sábado, 31 de março de 2012

Páginas de um diário público: a viagem

"Correndo", 1901, óleo de Paul Gauguin

Volto ao tão interessante "Hommage à Gauguin, l’insurgé des Marquises” (Magellan & Cie, 2003), de Victor Segalen***, e releio: “Há três tipos de pessoas que, levadas por razões diversas, não hesitam em invadi-los [invadir o quotidiano dos habitantes da ilha do Grande-Pico, no Pacífico]... O missionário, seja qual for a sua bíblia; o comerciante, sejam quais forem as tralhas; o administrador, seguido de polícias e papel selado...”

É o “progresso” a matar a vida, a assassinar a Cultura, a destruir, irremediavelmente, universos...

Claude Lévy-Strauss morreu com esse desgosto: ver Culturas serem engolidas pelo Grande Nivelador: aquele a que chamam Ocidente Esclarecido e é o pai da desumanização, da solidão e... da fome –o pai da crise, patíbulo de números, que eram homens...

As notícias que, hoje, me trazem de São Tomé e Príncipe, onde vivi de 1991 a 1996, deixam-me arrepiado: multiplicam-se os resorts, o folclórico forçado... e o perfil das ilhas esbate-se, vulgariza-se...

Quando por lá andei, já havia ameaças, por exemplo, uma espécie de resort, no ilhéu Bom-Bom, com guia turístico, uma europeia, que apontava para a aldeiazinha mais perto e dizia: “Se quiserem, podemos ir visitar aquela gente, aquele “povo primitivo”.

Eu conhecia muito bem aquele "povo primitivo”...

E o convite não tinha resposta. Que poderia retorquir, sem ser desagradável, àquela mulher “primitiva”, que afinal ganhava a vida, paga pelos mercadores europeus, apostados em sangrar ainda mais duas ilhas pobres, carentes, frágeis, sem condições para recusarem a invasão que lhes trazia dinheiro?

Eu conhecia aquele "povo primitivo”, do bairro do Riboque, do velho bar “Das cinco às cinco”, do restaurante “Benfica”, das taberninhas de nome terrivelmente irónico (e lúcido) "O mundo já viu" e "A vida custa"..., de uma preciosa, criadora, inesquecível convivência.

Lembro-me de ver chegar os primeiros turistas arrebanhados pelas agências (ainda eram poucos), fardados disso mesmo: de turistas em África: capacete colonial, blusões caqui, cheios de bolsos, óculos escuros, máquina fotográfica ao pescoço... E tinha pena deles.

Em primeiro lugar, eram ridículos; depois, suavam as estopinhas, assim armados, a arfar, a suar, a temperatura a 37% e a humidade a 98%...

Ao referir as três pragas -missionário, comerciante e administrador-, Victor Segalen omitiu a figura sinistra do turismo de massa; mas a verdade é que escrevia na primeira década do século XX: em 1900 e pouco.

Jacques Monod**** escreveu um livro intitulado “O acaso e a necessidade” –e dessas duas forças se vão construindo as nossas vidas.

Elas assistiram ao meu destino? Provavelmente.

Saí de casa de meus pais aos oito anos; aos 36, iniciava uma viagem de quase trinta anos, por Itália, África, Israel, Marrocos... O acaso (e a necessidade) proporcionou-me alguns meses na Rússia e em Inglaterra. Sofrendo da doença de André Gide e Claude Roy -o síndroma do bicho-carpinteiro-, aproveitei cada ocasião para visitar outros lugares, na Europa, em África, no Médio-Oriente, na Ásia.

E, esbarrando com o turismo mecânico, confirmei a ideia de haver muitas viagens inúteis, servindo, apenas, currículos sociais.

“Eu estive em..., e em... Uma maravilha!”

Que colhem?

Mas, de facto, no Portugal dos fins de novecentos e das primeiras décadas do século XX, ajudava a subir na vida juntar a eventuais títulos académicos uma viagem a Espanha; agora, é indispensável às conversadas que fazem parte da “sociedade do espectáculo”, como lhe chamou Guy Debord, exibir as medalhas dos nossos carnavais turísticos.

Não se pode, porém, chegar mascarado a nenhum lugar –e muito menos recluso em si próprio.

Porque não vamos a nenhum circo, nem a nenhuma festa mundana  -vamos à Vida.

Temos de nos despir, entregar; de nos arriscarmos; de partir do zero, a fim de receber o outro e o compreender, a ele, na sua Cultura.

Assim, avançamos e, assim, a viagem nos enriquece e enriquece quem encontrarmos.

É um diálogo.

Não lhe vamos levar a nossa Pedra Filosofal nem ele nos imporá a sua.

Isso seria um abuso: uma invasão.

O encontro

Boligan, in El Universal, de México

quinta-feira, 29 de março de 2012

Na hora da morte -V

Um país em ruína...

"Portugal deverá perder 170 mil postos de trabalho só este ano"

in Público de hoje

Abre:

O português e o cavalo do inglês


O nosso parente britânico, no minuto que antecedeu a sua morte

Todos conhecemos a história do cavalo do inglês: o dono foi-o ensinando a não comer e, quando ele estava quase a aprender, morreu de fome.

Atentando no que por aqui se passa e nos passos que o governo de Passos vai dando, multiplicando o assalto às nossas bolsas, amigo, cada vez mais nos sentimos irmãos do cavalo do inglês!

Jornais



Greve geral em Espanha

A consciência da degração galopante do trabalhador -por toda a parte onde se sofre a violência dos estertores do capitalismo financeiro 

Ler:

Páginas de um Diário Público: casais felizes

"Perspectiva II", 1950, Réné Magritte

Olhar em volta é olhar para os outros. É, deveria ser, o inicio de um diálogo.


André Gide denunciava as famílias; ia ao ponto de escrever que as odiava.

Resta saber quais.

Eu sei: os grupos unidos pelos laços do sangue que transformam o sangue no granito do egoísmo:

a pedra solta que lhes corre nas veias isola-os, cega-os, esteriliza-os.

Perdem a vida.

A vida começa no encontro do outro –de tudo quanto está fora de nós e em nós provoca o agitar criador da alma: o afecto, a paixão, o deslumbramento.

Esse grupinho que foge à vida -ao encontro, ao diálogo, à compreensão- e se encerra no mínimo e mesquinho círculo de defesa mútua, eis o que revoltava Gide.

E me desgosta.

Nos anos de Roma, passou por nossa casa aquilo que, ironicamente, certa amiga minha, A. C., parisiense de adopção e mulher que ama o mundo, chama “o casal feliz”.

O “casal feliz” foi bem recebido e suportado –mas a mediocridade que lhe escorria das atitudes inquinou-nos o quotidiano. Roubou-nos a luz dos dias sempre novos e maravilhosos. Ameaçou reduzir o viver ao quentinho de redoma isoladora.

Lembro-me que, no mesmo momento, partilhava a nossa casa um globe-trotter, o oposto do “casal feliz”, um jovem capaz do risco e da aventura; lembro que o famoso Zac, rafeiro de honrosa estirpe, poeta e apaixonado pelos instantes, dividia, com todos, o alvoroço dos dias.

E indignámo-nos -para surpresa do “casal feliz”.

Não teríamos juízo?, ter-se-ão interrogado, firmes na convicção da importância da couraça protectora.

Não, eles é que não tinham juízo!

Sabíamos que não viemos cá para passar ao lado da vida e, muito menos, para lhe fugir, assustados.

E, em Roma, cidade aberta, essa certeza vibra especialmente.

E a imagem de mortos-vivos que o “casal feliz” transmitia, gelava-nos a casa, porto de partida e não de chegada.

A fábula conta: nunca se chega a nada para ficar –ou antecipamos o caixão.       

Primavera: olha à tua volta

"Jardim florido", 1896, Claude Monet


"A beleza inocente  dos jardins e do dia."

La Fontaine, citado por Claude Roy in "Les rencontres des jours", Gallimard, 1995

quarta-feira, 28 de março de 2012

Regresso ao século XIX? Debate-se, hoje, na Assembleia Nacional, a revisão do Código do Trabalho




O trabalhador português é o novo escravo que repete a tragédia da revolução industrial inglesa, cada vez mais dependente do capital? Assim parece.

Para pesares a brutalidade das medidas que, provavelmente, a maioria irá aprovar, basta leres quanto escreve o Público de hoje; e talvez te apeteça perguntar onde anda o espírito socialista do Partido Socialista...:

O vertiginoso mistério do negócio de um banco português de negócios

Lisboa, sede do Banco Português de Negócios
Abrir:

Um pintor e a sua obra

"Entre o meio-dia e as duas", óleo de Jean-Claude Roy (1948-)

http://www.jcroy.com/paintings_page1.htm

Bom dia a todos, especialmente a C.R.


"Primavera", c.1482, de Alessandro Botticelli (1444,45-1510)

terça-feira, 27 de março de 2012

A defesa da democracia, a luta pela justiça social, o enino da solidariedade

O capital e o trabalho: um confronto de séculos

O meu projecto é socialista e eu sou socialista. Não sou sensível às sereias do neoliberalismo nem defensor dum Estado que decida tudo por sobre a cabeça dos cidadãos, das forças sociais e dos parceiros sociais. Não sou um socialista moderado nem moderadamente socialista. Sou socialista, e é tudo.

(...)Três pontos: em primeiro lugar a justiça social. As sociedades necessitam de regras e as riquezas devem ser repartidas equitativamente. Em segundo lugar, o crescimento deve organizar-se de outro modo, deve ser solidário e duradouro. Finalmente, o meu terceiro princípio chama-se sinceridade.

(...) a juventude deve estar no centro das nossas atenções. Devemos assegurar-lhe o futuro, não graças a uma política do ambiente mas, também, graças a esforços nos domínios da educação, da cultura e da ciência. E, sobretudo, devemos fazer tudo para que os jovens encontrem empregos: o desemprego dos jovens é um flagelo contra o qual quero lutar.

François Hollande, candidato socialista à Presidência da República francesa, in Libération de 26/03/12 

O governo inova: volta o exame da 4ª classe!

in Público de hoje


E cá vamos nós em pleno retrocesso: os tais 50 anos para trás...

Um autoretrato pouco conhecido de Leonardo da Vinci


A história conta-a La Stampa cujo link está no post abaixo, "Jornais"

Jornais








Um debate muito importante que deveria repetir-se em Portugal

segunda-feira, 26 de março de 2012

Este governo quer andar meio-século para trás

Lisboa, Cidade Universitária, Março de 1962


Vivi essa greve académica, que Manuel  A.  Pina refere. Ela foi uma esperança: desamordaçar um país, expulsar um ditador, reconquistar a liberdade. Não conseguimos –mas ficou a sementa, que demorou 12 anos a germinar. Agora, quando muitas conquistas do 25 de Abril ameaçam ruir e o governo parece desprezar a democracia, quis abrir o blogue de hoje com as palavras duras como pedras e infelizmente verdadeiras e actualíssimas de MAP, ao qual deixo mais um grande abraço de amizade e admiração.  

50 Anos depois


por Manuel António Pina


Colette Magny cantou-os chamando-lhes "les gens de la moyenne": "Os estudantes manifestaram-se,/ foram seviciados pela Polícia/ (..) em Lisboa, Portugal". Foi a 24 de Março de 1962, em plena ditadura, quando a Polícia de Choque atacou com grande violência estudantes que se manifestavam em Lisboa, dando origem à primeira das "crises académicas" (a segunda seria sete anos depois, em Coimbra) que abalaram os alicerces do regime salazarista.
Escreveu Marx que a História acontece como tragédia e se repete como farsa. 50 anos passados sobre esse episódio (e 38 anos sobre o 25 de Abril...), a Polícia de Choque mudou de nome para Corpo de Intervenção mas não parece ter mudado de métodos: violência e recurso a agentes provocadores para a justificar. E a ditadura é hoje uma farsa formalmente democrática - um "caos com urnas eleitorais", diria Borges - em que é suposto existirem direito à greve e à manifestação.


Quem viu na TV a imagem de um homem ensanguentado gritando "Liberdade! Liberdade!" em direcção à tropa do dr. Miguel Macedo que, como em 24 de Novembro último, espancou selvaticamente jovens que, em vez de acatarem o conselho do primeiro-ministro e emigrarem, se manifestaram na quinta-feira em Lisboa, não pode deixar de descobrir afinidades (até nas agressões a jornalistas e nos comunicados oficiais falando de "ordem e segurança" e culpando as vítimas) com o que aconteceu há 50 anos. E de inquietar-se.
transcrito, com a devida vénia, de Jornal de Notícias de hoje

domingo, 25 de março de 2012

O Presidente e a Cultura


Manuel Teixeira-Gomes (1860-1941), grandes escritor português, Presidente da República de 1923 a 1925, depois de ter sido Embaixador em Londres, durante 11 anos, é o exemplo de homem cultíssimo, de grande sensibilidade e espírito artístico. Honrou o nosso país. Foi, sem dúvida, o mais completo dos presidentes da República Portuguesa. (retrato de Columbano, 1911)

Temo-nos interrogado acerca de dever ter ou não ter um Presidente da República a Cultura suficiente para não envergonhar o país que encabeça.

E sabemos muito bem por que nos angustia essa questão.

Le Monde publicou, hoje, sobre o assunto, em plena campanha eleitoral para a presidência da República, um interessante artigo que poderás ler, se abrires o link:

Bom dia II: Primavera


Ramon, in El País de hoje



Bom dia!


"Dom Quixote", ilustração de Júlio Pomar: luta pelo teu sonho!

Antes que seja tarde

Amigo,
tu que choras uma angústia qualquer
e falas de coisas mansas como o luar
e paradas
como as águas de um lago adormecido,
acorda!
Deixa de vez
as margens do regato solitário
onde te miras como se fosses a tua namorada.
Abandona o jardim sem flores
desse país inventado
onde tu és o único habitante.
Deixa os desejos sem rumo
de barcos ao deus-dará
e esse ar de renúncia
às coisas do mundo
Acorda, amigo,
liberta-te dessa paz podre de milagre
que existe
apenas na tua imaginação.
Abre os olhos e olha
abre os braços e luta!
Amigo,
antes da morte vir
nasce de vez para a vida.

Manuel da Fonseca, in Poemas Completos, Portugália Editora, 3ª edição, 1969

sábado, 24 de março de 2012

Memória


Há quase três anos, a cumprirem-se em Maio, calhou -e ainda bem!- visitar Montalegre. Duas ou três vezes -estava no Gerês, onde me demorei uma semana. E, numa das visitas, escolhi para almoçar, o estupendo restaurante Ricotero.

Agora, um novo amigo, Alberto Sem Pavor Cruz, enviou-me a fotografia, reproduzida acima, em destaque no Ricotero! Sensibizou-me a atitude do proprietário, o Sr. Domingos Vieira cujo, aliás, já me escrevera uma carta encantadora.

Guardo boa lembrança dessa boda e aqui reproduzo o post escrito e publicado, à data; ora abre:

Bom fim de semana, com Novalis e Turner!


"Cascata de Tees, Yorkshire, 1825-1826, óleo de William Turner (1775-1851)


"A água é uma chama molhada", Friederich Novalis (1772-1801)

Coelho e os brandos costumes

O modo do governo dialogar com os cidadãos...


“Passos Coelho garante que está a fazer “uma revolução tranquila”

in Público de ontem/hoje

Dia de reflexão (a solução, amanhã)




Forges in El País de hoje

sexta-feira, 23 de março de 2012

A frase do dia: a dor ignorada


"Barqueiros do Volga" 1871, óleo de Ilya Repin (1844-1930)

Claude Roy, no livro autobiográfico, Moi Je, que venho a citar, transcreve, sem dizer donde, estas palavras subtilmente arrepiantes do grande Tchekov:

Nós não vemos nem ouvimos os que sofrem. Tudo quanto há de pavoroso na vida acontece algures, nos bastidores. O homem feliz sente-se bem porque os infelizes carregam o seu fardo em silêncio, e, sem ele, a felicidade seria impossível”.

Os jornais







A foto do dia: o homem-coisa, o homem perseguido, o homem proibido de dizer o que pensa, o homem a quem roubam a liberdade


Imagem da Greve Geral de ontem dia 23 de Março de 2012, que ilustra a "democracia segundo Passos Coelho"

Simone de Beauvoir escreveu "[o crime sem perdão é] a degradação do homem em coisa."

quinta-feira, 22 de março de 2012

Hoje: Greve Geral: isto é o respeito pelo direito à greve, o respeito pelo direito à informação? Mais uma vergonha comandada à distância!


Hoje, greve geral: um polícia carrega sobre uma fotógrafa da agência AFP, durante confrontos no Chiado


Saber tudo:


Leituras







Um impressionista francês (de origem portuguesa) retrata a Londres do séc. XIX


"O Ave, subúrbio do sul de Londres", 1871, por Camille Pissarro 

Mais:

A crise não é igual para todos: há uma minoria a enriquecer à custa de uma maioria cada vez mais desgraçada...

Erlich, in El País de hoje


"-Não me perguntes o que fiz para provocar a crise, pergunta-me quais as oportunidades que ela me está a dar a mim."

Os crimes de Toulouse: perigo de recrudescência da xenofobia


Continua o cerco ao presumível assassino que ainda não se rendeu

Os crimes de Toulouse ameaçam reforçar a xenofobia: que se responda ao terrorismo islâmico com a rejeição do árabe e da imigração árabe.
Pode acontecer em França e, por tabela, acentuar-se noutros países europeus em que o populismo-nacionalista faz cavalo de batalha, precisamente, da condenação e perseguição dos imigrantes.

Esta "Editorial" do El País de hoje, merece uma leitura atenta:
"Terrorismo en Toulouse
Francia debe abogar por la convivencia y evitar a toda costa la xenofobia y el populismo

Francia ha sufrido el trágico embate del terrorismo yihadista. Aunque aparentemente se trate de un lobo solitario, el supuesto criminal, el francés de origen argelino Mohamed Merah, había pasado según el Ministerio del Interior por campos de entrenamiento en Pakistán y combatido en Afganistán con los talibanes, reclamándose de Al Qaeda. La organización terrorista no está muerta en Occidente, pese a la caída de su fundador, Osama bin Laden, sino que puede haberse convertido en una banda más escurridiza, con activistas sueltos, como parece ser el caso de Toulouse. Es una transformación sobre la que hace tiempo que alertan los servicios policiales, desde el último atentado yihadista coordinado en Europa, en Londres en julio de 2005.
Merah fue localizado tras el asesinato de tres soldados, dos de ellos de origen magrebí y uno caribeño, elegidos quizás por la participación francesa en la guerra de Afganistán, y tras la matanza de un rabino y tres niños judíos en un colegio de Toulouse, de un indudable y odioso relente antisemita, que ha conmovido no sólo a la sociedad francesa sino también a la israelí.
Los atentados han afectado de lleno a la campaña para las presidenciales francesas. Sería preocupante que el hecho de que el supuesto asesino sea de origen árabe reforzara el discurso antimusulmán que se ha ahondado en los últimos años y en especial en esta campaña, de la mano de la dirigente del Frente Nacional, Marine Le Pen. Esta intenta sacar provecho político a estos crímenes. Al “ya os lo dije”, que rápidamente proclamó, ha seguido una petición populista de referéndum para restablecer la pena de muerte.
El presidente Nicolas Sarkozy, que siempre ha mantenido un discurso duro respecto a la seguridad y el orden público, se ha radicalizado en los últimos tiempos con un mensaje que bordea el rechazo al extranjero, con el que quiere atraer a parte del electorado del Frente Nacional, un partido que se encuentra fuertemente implantado en la sociedad francesa y cuyos votos necesita el presidente para poder derrotar al candidato socialista, François Hollande, en la segunda vuelta.
Sarkozy y Hollande reaccionaron con serenidad al ataque terrorista, suspendiendo su campaña y apelando a la unidad de los franceses en un momento doloroso que, efectivamente, constituye, en palabras del presidente, una “tragedia nacional”. En situaciones como estas, el deber de los dirigentes políticos es no contribuir a reacciones destempladas, sino a calmar la tensión que inevitablemente genera el terrorismo. La Francia republicana debe recuperar su sentido de convivencia, como hizo la sociedad española tras los atentados del 11-M de 2004 al evitar la tentación de la xenofobia.
Cuando en los países de la ribera sur del Mediterráneo son partidos de corte islamista los que ganan unas elecciones por fin libres, se hace más necesario separarlos y distinguirlos de quienes propugnan la violencia en nombre de una interpretación tergiversada de su religión."