quinta-feira, 31 de março de 2016

JS Bach veio do fim do infinito acompanhar Saba

Este filminho data de 1956 que vale muito para quem ama o grande Saba

NÃO FALTES! NA GUARDA, BIBLIOTECA MUNICIPAL, DIA 12 DE ABRIL PRÓXIMO, ÀS 18 E 30!!!




No próximo mês de Abril, dia 12 -caso não haja azar…-, estarei na Biblioteca Municipal da Guarda,, às 18 e 30, a apresentar o excelente romance de Nuno Costa Santos, “Céu Nublado com Boas Abertas”.

É, para mim, uma honra, o regresso à minha terra eleita e o reencontrar amigos e outros que, hoje, depois de longos trabalhos no TMG, se interessaram mais e mais pela Cultura, graças ao extraordinário trabalho de Américo Rodrigues.

É para mim uma honra e grande alegria conversar sobre um romance de um jovem escritor que abriu as portas da ficção narrativa portuguesa e a enriqueceu.


Até já, amigos e camaradas!

O correr dos dias...


Obra de Michelangelo Mirisi, dito il Caravaggio (Milão,1571-Porto Ercole, 1660)



Sono come le nuvole  i fanciulli,
che si fanno e disfanno in chiaro cielo.
Di due  fan una, d’una due, poi nulla…
Ieri m’accarezzava, ed oggi il volto
mio non connosce, se per via mi trova.


Poesia  solta de Umberto Saba, datada de Milão, 1916, publicda in Quante rose a nascondere un abismo (Carteggio com la moglie, 1905-1956), a cura di Raffaella Acetoso,  Manni, 2004   

domingo, 27 de março de 2016

Um pintor português em Veneza


"Piazzetta, San Marco, Venezia", por Adriano de Sousa Lopes, 1879-1944)

sábado, 26 de março de 2016

O mistério do mundo


Emile Claus (Waregem, Flandres, Bélgica, 1849-1924)

sexta-feira, 25 de março de 2016

In memoriam de Aldo Zari algures no Infinito este particular do pintor que amava


Tiziano Vecellio (Pieve di Cadore, 1480/1485-Venezia, 1576), 'O anjo Gabriel"

quinta-feira, 24 de março de 2016

Um poeta escondido


Fausto José (1903-1975)



Um poeta delicado e esquecido…

Fausto José (1903-1975), ligado à presença, é um dos nomes quase totalmente perdido.

Não será fácil encontrar as suas obras, mas talvez se dê com elas nalgum alfarrabista.

É uma alma delicada e lúcida, um romântico que entendeu e fixou o seu tempo…intemporal.


Aqui te deixo o nome e te conselho: procura-o e lê-o.



terça-feira, 22 de março de 2016

A Bélgica que amo, as belgas que amo...

Mon amie, tout est bien. Tu est belge. Tu est du temps de Burano, de Aldo... Nous étions jeunes. Nous sommes jeunes. Et nous serons pour toujour des amis. Je t'embrasse Catherine, tu es comme tu était: vive, belle, unique, Je t'embrasse.mon amie.

A paixão e a morte


Giacomo Girolano Casanova (Veneza, 1725-Duchcov, Reino da Boémia, 1781)


“A morte é um monstro que expulsa do grande teatro o espectador apaixonado, antes que a peça que o apaixona infinitamente termine. Essa a razão deve bastar para que a detestemos.”

Giacomo Girolano Casanova in Mémoires        

segunda-feira, 21 de março de 2016

sábado, 19 de março de 2016

O cavalo branco



O CAVALO BRANCO

Pareceu-lhe ouvir bater à porta.

-Quem é?

Insistiram.

Foi abrir e apareceu uma mulher que o fitou com olhos cansados.

-Entre, não se sente bem?

-Tenho frio.

-Entre, entre, chegue-se à lareira.

Quase a puxou para dentro.

-Precisa de alguma coisa?

Ela respondeu:

-De nada.

-Que importa? Entre!

E ficou a olhá-la. Vestia uma gabardina usada, tinha o cabelo desalinhado, umas botas gastas e a expressão de susto ou de ansiedade.

-Venha! -agarrou-lhe as mãos geladas.

Ela resistiu, a tremer, presa a ele.

-Está sozinho?

-Estou.

-Então, entre.

Chegou-se à lareira, sentou-se no sofá que ficara livre e guardava, ainda, o calor do homem.

-Quer tomar qualquer coisa? Uma aguardente, um whisky? Lá fora chove.

-Um temporal.

-Está toda molhada, tire a gabardina, aqui não é precisa.

Ela sorriu, um sorriso amargo.

-Deixe lá, seca.

Encolheu os ombros, alheia. Era um bicho enrolado em si próprio.

-Perdeu alguma coisa?

-Tudo.

Foi buscar a garrafa e serviu-a.

-Não diga isso, é uma mulher bonita.

E calou-se, à espera que ela se explicasse.

A rapariga -era quase uma rapariga- fixava a lareira, impassível. O sorriso apagara-se.

-O que é que me quer?

-A senhora é que bateu à porta.

Depois, emendou:

-Quero que se recupere. Beba.

Ela esvaziou o copo de um golo e perguntou:

-E agora?

Serviu-lhe mais.

-Beba.

-Por que quer que eu beba?

-Que há-de fazer?

Ela levantou para ele os olhos tristes:

-Aquecer-me.

Sentou-se no sofá em frente ao dela.

-Como chegou até cá?

-A cavalo. No meu cavalo branco.

Sorriu, incrédulo:

-E onde o deixou?

-Anda por aí.

-Quer que o procure e o guarde no estábulo?

-Não pode, nunca o encontraria.

-Fugiu?

A mulher abanou a cabeça:

-Não pode. Anda dentro de mim. Como é que o agarrava?

Concordou.

-Sim, é impossível.

Foi espreitar à janela.

-Começou a nevar.

E virou-se de repente:

-Quer dormir aqui? Há um quarto livre.

Não sabia por que suportava a conversa mas sentia que a compreendia, que estava perto daquela mulher. Acendera-lhe qualquer coisa dentro. Ela retribuiu-lhe a ironia:

-Só um quarto? Mas não há mais ninguém, não vejo mais ninguém.

Ele respondeu, abruptamente:

-Que tem com isso?

O rosto dela envelheceu.

-Nada -e desviou os olhos.

Esfregou os braços, ajeitou a gabardina, e murmurou:

-A sua hospitalidade… a lareira… a noite cerrada… Bem haja!

Ele esboçou um gesto e ficou a meio. Mas queria salvá-la, protegê-la.

-Que importa o cavalo?

Dessa vez, a mulher endureceu, fria, distante. Talvez nunca mais perdoasse.  

Agitou-se, bateu no peito, desesperada.

-Se ainda aqui estivesse!



Um alentejano a perder-se no tempo...


Manuel de Brito Camacho (1862-1934)



Escritor esquecido e do conhecimento de pouquíssima gente, eis um excelente alentejano que, da sua província, deixou páginas apaixonantes: 

Manuel de Brito Camacho (1862-1934). 

Procura-o: é uma obrigação.


  




Nota:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_de_Brito_Camacho

sexta-feira, 18 de março de 2016

quarta-feira, 16 de março de 2016

Esperando a Primavera...


"No convés", Jack Vittriano

Um livro muito belo: procura-o e depois de o leres sentir-te.às melhor...



A autor:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Myriam_Harry

Bom dia!


Particular de uma tela de Rosso Fiorentino (1494-1540)

terça-feira, 15 de março de 2016

E de novo João Gaspar Simões



Volto a João Gaspar Simões por esta razão:

as obras de ficção narrativa de Gaspar Simões estão esgotadas e é muito difícil encontrá-los nos alfarrabistas.

Eis que a Livraria Lumière (tele. 222 085 654, Travessa da Cedofeita, nº 64ª, Porto), no seu recente e precioso catálogo, anuncia a venda de um dos mais importantes romances de Mestre João Gaspar Simões: Internato, Porto, Editorial Ibérica, 1946 (nº, no catálogo, 218).

Não o deixes voar: é um dos grandes romances da adolescência, escritos em Portugal.  


segunda-feira, 14 de março de 2016

Aleluia!




Ora, finalmente, e com atraso, encontrei e comprei o Borda d´Agua.

A procura durava há meses, e afligia-me.

O Borda D’água!

É-me essencial porque é o jornal mais honesto e apaixonante.

A verdade é sempre muito útil.

Ele o Borda D ‘Água diz verdades.

Milagre!: uma menina pobre vendeu-ma!   

O fabuloso jornal não morreu.

Tenho-o aqui à minha frente.

E fala do ano de hoje, do mistério da nossa vida, já livres, é certo do epiléptico Cavaco e do criadinho carteirista, roedor do dinheiro da pátria, o Coelheto de Massamá.

O ano de hoje?

O Borda d´´Agua, amigo de há 87 anos, diz-te como será.














  

E assim s confessa uma mulher...


in Público de ontem

domingo, 13 de março de 2016

Vasco Miranda: por que o ignoram?


O que me foi possível descobrir... mas talvez te ajude a encontrares tu um dos seus livros...


Somos um país de poetas? Sem dúvida, mas com facilidade os enterramos…

Hoje, venho lembrar Vasco Miranda, homem do Norte, homem da Beira, que veio, cumpriu, em luta, a sua vida, deixou obra admirável, superior.

Homem discreto e inesquecível.

Conheci-o há muitos anos, em 1955 ou 1956, numa Livraria de bairro, algures para o Campo Grande.

Ele era um senhor, eu, um jovem a sair da adolescência.

Nunca mais nos encontrámos -julgo- e ficou-me a imagem de um homem reservado, aparentemente simples e, porém torturado, atento à vida, o que é estar atento aos outros. Olhar penetrante, a escapar, ao aperceber-se de que também nós o observávamos.

Generoso e incapaz de teatralizar as dúvidas ou a angústia que o assediava.

Os seus belos versos o testemunham.

O tempo passa e o silêncio cai sobre os que vão com ele.

Injustamente.

Sim, é injusto esquece-lo.

Ora lê:

P.S. FINAL
…E, agora, àvante!
Força, para além de todas as portas,
Os silêncios e as raízes escondidas do futuro…
Estamos fartos de sombras mudas… e mortas!
Derruba, do maior ao menor, todo e qualquer muro.
Que o Amanhã é Teu…
E esse grito-espasmo do mundo à tua volta
Vai além da montanha mais alta e do pego mais fundo:
-Abarca a Terra e o Céu.

in Dizer, Amar, Portugália Editora, Lisboa, 1971






  

sexta-feira, 11 de março de 2016

O grande João Gaspar Simões


João Gaspar Simões (1903-1987)

E, hoje, aqui vos trago, mais uma vez, João Gaspar Simões: ele não foi só o maior crítico da Literatura Portuguesa; foi, também, um excelentíssimo novelista.

Escolhi a capa de um romance que fixou, para sempre, o Portugal, a Lisboa dos anos 40: Pântano.


Mas há outros romances e novelas, contos, que não devias perder. 

É obrigatório ler a obra do escritor mais agredido e insultado da nossa história. 


A tragédia portuguesa tem infelizmente barbas ou o assassínio de Damião de Góis renascentista


Damião de Góis (1502-1574)


Um homem cuja tragédia ilustra o mau andar deste país, há séculos condenado e assassinado pelos que temem a Cultura e a liberdade da procura e divulgação da mesma –eis Damião de Goes.

O país analfabeto, a monstruosa Inquisição, a inveja perseguiram-no e… eliminaram-no.

Raul Rego escreveu, sobre o seu processo, um indispensável livro aponta a grande tragédia: a do nosso país, ainda hoje em curso.

Damião de Goes foi um renascentista superior, amigo de Lutero e Erasmo, ausente de Portugal mais de 25 anos; regressou porque, estrangeirado, o amava e queria ajudá-lo a sair das trevas.

A Inquisição lançou-lhe a mão, soltou-o, mas...

...liquidaram-no, na sua casa de Alenquer, e disseram que, sentado frente à lareira, caíra e fractura o crânio.

Exumado, séculos depois, o cadáver exibia o crânio esmagado, que revelou outra coisa: alguém se desfizera dele, provavelmente com um sólido pau de marmeleiro…   

Aubrey F. G. Belle, escreve, no livrinho Um Humanista Português Damião de Góis.

“A sua casa estava bem fornecida de cereais, de azeite, de cevada, de pipas de vinho e de barris com carne de porco em salmoura. Maria de Góis, sua filha natural, governava-lhe a casa [em Lisboa, nos Paços do Castelo] ; muitos dos criados eram flamengos. Por aqui poderemos compreender como todas estas circunstâncias forneceriam matéria para a maledicência que então tornava famosos os portugueses: maledicere lusitanicum.”


E, de facto, continua. Todos sofremos, nem que seja um bocadinho, desse mal: inveja; desconfiança; receio de que não nos levem a sério –e acabamos por alimentar a nova inquisição que, do café aos jornais e TVs, actua persistentemente.




  

quinta-feira, 10 de março de 2016

Muitas feridas... e sobretudo as feridas do povo!


in Público de hoje

O escritor do dia

E, hoje, retomo um novelista dos melhores do nosso tempo: Manuel da Fonseca, poeta admirável, também. 

Vamos lê-lo e a relê-lo! 

Cerromaior, ao qual Mestre João Gaspar Simões chamava de romance lírico, é, sem dúvida retrato belíssimo do eterno Alentejo. 

Mas há tantos outros! O Fogo e as cinzas, Aldeia Nova… Procurem e depois digam-me.


Manuel da Fonseca (Santiago do Cacem, 1911-Lisboa, 1993)







Manuel da Fonseca, na sua terra, ao pé do castelo de Santiago de Cacem 

segunda-feira, 7 de março de 2016

... para a trampa não vir ao de cima...



in Público de hoje, 08/03/2016

Bom dia com José Barrias


Obra de José Barrias

Um admirável neo-realista que muito lutou e pouco escrito nos deixou mas o suficiente para lhe tirar o chapéu


Soeiro Pereira Gomes (1909-1949)


Militante de esquerda, ligado ao PCP, Soeiro Pereira Gomes, que, infelizmente, deixou obra curta, escreveu uma das mais belas e mais duras novelas do neorealismo e da nossa Literatura contemporânea: Esteiros (1943).

Já o leste?

Se não leste, procura-o: é brutal e perfeito: uma obra-prima.

Aprenderás muito de quanto doeram os anos de Salazar e como foi a tragédia do nosso país; aprenderás muito sobre o que é a desumanidade.



domingo, 6 de março de 2016

O poeta para hoje e sempre



António Manuel Couto Viana (1923-2010)


Um poeta escondido, empurrado para o nada, para o silêncio –e, porém, um dos grandes poetas do nosso tempo. A inveja e a vingança, são as armas daqueles que o não querem. As mais das vezes, pura inveja embrulhada em argumentos gastos. De direita ou de esquerda, o que faz um grande poeta? O génio, a beleza de quanto escreveu. Era de direita ou de esquerda Michelangelo? Ou Homero, ou Proust? E se proclamaram ser daqui ou dali –onde eles estão inteiros e verdadeiros é na sua obra. E a obra de António Manuel de Couto Viana pertence ao melhor da nossa poesia.





  

sábado, 5 de março de 2016

Uma voz esquecida: Natália Nunes

E eis uma escritora atirada para o esquecimento: Natália Nunes. 

E, no entanto, é uma das vozes mais ricas e ilustradora do nosso século XX. 

Li-a, sempre, com entusiasmo e muita atenção. Com prazer e respeito.

É quem, hoje, vos sugiro.


Natália Nunes (1921-)


sexta-feira, 4 de março de 2016

Ainda o Grande Régio


José Régio


Uma vez que aqui trouxe Mestre José Régio e frequentemente o releio, deixo-vos estas palavras lapidares do grande escritor, ferozmente independente e ele-próprio (bem haja tê-lo sido…):

“O individualismo e o valor do individualismo de cada um –está na interpretação de cada um a qualquer coisa. Interpreta-me como quiseres (eu digo: como puderes), e passa!”

In Páginas de Doutrina e Critica da “presença”, Brasília Editora, Porto, 1977, p.84

Uma obra inicial de Michelangelo, 'Madonna della Scala', que seduziu Lorenzo de' Medici, seu futuro protector... Michelangelo andaria pelos 14/ 15 anos


"Madonna della Scala", baixo relevo de Michelangelo

Um anedota chamada Coreia do Norte...



in Público de hoje

Lembrar um Grande mais ou menos esquecido e certamente ignorado pelos frenéticos neo-génios...


José Régio


Todos conhecem, nem que seja só por nome, o poeta José Régio.
Acontece, porém, que Régio deixou do melhor que tem a novela portuguesa e excelente teatro,

A Velha Casa, romance fleuve, de cinco volumes, é uma obra-prima; Histórias de Mulheres, admirável abordagem do espírito feminino; O Jogo da Cabra Cega (1934), traduzido em francês, e proibido nos anos salazaristas, um golpe de faca na literatura então pasmada.

Do teatro poderão falar encenadores que disso sabem, mas note-se que a sua peça Jacob e o Anjo foi apresentada, com sucesso, em Paris (1952).

Leiam-no… ou releiam-no: é Mestre.



 Capa da 1ª edição de A Velha Casa

quarta-feira, 2 de março de 2016

Há mortos que estão vivos na obra que deixaram: se quiseres ouvi-los procura a obra deles...




Carlos de Oliveira (1921-1981)

Pois voltemos aos “enterrados”… Hoje, recordo um poeta e novelista que merece leitura e destaque: Carlos de Oliveira.


É um daqueles cujo silêncio se deve à lamina de autodefesa da  feira literata… Salta por cima e procura os livros dele: são de grande qualidade.