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terça-feira, dezembro 14, 2021

Passing / Identidade
— na intimidade dos corpos

Ruth Negga em Passing: o combate de ser e não ser

O filme Passing/Identidade (Netflix) sabe expor o funcionamento de um sistema racista sem ceder a facilidades panfletárias — este texto foi publicado no Diário de Notícias (28 novembro).

As várias formas de militância que têm enquadrado a mais recente produção cinematográfica dos EUA decorrem de uma fundamental urgência política, profissional e simbólica — o lugar das mulheres no seio da indústria e os modos de abordagem das personagens de pele negra definem, justificadamente, dois vectores fundamentais dessa conjuntura.
O que, creio, não nos deverá levar a banalizar os enunciados dessas militâncias, sob pena de deixarmos transformar a densidade dos temas abordados num piedoso inventário de rotinas sem substância. No limite mais medíocre, tem sido reforçada a “ideia” segundo a qual a importância desses temas só pode ser relevada (e até respeitada) através de personagens “positivas”, portadoras de uma “mensagem” imaculada, quase transcendental.
Assim se reforça um velho simplismo narrativo que nunca sabe distinguir duas componentes diversas, por vezes claramente opostas. A saber: a construção de um ponto de vista de um filme (ou de um filme com um ponto de vista) não é um efeito automático, muito menos linear, daquilo que as personagens principais dizem, fazem ou defendem.
Lembremos o caso sintomático de Selma (2014), de Ava DuVernay, recordando um momento nuclear da luta pelo direito de voto para os cidadãos negros e, em particular, o envolvimento de Martin Luther King nessa luta. Reconhecer a vulgaridade dramática do filme (típica de um telefilme de rotina) não envolve qualquer menorização, muito menos ocultação, da importância histórica dos factos abordados — aliás, é a encenação mecânica desses factos que corre mesmo o risco de minimizar os valores humanos e humanistas que inspiram o filme.
Vale a pena lembrar também o exemplo mais próximo desse objecto admirável, de riquíssima textura narrativa e simbólica, que é Da 5 Bloods/Irmãos de Armas (2020), produção Netflix realizada por Spike Lee. Não se poderá dizer que as personagens centrais, quatro afro-americanos que revisitam lugares e enfrentam fantasmas da guerra do Vietname, sejam propriamente figuras santificadas, o que não impede que estejamos perante um dos títulos que mais pode justificar a cristalina aplicação da mensagem #BlackLivesMatter.
A imagem de Clare, a actriz Ruth Negga, contemplando a câmara em Passing/Identidade, de Rebecca Hall (lançamento recente da Netflix) constitui um belo exemplo da fascinante complexidade que tudo isto pode envolver. Trata-se, afinal, de um plano subjectivo, correspondente ao olhar de Irene, a outra personagem central do filme, interpretada por Tessa Thompson.
Que está a acontecer? É, entre os filmes que vi este ano, uma das mais admiráveis cenas de abertura. Momentos antes, vimos Irene entrar no salão de chá daquele hotel de Nova Iorque. Estamos na década de 1920: todos os seus movimentos são discretos e contidos, escondendo os olhos com a aba do seu chapéu, como quem tenta controlar o pânico. Clare chegou pouco depois, numa pose bem diferente — é, obviamente, uma frequentadora habitual daquele espaço.
Quando Clare olha em frente e detecta o olhar, também curioso, mas receoso, de Irene, assistimos a um efeito dramático de perturbante ambiguidade. Por um lado, depois de mais de uma década em que não souberam uma da outra, Clare é a primeira a reconhecer a amiga. Por outro lado, o olhar de Clare envolve a mesma pergunta não dita: “Será que ela está a fazer o mesmo que eu?” Ou seja: a tez mais clara de ambas as mulheres permite-lhes fazerem-se passar por brancas (“passing”) num cenário que, em função das regras sociais dominantes, pertence exclusivamente aos brancos.
O que é extraordinário nestes, e em muitos outros, momentos do filme em que Rebecca Hall se estreia na realização (adaptando o romance homónimo de Nella Larsen) não é a “denúncia” panfletária de um sistema social atravessado pelo racismo — por mais legítimos que sejam os seus protestos ou reivindicações, um filme não se confunde com um discurso concebido para um comício. O que está em jogo é a capacidade cinematográfica — entenda-se: através das matérias e linguagens de um filme — de nos fazer sentir os sinais de olhares, gestos e palavras que pertencem, precisamente, à dinâmica interior desse sistema de discriminação e repressão.
Supera-se, assim, a noção ingénua (por vezes aplicada como censura narrativa) segundo a qual a validade das causas obriga à exclusiva apresentação de personagens “positivas”. Irene e Clare não são “positivas” nem “negativas” — são pessoas vivas. Aquilo que o filme expõe é esse assombramento social cuja crueldade afecta a postura dos corpos, a sua inserção no espaço público e, por fim, a sua verdade mais íntima.

quinta-feira, junho 17, 2021

Spike Lee em Cannes

Objecto emblemático do espectáculo de Cannes, aí está o cartaz oficial da 74ª edição do festival [6-17 julho].
Recuperando a personagem de Spike Lee (Mars), no seu filme She's Gotta Have It/Os Bons Amantes (1986), a imagem, num misto de ironia e objectividade, cruza a obra daquele que será o presidente do júri oficial com a iconografia romanesca da cidade de Cannes. O grafismo tem assinatura do atelier Hartland Villa, sendo a fotografia de Spike Lee publicada com a autorização do fotógrafo Bob Peterson & Nike (isto porque serviu, no original, para uma campanha publicitária).

terça-feira, março 16, 2021

Spike Lee, presidente de Cannes

Spike Lee assumirá as funções de presidente do júri da 74ª edição do Festival de Cannes, a realizar entre 6 e 17 de julho. Trata-se, afinal, da renovação de um compromisso, uma vez que o realizador de Da 5 Bloods teria desempenhado a mesma tarefa no festival de 2020 que, devido à pandemia, não se realizou. A confirmação foi registada num breve diálogo com o delegado geral do certame, Thierry Frémaux.
 

domingo, janeiro 03, 2021

Alguns sobressaltos políticos
— memória de "Safe", de Todd Haynes

Julianne Moore, Safe (1995)

Na longa metragem Safe/Seguro, de Todd Haynes, Julianne Moore interpreta uma dona de casa dos subúrbios de Los Angeles especialmente sensível a todos os produtos químicos; de grande actualidade simbólica, o filme tem data de 1995 — este texto foi publicado no Diário de Notícias (12 dezembro). 

Não será necessário possuir um conhecimento especializado, ainda menos enciclopédico, da história do cinema para reconhecer que, em todas as épocas, encontramos filmes que nos confrontam, por vezes de forma premonitória, com as mais diversas convulsões sociais, ideológicas e morais. Esta semana, por exemplo, chegaram às salas portuguesas dois títulos exemplares dessa dimensão visceralmente política, em tudo e por tudo alheia ao cliché do “filme político” (segundo o qual o cinema só faz política quando filma algum “militante” de uma “causa” a proferir um exaltado discurso de “propaganda”…). 
American Utopia
, objecto político, por excelência, é mesmo um filme musical. Entenda-se: uma celebração da música e dos seus poderes de encantamento e pensamento (uma coisa pressupõe e envolve a outra). Trata-se do sofisticado registo de um concerto de David Byrne, tendo por base as canções do seu álbum homónimo, maravilhosa reflexão sobre o ser (ou não ser) americano. A realização é de Spike Lee, cineasta em nada estranho aos poderes narrativos da música, com colaborações regulares com o compositor Terence Blanchard e até com um belo filme, Mo’ Better Blues (1990), sobre um trompetista de jazz, interpretado por Denzel Washington. 
O caso de O Mal Não Existe é bem diferente, quanto mais não seja porque se apresenta enquadrado por factos políticos muito concretos: o seu autor, o iraniano Mohammad Rasoulof, foi condenado por “propaganda contra o sistema” e proibido de filmar pelas autoridades do seu país. O certo é que tem conseguido continuar a trabalhar, sendo O Mal Não Existe um admirável libelo contra a pena de morte no Irão — foi também o grande vencedor (Urso de Ouro) do Festival de Berlim realizado em fevereiro. 
O menosprezo corrente, mediaticamente muito poderoso, pela vocação social do cinema sugere que “tais” filmes não passam de divagações inconsequentes de, e para, “intelectuais”. Tal sugestão é apenas um pormenor no interior de um aparato de comunicação que tende a reduzir o cinema a um “entretenimento” pueril, alheio a qualquer forma de entendimento do mundo — como se os filmes dos estúdios Marvel (incluindo os mais brilhantes) fossem placebos ideológicos… 
No recentíssimo A Pandemia que Abalou o Mundo (ed. Relógio D’Água, 2020), livro com tanto de discutível como de fascinante, Slavoj Zizek chama a atenção para o carácter orgânico das vidas humanas — dos vírus à forma de organização da economia —, sublinhando o valor primordial da solidariedade: “Um lugar-comum agora em circulação é que, uma vez que estamos todos nesta crise, devemos esquecer a política e limitar-nos a trabalhar em uníssono para nos salvarmos. Esta ideia é falsa: é agora que precisamos de verdadeira política — as decisões sobre solidariedade são eminentemente políticas.” 
Quem sou face ao outro? Como é que os gestos pessoais determinam o funcionamento do colectivo? Se recuarmos um quarto de século, podemos encontrar estas perguntas no filme Safe (1995), de Todd Haynes, subtil retrato do medo face às possibilidades de contaminação do corpo (entre nós lançado como Seguro). 
A sua actualidade é perturbante. A segurança a que o título alude decorre da crescente vulnerabilidade de Carol White (notável Julianne Moore), dona de casa dos subúrbios de Los Angeles, sempre ameaçada pelos mais diversos produtos químicos. De tal modo que um qualquer sobressalto — por exemplo, nessa cena incrível, num cabeleireiro, em que Carol começa a deitar sangue pelo nariz — adquire a energia de um pesadelo vivido em tom realista. 
A entrada de Carol numa espécie de retiro para pessoas com o mesmo tipo de sintomas ou alergias surge, assim, marcada por uma inquietante ambivalência: por um lado, a clausura parece garantir a adequada distância (segura, precisamente) em relação aos perigos da vida em sociedade; por outro lado, a lógica de “purificação” da sua nova existência, para mais num ambiente que tem qualquer coisa de seita religiosa, põe em causa a própria viabilidade do conceito de sociedade. Enfim, vale a pena não esquecer que o cinema é uma nobre arte humana, não uma colecção descartável de monstros ruidosos fabricados por meios digitais.

segunda-feira, dezembro 28, 2020

10 filmes de 2020 [5]

Spike Lee

Eis uma conjugação criativa nascida de uma cumplicidade perfeita: de um lado, a lógica teatral da performance de David Byrne; do outro, a subtileza de Spike Lee face ao espectáculo e às suas nuances metafóricas. O resultado parece abrir uma nova gramática para o próprio conceito de "filme-concerto", ainda que não possamos deixar de evocar um modelo inspirador: Stop Making Sense (1984), de Jonathan Demme, com os Talking Heads — entenda-se: David Byrne.



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[ 1. Uma Vida Alemã ] [ 2. Mank ] [ 3. Malmkrog ] [ 4. Da 5 Bloods ]

sábado, dezembro 26, 2020

10 filmes de 2020 [4]

Spike Lee

Das muitas facetas da identidade afro-americana às convulsões da América de Trump, na senda do anterior BlacKkKlansman (2018), Spike Lee desenha o mapa de um tempo interior, made in USA, de que a guerra do Vietname é, de uma só vez, a origem e o fantasma. Tudo isso envolvido numa tessitura musical — da música original do fiel aliado Terence Blanchard às memórias lendárias de Marvin Gaye — que confirmam o seu cinema como uma admirável aventura sinfónica. Monumental, eis a palavra.



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[ 1. Uma Vida Alemã ] [ 2. Mank ] [ 3. Malmkrog ]

quarta-feira, julho 08, 2020

Spike Lee
— ser e não ser cineasta

Com Da 5 Bloods, Spike Lee prossegue a sua abordagem da história dos negros na história mais geral dos EUA: o seu filme existe num território original em que o próprio cinema discute os seus limites contemporâneos — este texto foi publicado no Diário de Notícias (27 Junho).

Um velho preconceito garante que os críticos de cinema são aqueles que querem “impor” aos outros os seus pontos de vista. E não vale a pena ter ilusões: o seu poder é imenso, talvez mesmo invencível. Mas confesso que sempre me desconcertou a raridade com que alguém tenta, pelo menos, superar a questão através de um desvio francamente mais interessante. A saber: como é que um filme se “impõe” a um crítico?
A resposta será, por certo, curiosa, quanto mais não seja porque a noção, ainda mais preconceituosa, da crítica de cinema como um “rebanho” de pensadores que se movem sempre no mesmo sentido é todos os dias desmentida pelas diferenças e contradições que se desenham entre os críticos. Dito de outro modo: não há respostas a tal pergunta que não sejam individuais.
Por mim, redobro de atenção e curiosidade sempre que um filme me impõe algum silêncio. Literalmente: quando a sua energia criativa me leva a pressentir as limitações do meu próprio discurso, de alguma maneira compelindo-me a pensar como posso, no mínimo, sugerir a riqueza e complexidade do objecto que tenho à minha frente.
Para mim, Da 5 Bloods, de Spike Lee, disponível na Netflix com o subtítulo Irmãos de Armas, é um desses filmes. Que estamos a ver, afinal? Um filme de cinema, sem dúvida. E o simples facto de sermos levados a dizer “um filme de cinema” é revelador das convulsões do nosso tempo. A multiplicação das formas de difusão de um filme — em diversas “plataformas”, como aprendemos a dizer, satisfazendo a tecnocracia triunfante — instalou este bizarro impulso, misto de nostalgia e redundância.
Sendo um filme, não é, então, necessariamente, um “filme de cinema”? Acontece que, para lá da situação das salas de cinema (antes e durante a pandemia), Da 5 Bloods existe, acima de tudo, como objecto de difusão virtual – na Netflix, precisamente. O que, mais do que uma questão técnica e comercial, envolve também um fascinante trabalho narrativo.
Spike Lee convoca-nos para uma encruzilhada. Estamos perante um filme que é também um “programa” de televisão (no sentido em que o podemos ver no nosso televisor), também um ficheiro informático (porque podemos aceder-lhe através do nosso computador) e, por fim, pelo seu modo de exposição e dramatização, também uma espécie de noticiário virtual.
Porquê “noticiário”? Porque Spike Lee tem consciência do modo como, hoje em dia, para o melhor ou para o pior, somos espectadores permanentes, eventualmente dependentes, de informações que, a todos os instantes, vão habitando todos os nossos ecrãs — desde aquele que, tradicionalmente, ocupa uma das divisões da nossa casa até ao que transportamos no bolso.
No limite, talvez possamos dizer que Da 5 Bloods já não é cinema nem televisão, mesmo se participa das regras que, habitualmente, associamos a um e outro. À falta de melhor descrição, talvez faça sentido caracterizá-lo como uma “instalação” de exuberantes artifícios narrativos, sem que isso contrarie o reconhecimento de muitos elementos do mundo em que vivemos.
Também por isso, creio que a apresentação de Spike Lee como “mensageiro” dos direitos dos afro-americanos, aqui como em toda a sua filmografia (recordemos o clássico Do the Right Thing/Não Dês Bronca, cujos 30 anos têm vindo a ser assinalados desde meados de 2019) não faz justiça à sofisticação formal do seu trabalho. Ele é, afinal, um “repórter” do seu/nosso tempo que discute, ponto por ponto, filme a filme, a representação do próprio tempo presente.
A recordação das vivências trágicas dos jovens negros no Vietname não se apresenta, assim, como índice banal de um discurso panfletário. Da 5 Bloods nasce da necessidade de refazer os modos correntes de investigar e partilhar a história dos negros na história mais geral dos EUA. Daí que, no plano narrativo, tudo comunique: da aventura dos protagonistas à iconografia de Donald Trump, dos traumas da guerra às memórias de Muhammad Ali, Martin Luther King ou Marvin Gaye. É essa metódica reconversão da linguagem, isto é, das imagens e dos sons, que faz de Spike Lee um prodigioso cineasta. Mesmo que a palavra “cineasta” seja insuficiente para explicar o que ele faz.

sexta-feira, junho 26, 2020

Spike Lee no Movie Club
— American Film Institute

Spike Lee em directo

Em directo no YouTube, a partir das 20h00, hora de Nova Iorque — 01h00 em Portugal: Spike Lee vai estar numa das habituais conversas do Movie Club do American Film Institute para falar de Do the Right Thinh/Não Dês Bronca (1989), por certo não esquecendo o seu novíssimo e prodigioso Da 5 Bloods [Netflix]. Antecipando o evento, eis uma breve apresentação de John David Washington.

terça-feira, maio 19, 2020

"Da 5 Bloods" / Spike Lee

Memórias e fantasmas da guerra do Vietname. Seja o que for, e como for, o novo filme de Spike Lee, o respectivo trailer possui uma energia contagiante — sem esquecer o impacto do poster: Da 5 Bloods estará na Netflix a partir do dia 12 de Junho.

quinta-feira, maio 14, 2020

Spike Lee, "New York, New York"

É uma carta de amor ao povo de Nova Iorque: Spike Lee dá-nos a ver a grande metrópole sob o efeito do COVID-19, convocando a canção-tema de New York, New York (1977), de Martin Scorsese, e utilizando a maravilhosa película Super 8 da Kodak. I wanna wake up in a city / that doesn't sleep...

terça-feira, fevereiro 26, 2019

Spike Lee: palavras & publicidade

Vivemos no tempo da inscrição — entenda-se: da proliferação de suportes para as mais variadas formas de escrita. De tal modo que os criadores mais ousados não hesitam em ocupar espaços mais ou menos atípicos para escrever/inscrever as suas mensagens. Veja-se o metódico filme publicitário que Spike Lee dirigiu para a Coach, uma marca de malas de mão e artigos de luxo. Nele encontramos o actor Michael B. Jordan (Fruitvale Station: A Última ParagemCreed: O Legado de Rocky, Black Panther, etc.) numa demanda que envolve a celebração das palavras certas.
Num notável filme de 1989, entre nós lançado como Não Dês Bronca, Spike Lee encontrou o seu lema: do the right thing. Talvez seja a altura de acrescentar: write the right thing.

quinta-feira, janeiro 17, 2019

The Killers + Spike Lee

Reconhecemos a imagem da Estátua da Liberdade, mas sentimos a sua monumentalidade abalada. Dito de outro modo: nos EUA, face ao turbilhão Trump, muitos protagonistas do mundo da música popular continuam a mobilizar-se para utilizar as suas armas artísticas contra a arbitrariedade social e a irresponsabilidade política.
Agora, a banda The Killers lançou Land of the Free, canção de cristalino espírito panfletário, anti-Trump, exemplarmente encenada num teledisco com assinatura de Spike Lee — podemos mesmo dizer que esta é uma adenda ao seu admirável BlacKkKlansman.

Can't wipe the wind-blown smile from across my face
It's just the old man in me
Washing his truck at the Sinclair station
In the land of the free
His mother Adeline's family came on a ship
Cut coal and planted a seed
Down in them drift mines of Pennsylvania
In the land of the free

Land of the free, land of the free
In the land of the free
[...]
(I'm standing crying)

When I go out in my car, I don't think twice
But if you're the wrong color skin (I'm standing crying)
You grow up looking over both your shoulders
In the land of the free
We got more people locked up than the rest of the world
Right here in red, white and blue
Incarceration's become big business
It's harvest time out on the avenue

Land of the free, land of the free
In the land of the free
Land of the free, land of the free
Move on there's nothing too see
Land of the free, land of the free
In the land of the free

I'm standing crying, I'm standing crying
So how many daughters, tell me how many sons
Do we have to have to put in the ground before we just break down and face it
We got a problem with guns
In the land of the free
Down at the border, they're gonna put up a wall
Concrete and rebar steel beams (I'm standing crying)
High enough to keep all those filthy hands off of our hopes and our dreams (I'm standing crying)
People who just want the same things we do
In the land of the free

Land of the free, land of the free
In the land of the free
[...]
(I'm standing crying)