Mostrar mensagens com a etiqueta África. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta África. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, julho 10, 2025

"Munngano (1975-2025)" na Sociedade Nacional de Belas Artes


Marcámos encontro na Sociedade Nacional de Belas Artes, para ver a exposição "Munngano (1975-2025), 50 anos de história, arte e cultura de Moçambique Independente".

Não foi só uma bela surpresa (tanta coisa bonita...), descobrir tantos artistas moçambicanos de grande talento, foi bom olhar e conversar sobre muitas das pinturas, desenhos e esculturas em exposição.


E claro, ir ainda mais longe, falar ligeiramente das polémicas sobre o colonialismo e a arte africana (não tivemos dúvidas que todos os trabalhos artísticos feitos por moçambicanos, com um matriz cultural local, deverão regressar ao país de origem, desde que este tenha condições para a acolher em museus).

Como normalmente visito exposições a solo, já não me lembrava do bom que é ter companhia para conversar, criticar e sorrir...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, junho 02, 2024

"um rio chamado tempo, uma casa chamada terra"


É quase parvo dizer-se que se gosta muito da escrita de um autor, mas que não se têm lido tantos livros quantos se deviam da sua autoria.

O problema é que isso não se passa apenas com Mia Couto. Há pelo menos uma dúzia de escritores a quem faço o mesmo. Nem é muito difícil arranjar desculpas. Além de ser humanamente impossível ler todos os livros que desejamos, também é normal aparecer mais que um livro, capaz de fazer ultrapassagens, tanto pela esquerda como pela direita, fazendo com que as "filas de espera" continuem a crescer nas estantes da casa.

Mas foi um prazer imenso ler "um rio chamado tempo, uma casa chamada terra", e viajar por dentro de uma família especial (como são todas as inventadas pelo Mia Couto...), que abraça as tradições, usa os dialectos locais e reinventa o misticismo e a magia, que fazem parte do dia a dia do continente africano.

Apesar do escritor moçambicano nos levar de viagem pelo presente e pelo passado, gostar de usar metáforas, ditos populares, e até enigmas, dá-nos sempre espaço para a reflexão, para pensarmos sobre o que andamos por cá a fazer (ou a não fazer...). 

Para tornar as coisas mais enigmáticas, Mia Couto fez aparecer "cartas" ao longo dos capítulos (que aparecem e desaparecem...), trocadas entre os Marianos, cheias de pequenas e grandes curiosidades, que vão adensando a ficção. 

Foi por isso que resolvi retirar uma frase da última "epistola": «Há um rio que nasce dentro de nós, corre por dentro da casa e desagua não no mar, mas na terra.»

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda)


quarta-feira, abril 24, 2024

Um medo generalizado, bem vivo no dia 24 de Abril de 1974...


Havia um medo comum, em quase todas as famílias, fossem elas muito, pouco ou nada politizadas, que se chamava Guerra Colonial. Guerra que se travava na Guiné, em Angola e Moçambique.

As mães eram quem mais sofria... porque raramente se escondiam atrás da honra ou do dever de todos (que nunca eram bem todos...) em defenderem a pátria. E quando viam os filhos aproximarem-se da idade maior, a dor aumentava, porque sabiam que existia uma forte possibilidade, deles terem de cumprir o serviço militar obrigatório no Portugal Ultramarino... que se estendia até Timor (foi para onde foi o Henrique, irmão do Fernando, um dos nossos melhores amigos de infância).

Nunca falei disto com a minha mãe. Mas nós éramos demasiado novos, para que ela começasse a antecipar o futuro. Eu tinha apenas onze anos e o meu irmão treze, em Abril de 1974.

Claro que este medo não desapareceu logo no dia 25 de Abril, porque até pelo menos, ao final de 1975, os nossos soldados continuaram a viajar para África (e a "morrer pela pátria")...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, abril 23, 2023

Um Livro Especial, num Dia Especial...


Aproveito a comemoração do Dia Mundial do Livro, para falar de um livro especial, pela forma viva como o seu autor nos relata as suas memórias da infância, adolescência e começo da idade adulta, vividas numa África que parece muito mais multicultural, do que era de facto.

Falo da  "Crónica de África" de Manuel S. (de Santos...) Fonseca, cuja escrita é tão intensa que nos faz "estar (quase) lá", nas ruas de areia vermelha, a assistir de camarote às aventuras daquela juventude inquieta e colorida.

Estas bonitas memórias estão cheias de gente boa e de lugares inesquecíveis (para o Manuel...), que por vezes se misturam com os "filmes das nossas vidas", com a mestria do senhor Fonseca, que respira cinema por demasiados poros (e ainda bem...), sem nunca perder o sentido e o humor nesta sua escrita brilhante.

Como leitor, é sempre uma maravilha ler um livro que é aberto sempre com redobrado prazer e por muito que queiramos, não conseguimos "eternizar" a sua leitura.

Esta obra tem ainda outra virtude, como se alimenta de memórias, também mexe e remexe com as nossas, levando-nos a registar um ou outro episódio, que estavam esquecidos, num canto qualquer dentro de nós...


quinta-feira, novembro 24, 2022

Angola e as Pedras (e diamantes) que nos saltam para os Sapatos...


Voltei a falar de governantes e direitos humanos e lá vieram dois "grilinhos falantes", recordar-me da "nossa" Angola e da família dos Santos.

Nem foram muito agressivos para com o Costa, António, acusado pelo senhor Carlos, que partilha o mesmo apelido, embora não sejam da mesma família (muito menos da política...), por beneficiar a Isabel "banqueira".

Foram ao fundo do baú e lembraram-me os artigos de opinião escritos por Paulo Portas, a branquear a governação de José Eduardo, esquecido do passado do senhor ligado à "escola" marxista leninista (sei que dispensava as aspas, já que ele até estudou na União Soviética...).

Mas a verdadeira questão que me foi colocada, foi que num dos países mais ricos do continente africano, além de haver demasiada fome e miséria, os direitos humanos nunca saíram dos papéis. Como acontece nas ditaduras, basta dizeres mal de qualquer governante (mesmo que seja verdade, verdadinha...), para seres apontado a dedo e não voltares a ter uma vida normal. E se insistires, podes ser preso e até "desaparecer do mapa". Sim, nestes países que se dizem democráticos, é normal de vez em quanto desaparecer um ou outro opositor. Sei que muitos deles andaram na mesma escola do Putin, mas...

Como o Rui disse, o caminho que nos liga a Angola está cheio de buracos, é por isso que há tantas pedras (para alguns "sortudos", são diamantes...) que nos saltam para os sapatos...

Apesar de todos estes casos, e de termos alguns "telhados de vidro", não devemos ficar no nosso cantinho, a fingir que não se passa nada no Catar, além de futebol.  Andarmos por aí vestidos com as camisolas da selecção a cantar o "Vamos lá cambada", é muito "poucachinho". Mas o mundo é o que é.

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


sábado, maio 28, 2022

Um Dia Depois...


Ontem era para escrever aqui no "Largo" sobre o 27 de Maio de 1977 em Angola, mais concretamente sobre Sita Valles, que se tornou a figura mais mítica deste triste acontecimento histórico angolano, em que foram assassinadas milhares de pessoas, em nome da "purificação" do MPLA (algo que nunca foi conseguido...) mesmo que só algumas dezenas tentassem derrubar, o "todo poderoso", Agostinho Neto.

Sem questionar o seu papel político, enquanto militante comunista, acreditamos que Sita ficou na história sobretudo por ser mulher e por ter uma bonita figura. Nessa época o mundo era muito mais dos homens que nos nossos dias. A cineasta Margarida Cardoso fez um documentário com o seu nome que está nas nossas salas de cinema (não sei se é o que passou na televisão na quinta-feira na RTP2, que vi...) sobre a Sita, a família, os seus companheiros, e claro, sobre o "Golpe de 27 de Maio".

Angola está cheia de páginas negras na sua história recente, mas esta é com toda a certeza a mais negra de todas, com o assassínio de milhares de inocentes, quase todos na "flor da idade", cuja maioria teve apenas o azar de estar n0 local errado à hora errada...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, junho 05, 2021

Silêncios Africanos...


O meu tio António quando fala de África, apenas se refere à paisagem local. Tanto pode falar de Luanda, a cidade moderna surpreendente, das mulheres multicolores de uma beleza única, como das florestas também únicas, povoadas de sons e de mistérios. Nunca fala da Guerra.  

O Pedro quase que esqueceu a Angola do tio, mesmo que sejam da mesma idade. Quando o tio foi destacado para a Guerra Colonial, Pedro já estava por cá como estudante no primeiro ano na faculdade de direito... E depois, com o passar do tempo, foi perdendo o hábito e a vontade de falar da África onde nasceu e cresceu. E não é apenas por saber que a sua Angola já não existe...  

Um dia também sonhou com a independência e até foi militante do MPLA. Fez a luta possível por cá, antes de Abril... Era um jovem cheio de ilusões e de convicções.

Ainda hoje não percebe como é que muitos daqueles estudantes marxistas (alguns que tratava como irmãos e com quem convivia diariamente, assim como outros que estudaram em vários países do Leste da Europa), que regressaram à Terra-Mãe com o apelo da Independência, o enganaram tanto.

Ele como continua a acreditar que se o mundo fosse mais igual e justo, toda a gente vivia melhor, tem muita dificuldade em perceber aqueles governantes que abandonaram o socialismo, mal sentiram o "chamamento" do capitalismo. Nunca vai entender quem toma como seu o que pertence a todos.

E eu fico baralhado, sem saber se hei-de confiar no "encantamento" do meu tio António ou no "desencanto" do Pedro. 

Talvez entenda melhor os seus silêncios...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, julho 21, 2020

Estes Dias Quase Amarelos...


Estes dias quase amarelos, com  o Sol a brincar às escondidas com umas nuvens esquisitas, que deixam passar o calor, só escondem a luz, são no mínimo estranhos...

E depois, o corpo é que paga... como cantava o António. A roupa cola-se ao corpo, o suor escorre pela testa, mesmo quando estamos quase parados...

Nem as trovoadas nocturnas nos dão descanso.  

Sem darmos por isso, estamos cada vez mais perto do Norte de África...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)

segunda-feira, maio 13, 2019

Sei que Não há Desculpa Possível


Hoje ao almoço com alguns amigos percebi que não é nada de anormal, desculparmos as gentes que governam Angola há várias décadas,  com os malefícios do poder. Só que uma coisa não tem nada a ver com outra.

Eles poderiam ter usado o poder (e o dinheiro...) para tornar a sociedade angolana mais justa, até por pertencerem a um partido que em tempos que já lá vão, foi marxista (muitos deles até estudaram na antiga União Soviética...), e não apenas em benefício próprio.

Os nossos governantes também fingiram que não se passava nada em Angola, porque importante, importante, era que algum do dinheiro angolano fosse esbanjado no nosso país. E tanto podia ser em imobiliário como em bugigangas das lojas de luxo da Avenida da Liberdade... 

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

quinta-feira, junho 15, 2017

Ai que Saudades da Frescura do Oeste...

Não há muitos sítios que nos permitam escapar a esta "febre marroquina", que quer transformar a Península Ibérica quase numa espécie de "áfrica europeia", por muito que isso possa agradar a alguns turistas que adoram torrar a pele, sem precisar de visitar as praias de mar.

Tenho saudades do meu Oeste, do microclima que faz das Caldas da Rainha um lugar um pouco mais ameno e de a Foz do Arelho uma praia fresca, mesmo no Verão...

E sem precisar de ir tão longe, nas redondezas de Sintra também é possível escapar das temperaturas altas...

É caso para dizer: benditas Serras de Sintra e de Montejunto.

(Fotografia de Luís Eme - se o tempo continuar assim, vai haver mais moçoilas de biquini pela cidade...)

sábado, maio 27, 2017

O Poder, um Povo e um Relógio...


Ao ler a notícia publicada no "Diário de Notícias" sobre um dos filhos do presidente de Angola, Danilo dos Santos, que  arrematou esta quinta-feira, num leilão em Cannes, um relógio Franck Muller por 500 mil euros, que provocou a reacção do actor Will Smith que disse: «Ele é demasiado novo para ter 500 mil euros», pensei noutras coisas.

A mim não me preocupa nada a idade de Danilo, o rebento mais novo do mais que tudo de Angola. Preocupam-me sim os milhões que passam fome e vivem ao "deus dará", especialmente rente a Luanda…

Ou seja, a ausência de tudo aquilo que deveria ser importante para um futuro líder. E o Danilo, deve ter tido uma educação esmerada, mas infelizmente para os angolanos aprendeu muito pouco sobre ética, justiça ou humanismo, seguindo os péssimos exemplos de "novo-riquismo" da gente que ocupa o poder nos países africanos…

(Ilustração de Chichorro)

segunda-feira, agosto 22, 2016

Os Políticos e os Porcos que sabem Andar de Bicicleta...


A presença oficial do CDS (e de Paulo Portas...) no Congresso do MPLA em Angola  podia entrar naquelas historietas em que há sempre alguns fulanos a afirmarem que viram o porco do costume "a andar de bicicleta"...

Mas não, foi mesmo verdade. E até mandaram um  "deputado afro", que quase se torceu todo em elogios, aquele governo exemplar

Este procedimento retrata muito bem os políticos portugueses que têm ocupado cargos de poder nas últimas décadas, sempre sorridentes, agachados e de mão esticada para com os "donos de Angola".

Pouco importa se Angola é uma "democracia a fingir" ou se voltou a ser o país com a maior taxa de mortalidade infantil do mundo. Os diamantes e o petróleo são bem mais importantes que a democracia e as criancinhas...

(Fotografia de Sebastião Salgado)

sexta-feira, novembro 13, 2015

O Alto Preço da Liberdade


As explosões e os atentados que colocaram Paris em estado de sítio, esta noite, podem ser várias coisas. Um aviso sangrento, é com toda a certeza. E terá repercussões por toda a Europa. 

Se o objectivo pretendido é dar início a uma inversão da marcha do Oriente na direcção do Velho Continente, ele será conseguido. Os muros já se começaram a erguer...

Mesmo nós, quase esquecidos neste canto da Europa, ao ponto de pensarmos que somos demasiado pequenos para servir de alvo terrorista, também iremos mudar de atitude, a breve trecho.

Infelizmente o nosso futuro é sermos cada vez menos livres, para felicidade de quem gosta de controlar e condicionar os outros (são cada vez mais...).

Pode ser um reflexo da idade, mas cada vez acredito menos na chamada "bondade humana"...

A fotografia é de Edouard Boubat.

quarta-feira, abril 16, 2014

Um Povo Sem Memória...


Eu sei que não gostamos muito de pensar, e muito menos de recuar no tempo e rebuscar as nossas memórias.

Essa é uma das explicações para sermos governados pela "mesma gente" há quase quarenta anos, com os resultados que todos conhecemos...

Mas o pior são as contas que todos gostam de fazer, entre o deve e o haver da Revolução dos Cravos.

Quem não gosta muito de pensar, diz que a única coisa que realmente ficou de 1974 foi a liberdade, e mesmo essa, tem dias.

A ignorância sempre foi atrevida, claro que ficaram muitas mais coisas. Não podemos pensar o país apenas pelos últimos quatro anos, em que nos têm sonegado muitas das "conquistas de Abril", especialmente em termos laborais.

Antes da Revolução a maior parte das aldeias do nosso país não tinham electricidade, água canalizada, saneamento nem tão pouco acessos por estradas decentes (em muitos casos eram caminhos de cabras...). Havia quem morresse sem ter sido consultado uma única vez por um médico. As pessoas nunca liam a realidade dos factos nos jornais ou revistas, liam sim a realidade dos censores, que cortavam tudo o que achavam "subversivo". Existia uma polícia política que se alimentava de uma rede de bufos, em quase todas as ruas, que prendia quem lhes apetecia, quase sempre sem culpa formada. E para o fim deixo o pior: havia uma guerra nas províncias ultramarinas que matava e mutilava todos os anos milhares de jovens, que eram obrigados a matar e a morrer pela "pátria", depois de serem enfiados nos paquetes da Companhia Nacional de Navegação em direcção a Angola, Moçambique e Guiné...

Felizmente, Abril, deu-nos muito mais que a Liberdade, até nos deu o tal livre pensamento, que muitos não gostam de exercitar, vá-se lá saber porquê...

O óleo é de Mark Okrassa.

sexta-feira, dezembro 06, 2013

Um Adeus Anunciado


Embora as televisões se estejam a esforçar para "esgotar" a vida de Nelson Mandela, não o irão conseguir, por mais horas que usem de emissão.

Também não vejo esta notícia da morte do "Madiba", como algo triste e trágico. Até por ser algo que já se esperava há algum tempo.  

O mais importante é aproveitarmos o seu exemplo e os seus ensinamentos, como cidadão do mundo de excepção.

A maior pena que tenho é que Nelson Mandela não tenha sido um elemento inspirador para a maior parte dos países do continente africano, que preferem o clima de"guerra" e de grandes contrastes sociais, à paz e à solidariedade.

O óleo é de Victor Bregeda.

quinta-feira, outubro 17, 2013

Provavelmente Somos Mesmo uns "Merdas"


O "preto" da rua de baixo disse sem qualquer problema, que o português é um "merdas", quando o Necas lhe tentou ensaboar o juizo, pelas afirmações do "camarada presidente dos santos".

Não sei se ele estava a pensar nas afirmações de Passos Coelho, quando este afirmou que ia "baixar as calças" até ver os amigos angolanos satisfeitos. Pelo menos eu pensei...

Hoje ouvi nas notícias do almoço que a repartição de finanças de Idanha-a-Nova irá fechar e que quem precisar de tratar de qualquer coisinha, terá de se deslocar a Castelo Branco.

Se fossemos um país de gente como deve ser, os moradores do Concelho de Idanha (e de outros tantos concelhos que irão ficar sem as ditas repartições), deixavam de tratar do que quer que fosse com o "fisco", passando à situação de "clandestinos fiscais".

Há coisas que podem soar a provocação, como as palavras do "preto" da rua de baixo, mas que ele sabe do que fala, sabe...

(Foto tirada no Verão na Barragem de Idanha-a-Nova)

segunda-feira, outubro 07, 2013

O Mar é a Única Estrada da Liberdade no Sonho...


O mar é a única estrada da liberdade no sonho de milhares de seres humanos que vivem abaixo do limiar da pobreza nas várias Áfricas e querem uma vida diferente, para melhor.

A Europa, apesar das crises, continua a ser um lugar onde os aventureiros que compram uma passagem para a outra margem, pensam, ser diferente. Onde se respeitam os direitos humanos. Tem dias...

É por isso que viajam atrás do sonho, o tal que lhe pode dar uma vida menos desigual.

A ilha de Lampedusa é apenas mais um sinal, um sinal que arrepia e que faz com que não apeteça nada escrever sobre a "morte" e sobre o seu negócio.

Egipto e Síria são dois retratos mais à mão de um mundo pintado de sangue, que nos dizem que o mundo caminha mesmo como o caranguejo.

O óleo é de Tomasz Setowski.

domingo, julho 07, 2013

A Sombra e o Sol


A sombra costuma brincar às escondidas com o Sol e normalmente é agradável de se estar.

A não ser que se veja  invadida por uma destas vagas de calor, que de vez em quando chegam ao nosso país, sopradas pelos camelos do Norte de África.

Só nos resta andar com uma roupa leve, beber bastante água, e claro, não nos esquecermos do chapéu, quando deixarmos a sombra...

O óleo é de Boris Grigoriev.

terça-feira, maio 28, 2013

Mia Couto, Prémio Camões


Fiquei bastante satisfeito com a entrega do "Prémio Camões" a Mia Couto, um dos grandes escritores da literatura africana e da língua portuguesa.

Há alguns meses, escrevi assim sobre o Mia: «A literatura é sobretudo invenção, tanto na forma de escrita como na temática. E Mia Couto é óptimo nessas duas tarefas, tendo quase sempre a preocupação de dar voz a quem ainda não a tem, sempre com uma grande preocupação social, especialmente em relação às mulheres, que continuam a ser  figuras secundárias no dia a dia africano, mas não nos seus livros.»

terça-feira, janeiro 29, 2013

Regresso Forçado a Casa


Hoje ouvi um desabafo que me deixou surpreendido, mais por ignorância que por outra coisa, 

Escutei alguém a fazer um retrato da crise, através das movimentações das pessoas no bairro onde cresceu.

Disse que há trinta anos aquele lugar não tinha apenas uma identidade, havia um pouco de tudo, como acontecia em qualquer bairro suburbano.

Dez anos depois as coisas mudaram, aquele bairro tornou-se quase todo negro, povoado  maioritariamente por gente de várias Áfricas.

Hoje é quase como há trinta anos. Voltou a ficar mais claro porque houve muita gente que regressou, que teve de deixar as casas compradas em lugares mais agradáveis e com melhor qualidade de vida, sobretudo por causa do desemprego.

É apenas mais um sinal destes tempos, em que somos forçados a perder muitas coisas que pensávamos que eram um dado adquirido nas nossas vidas...

O óleo é de Manfred Honig.