Declaração de José Sócrates
Em 26 de Novembro de 2014
Há cinco dias “fora do mundo”,
tomo agora consciência de que, como é habitual, as
imputações e as “circunstâncias”
devidamente seleccionados contra mim pela acusação
ocupam os jornais e as
televisões. Essas “fugas” de informação são crime. Contra a
Justiça, é certo; mas também
contra mim.
Não espero que os jornais, a quem
elas aproveitam e ocupam, denunciem o crime e o
quanto ele põe em causa os
ditames da lealdade processual e os princípios do processo
justo.
Por isso, será em legítima defesa
que irei, conforme for entendendo, desmentir as
falsidades lançadas sobre mim e
responsabilizar os que as engendraram.
A minha detenção para
interrogatório foi um abuso e o espectáculo montado em torno
dela uma infâmia; as imputações
que me são dirigidas são absurdas, injustas e
infundamentadas; a decisão de me
colocar em prisão preventiva é injustificada e
constitui uma humilhação
gratuita.
Aqui está toda uma lição de vida:
aqui está o verdadeiro poder – de prender e de
libertar. Mas, em contrapartida,
não raro a prepotência atraiçoa o prepotente.
Defender-me-ei com as armas do
Estado de Direito – são as únicas em que acredito. Este
é um caso da Justiça e é com a
Justiça Democrática que será resolvido.
Não tenho dúvidas que este caso
tem também contornos políticos e sensibilizam-me as
manifestações de solidariedade de
tantos camaradas e amigos. Mas quero o que for
político à margem deste debate.
Este processo é comigo e só comigo. Qualquer
envolvimento do Partido
Socialista só me prejudicaria, prejudicaria o Partido e
prejudicaria a Democracia.
Este processo só agora começou.
Évora, 26 de Novembro de 2014
José Sócrates