quinta-feira, 31 de março de 2011

Verdades duras como pedras




"Aqui havia uma casa"


por Manuel António Pina


Ilse Losa contou-me um episódio doloroso do seu regresso à Alemanha no fim da guerra, quando visitou já não sei se Osnabruck se Hannover, onde vivera. Procurou a sua casa e não a encontrou.


Nem sequer o lugar dela, pois a cidade fora de tal modo desfigurada pelos bombardeamentos que todas as referências geográficas (ruas, praças, edifícios) tinham desaparecido numa amálgama indistinta de ruínas onde era impossível a orientação. Tal sentimento de perda irremediável está presente em grande parte da sua obra, especialmente em "Aqui havia uma casa".


Muitos portugueses experimentam hoje um sentimento parecido ante as ruínas daquilo que foi um dia um país e hoje é apenas um patético joguete de interesses alheios. Também "aqui havia uma casa", agora impossível de encontrar à míngua de referências (morais, ideológicas ou outras) e de qualquer projecto que não o da ganhunça. A "choldra ignóbil" de Eça regressou corrompendo tudo, confundindo verdade e mentira e espoliando o presente e o futuro colectivos.


As próprias palavras deixaram de merecer confiança. O Partido Socialista é tão socialista quanto o Partido Social-Democrata é social-democrata e expressões como "Estado social" ou "justiça social" perderam qualquer significado. Daqui a dois meses iremos outra vez a votos. E, como a imensa maioria descontente que se abstém não conta, os mesmos elegerão de novo os mesmos. Que farão mais uma vez o mesmo.


transcrito, com a devida vénia, de Jornal de Notícias, de 01/04/11

Uma nova torre em Paris

A torre de cristal


O Presidente da Câmara, Bertrand Delanöel, autorizou a construção, em Paris, de uma torre triangular, em cristal, com 180 metros de altura.

O projecto é da autoria dos arquitectos suíços, Jacques Herzog e Pierre Meuron, Prémio Pritzker 2001.

O edifício ficará no extremo sul da cidade e terá 88 000 m2, com escritórios e 1 500 m2, com lojas, no rés do chão.

Não percas este depoimento de Souto de Moura!




Golpe baixo de um "socialista" de circo... mas do circo dos ricos...

Dâmaso Salcede, alíás Barreto, António, cujo percurso "socialista" inclui ter posto ponto final à Reforma Agrária, goza, refastelado, os benefícos da duplicidade e "opina", dando uma canelada em Sócrates, golpada que serve às mil maravilhas os interesses da direita, a qual saberá agradecer-lhe... como ele espera...



'António Barreto: Crise política é “golpe” de Sócrates para se vitimizar


O sociólogo António Barreto afirmou que a demissão do Governo foi um “golpe” do primeiro-ministro José Sócrates para provocar eleições, vitimizar-se e que isso aumenta as dificuldades para Portugal se financiar nos mercados.'


in Público de hoje

Em Paris até 17 de Julho

'Mulher de verde', 1911?


'Carrossel', 1905




'Mulher fatal', 1905


Van Dongen y los años locos parisienses

por Ana Teruel


Una exposición en el Museo de Arte Moderno de París repasa todas las facetas del pintor holandés



Fauvista, anarquista y mundano. Así definen a Kees Van Dongen [1877-1968], el pintor holandés que retrató como pocos los locos años 20 parisienses, el Museo de Arte Moderno de la ciudad de París, en una impactante exposición que pretende abarcar todas sus facetas. Esta sigue el recorrido del artista y gran vividor desde las calles de su Rotterdam nativo, pasando por los cabarés de Pigalle hasta llegar a los salones burgueses de la capital francesa. La muestra participa así también en la recuperación de esta figura libre y algo marginada en la historia del arte contemporáneo, difícil de encasillar, pero cuyo uso descarado de los colores fuertes sitúa como uno de los grandes representantes del movimiento fauvista.


"Queríamos recordar que Van Dongen ha sido un artista mayor de principios del XX, que destaca por su libertad y por la rapidez y variedad de su evolución", explica Fabrice Hergott, director del Museo parisiense. Para ello concentra alrededor de un centenar de pinturas y dibujos, incluidas sus viñetas de prensa y sus grandes carteles de presentación de espectáculos. Más sorprendente, incluye también una parte de sus cerámicas, de las que realizó cerca de una cuarentena. Con ellas, al igual que gran parte de sus contemporáneos, trataba de convencer a los más reticentes de la validez del arte moderno.

Variada y extremadamente rica, la muestra destaca por su intensidad, consecuencia de su apuesta por limitarse a los mejores años del artista: desde 1895 hasta 1931. Recuerda sus primeros dibujos y pinturas antes de instalarse en la capital francesa en 1899. Se detiene por su paso por el Montmartre de Picasso, con quien compartió residencia y taller en el mítico Bateau Lavoir, así como modelo, Fernande Olivier. Y culmina con su mudanza al Montparnasse del periodo de entre guerra, donde se consagró como anfitrión de sonadas fiestas selectas y como retratista del adinerado mundo artístico y aristocrático; una suerte de Andy Warhol de los años 20.

En todo el recorrido, se explora sus experimentaciones con los diferentes estilos, como el neo-impresionismo de Paul Signac, antes de dejar paso a los retratos de poses y colores característicamente fauvistas. Expone también sus Luchadoras (1908), su respuesta a las Las señoritas de Aviñón de Picasso, donde demuestra su falta de interés por el cubismo. El todo deja patente su amor confeso por "la vida, el arte y las mujeres", a las que retrata vestidas o desnudas, siempre con enormes ojos pintados de negro. Abarcan desde las voluptuosas mujeres de las clases más populares hasta las afinadas y elegantes burguesas, cubiertas de joyas y accesorios.

La muestra se detiene bruscamente en 1931, antes de la caída en desgracia del artista. Deja así de lado sus últimos 37 años, en los que se le acabó la inspiración y se volvió reiterativo. "Hemos decidido centrarnos realmente en lo mejor de su obra", relata Hergott. También elimina el episodio que le dio el último empujón fuera del círculos artísticos de moda. Se trata de un viaje organizado por el escultor Arno Breker a la Alemania nazi de 1941, a cuya invitación cometió el error de responder favorablemente.

Aunque centrada en su periodo parisiense, la muestra también recuerda su vena orientalista. Entre 1910 y 1913, viajó a España, Marruecos y Egipto, donde acentuó su gusto por los colores y los detalles. Será de hecho el retrato de una mujer adornada por un precioso mantón de flores español el que será censurado en 1913 del salón de otoño y que contribuyó en afianzar su fama de provocador. Sobriamente titulado Le tableau, el lienzo fue retirado por la policía que consideró indecente la representación desnuda de la modelo, su esposa Guus.

Muchos le reprocharon al joven anarquista sin un duro que llegó a la capital francesa, atraído como "un faro" por la que era entonces capital mundial artística, el haber traicionado sus valores y haberse dejado llevar por el brillo del París más selecto. Acusado de "bohemio disfrazado de pijo", él nunca negó su gusto por la buena vida. Como escribió en 1927: "Vivir es el cuadro más bonito. El resto no es más que pintura".


transcrito, com a devida vénia, de El País, 30/03/2011

quarta-feira, 30 de março de 2011

Na morte de Ângelo de Sousa





O artista de algumas das suas obras: pinturas e uma escultura



Há dias que começam mal: hoje, a notícia da morte de Ângelo de Sousa.

Encontrei Ângelo de Sousa na Bienal de Veneza de 1978, onde, com Ernesto de Melo e Castro, José Rodrigues e Noronha da Costa, representaram Portugal, era Comissário para o evento Fernando Pernes.

Outra vez, no já aqui citado Pavilhão Alvar Aalto.

Durante cerca de uma (ou duas?) semanas pude avaliar o artista sensibilíssimo e o homem íntegro que era.

A nós, juntou-se, inevitável, o mago das mãos de oiro: Aldo Zari.

Lá corremos as osterie e as calle venezianas, até de madrugada, e debatemos arte e os dias da vida.

E ali começou uma grande amizade.

A reserva, a discrição, a timidez mal escondida, de Ângelo de Sousa, enganaram, provavelmente, muita gente.

Nunca conheci ninguém mais generoso do que ele.

Estimava-o, admirava-o e respeitava-o muito.

terça-feira, 29 de março de 2011

A última do coelho


Ri, que o riso faz bem...




"Passos diz que ideia de que PSD vai aumentar o IVA "não tem fundamento"


in Jornal de Notícias de hoje

Uma agressão à democracia e uma ofensa inqualificável àqueles que conquistaram e nos confiaram a democracia

Quem tem medo do 25 de Abril?





Vasco Lourenço: Cancelamento da cerimónia solene do 25 de Abril é "incompreensível"



O coronel Vasco Lourenço [um dos homens do 25 de Abril] considera “incompreensível” que o 25 de Abril não seja este ano oficialmente assinalado na Assembleia da República (AR), afirmando que isso só se justifica pela “vergonha da situação a que [os deputados] levaram o país”.


“Eu acho incompreensível, não consigo perceber como é que um Estado de Direito democrático resultante do 25 de Abril tem vergonha de assinalar o dia ‘inicial e limpo’, como diria a Sophia [de Mello Breyner], desse mesmo Estado democrático”, afirmou o capitão de Abril, em declarações à Lusa.

A dissolução da AR, que se deverá concretizar no máximo até 11 de Abril, vai levar ao cancelamento da habitual sessão solene comemorativa do 25 de Abril, informou hoje a porta-voz da conferência de líderes.Reconhecendo que “a justificação é que a Assembleia da República estará dissolvida”, o presidente da Associação 25 de Abril entende que, “se houver uma situação excepcional, a Assembleia sempre poderá reunir”.


Não vejo por que é que [os deputados da AR] não poderiam ter encontrado forma de evocar o 25 de Abril, a não ser que tenham vergonha da situação a que levaram o país”, reiterou."


in Público de hoje

A busca do absoluto

Sandra Caroli, Museo Nuovo Rinascimento, Veneza



"Canto –porque o meu canto é da cor do sangue, o meu sonho maior que o mundo e a vida tem de cumprir-se."

Epígrafe de Luz na Sombra, 1946, de Vasco Miranda

Coelho chamado à ordem

Coelho admoestado, Coelho agitado



"Carlos Moedas corrige Passos e afirma que aumento do IVA só em “caso hipotético


Carlos Moedas, dirigente do gabinete de estudos do PSD e um dos principais conselheiros de Pedro Passos Coelho, admitiu segunda-feira à noite no Porto que o aumento do IVA só será equacionado pelo partido num cenário quase hipotético"


in Público, de 29/03/11

segunda-feira, 28 de março de 2011

Um pintor português

'Nyons le soir', 1934. Francisco Smith

Para os que admiram Malcolm Lowry e querem saber mais

'Inside The Volcano, My Life with Malcolm Lowry', by Jan Gabrial, St. Martin's Press, New York
~ 'The Colllected Letters of Malcolm Lowry', by Sherril Grace, Uiversity of Toronto Press




'Pursued by Furies, A Life of Malcolm Lowry', by Gordon Bowker, St. Martin's Press, New York

As duas mulheres de Malcolm Lowry

Jan Gabrial



Margerie Bonner

domingo, 27 de março de 2011

O que nos espera se o coelho chegar a São Bento!

Coelho decidido a afrontar a crise



"Passos Coelho queria um PEC ainda mais duro


"Votámos contra o pacote de austeridade, não porque foi longe demais, mas porque não vai suficientemente longe para obter resultados na dívida pública", esclareceu o presidente do PSD"


in Jornal de Notícias de hoje

As nossas liberdades




Revi “O meu Tio”, de Jacques Tati, filmado em 1958, e mais uma vez reconheci a denúncia dum crime de hoje: uniformização.

A morte do indivíduo. A chegada do império da vulgaridade e do superficial.

Verificar a presciência de Tati dói. “Mon Oncle” está carregado de melancolia. Aos risos, porque a comicidade é insuperável, junta-se a nostalgia e a rejeição.

Temos saudades do quê? Do tempo em que os homens falavam.


Recusamos o quê? O modo como se insinua o morbo do nosso tempo: a descaracterização: o triunfo do objecto, o sufocamento da pessoa.

Entregámo-nos nas mãos das coisas, que nos servem de fuga:


nos libertam de pensarmos em nós e nos desresponsabilizam.

As coisas são a nossa fuga.

Eric Dupin, jornalista político, editorialista, publicou, na “Seuil”, um livro muito importante: “Voyages en France”.

Viagens na França profunda, no tal Interior, que existe, por cá e lá, separado das megapólis, dos lugares onde se congelam as almas.

É um livro positivo: fala daqueles que se cansaram da “modernidade” e separaram progresso e regresso.

Atravessando a França, a felicidade surge, nas pequenas cidades, mais acessível do que nos grandes centros”, escreve.

Quem ali vive preferiu os lugares à medida de homem.

E queixa-se “da absurdidade do jogo económico em vigor”, subentenda-se, do canibalismo neo-liberalista, gerador da concentração dos capitais e suas consequências asfixiantes para as PME e os agricultores.

A fuga deles é outra, o contrário da resignação.


É o reencontro da liberdade de escolha, do modo de ser gente.


Porque liberdades há muitas e acontece –agora- a liberdade de nos apagarmos em novas escravaturas...


publicado na Página de Cultura do Jornal de Notícias de 27 de Março de 2011

sábado, 26 de março de 2011

Dois poemas de Malcolm Lowry

Montagem



Uma Oração

Deus, dá de beber a estes bêbados que acordam ao amanhecer
Balbuciando sobre o peito de Belzebu, destroçados,

Espiando uma vez mais, através das janelas,

A vaga e terrível ponte quebrada do dia.


in As Cantinas e Outros Poemas do Álcool e do Mar, seleccionados e traduzidos por José Agostinho Baptista, Assírio & Alvim, 2008


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Strange Type


I wrote: in the dark cavern of our birth.

The printer had it tavern, which seems better:

But herein lies the subject of our mirth,

Since on the next page death appears and dearth.

So it may be that God’s word was distraction,

Which to our strange type appears destruction,
Which is bitter.

in Selected Poems of Malcolm Lowry, 1962

A humildade de um homem generoso que, verdadeiro vidente, já se vê em São Bento e leva um amigo consigo

Em São Bento, entre flores



"Passos Coelho quer maioria absoluta e admite aliança com CDS"

título do Público

Os ingleses não brincam em serviço de defesa dos seus direitos

Londres, 26 de Fevereiro de 2011: 400 000 pessoas protestam contra a política de direita do Primeiro Ministro Cameron e os cortes na saúde, ensino, cultura, apoios e contra a tentativa de acabar com o Estado Social

A trágica linha


This Mortal Coil -Song of the Siren, "Cocteau Twins"

Sobre Malcolm Lowry (1909-1957)

Com a companheira de sempre: the bottle




Jan Gabrial inspirou a figura de Yvonne, em 'Under the Volcano'



Em Paris




Em Vancouver, Canadá



1. Julien Gracq, escritor francês cujo destino se cumpriu honestamente -à margem da bolsa das vaidades- denunciou a doença da literatura: “nivelamento por baixo, subserviência progressiva do espírito, desorientação do público, que identifica o autor-vedeta com as marcas comerciais. O mediático inventa e impõe o zero cultural”. Assim é: transformada em “produto” a obra literária vale o dinheiro que rende. Os críticos transmudaram-se em fiéis de armazém. Acabaram os escritores, triunfam os escribas. É a época do mercado e da aparência. Quando a editora Relógio de Água publica Lowry, alegram-se os que não ignoram tratar-se de um autor extraordinário e ser “Debaixo do Vulcão” uma obra-prima. Festeja-se um acto de coragem: livros desses não cabem no comercio reinante: o da pseudo-arte.

2. Clarence Malcolm Lowry nasceu em 1909 (New Brighton, Liverpool) e morreu em 1957, em Ripe, na costa sul de Inglaterra, vítima de um cocktail de whisky e sedativos, na véspera de fazer 48 anos. Um alcoólico, desde a adolescência (desde os 14 anos, nota Gordon Bowker, na biografia, “Pursued by the furies”, St. Martins Press, N-Y, 1997). A primeira mulher, Janine van der Heim (jovem aprendiz de escritora de 22 anos, que assinava Jan Gabrial) descreve-o tal qual o conheceu em Granada (1933): “uma estranha mistura de idealismo e bicho da terra”. O sonho e o insaciável amor às coisas deste mundo e o desejo de as possuir e compreender levá-lo-iam à paixão e ao desastre –a um destino de nómada: todos os lugares lhe foram passageiros. Cedo saiu de casa dos seus pais. Viajou, obstinada e inevitavelmente. A China, o México, Nova-Iorque, o Canadá representaram etapas indispensáveis à feitura de um dos mais ricos, profundos, trágicos, poéticos romances do século XX. O seu alcoolismo visionário, a insatisfação, a inconsciência (inocência?), a busca desesperada do sentido da vida tornaram-no insuportável. Jane aguentou quatro anos. A segunda mulher, Margerie Bonner, ex-actriz divorciada e mais velha do que ele, conseguiu acompanhá-lo de 1939 até à morte. A que preço? Lowry conheceu a prisão, a deportação, os hospitais, a miséria. Não era um amante fácil.

3. Deixou escassa bibliografia. A sua obra será, talvez, uma só: “Debaixo do Vulcão”, escrito e rescrito quatro vezes, pago com suor e ressacas, fabulosa epopeia d’alma, condenada ao silêncio. Não se trata da autobiografia de um bêbedo; representa, genialmente, o grito do Homem, que interpela os deuses emboscados.

4. Geoffrey Firmin -o Cônsul de “Debaixo do Vulcão”-, numa das passagens dolorosas e intensas, reconhece que “ele próprio está no Inferno”; que o Inferno está dentro dele e o possui. Em casa de Laruelle (ex-amante da sua mulher), entre os desenhos de Orozco, pintor do patético e do trágico”, e as telas violentas de Diego Rivera, evocativas da gorada epopeia revolucionária mexicana, pressente, além do fio da navalha, “o instante de Deus”: o momento em que o perdão salvará o mundo. Mas é demasiado tarde. Perdoar a quem? A Yvonne (“o meu perdão nunca será suficientemente profundo”)? À absurdeza da vida? Ao consentimento de Deus, que não impede ao demónio desvairar os homens? Coração ferido não tem perdão, e ele irá continuar a procurar, na tequilla e no mescal, a fuga –ou a lucidez reveladora. “De que serve fugirmos de nós próprios?” E, sozinho, sofre o delírio do mundo. E cita Baudelaire: “Os deuses existem: são o diabo”. Pesa-lhe “a obscura região morta” e busca a saída, no calvário redentor.

5. Lowry fala de Hitler, da Guerra de Espanha, do drama mexicano, de Orozco e Rivera, artistas que denunciam o escândalo social. Fala de Yvonne. “Debaixo do Vulcão” é o romance do amor traído? Sim, mas dum amor total: à vida, ao universo indecifrável e arrebatador. Yvonne foi o mensageiro que falhou. O que aguilhoa e sangra o Cônsul é a traição de todos a tudo e de cada um a si próprio. Haverá, ainda, nesse martirizado, alguma esperança? Do fundo do poço, o Cônsul clama: “luto pela sobrevivência da sensibilidade humana”. No seu livro, reencontramos Dostoievski: a complexidade e a religiosidade torturada. Geoffrey Firmin aponta iniquidades, perversidades e monstruosidades sociais –e a misteriosa (muda) harmonia do infinito. Nenhuma contradição: o sentido religioso é o sentido da justiça social.

6. “Meu Deus!, se a nossa civilização saísse da bebedeira e, durante dois dias, abrisse olhos, ao terceiro morria de remorsos”, diz Hugh, irmão de Geoffrey e outro alter-ego de Lowry. O Cônsul, a viver as suas últimas doze horas, pensava o mesmo. O alucinado (o nigromante), o decadente (o imaculado) tinha os pés bem assentes na terra, onde lia sinais de um mítico Éden e lhe acontecia partilhar o quotidiano prostituído. A alma ardia-lhe. Lowry escolheu o limite do risco. Mas, se tudo aponta para o suicídio, a verdade é que as razões da sua morte permanecem obscuras. Margerie Bonner, última companheira, disse tratar-se de um descuido. Essa versão oficiosa não convenceu ninguém.

publicado na Página de Cultura de Jornal de Notícias, de 10 e 17 de Feveriero de 2008



Ao vivo

A energia nuclear vale a pena?

Japão, Fukushima: estado da central nuclear


Em 1945, e depois do lançamento de bombas atómicas sobre de Hiroshima e Nagasaki, Albert Camus escrevia:


“Há qualquer coisa de indecente em celebrar uma descoberta que, em primeiro lugar, se usa ao serviço da mais colossal raiva de destruição a que o homem se entregou, desde séculos”.


Colocou-se, depois, essa energia ao serviço do homem -sem, no entanto, perder de vista o seu uso em guerra-, e para lhe resolver problemas de bem-estar.


Tivemos Chernobyl, na Ucrânia, e temos no Japão, Fukushima.


Jean- Claude Guillebaud escreve, no le nouvel Observateur, de 24/ 30 deste mês:


‘O pânico nuclear, que cavalga pelo mundo, deixa atrás de si uma estrada de suspeição. Ninguém acredita em ninguém. 80% dos japoneses não têm nenhuma confiança nas informações que lhes chegam do governo. Entre nós, na velha Europa, o debate acerca do nuclear já faz crescer um ramo de suspeitas cruzadas: lobbys, vigarices, silêncios calculados... Cada um desconfia de cada um.”


A energia nuclear é um grandíssimo risco, todos sabemos e já verificámos.

Diz Jean Daniel, no mesmo le nouvel Observateur:



“É necessário aceitar esse risco? Não convirá seguirmos a escolha de energias mais inocentes? Certamente que economia sofreria, gravemente, com isso, em todos os domínios que asseguram o nosso bem-estar material. Mas não será o momento de redefinir aquilo que se considera “bem-estar material”?”


Aqui te deixo, amigo, ao teu juízo.

Aqui ao lado... não estejas de costas viradas!




Se não tens complexos, se não sofres da síndroma de Olivença, se és uma pessoa normal, aberta, interessada por Cultura e, consequentemente, pela Literatura, esteja ela onde estiver,

se já percebeste que a Espanha está ali ao lado e que nos aproximam velhas raízes, encontros e desencontros,

se não és apologista do "Portugal dos Pequeninos",

se já comprendeste que ser ibérico e, depois, europeu, e depois de toda a parte, não te diminui, antes pelo contrário,

em suma:

se não queres ser ignorante,

abre o link abaixo e acrescenta-te mais alguma coisa:

sexta-feira, 25 de março de 2011

Consequências de uma votação irresponsável

...e, com protestos e sem eles, continuamos à rasca!

Editorial

Nuevo factor de riesgo


La dimisión de Sócrates agrava las urgencias del euro y empuja hacia la intervención de Portugal

La estabilidad de la eurozona cuenta desde ayer con un nuevo y grave factor de riesgo. El primer ministro José Sócrates presentó su renuncia al presidente de la República Cavaco Silva después de que el Parlamento rechazara el plan de austeridad, denominado Programa de Estabilidad y Crecimiento (PEC), presentado por el Gobierno para su aprobación. Plan que, por cierto, contaba con todos los pronunciamientos favorables de la Comisión Europea y el Banco Central Europeo. Si la única salida son las elecciones, la solución más favorable para Portugal sería que el próximo Gobierno que salga de las urnas cuente con una amplia mayoría que respalde el plan de ajuste del déficit que exigen Bruselas y los mercados. El principal partido de la oposición, el PSD de Pedro Passos Coelho, ya ha anunciado su disposición a cumplir el PEC. Pero mientras llegan los comicios, la situación de Portugal será insostenible. Ayer, el diferencial de las obligaciones del Tesoro a cinco años supera ya el 8% y a 10 años llegaban ya al 7,63%.


En estas condiciones, lo más probable es que las autoridades portuguesas tengan que solicitar un plan de rescate, similar a los que ya han experimentado Grecia e Irlanda. Portugal está sumido en una recesión y está siendo castigado sistemáticamente por los inversores, debido a las dudas persistentes sobre la solvencia de sus finanzas públicas. Tales dudas no están respaldadas por el comportamiento político del Gobierno, dispuesto a los ajustes presupuestarios obligados. Pero los analistas y las agencias de rating han jugado a la profecía que se autocumple. Con el pretexto de que su bajo crecimiento le impediría aumentar los ingresos públicos, ajustar los gastos y devolver la deuda, casi todos los análisis económicos inducían a no invertir en activos lusos. Al final, la inestabilidad política y la persistencia de los recelos de los mercados ha situado al país al borde de la intervención y a la zona euro en una nueva etapa de turbulencias financieras.


Ante una situación tan grave como la de Portugal, resulta imperativo que la cumbre europea que empieza hoy reaccione con rapidez. En primer lugar, debería resolver cuanto antes los detalles de la ampliación del Fondo de Rescate, con el fin de que tenga una capacidad de préstamo de 500.000 millones de euros. La situación óptima sería que los cambios se aprobaran con rapidez para que Portugal estuviese en disposición de acogerse a ellos. En este sentido, cualquier retraso en los acuerdos sería preocupante.


El Gobierno español ha reaccionado con demasiado optimismo al asegurar que la crisis de Portugal no afectará a España. El matiz obligado es que no debería afectar en función de las decisiones políticas adoptadas y de los fundamentales económicos y financieros de la economía española. Pero una intervención de Portugal provocaría una nueva espiral de causas de sospecha. Por ejemplo, la deuda portuguesa en poder de la banca española. Y se reiniciaría el modelo de las profecías de los analistas que tienden a autocumplirse.

transcrito, com a devida vénia, de El País, 24/03/11

O Coelho e o poder

Um coelho feliz



"Jean-Claude Junker: Passos Coelho garantiu cumprimento das metas do PEC


Jean-Claude Juncker, presidente do Eurogrupo, afirmou que obteve garantias claras de Pedro Passos Coelho de que as metas do programa de estabilidade acordado entre Portugal e a Zona Euro serão cumpridas caso o PSD venha a liderar o próximo Governo."


in Público de 25/03/2011





Todos nós sabemos por que José Sócrates se demitiu: porque a Assembleia chumbou o PEC IV.


Todos nós sabemos que esse PEC IV fora acordado com Bruxelas e, segundo Bruxelas, satisfazia as exigências da Zona Euro.


Todos nós sabemos que Passos Coelho recusou o PEC IV –e com que veemência...


Todos nós nos surpreendemos ao saber que Coelho garantiu, a Jean-Claude Junker, cumprir as metas do programa de estabilidade acordado entre Portugal e a Zona Euro.


E surpreendemo-nos porque o acordo foi, precisamente, obtido por José Sócrates e o PEC IV, reprovado pelo PSD, nesse acordo assenta.


E todos nós concluímos que Coelho, perante a possibidade de saborear a cenoura do poder, não resistiu e disse o que não disse na Assembleia, e irá, agora, escrever e dizer que não foi bem isso que ele disse e dizem que disse.


Uma confusão!

E todos deveremos concluir, apesar de que, num roedor habituado a apreciar quanto promete ser suculento, sejam compreensíveis tais precipitações e confusões, deveremos pensar que nada mudará para melhor -antes pelo contrário, tendo presente a fome ansiosa, manifestada pelo leporídeo, em tempo de vacas muito magras- e nos arriscamos a imitar a marcha do caranguejo, caso Coelho agarrar a cenoura, isto é, o poder.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Uma carta de amor

Óleo de Paul Delvaux (1897-1994)



Recebi uma carta de uma jovem amiga, que me impressionou.

Afinal, ainda há quem sinta, quem ame!

Alguém que não se deixa sufocar por estes anos de peste, de egoísmo, de indiferença... de solidão letal.

A nossa amizade já dura há bastante tempo e ela deve, agora, andar pelos dezasseis anos. Uma adolescente, pois...

Uma adolescente que reivindica a sinceridade e denuncia a hipocrisia.

A transparência e a certeza da linguagem, do estilo, levou-me a não resistir à indiscrição, à vontade de publicar algumas linhas da carta.

Afinal, não é uma inconfidência, uma vez que não identifico o remetente...

E tenho, aliás, a certeza de que ela me perdoará.

Mais uma palavra: há muito que pressinto nessa jovem mulher uma invulgar capacidade de se exprimir, talvez, a vocação de escritora autêntica. Tem muito a contar e sabe fazê-lo, superiormente.

Aqui vo-la deixo, é um emocionante grito de alma:


“Como está? Desculpe só lhe escrever agora, mas a escola ocupa maior parte do meu tempo.

(...) Dou por mim muitas vezes a pensar em si em momentos de angústia e no que me diria para me acalmar...a verdade é que, por vezes, me sinto tão só e tão isolada deste maldito mundo... Decerto, que, ao ler isto, se interroga "mas porquê tantas angústias?"...a resposta é simples: amor.

"Meu Deus! Eu nunca cuidei que amar fosse este Inferno!" não é verdade?

Amar alguém é abdicar de uma parte de nós, mas o que a maior parte das pessoas não entende quando está completamente cega de amores por alguém é que nós chegamos a criar um núcleo só nosso e nos isolamos de tudo: da nossa família, dos nossos amigos, do mundo em si... foi isso que me aconteceu e foi disso que me apercebi ontem.

Estava (e estou) tão apaixonada e tão habituada ao facto de estar só com ele, que o meu mundo perdeu sentido e para as outras pessoas, isto pode ser só uma paixoneta de adolescente, mas para mim não é.

Paixonetas (essas que os adultos dizem que adolescentes têm) são aquelas que não duram um mês sequer...são aquelas onde não existe nada, onde duas pessoas não dependem uma da outra nem querem saber. Isso sim, são paixonetas de adolescentes.

Posso estar a ser exagerada, mas sinto que, sem ele, nada disto vale a pena. Não é que não consiga sobreviver, porque eu consigo! Eu sei que consigo e sei que o mundo e a minha vida não vão parar por causa dele...mas sabe bem pensar que sim e isso faz-me mal.”

A nostalgia de um conjunto único



Durutti Column, Jacquelina, Live 1988

E com muitíssima razão!





"Alunos do ensino básico, secundário e superior saem hoje à rua em protesto "

título do Público de hoje


É o seu, deles, direito.


Porque é a vida e o futuro deles que está em jogo.


Esse tem sido o grande falhanço do pós-25 de Abril.


Descurarem os governos o ensino público.


Fecharem, assim, saídas, emprego aos que estudam.


Privarem o País de quadros competentes.


Por impreparação e dificuldades na especialização.


Daí a fila de candidatos à emigração.


“Lá é melhor”, pensam os que nos deixam e levam a sua capacidade de trabalho, a sua ambição, a sua qualidade humana.


Com a saída deles, deita às ortigas o País o dinheiro que investiu, mal -sobretudo, mal- ou bem, neles.


Há milhares de jovens portugueses de malas feitas.


E há milhares de professores a ansiarem por se aposentarem: as condições em que trabalham traem o seu, deles, sonho: aquilo que queriam fazer –o bem que queriam fazer.


Nestas condições, por mais que inventem impostos directos e indirectos,
por mais que arranquem dinheiro ao Zé Povinho -porque ao povo do charuto e dos carros de luxo não tocam-, o nosso País limitar-se-à a fenecer.


A definhar.


A acabar.

E agora? Apodrecer?

As eleições evitáveis, que nos custarão os olhos da cara e resultam da ganância irresponsável



Continuo sem saber –aliás, ninguém sabe- como acabará a crise política, no nosso país.

Uma única coisa parece certa: a dissolução da Assembleia e eleições antecipadas, lá para Junho.


O pedido de demissão de José Sócrates fica a dever-se ao voto contra o PEC IV, que uniu todos os partidos, à direita e à esquerda do PS, com representação parlamentar.


O BE, o PCP e o PV chumbaram o PEC IV, por, dizem eles, coerência ideológica.


O PSD e o CDS-PP, salta aos olhos que o fizeran por ganância política, fome de poder.


PSD e CDS-PP esperam conquistar, nas próximas eleições, os votos suficientes para serem chamados a governar, com a benção de Belém.


E nada mais os moveu e move.


Nada mais porque, a governarem o PSD em coligação com o CDS-PP, não optarão por uma poltica económica diferente daquela a que apontava o PEC IV e mais capaz de nos tirar do buraco onde nos encontramos–antes pelo contrário,


certamente, optarão por uma política destinada a desmantelar o Estado Social, o Estado Protector,


numa atitude implacável e essencialmente neo-liberal.


Porque, não me venham com essa!, não governariam melhor do que Sócrates, ou à maneira de Sócrates, com mais capacidade.


A governarem, governarão segundo a cartilha do neo-capitalismo, que nos levou à maior crise económica mundial dos últimos cem anos.


E, graças àqueles que estão à esquerda do PS, por -talvez- excesso de ortodoxia e reafirmação da “tese catastrófica” (“quanto pior, melhor, o povo perceberá, finalmente, que tem de ir connosco”),


e, graças aqueles que estão à direita do PS, por mera fome de poder, de conquista dos lugares de governo,


vamos estar quase três meses sem governo.


Já nas lonas, vamos atirar pela janela milhões de euros, que sustentarão as evitáveis eleições antecipadas.


Quem pagará esses milhões?


Já sabemos muito bem quem os pagará:


os mais fracos, os mais pobres, os mais necessitados


Que é sobre esses que recaiem, sistematicamente, os impostos e a obrigação de recuperar a banca abalada e o capital,


a obrigação de nos sacrificarmos para ajudar a recompor-se a minoria de privilegiados, que nos vai sugando o sangue.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Não sei e recuso o que não me diz quem diz que não lhe disseram e quando fala baba-se

Seremos, sempre, um Portugal dos pequeninos?






Disse, Cavaco, que não lhe disseram nada... e foi ter com os amigos... e, se calhar, desgraçou-nos ainda mais




Não sei o que acontecerá hoje. Sei que, se houver mudança, será para pior.

Mais cortes nos vencimentos, nas pensões, o fim da ADSE (falo para os funcionários públicos), a privatização da saúde, o desprezo pelo ensino público.

Não vou atacar ninguém, até absolvo o Coelho, que obedeceu às ordens do "iluminado": o homem de Boliqueime: Cavaco.

Eleições?

Num país falido?

É isso que nos oferece (para nos salvar=enterrar) Cavaco?

Cai-nos destes!...

E o PSD?

Não.
Sinto-me lesado por pessoas que, entre a raiva e a incompetência, me vão dar cabo do que resta deste país infeliz.

terça-feira, 22 de março de 2011

As guerras de libertação

Erlich in El País, de 22/03/2011


"-O que está a dar?

"-Líbia.

"-Que se passa?

"-Parece que é um remake do Iraque.

A China em 1º lugar no mercado da Arte

Xu Beiong (1895-1953)







Qi Baishi (1864-1957)






Fu Baoshi (1904-1965)




Chen Yifei (1946-2005)




Zeng Fanzhi (1964-)



Em 2010, a China contabilizou 33% das vendas, no mercado mundial da Arte (pintura, escultura, instalações, fotografia, desenho e gravura), seguida dos Estados Unidos, 30%, Inglaterra, 19% e França, 5%.

Dos 10 artistas mais vendidos, nesse ano, 4 são chineses.

Em quanto diz respeito à arte contemporânea, entre os nove mais vendidos, 6 chineses aparecem logo a seguir a 3 americanos.Além disso, a China vem no segundo lugar dos países que dão maior apoio governamental, juntamente com os coleccionadores privados, ao mercado das artes.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Dia Mundial da Poesia



Poveirinhos! meus velhos Pescadores!
Na água quisera com vocês morar:
Trazer o grande gorro de três cores,
Mestre de lancha Deixem-nos passar!

Far-me-ia outro, que os vossos interiores,
De há tantos tempos, devem já estar
Calafetados pelo breu das Dores,
Como esses pongos em que andais no Mar!

Ó meu Pai, não ser eu dos poveirinhos!
Não seres tu, para eu o ser, poveiro!
Mail-Irmão do “Senhor de Matozinhos”!

No alto mar, às trovoadas, entre gritos,
Prometermos, si o barco fôri intieiro,
Nossa bela à Senhora dos Aflictos!’

in , de António Nobre

Anthony Hopkins: 'Sou uma pessoa solitária e sem amigos"




ENTREVISTA: ANTHONY HOPKINS



por Miguel Mora


Llega imitando a Picasso, escenificando para dos asistentes las cenas para 50 personas en Maxim's que pagaba haciendo un dibujo en el menú cuando su mujer decía que no tenían dinero. Anthony Hopkins empieza de pie, luego se sienta, se levanta de un salto, pide el menú imaginario, hace el garabato, se lo da al camarero invisible, sale del restaurante. Con cuatro gestos, el eminente actor galés, de 73 años, clava al personaje. Estamos en Roma, en un hotel de lujo, y Hopkins está de un humor excelente. Ríe a carcajadas. Es mediodía y dejó de beber hace 40 años tras acabar con varias cosechas de whisky, así que no hay duda: he aquí a un hombre feliz.
La excusa para los 20 minutos de entrevista es El rito, una película de exorcismos italianos y curas anglosajones rodada en Roma en la que sir Anthony interpreta a un sacerdote especializado en sacar el diablo del cuerpo de la gente. Inspirado en supuestos hechos reales, lo mejor que se puede decir del filme dirigido por Michael Hafström es que Hopkins sale ileso con un medido ejercicio de contención y sobreactuación. Por lo demás, poca cosa, salvo que será seguramente un taquillazo y suscita en Hopkins algunos comentarios inteligentes: "No creo en Dios, tampoco en el diablo. El mal y la crueldad en la tierra existen, y seguramente se parecen a un tipo que tuvo el poder en Alemania y mató a millones de personas. Quizá era más ignorante que diabólico, me parece que la ignorancia es el peor pecado. Aunque el bien también existe, no creo que haya una moral universal, y dudo mucho que la justicia exista. Por eso yo no juzgo a nadie. Ni siquiera al Vaticano. Nunca critico o ataco. Me porto lo mejor que puedo. De todas formas, no me haga mucho caso. Yo soy solo un actor, y los actores no creemos en nada. Como Picasso".


Pregunta Gassman y Mastroianni decían que, cuanto más tontos, mejores son los actores.


Respuesta Exacto. Mastroianni le dijo una vez en un rodaje a Shirley MacLaine y Marcia Gay Harden: "Marcia, admitámoslo, los actores somos niños, pero también somos cerdos. ¡Somos cerdos!". Y ya sabe ese chiste: "¿Por qué mira un actor por la ventana por la mañana? Porque no tiene nada que hacer por la tarde". Y ese otro: Un actor encuentra a su mujer en la cama y un tipo que huye. "¿Quién era ese hombre?". "Tu agente". "Ah, ¿y ha dejado algún mensaje para mí?".


P. ¿Se aman demasiado los actores?


R. Eso espero. Yo lo hago todo el tiempo. Tengo suerte de estar vivo y de estar en este negocio. Me traen a Roma unos días, luego me llevan un rato a Londres y me devuelven a Los Ángeles. Es una vida estupenda, no tengo ninguna queja.


P. Pero prefiere componer.


R. Amo hacer música, me gusta más que actuar. No sé si está mi alma en ello, pero creo que tengo un don para orquestar... Este año tengo conciertos en Birmingham y en Viena.


P. ¿Tiene escuela, maestros?


R. No, la música me gusta desde niño, casi no puedo recordar cómo empezó esa pasión. Yo estoy muy influenciado por la música centroeuropea. Ravel, Debussy, Prokófiev... Seguramente es gracias a que mi padre los oía, pero me producen una impresión bastante fuerte. También los románticos, las catedrales del sonido... Luego me hice actor y abandoné la música, aunque toqué bastante el piano. Y más tarde descubrí que tenía el don de componer.


P. Sus padres no eran ricos. ¿Cómo hizo todo eso?


R. Mi padre era panadero, pero no vivíamos en la pobreza. Lucharon mucho en la guerra y la posguerra, fue duro para todos, pero me mandaron a la escuela, y la verdad es que me dieron muchas cosas.


P. ¿Y qué les pareció que fuera actor?


R. Les alivió que encontrara algo, no tenían mucha fe en mí, no era bueno en el colegio. A mi padre le hizo feliz ver que me procuraba una carrera. Ahora está muerto.


P. Su éxito ha sido bastante tardío. Antes de Hannibal Lecter no se le conocía mucho. ¿Se hizo mejor actor con el tiempo?


R. No sé, creo que es cuestión de suerte. Estar en el sitio justo en el momento apropiado, tener buenos agentes... Los tuve terribles, y ahora son buenos. Un poco de talento no viene mal, pero sobre todo es suerte.


P. ¿Siente que tiene mucho talento?


R. No más que otros. Me siento diferente porque no encajo bien en la sociedad, soy un verdadero nómada, no tengo ni un amigo y me gusta estar solo. Estoy casado con una maravillosa mujer colombiana. Pero no tengo amistades. Solía tenerlas, pero ya no. Me temo que soy un poquito outsider. No salgo con actores, no tengo un solo actor que sea mi amigo. Prefiero estar solo.


P. ¿Recuerda cuando sustituyó a Laurence Olivier en el teatro?


R. Buff, de eso hace 45 años, pero me acuerdo, sí. Me fue muy bien, la verdad. Dijo que lo había hecho muy bien, y me animó mucho. Conocí a Olivier bastante bien, pero me alejé de la gente del teatro cuando me fui a California, y ahora solo los veo una vez cada 10 años. Ahora he conocido a Kenneth Branagh, que me ha dirigido en Thor. Es un gran actor, muy simpático.


P. Dicen que tiene una memoria prodigiosa. ¿Es el secreto de un buen actor?


R. No creo. Ayuda, claro, porque consiste en memorizar cosas. Y me entreno mucho. Sé un par de poemas y soy un lector ávido, adicto a la Wikipedia. Tengo buena memoria pero no soy un hombre instruido, aunque he leído. La memoria es como un músculo. Para El rito memoricé como un loro las líneas en italiano con un entrenador. Eso te da confianza. Si no te sabes el papel, estás perdido. Es como subirte a un coche sin saber conducir. Puedes matar a cualquiera. Cuestión de experiencia.


P. Memoria, experiencia y contención. ¿Ese es su estilo?


R. ¿Contención? ¡Espero, sí! A veces tienes que sobreactuar. Si estás poseído por el demonio es difícil no pasarse en alguna escena. Intenté hacerlo fácil y natural.


P. ¿Le apetece una comedia?


R. Hice una con Woody Allen. No me importa para lo que me llamen, mientras me paguen. Lo cierto es que podría memorizar la guía telefónica.


P. ¿Sigue contento en EE UU?


R. Fui para un tiempo pero me dieron la green card y me quedé. Es agradable, vivo cerca de la costa, no veo a gente. A veces voy a Nueva York, la alfombra roja no es lo mío, si me invitan pongo excusas para no ir.




transcrito, com a devida vénia, de El País, 21/03/2011

Amar ou ser amado

'Ácis e Galateia, escondem o seu amor a Polifemo', 1645/1850, éleo de François Perrier (1590-1650)


Leio, nas “Lettres Portugaises”, atribuídas ( e negadas) à freira do Real Convento de Nossa Senhora da Conceição, em Beja, Mariana Alcoforado, na Terceira Carta ao oficial francês, Noel Bouton, Marquês de Chamilly:

Tenho pena, e por amor de ti, dos prazeres infinitos que perdeste. Será possível que não quisesses gozá-los? Ah, se os experimentasses, achá-los-ia, sem dúvida, mais delicados do que o de abusares de mim, e compreenderias que se é muito mais feliz e se experimenta um sentimento bem mais emocionante quando se ama intensamente do que quando se é amado.”

domingo, 20 de março de 2011

Este urso morreu de solidão, no Zoo de Berlim




Knut, estrela do Jardim Zoológico de Berlim, morreu, inesperada e provavelmente, de solidão. O seu lugar não era ali. Não lhe bastavam os aplausos e os sorrisos daqueles que o vinham admirar. Não nascera para ser artista de circo. Ou para ser condenado a divertir, dentro de um espaço fechado, os visitantes do Zoo de Berlim. O seu destino era ser livre, como o de todos os animais, inclusive o animal homem. Nunca gostei de ver pássaros em gaiolas, cães presos por cadeias, homens algemados, gado conduzido à tortura e à matança, nas touradas. E pergunto-me se temos o direito de construirmos jardins zoológicos. Se temos o direito de usar o nosso poder para escravizar o outro, seja ele qual for.


Vale a pena ler o link: