Era pungente o seu viver.
Penalizava-se por atos irrefletidos.
Chegava a cravar as unhas nas
palmas das mãos
para se distrair desses atos
que ainda a combaliam.
Não dava mostras de remorsos,
mas fora dura consigo mesma
e não se perdoava
martirizando-se descalça
sobre espinhos que lhe feriam a alma.
O suor a escorrer sangue,
os lábios cerrados cobertos de sal,
não lhe davam a paz
que o seu coração ansiava.
Na correnteza do rio
muitas lágrimas caídas
misturavam-se com os peixes.
Ainda hoje se julga amarrada
à pedra onde esculpia a sua dor.
(Ensaio sobre ficção)
Emília Simões
08.06.2024