sexta-feira, 31 de outubro de 2014

João Louro representará Portugal na 56ª Exposição Internacional de Arte-Bienal de Veneza

Uma obra de João Louro

A Bienal de Arte terá lugar de 9 de Maio a 22 de Novembro de 2015.

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Evento histórico:

Há 38 anos, Alberto Carneiro seria o artista escolhido para representar, pela primeira vez, desde sempre, Portugal, em Pavilhão cedido pele Bienal de Veneza. Quando a nova Bienal se inaugurar, terão passado 39 anos sobre a estreia individual e oficial portuguesa.


Uma obra de Alberto Carneiro (que não é a que levou a Veneza)

Bom dia! Um fim de semana longe da multidão, que enlouquece, e livres de pensar...



“[a luta pela esquerda] …É um desejo que está longe de ser indiferente, na condição de o transformarmos em vontade não nos comprazermos em na resignação; com a condição, também, de atingirmos o entusiasmo e não a desistência. Eis o que queria dizer Sartre, quando repetia:”A esquerda existe mas não sabe onde está.”


Jean Daniel in Edito de L’Obs, nº 2607, 23/10/2014

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Cecilia Bartoli e S. Petersbourg: acontecimento do ano?

Porque se aplicam em criar esfomeados...

in Público de hoje

O outro lado

"O mar", obra de Robert Motherwrll (1915-1991)


queria ver se chegava por extenso ao contrário;
força e pulsação de graça,
isto é: a luz de dentro despedaçando tudo,
e concentrada:
estrela / estela


Herberto Helder in A MORTE SEM MESTRE, Porto Editora, 2014


Herberto Helder

Abrir o dia com um génio que ergueu em Veneza uma obra única

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

terça-feira, 28 de outubro de 2014

A GRANDE FOTO DE 2014: COELHO FARDADO PARA SALVAR AS VACAS... E O PAÍS!

Passos Coelho em visita a uma empresa de lacticínios, em Ponta Delgada: ele está atento!

E já agora vamos elogiar o nosso santo governo! Merece, não acham?

in Público de hoje

Por cá também já se afirmam uns que fazem o mesmo...

in El País de hoje


"-O nosso país foi tão generoso comigo que me dediquei à política para...

"-Para devolver algo do recebido?

"-Não, para levar um pouco mais.

***lembro que o actual presidente da Ucrânia é... o dono milionário de uma (s) fábrica (s) de chocolate que o enriqueceram

Um dia diferente com André Derain

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Curdistão um país que não existe


Já agora, para ficarmos a saber alguma coisa do tumultuoso Médio Oriente, aqui vai:

na sequência da Primeira Grande Guerra Mundial (1914-1914), chegou a ser suposto criar um novo pais, o Curdistão, da mesma maneira que se definiam os limites de outros (novos) países do médio oriente.

Tudo isso resultava do desmantelar do império otomano.

Ressurgia, pois, a Turquia, antigo centro do império.

E, apesar do Tratado de Sèvres (1920), em que se estudou a nova geografia, aconselhar a criação do Curdistão, decidiu-se que os curdos se dividissem pela já referida Turquia, pelo Irão, Síria e Iraque.

Números:

Na Turquia, vivem, 13,5 milhões de curdos; no Irão, 5 milhões; na Síria, 3 milhões; no Iraque 4,6 milhões.

Total: 26, 1 milhões de curdos, mais apátridas que outra coisa.


Apenas os curdos do Iraque gozam de uma verdadeira autonomia.   

Um grande pintor português que não se pode esquecer: José Escada (1934-1980)

Óleo de José Escada



Notícias:

http://www.dn.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=4202669

http://www.rtp.pt/arquivo/index.php?article=1760&tm=23&visual=4



DILMA ROUSSEFF REELEITA PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL: A GRANDE VITÓRIA DE UMA GRANDE MULHER NUM GRANDE PAÍS QUE AVANÇA E SE AFIRMA NO MUNDO: ALI, AS PESSOAS CONQUISTARAM A CONSCIIÊNCIA E OS DIREITOS CÍVICOS E CONSOLIDAM A LIBERDADE DEMOCRÁTICA.


Dilma Rousseff: uma mulher fora do vulgar num país de Cultura e criação

Terra fecunda, terra viva

Bom dia com Picasso: "eu não procuro, encontro"

domingo, 26 de outubro de 2014

sábado, 25 de outubro de 2014

Descoberto o paradeiro de uma obra perdida de Michelangelo Merisi, dito o Caravaggio


"Madalena em êxtase", 1610?, óleo de Caravaggio (Milão, 1571-Porto Ercolo, 1610)

Finalmente! É ela!” Com estas palavras, Mina Gregori deu por terminada a procura, segundo La Repubblica (Itália). Diante dos olhos de uma das principais estudiosas italianas de Caravaggio apresentava-se uma das  obras perdidas do mestre: Madalena em êxtase, obra que trasia consigo, com outras mais, a bordo do barco que o levou a Porto Ercole, onde morreu.

in El País de hoje

Ler:

http://cultura.elpais.com/cultura/2014/10/24/actualidad/1414177727_009382.html


quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O drama da Freira de Beja -II



A história fabulosa, em todo o sentido da palavra


Quem era Mariana?

Nasceu a 22 de Abril de 1640, em Beja, filha segunda de Leonor Mendes, do mesmo lugar, e Francisco da Costa Alcoforado, originário da Vila de Cortiços, comarca de Torre de Moncorvo, Trás-os-Montes.

Três anos depois, nasce o irmão Baltazar (1645) *** o mais velho de três filhos dos sete -três rapazes e quatro raparigas- de  Francisco e Leonor. Baltazar teve um papel relevante no drama de Mariana, como veremos adiante.

Essa, aos 11 anos, entra para o Real Convento de Nossa Senhora da Conceição, em Beja, e, aos 16, professa. Ali viverá até à morte, a 28 de Julho de 1723, com 83 anos. Da sua vida pessoal, quase só nos resta aquilo que sucedeu em 1667: um breve e tumultuoso encontro.

Noel Bouton (1636-1715), conde de Saint-Léger, futuro Marquês de Chamilly, era capitão de cavalaria, às ordens do conde de Schomberg, Frederic Armand von Schomberg, por sua vez, às ordens do rei de França, Luís XIV, que o mandara comandar um corpo de exército francês, destinado a apoiar Portugal na demorada Guerra da Restauração. Ao que sei Noel era o mais velho de seis irmãos: além dele, outro também militar, um frade e três irmãs freiras.  

Chega Noel Bouton a Beja em 1666 e junta-se a um grupo de pândegos sem regras, amigos, camaradas, entre os quais… Baltazar Alcoforado, depressa seu amigo íntimo que reforçou o amor de Noel por Mariana.

A velha Pax Julia romana, destacava-se, ainda, no século XVII. Raul Proença, no volume do Guia de Portugal dedicado ao Alentejo, editado em 1927, sublinha que “nos sítios de Esquível e do Ulmo os palácios brasonados, as janelas quinhentistas e as rótulas de gelosias evocam a lembrança da vetusta cidade rural que foi assento de príncipes, cunhou moeda, teve dentro dos seus muros o mais rico convento do Alentejo, e viu passar nas suas calçadas as cavalgadas brilhantes de Briquemault e Chamilly [Noel Buton]”. Mas Beja não era a mesma nem o tal Convento muito rico, antes pelo contrário, ao aparecer o capitão de cavalaria, o fidalgo francês Noel Bouton.

Que levou Mariana (“a grande amorosa Mariana Alcoforado, glória eterna do sentimento português”, escreve Brandão no texto já referido) e Noel a conhecerem-se?

Janela da Porta de Mértola, no Convento da Conceição

Aquilo que viria a ocupar lugar vitalício na Literatura aconteceu do modo mais natural: descobriram-se quando ela assomou à janela do convento sua preferida, a da Porta de Mértola, e ele surgiu, a exibir-se num cavalo de raça, e a viu.

Como se apaixonaram?

Uma mulher de 26 ou 27 anos, inexperiente, segregada, longe do mundo desde os 11 anos, viu um oficial garboso, um estrangeiro, um homem diferente.

Noel, no marasmo da província portuguesa, tão pobre comparada ao esplendor de Paris, de Versailles, topa uma beleza que o deslumbra –e ela própria, numa das suas cinco cartas enviadas para França, lhe recorda: “Encontrará, talvez, agora, uma vasta variedade de belezas (então [quando se amavam, em Beja], disseste- me que eu era invulgarmente bela)”.

Mais terra à terra: a monotonia do convento e o quotidiano insípido da pequena cidade soltam, deitam fogo a duas almas ansiosas por que alguma coisa aconteça. Era a aventura, que Mariana buscava e Noel cultivava.

O cavaleiro inesperado

Mariana deu-se, Noel divertiu-se.

Mero divertimento? De certo que não: Mariana tomou posse de Noel, prendeu-o por dentro.

Para o aristocrata rico, frequentador da corte de Versailles, habituado a amores que não passam de jogos –Mariana revela-se uma força, que o assusta.

Não calculara, fria e amoralmente mais um jogo -e lembro o amante da novela de Irene Lisboa, a crueldade gratuita a torturar Helena, ele a gozar esse poder-, não, isso não, Noel entusiasmara-se com a brincadeira.

Mas, a dado momento, a brincadeira, destinada a preencher o vazio de Beja, que prostitutas e álcool, divididos com Baltazar, amigo e proxeneta, não compensavam, transformou-se: Noel viu-se entalado naquilo que não queria nem podia querer: o dealbar da paixão que o ligaria a uma plebeia de um país pobre e quase desconhecido. Regressar a Paris acompanhado de uma freira raptada seria um desastre, seria o descrédito, seria queimar o futuro ambicionado.

E sacudiu a manta. Arreou o cavalo e abalou.

Depois de mil promessas de amor, de fidelidade, talvez sinceras, tanto crescera o entusiasmo.

Mas aquele sítio e aquela mulher não eram o que desejava. Ele queria a corte, Versailles, benesses e uma esposa rica, nobre, bonita ou feia, que importava? Uma mulher à sua altura.

Sofreu a escolha? Terá sofrido mas breve e superficialmente.

Abusara dela? Chegou-lhe, alguma vez, essa dúvida? Talvez haja existido esse remorso, ferida impertinente e incómoda, que logo procurara curar.

O doce Cupido é, porém, luciferino e não deixa em paz aqueles que lhe cederam e o acolheram.

De volta aos salões de Versailles, procurou, sistematicamente, apagar a memória de Mariana; também, justificar-se, diante dos valores do meio de que viera e a que regressava.

Um trabalho fácil: aos olhos da corte de Versailles, a freira de Beja não podia deixar de aparecer senão como leviana,  pecadora, igual a mulher da vida.

Noel Bouton contribuiu para essa imagem? Sim, contribuiu não reagindo à publicação das cartas nem aos comentários às mesmas, guardando o silêncio e, dizem, acabando por as destruir.

Destruí-las beneficiava-o a dois níveis: o próprio, uma vez que eliminava a presença da freira de Beja e enterrava a aventura tida com ela e cuja memória tanto o incomodava, tantas dúvidas ressuscitava; o público, pois, assim, desaparecia a prova de que Mariana as escrevera e a ligação, que ele não podia negar, fora mais que um passatempo, fora uma paixão cheia de podres.

Os anos correram, Noel Bouton teve as honrarias desejadas e o reumatismo físico e mental inevitável, esqueceu e enriqueceu; Mariana salvou-se guardando, bem guardada, a memória do único e breve momento em que amou, em que viveu.

       Mariana Alcoforado, litografia de Matisse

*** “Segundo declaração do próprio que vimos num processo do Santo Ofício em que foi testemunha” cito Manuel Ribeiro, no livro Vida E Morte de Madre Mariana Alcoforado,1940, Livraria Sá da Costa Editora, Lisboa. Para mim, a origem judaica dos pais de Mariana é uma questão em aberto. 

Bom dia, quando o Verão se substitui ao Outono...

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O drama da Freira de Beja



Denúncia ou Mariana e o Outro


Há dois livros que me impressionaram muito: Lettres Portugaises, atribuídas à freira de Beja, Mariana Alcoforado, e Esta Cidade!, de Irene Lisboa.

Cheguei a eles na seguinte ordem: em 1960, a obra de Irene Lisboa, que comprei na Feira do Livro; em 1961, as cartas de Mariana.

Mas devo sublinhar o seguinte: em Esta Cidade!, arrebatou-me um dos capítulos, O Amante, novelinha, ou long short story, talvez uma das obras-primas da nossa Literatura.

De que tratam Irene Lisboa e Mariana?

Descrevem o sofrimento de duas mulheres -Helena e Mariana-  vítimas de dois casanovas, dois amantes sem escrúpulos e sem paixão.

Ou, se quiserem, duas mulheres vítimas do secular machismo que continua a existir, talvez, hoje, mais obsessivamente do que nunca.

Imperando na literatura, no cinema e na publicidade quotidiana, recorre ao uso do corpo da mulher, diz-se erotismo e não passa de pornografia que, precisamente, falsifica o erotismo, deforma-o, adultera-o.

É o erotismo um valor?

Com certeza –mas não cabe debatê-lo, neste brevíssimo ensaio.

Está presente, ou subjaz, o erotismo na narrativa de Irene Lisboa e nas cartas de Mariana? Sim, mas nada tem de pornográfico: integra-se na paixão e no grande sofrimento assinalado.

Não que o amor -a paixão- obrigue ao sofrimento; acontece, nessas histórias, serem os dois amantes masculinos tudo menos amantes: o da novelinha de Irene Lisboa cujo nome ela omite e o oficial francês, Noel Bouton, conde de Saint-Léger, inconsciente carrasco da freira de Beja.

Admitindo -porque a polémica, em torno de quem escreveu as Lettres Portugaises, confiadas ao livreiro parisiense Claude Barbin, no dia 28 de Outubro de 1668, para publicação e editadas sem nome de autor***, é uma polémica que se arrasta há séculos-, aceitando Mariana Alcoforado como autora, cativou-me na freira de Beja, para lá da poesia e da profundidade do texto, a força do seu grito, denúncia de uma fraude.

Irene Lisboa narra alguns instantes da relação de Helena e do amante; bem a seu estilo, a afirmá-la impressionista única da nossa Literatura, pedaços de vida, dolorosos para a mulher, sangue que brota, perante a indiferença do homem, triunfante, emproado, a saborear e a abusar da conquista premeditada, conseguida e desenvolvida.

Ao contrário de Noel, o amante de Helena tem consciência do mal que faz; Noel limitou-se a divertir-se, seguindo regras generalizadas no seu meio.

Deparamos com dois sedutores desmascarados: Noel Bouton e um anónimo, que nem por ser anónimo deixou de existir (Irene Lisboa nunca, em nenhuma das suas narrativas perdeu de vista a violência da vida).

Mas de quem falo, em Mariana e o Outro, -monólogo, algumas, poucas vezes, interrompido por Mariana- é de Noel Bouton. Tento esboçar o seu retrato.

Aquilo que se diz ou se escreve desvenda quem fala ou escreve, e de nada serve enrolar-se, mascarar-se, nas palavras.

De Noel Bouton, porém, não consta nenhuma resposta às cartas de Mariana.

Fui eu quem inventou as suas palavras. Talvez não. A verdade é que as cartas de Mariana, poéticas e de grande qualidade literária, ultrapassam o romantismo da história e assentam em crua, implacável realidade.

Recriam e realizam -tornam real, de carne e osso- a pessoa do amante que a abandonou.

Eu recebi o seu discurso e, dele, tirei conclusão.

***assim o assinala António Belard da Fonseca, na obra fundamental A Freira de Beja e as “Lettres Portugaises”, imprimida nas Oficinas Gráficas da Imprensa Portugal-Brasil, em Maio de 1966

(segue e termina amanhã...)

O outono que ainda não chegou...

Interiorizar quanto nos oferece o mundo sempre desconhecido...

Óleo de William Turner

“…a arte não nasce da experiência vivida? Uma dimensão mais alta que a vida quotidiana, uma experiência levada, por fermentação, a um nível simbólico…”
Yukio Mishima em carta a Yasunary Kawabata

Notícia:

http://en.wikipedia.org/wiki/Yukio_Mishima

terça-feira, 21 de outubro de 2014

O novo Woody Allen.

A moral do nosso dia

Erlich in El País de hoje

"-O que não pecou que devolva o primeiro milhão!

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

A lágrima



Eis-me a reler aquele que é, sem dúvida, o tabelião da alma portuguesa: Camilo Castelo Branco.

Regresso à obra-prima -uma das suas obras-primas- Amor de Perdição.

E lá volta ela, a lágrima.

Nada a fazer: quando, neste ou naquele romance, nesta ou naquela novela, não importa em que memória, retomo o diálogo, o convívio, a intimidade, com o gigante de Seide, inevitavelmente topo a página, a passagem, o clima, que abalam e levam ao soluço mal estancado.

À dor, ao nó na garganta.


Casa de Camilo, em S. Miguel de Seide, tal qual, era, realmente


Casa de Camilo, em S. Miguel de Seide, depois do incêndio, anos após a sua morte (parece-nos natural que isso tenha acontecido, não é verdade?)

Vinícius onde anda? Na beleza...


"Lírios de água", 1914-17, Claude Monet 


(…)

Ils ont fondu dans une absence épaisse,
L’árgile rouge a bu la blanche espèce,
Le don de vivre a passé dans les fleurs.

(…)


Plaul Valéry in Le cimetière Marin

A promessa

Vinicius de Moraes faz hoje 114 anos...

Vinicius Moraes (1913-1980): a vida queimada de uma alma fantástica

sábado, 18 de outubro de 2014

Páginas de um Diário Público


Pormenor de uma obra de Miguel Ângelo, na Capela Cistina, Vaticano

Não interessa ser seguido: o que importa é ajudar a abrir ao outro a janela do seu caminho.

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Hoje, no jornal Le Monde, topo um artigo a propósito de Jacques Derrida.

Confesso -e estendo a mão à palmatória- que pouco dele li, apenas páginas, passagens.

De filosofia, sempre me interessaram aqueles a quem se usa chamar filósofos puros: de Platão a Kierkgaard, a Montaigne, ou seja, aos que nos abrem, recriando-a, através da linguagem viva, a dúvida provocada pela consciência de existir.

Simplificando: confrontam o mistério de serem, confrontam o facto de ignorarem de onde vêm e para onde vão e, tal qual Gauguin, em uma das suas obras-primas, interrogam-se: “De onde viemos? O que somos? Para onde vamos?”

Não me parece -e muito provavelmente isso resulta do meu desconhecimento da obra- que Derrida seja um deles.

O que, agora, importa é uma sua frase, que traduz angústia e desespero, e o articulista, Jean Birnbaum, cita.

Sublinhe-se que, hoje, o filósofo francês, ao que Birnbaum denuncia, está morto e enterrado, esquecido (em dez anos, o canibalismo literato tê-lo-á apagado da cena).

Mas vamos ao osso: numa derradeira entrevista a Le Monde, consciente da morte que lhe bate à porta, Jacques Derrida desabafa:

“De cada vez que deixo partir alguma coisa, vivo a minha morte no que escrevo. Prova extrema: entregamo-nos sem saber a quem confiamos o que deixamos. Quem vai herdar e como? Haverá, realmente, herdeiros?”

Que importa?

Eis o que não me aflige ou angustia.

Não passei de uma pedra mais, de uma pedrinha, em imensa galáxia.

Recordo ter visto, em Moscovo, no teatro, um adolescente ser o primeiro a levantar-se, para aplaudir Tchekhov.

A vida continua, apesar da morte.

Uma pessoa -uma só pessoa que seja- garante a continuidade da procura.

Se eu trouxe alguma coisa, trouxe uma pedrinha –e nada mais.

Não, não trouxe o ensino nem o que escrevi vale mais do que isso: acrescentei uma palavra.

Não, eu não vim salvar o mundo, vim -que remédio!- interrogar o mundo.  E, quando me for, ainda não terei resposta.

As minhas dúvidas, as minhas convicções não passam de janelas que empurro e me levam à incerteza -janelas que, por sua vez, sem tirar eu os pés da terra, me levam... à dúvida constante.

Nunca quis que me seguissem. 

Aliás, é impossível ou uma fraude: cada um abraça a própria descoberta, sempre no fio da navalha –da navalha que ameaça desacreditar as nossas descobertas e ameaça obrigar-nos, mais uma vez, a confrontar o vazio.

A confrontar o absurdo de sabermos que vivemos, chegamos de algum sítio desconhecido e vamos a caminho de mais algum sítio desconhecido.


Cada palavra, cada linha que atiramos, às cegas, é um estender de mão, em busca de todos os outros –outros como nós, nem mais nem menos do que nós.              

Bom dia... longe da feira desumana...

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Se votássemos hoje...


O estranho Outono...

Marinha de pintor japonês

Para além da porta
a dez passos-
o vasto oceano de Outono!

Masaoka Shiki

in Haiku, Anthologie du poème court japonais, Poésie, Gallimard, 2002, Paris

Um pintor tunisino

"Souk", 2007, Nasrredine El Assaly

Assim se viu Rembrandt ao longo da vida

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Eis aquilo que nunca cansa...

Este é um dia cinzento...



"Outono, caminho de aldeia", 1877, Ilyich Levitan ***

Não parar.
Nunca parar, nem para descobrir a água, nem para ouvir as cigarras, o vento, o corvo desgarrado.
Andar!
Tortuosos, solitários, fáceis caminhos, ir-vos sempre seguindo.

João Falco (Irene Lisboa) in Outono havias de vir, editado pela Seara Nova, 1937

***Ilyich Levitan era o pintor preferido de Anton Tchekhov dee quem, aliás, era visita frequente 

terça-feira, 14 de outubro de 2014

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

David Bowie: o novo disco provoca agitação

Vestígios que restam da arquitectura visigotica na Península Ibérica

Mosteiro de San Cugat del Vallès (Barcelona)



Ermida de Quintanilla de Las Viñas 


Santa Maria de Melque, Toledo


Capela de São Frutuoso, Braga, Freguesia de Real 

Igreja de São Pedro, Nave, Zamora


Mais:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Arte_visig%C3%B3tica