Recebi uma carta de uma jovem amiga, que me impressionou.
Afinal, ainda há quem sinta, quem ame!
Alguém que não se deixa sufocar por estes anos de peste, de egoísmo, de indiferença... de solidão letal.
A nossa amizade já dura há bastante tempo e ela deve, agora, andar pelos dezasseis anos. Uma adolescente, pois...
Uma adolescente que reivindica a sinceridade e denuncia a hipocrisia.
A transparência e a certeza da linguagem, do estilo, levou-me a não resistir à indiscrição, à vontade de publicar algumas linhas da carta.
Afinal, não é uma inconfidência, uma vez que não identifico o remetente...
E tenho, aliás, a certeza de que ela me perdoará.
Mais uma palavra: há muito que pressinto nessa jovem mulher uma invulgar capacidade de se exprimir, talvez, a vocação de escritora autêntica. Tem muito a contar e sabe fazê-lo, superiormente.
Aqui vo-la deixo, é um emocionante grito de alma:
“Como está? Desculpe só lhe escrever agora, mas a escola ocupa maior parte do meu tempo.
(...) Dou por mim muitas vezes a pensar em si em momentos de angústia e no que me diria para me acalmar...a verdade é que, por vezes, me sinto tão só e tão isolada deste maldito mundo... Decerto, que, ao ler isto, se interroga "mas porquê tantas angústias?"...a resposta é simples: amor.
"Meu Deus! Eu nunca cuidei que amar fosse este Inferno!" não é verdade?
Amar alguém é abdicar de uma parte de nós, mas o que a maior parte das pessoas não entende quando está completamente cega de amores por alguém é que nós chegamos a criar um núcleo só nosso e nos isolamos de tudo: da nossa família, dos nossos amigos, do mundo em si... foi isso que me aconteceu e foi disso que me apercebi ontem.
Estava (e estou) tão apaixonada e tão habituada ao facto de estar só com ele, que o meu mundo perdeu sentido e para as outras pessoas, isto pode ser só uma paixoneta de adolescente, mas para mim não é.
Paixonetas (essas que os adultos dizem que adolescentes têm) são aquelas que não duram um mês sequer...são aquelas onde não existe nada, onde duas pessoas não dependem uma da outra nem querem saber. Isso sim, são paixonetas de adolescentes.
Posso estar a ser exagerada, mas sinto que, sem ele, nada disto vale a pena. Não é que não consiga sobreviver, porque eu consigo! Eu sei que consigo e sei que o mundo e a minha vida não vão parar por causa dele...mas sabe bem pensar que sim e isso faz-me mal.”
(...) Dou por mim muitas vezes a pensar em si em momentos de angústia e no que me diria para me acalmar...a verdade é que, por vezes, me sinto tão só e tão isolada deste maldito mundo... Decerto, que, ao ler isto, se interroga "mas porquê tantas angústias?"...a resposta é simples: amor.
"Meu Deus! Eu nunca cuidei que amar fosse este Inferno!" não é verdade?
Amar alguém é abdicar de uma parte de nós, mas o que a maior parte das pessoas não entende quando está completamente cega de amores por alguém é que nós chegamos a criar um núcleo só nosso e nos isolamos de tudo: da nossa família, dos nossos amigos, do mundo em si... foi isso que me aconteceu e foi disso que me apercebi ontem.
Estava (e estou) tão apaixonada e tão habituada ao facto de estar só com ele, que o meu mundo perdeu sentido e para as outras pessoas, isto pode ser só uma paixoneta de adolescente, mas para mim não é.
Paixonetas (essas que os adultos dizem que adolescentes têm) são aquelas que não duram um mês sequer...são aquelas onde não existe nada, onde duas pessoas não dependem uma da outra nem querem saber. Isso sim, são paixonetas de adolescentes.
Posso estar a ser exagerada, mas sinto que, sem ele, nada disto vale a pena. Não é que não consiga sobreviver, porque eu consigo! Eu sei que consigo e sei que o mundo e a minha vida não vão parar por causa dele...mas sabe bem pensar que sim e isso faz-me mal.”
Gostei imenso do post. O Amor quando é verdadeiro é para toda a vida.
ResponderEliminarEla só tem que continuar a acreditar. Também eu com 16 anos sofri assim, e valeu a pena.
Sempre pensei que fosse uma mulher de paixões e capaz do risco. Um abraço e obrigado pela visita e pelo que diz da carta da minha amiga.
ResponderEliminarGostei muito do quadro em cima e depois da intensidade nas palavras. Espero que o inferno que ela terá sentido já tenha passado e com a mesma intensidade se sinta agora muito feliz.
ResponderEliminarum beijinho
Gábi
Creio que ela se encontrou (e encontra) entre o entusiasmo da paixão e a incerteza, a turbulência que a paixão traz consigo. De facto, impressionou-me no relato do seu entusiasmo e da surpresa a essencialidade e a intensidade do estilo e a transparência das palavras. O equilíbrio espontâneo. A paixão dela pelo amado é um dos momentos nunca esquecerá. E, por mais que queiramos ser optimistas, a vida não soma muitos desses momentos. E esses momentos que a vida nos oferece há que vivê-los absoluta e totalmente.
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