofendem a dignidade de todos nós como humanos.

Não entende, sobretudo as mulheres. Elas que deviam fazer toda a diferença e que são pelo menos metade da população do planeta. Como eu o percebi quando ele disse que, talvez muitas sonhem com o regresso à sua vidinha de donas de casa e a voltarem a ter um "dono"...

Não disse quase nada. O Mário disse quase tudo. Quem ama a liberdade e têm a mania que somos todos iguais tem ainda mais dificuldade em perceber tudo isto que se está a passar à nossa volta...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, janeiro 09, 2025

As mulheres, a direita (dos extremos) e a liberdade


Sei que não devia, mas faz-me bastante confusão, ver mulheres, aparentemente normais, fazerem parte de partidos da extrema-direita. Partidos que passam o tempo a defender coisas que as diminuem como pessoas e cidadãs, intrometendo-se com a sua própria dignidade e liberdade pessoal.

Até posso acreditar que algumas queiram voltar aos velhos tempos, em que a uma boa parte das mulheres, estava-lhes apenas reservado  o papel "mães" e "donas de casa". Mas não deixo de achar isso, no mínimo, estranho.

Isto de se gostar demasiado da liberdade, tem cada vez mais coisas que se lhe digam... 

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, novembro 25, 2024

O 25 de Novembro foi apenas um Golpe Militar Democrático, e não uma Revolução!


É preciso recordar que esta direita e extrema-direita, que nunca gostou de Abril (pudera, uma boa parte deles perderam uma série de regalias, perceberam que afinal eram pessoas como as outras, apesar dos privilégios que os rodeavam...), não esteve directamente ligada ao golpe militar, de 25 de Novembro de 1975.

Nesses tempos conturbados os fascistas - disfarçados de democratas conservadores -, andavam mais entretidos a incendiar sedes do PCP  e a serem protagonistas de ataques bombistas, em toda a região Norte (alguns dos quais mortais), que em preparar golpes militares democráticos.

Claro que, dia após dia, iam sonhando com a possibilidade de voltar ao poder, apostando em dividir o território português ao meio, ficando com todo o Norte do Tejo (como se a democracia não tivesse atravessado o rio...), porque o presente fazia-lhes doer. Gostavam era do país dos pobrezinhos e coitadinhos, a quem davam esmolas, para onde caminhamos, há mais de uma década...

Voltando ao 25 de Novembro, foi um golpe militar democrático, protagonizado pelo "Grupo dos Nove" (liderado por Vasco Lourenço e Melo Antunes) e pelo Presidente da República, Costa Gomes, com o apoio efectivo do PS, por intermédio de Mário Soares, que esteve sempre na primeira linha deste combate pela democracia (ao contrário dos representantes do PSD e do CDS, que hoje querem ser protagonistas...). Este golpe pretendia acabar com os excessos esquerdistas, que estavam a tornar o país ingovernável e a dividir cada vez mais os militares. 

Felizmente foi uma acção militar bem sucedida, quase sem sangue derramado, que teve Ramalho Eanes como o seu comandante operacional.

É preciso dizer que, esta comemoração, não passa de mais uma farsa, de uma direita que tenta alterar a história, como se isso fosse possível. 

E claro, também quer voltar ao "passado". Mas isso depende de todos nós e não apenas deles...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, novembro 20, 2024

«Sabes? Foi a primeira vez que me senti importante na vida...»


Voltava para casa e pensava na quantidade de pessoas que conhecemos de vista mas que nunca iremos conhecer de verdade, nunca trocaremos mais que um bom dia ou boa tarde...

Tudo por ter o prazer de conversar e conhecer o António, um jovem que daqui a poucos meses será nonagenário, e que tinha tantas histórias para contar. Foi por isso que aos cinco minutos previstos, tiveram de ser somados muitos mais, ultrapassando a hora e obrigando à alteração da agenda. E ainda bem que isso aconteceu, porque foi um tempo ganho (para os dois)...

Vou escrever apenas sobre duas frases das muitas que ele me disse. Embora fosse um "lordesinho", por saber escrever e ler, bem (e como gostava de ler...), aos doze anos foi trabalhar para uma das fábricas de transformação da cortiça do Caramujo, e já era a sua segunda profissão, antes, com apenas dez anos, fora aprendiz de marçano na loja do André, que tinha mais de explorador que de mestre.

Estávamos na segunda metade dos anos 40 do século passado, a Guerra tinha acabado na Europa e no Mundo, mas a pobreza continuava bem presente na vida da maior parte das pessoas, que recebiam ordenados de miséria. Pobreza bem visível nas casas onde se vivia, na alimentação e até na forma de vestir e calçar... (Lá estou eu a "fugir" ao assunto)

O António era um miúdo vivaço e imaginativo, e depressa descobriram o seu gosto pelos livros (havia uma estante improvisada num dos cantos da fábrica, com meia-dúzia de livros, usados nas leituras, alguns deles lidos várias vezes, tal era o interesse que despertavam junto dos operários de ambos os sexos...).

E foi assim, que vez de escolher rolhas ou andar nas limpezas ou a recolher o desperdício, passou a ser o "leitor" de serviço. E lá vem a frase que ele me contou: «Sabes? Foi a primeira vez que me senti importante na vida...»

Entre as muitas coisas que me contou, houve outra que ficou: «Éramos obrigados a ser adultos à força. Vivemos tantas coisas nos tempos errados. Por gostar de saber coisas novas, sonhei muito tempo com a escola de Lisboa, mas foi apenas um sonho...»

Era esta a triste sina de uma boa parte das crianças da sua geração, que tinham de trabalhar, mal acabavam a instrução primária, para ajudar a equilibrar os orçamentos baixos das famílias (muito maiores que as dos nossos dias, em que ter meia-dúzia de filhos era a coisa mais normal do mundo) e não iam para a escola, muito menos passavam o tempo a brincar com os amigos...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, novembro 16, 2024

Fingimos que não, mas já anda por aí um mundo diferente...


Penso que é a primeira vez que escolho a resposta a um comentário, como título de um texto por aqui, no "Largo".

Isso aconteceu por estar a pensar em coisas próximas, que acabaram por me levar a comentar desta forma: «Fingimos que não, mas já anda por aí um mundo diferente...»

Muitas vezes, estamos tão próximos das transições, que passamos por elas sem olhar para elas, mesmo quando quase "nos tocam"...

Do que não tenho qualquer dúvida, é que, o que vem aí, em vez de nos facilitar a vida, só a irá complicar mais. E não estou apenas a falar da "inteligência artificial" (que será de grande utilidade para quem não gosta de pensar e criar, pela sua própria cabeça...). 

O que é mais incompreensível, para mim, é reparar que há demasiados países na europa a suspirarem por "salazares", "hitleres" e "stalines"...

Será que esta gente anda toda com medo da liberdade (dos outros, claro)? Ou será que estão cansados desta (falsa) democracia?

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, julho 28, 2024

Os loucos que nos estão a levar à loucura...


Este mundo está a tornar-se um "paraíso" para todos aqueles que têm poder e se afastam, sempre que podem, do que entendemos por racionalidade. Começam pelo uso das palavras (são capazes de dizer  as coisa mais estúpidas e grotescas, com o ar mais sério do mundo), mas se alguém lhe der "a mão, rapidamente fica sem braço". 

Há cada vez mais exemplos de gente louca, que não só pensa, como faz aquilo que mais lhe convém, com a conivência de uma "corte de vassalos", sem vontade própria, que fingem ter serradura na cabeça.

Talvez Putin, seja a personagem principal deste "filme de terror". Talvez. Mas cuidado com as outras personagens, pouco secundárias como são Trump, Maduro, Netanyahu, Jimping ou Jong-il. 

É tudo gente capaz de aliar à paranóia, o gosto pelos "jogos de guerra". 

Se não os conseguirmos "destruir" vai ser difícil escapar ao que eles andam a "escrever nas estrelas"...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve) 


sábado, março 09, 2024

Uma reflexão mais abrangente, sobre estes tempos estranhos...


O dia de ontem acabou por me fazer refletir sobre estes tempos estranhos em que vivemos, em que a liberdade individual há já algum tempo, que anda a ser alvo de vários ataques, com múltiplas tentativas para a "capturar" e transformar em liberdade colectiva, tornando-nos, aparentemente, mais fáceis de manobrar. É isso que se passa nos regimes totalitários (Rússia, China, Coreia, Irão, Turquia, etc), mas também noutros, como o Israel ou os EUA, que há muitos anos que finge ser o "país mais livre do mundo", mas que sempre gostou de condicionar a liberdade e o gosto dos outros.

Como é normal nestas coisas, não conseguimos escapar ilesos destes tempos, em que o mundo se tornou mais pequeno, e o materialismo tenta dar cabo de qualquer idealismo que se baseie numa sociedade mais igualitária, onde todos tenham os mesmos direitos, sejam homens, mulheres, brancos, pretos, heterossexuais, homossexuais, muçulmanos, cristãos, etc.

Há o regresso de um conservadorismo bacoco, próprio dos séculos anteriores ao número vinte, que se mete com tudo o que cheire a liberdade e originalidade. Volta a censurar livros, filmes, canções ou peças de teatro, da mesma forma que tenta manietar, e proibir, as opções sexuais de cada um de nós.

Isso explica-se com o aparecimento dos movimentos saudosistas da extrema-direita e com a legião de seguidores que vão angariando, inclusive no nosso país. Por descender de uma família de libertários, pensava que toda a gente gostava de viver em liberdade. Parece que estava enganado...

Voltando ao dia de ontem, é também por "estas coisas", que tarda a igualdade entre homens e mulheres.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, março 07, 2024

Jornais com e sem Abril...


T
enho andado "embrulhado" em jornais antigos em vários arquivos e reparo que a imprensa regional tinham algumas virtudes que não chegavam aos jornais nacionais. Uma delas é a assinatura de muitas notícias.

Nunca achei piada ao facto de a maioria dos grandes jornais publicarem uma boa parte das notícias sem autoria (hoje com o digital também acontece muito, há demasiadas notícias "assinadas" pela Lusa ou pela Redacção. De certeza que há um autor...).

Mas nem era disso que eu queria falar. 

Nota-se que a presença da censura na imprensa regional era mais suave (ou então mais disfarçada). O que se percebe, como eram semanários, era mais fácil voltar a escrever de novo. E também por terem uma dimensão mais limitada no espaço, e por isso não deveriam ser "lidos" com tanta minúcia.

Nos grandes jornais percebe facilmente que há por ali dedo da censura, quando lemos notícias sobre factos importantes, ou que envolvem alguma polémica. É como se não tivessem "alma", sente-se que falta ali qualquer coisa. Há a tentação de dizer que estão mal escritas, mas o que aconteceu foi que foram "retalhadas"  de alto a baixo pelos censores...

O fim desta "tragédia" foi mais uma daquelas coisas boas que Abril nos trouxe, e que nem sempre recordamos...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, janeiro 29, 2024

Os Saudosistas do "tempo das nuvens escuras"...


Eu sei que 50 anos é bastante tempo, mas isso não explica que comece a ver por aí, cada vez menos escondidos, os saudosistas do "tempo das nuvens escuras".

Prefiro chamar-lhe "o tempo das nuvens escuras", porque nunca gostei  do "tempo da outra senhora" (até porque era o tempo dos senhores e não das senhoras...).

Por não se conseguirem libertar dos fantasmas que os perseguem,  devido à religião ou a educações demasiado rígidas e repressivas, odeiam aqueles que amam a liberdade. 

Estão sempre à espera de um deslize de um qualquer "abusador" (alguém que goste mesmo de ser livre...), para colocarem em causa a liberdade de todos...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, janeiro 19, 2024

O cinema está sempre próximo da realidade...


O cinema está sempre mais próximo da realidade do que aquilo que pensamos.

O João estava a colocar-me a par dos bons filmes que andavam por aí (são bastantes, mas não gostam muito de "pipocas"...), quando misturámos as fitas com a actualidade. 

Fui eu que iniciei as hostilidades, recordando que o cinema raramente trata bem as polícias do giro (os detectives são uma classe à parte e ainda bem), e nem falei das perseguições policiais, em que os carros com sirenes passam o tempo a fazer o pino e a dar cambalhotas nas estradas. 

O meu companheiro de conversa disse que eles são mesmo assim, gostam de fazer cara de maus, raramente falam com as pessoas com bons modos, esquecendo-se que a sua missão não é apenas perseguir e prender bandidos. 

Lá veio o bom senso (neste caso a falta dele), para a mesa...

E como somos mauzinhos fingimos compreender esta sua aproximação ao lado mais à direita da política, porque  estamos fartos de saber que esta gente das "fardas e dos cassetetes" era muito mais feliz no país do "respeitinho e da autoridade".  

Pois era, no tempo dos "outros senhores", ninguém estranhava que apanhassem rapariguinhas e as mandassem despir no interior das esquadras...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, agosto 24, 2023

Não levantar ondas, manter o mar chão...


Estou a fazer um trabalho sobre o papel da Incrível Almadense durante a ditadura salazarista e marcelista e noto que foram feitas muitas actividades entre 1926 e 1974, que colocavam, de alguma forma, em causa o regime, nomeadamente vários colóquios cuja temática enaltecia os valores democráticos.

Um dos truques usados era fazer o anúncio do colóquio sem o nome do orador. Outro era amenizar o título da temática, não colocando algumas das "palavras proibidas" pelo regime. Mesmo assim não sei como é que algumas palestras não foram "canceladas", como por exemplo: "As Virtudes e os Defeitos da Republica" (por Raul Esteves do Santos em 1946); "O Recreio na Vida dos Trabalhadores"  (por Raul Esteves do Santos em 1948); "As Instituições populares e a Emancipação do Povo" (por Gomercindo de Carvalho, em 1964); ou "O Sentido da Vida Social" (por José Correia Pires em 1966). 

As pessoas das Colectividades faziam estas coisas com a maior naturalidade possível, pois sabiam que o mais importante era não levantar ondas, manter o "mar chão"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, agosto 06, 2023

O porquê da Ponte sobre o Tejo ser "vermelha"...


Normalmente evito repetir efemérides por aqui, mesmo que este seja um "Largo" com "Memória".

Mas não resisto e aproveito mais um aniversário da Ponte sobre o Tejo, que foi "Ponte Salazar" de 1966 a 1974, até que o 25 de Abril veio em boa hora e substituiu o ditador (que até era contra a construção da ponte, por causa dos muitos milhões que estavam em equação...), para divulgar uma anedota, que o José Gomes Ferreira me contou no seu livro, "Passos Efémeros (dias comuns 1)".

Segundo o "Poeta Militante" havia um Padre que dava a disciplina de Religião e Moral no Liceu Camões, em 1966, no ano da inauguração da Ponte, que não devia gostar nada do doutor António de Santa Comba e saiu-se com esta (o filho de Gomes Ferreira era um dos alunos...), na aula: «Os meninos sabem porque é que a Ponte Salazar ficou vermelha? - claro que ninguém sabia, e ele contou - Por vergonha de lhe porem aquele nome.»

Espero que este Padre progressista não tenha sido muito incomodado nesses longínquos anos sessenta do século passado, por a sua "moral" estar no lado certo da vida...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, novembro 02, 2022

Somos Mais Livres mas Vivemos Mais Perdidos...


As mudanças na sociedade, deixam sempre marcas, positivas e negativas. O verso traz sempre atrás de si o reverso, como se a perfeição continuasse a ser uma utopia...

É por estas e por outras, que a democracia começa a perder adeptos, aqui e ali. Evita-se falar de Salazar, embora comece a existir alguma unanimidade (dos historiadores do lado direito...) de que nunca fomos um país fascista. Um dos argumentos, é que se "matou, prendeu e torturou pouco". Outro, é de que não éramos obrigados a fazer parte das instituições fascistas criadas nos anos trinta (Mocidade, Legião...), o que é mentira. Havia represálias para quem se recusasse a fazer parte destas e doutras instituições, que apelavam a um patriotismo quase cego. 

Uma amiga que está a fazer uma tese de doutoramento sobre a o que mudou entre nós, com a perda de influência da trilogia "Deus, Pátria e Famílía", fez-me uma entrevista, queria saber o que eu pensava sobre o assunto.

Disse muitas coisas, andei por vários lugares. E no fim disse: "Hoje somos mais livres mas vivemos mais perdidos."

Andámos quase em todo lado. Foi uma boa viagem. É por isso que prometo escrever sobre algumas das coisas que falámos, durante a semana.

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal) 


sexta-feira, fevereiro 04, 2022

Nem Toda a Gente Gosta de Viver em Liberdade e Democracia


Há muita gente, mesmo pobre, que nunca se integrou, de corpo inteiro, no nosso regime democrático, nunca acreditou, nem percebeu muito bem, o que era isto de se viver em liberdade e democracia.

Ficou sempre no ar alguma desconfiança.

E é esta "desconfiança" que acaba por "minar" tudo o que nos cerca. Não é por acaso que muitas destas pessoas acreditam que o regime democrático facilita  a "criminalidade" (especialmente a de "colarinho branco"...) assim como a sua "impunidade". 

Infelizmente a realidade tem-lhes oferecido vários exemplos, especialmente no campo da justiça. Exemplos que acabam por dar espaço a todo o género de especulações e são a principal fonte de inspiração dos discursos populistas.

Embora estes meus pensamentos não expliquem totalmente o crescimento da extrema-direita, entre nós, dão algumas pistas...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, dezembro 09, 2021

A "Minha Liberdade" e a "Liberdade dos Outros"...


Quase que me virou de pernas para o ar, ouvir Bolsonaro dar vivas à Liberdade individual (em relação à vacinação no seu país...). Mas os ditadores de hoje são muito mais sofisticados e mentirosos que os do século passado.

Não sei se o nosso Salazar era rapaz para meter a palavra "liberdade" (fosse ela qual fosse...), nos seus discursos. Acho que não. Era uma palavra capaz de lhe provocar arrepios e até coisas piores, por isso é que lutou tanto contra a "liberdade dos outros".

Foi também por isso que fiquei a pensar que a liberdade dos nossos dias tem um significado diferente da de ontem. As palavras e as contas que se faziam no século XX eram mais fáceis de perceber e de somar ou subtrair. A ausência de liberdade significava quase sempre prisão, literalmente. Hoje as coisas são diferentes, vão-nos tirando a liberdade, por decreto e também por imposição social.

E nem vou falar de coisas fora de moda como o prazer de fumar, de caçar ou de assistir a uma corrida de touros. Falo sim da facilidade com que se aponta o dedo ao nosso vizinho que se veste de uma forma estranha, que pinta o cabelo de azul ou que gosta de passear por ruas que dizem ser mal frequentadas.

Gosto muito pouco desta "americanização" da nossa sociedade, cada vez mais evidente. Não é só o politicamente correcto que volta em força, é também aquela vaidadezinha de tornar novamente os vícios privados e as virtudes publicas, esta sim, uma coisa completamente salazarenta.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)