Mostrar mensagens com a etiqueta Panda Bear. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Panda Bear. Mostrar todas as mensagens
domingo, dezembro 27, 2015
As canções de 2015:
Panda Bear, Tropic of Cancer
O álbum Panda Bear Meets the Grim Reaper foi dos primeiros a conhecer edição em 2015, sendo lançado pela Domino Records logo a 9 de janeiro, o que fez com que talvez escapasse a algumas das memórias retrospetivas apresentadas agora em fim de ano. Do alinhamento do sucessor de Tomboy vale a pena recordar, por exemplo, este Tropic of Cancer, que cruza melancolia com uma luminosidade soalheira e evoca sonoridades pop/rock francesas dos anos 60, pensadas como piscadelas de olho ao que chegava do outro lado do canal da Mancha, como as que então eram tão bem conduzidas por Françoise Hardy.
segunda-feira, janeiro 12, 2015
Novas edições:
Panda Bear
"Panda Bear Meets The Grim Reapper"
Domino Records
( 5 / 5 )
Ao contrário do que o título possa sugerir (já que o grim reaper não é senão a figura da morte), o novo álbum a solo de Panda Bear é tudo menos coisa assombrada. O título traduz a noção de algo com o qual não queremos lidar, mas que, com a ajuda de uma máscara, se torna mais fácil de digerir.
Com os Animal Collective (a que pertence) em pausa, Panda Bear aprofunda aqui a relação com uma busca incansável por novas formas de pensar a canção e os sons que a servem. Usando as máquinas como principal ferramenta de trabalho, e abordando linguagens que podemos por vezes arrumar mais perto de uma pulsão de dança, é do contraste entre a familiaridade dos ritmos e formas com a busca de sonoridades e o âmago ímpar das narrativas e personagens das canções que vive a alma de um álbum que, depois de discos fulcrais como Person Pitch (2007) e Tomboy (2011) reafirmam o espaço a solo da obra de Panda Bear como um dos mais interessantes e visionários do atual panorama indie. Vale ainda a pena notar que a canção Tropic of Cancer, com travo de balada à la 60’s deixa claro como o assimilar de memórias pode também alimentar a criatividade de alguém que olha em frente quando compõe.
O disco junta ainda o Príncipe Real à toponímia da música. Tal como os Strawberry Fields de Liverpool, o largo lisboeta tem agora o seu nome inscrito no mapa da música do nosso tempo.
Este texto foi publicado na edição de 7 de janeiro da revista Time Out.
Domino Records
( 5 / 5 )
Ao contrário do que o título possa sugerir (já que o grim reaper não é senão a figura da morte), o novo álbum a solo de Panda Bear é tudo menos coisa assombrada. O título traduz a noção de algo com o qual não queremos lidar, mas que, com a ajuda de uma máscara, se torna mais fácil de digerir.
Com os Animal Collective (a que pertence) em pausa, Panda Bear aprofunda aqui a relação com uma busca incansável por novas formas de pensar a canção e os sons que a servem. Usando as máquinas como principal ferramenta de trabalho, e abordando linguagens que podemos por vezes arrumar mais perto de uma pulsão de dança, é do contraste entre a familiaridade dos ritmos e formas com a busca de sonoridades e o âmago ímpar das narrativas e personagens das canções que vive a alma de um álbum que, depois de discos fulcrais como Person Pitch (2007) e Tomboy (2011) reafirmam o espaço a solo da obra de Panda Bear como um dos mais interessantes e visionários do atual panorama indie. Vale ainda a pena notar que a canção Tropic of Cancer, com travo de balada à la 60’s deixa claro como o assimilar de memórias pode também alimentar a criatividade de alguém que olha em frente quando compõe.
O disco junta ainda o Príncipe Real à toponímia da música. Tal como os Strawberry Fields de Liverpool, o largo lisboeta tem agora o seu nome inscrito no mapa da música do nosso tempo.
Este texto foi publicado na edição de 7 de janeiro da revista Time Out.
segunda-feira, dezembro 15, 2014
Ver + ouvir:
Panda Bear, Boys Latin
Um segundo teledisco para um tema do novo álbum de Panda Bear, que será editado, em inícios de 2015. Ficam aqui as imagens. E mais um aperitivo para um belíssimo álbum. O teledisco é realizado por Isaiah Saxon e Sean Hellfritsch da equipa Encyclopedia Pictura.
quarta-feira, outubro 29, 2014
Novas edições:
Panda Bear
“Mr Noah”
Domino
4 / 5
Foi há quase um ano que, numa noite no Lux em que ele mesmo era o curador dos eventos em cartaz, Panda Bear começou a destapar o véu sobre as canções de um novo álbum a solo, sucessor de títulos absolutamente marcantes como o foram Person Pitch (2007) e Tomboy (2011). Desde logo ficava clara a vontade de, sem voltar costas a uma linguagem e uma “voz”, haver ali o desejo de trilhar outros e novos caminhos, nomeadamente os que uma mais intensa arquitetura rítmica talhada por máquinas poderia sugerir... Houve canções magníficas e, no fim da noite, a deliciosa sensação de que estaria ali a nascer mais um disco de primeira água a juntar assim a uma discografia que, somando os títulos gravados a bordo dos Animal Collective, é das mais interessantes que o presente século tem escutado. Agora que sabemos que o álbum terá por título Panda Bear Meets The Grim Reaper e que terá lançamento em janeiro de 2015, entra em cena um novo aperitivo na forma de um EP com quatro novos temas. Encabeçado por Mr. Noah, o EP sugere o que podemos entender como uma ponte entre as memórias ainda relativamente recentes de Tomboy, a experiência do primeiro contacto com as novas canções e aquilo que (para já apenas podemos imaginar) será o álbum a editar em janeiro. Mantendo vibrante uma lógica de construção cenicamente intensa, artilhada por electrónicas, deleitada com o prazer da repetição e animada pela voz luminosa do músico, o EP é um saboroso conjunto de novas canções onde uma certa familiaridade dialoga com a surpresa, que tanto se manifesta na pulsão mais insistente do tema-título ou nos pontuais temperos orientais (via China) dos sons que abrem Tying The Knot. E é entre esta relação com marcas de identidade que há muito lhe reconhecemos e sugestões de que há outros destino a explorar já adiante que o EP assim coloca na linha do horizonte.
segunda-feira, outubro 27, 2014
Ver + ouvir:
Panda Bear, Mr. Noah
Primeiro avanço de um novo álbum a solo de Panda Bear, com lançamento agendado para o início de 2015. Promete... E muito!
sexta-feira, agosto 22, 2014
Uma canção para o verão (2014.15)
Hoje recordamos uma canção que nos leva a um dos mais belos álbuns editados já neste século. Trata-se de Comfy in Nautica, o tema de abertura de Person Pitch, disco fundamental na afirmação de um espaço próprio na carreira de Panda Bear mas também um espaço de reflexão importante sobre a criação musical que teria depois reflexos nos Animal Collective, a banda à qual pertence.
A canção surgiu originalmente em 2005 num single double A side e partilhava então o espaço do disco com I'm Not. A canção inclui um sample de Jisas Holem ya Holem Hand Blom, que surgiu na banda sonora do filme A Barreira Invisível, de Terrence Malick.
O álbum Person Pitch foi o primeiro disco do músico norte-americano a surgir depois deste se ter mudado para Lisboa, onde ainda hoje vive. O músico prepara neste momento o lançamento de um novo álbum a solo.
sexta-feira, dezembro 27, 2013
Os melhores concertos de 2013 (N.G.)
| Foto: Teatro M. Matos |
(Teatro Maria Matos, Lisboa)
Foi preciso esperar mais de 30 anos para vermos Marc Almond num palco português. Mas a espera foi compensada. E a noite de dia 20 de dezembro fez do Natal no Maria Matos um acontecimento emotivo de partilha de canções, onde não faltaram as referências a Jacques Brel nem mesmo aos Soft Cell.
Panda Bear
(Lux, Lisboa)
Era uma noite programada por ele mesmo. Mas ele era também o mais aguardado do cartaz, até porque ia apresentar apenas temas novos. Um trabalho de mais clara abordagem a ritmos mais pronunciados e, pelo caminho, uma nova canção (mais lenta) que é das melhores que alguma vez nos deu.
John Grant
(Cinema São Jorge, Lisboa)
O mais apelativo dos nomes do Mexefst, John Grant visitou Lisboa com o grupo (essencialmente islandês) com o qual dá corpo às canções de um soberbo segundo álbum – Pale Green Ghosts - que editou este ano. O encontro deixou claro que este é nome para nos voltar a visitar brevemente.
Justin Timberlake
(Rock in Rio, Rio de Janeiro)
Foi o grande concerto da edição deste ano do Rock In Rio e é já um nome certo no cartaz do festival que em 2014 vai assinalar os dez anos de presença em Lisboa. Sem aparato maior no palco, Timberlake centrou as atenções nas canções e nas suas capacidades como performer. E venceu o desafio.
Dead Can Dance
(Coliseu dos Recreios, Lisboa)
Poucas vezes os regressos e reuniões são matéria digna de entusiasmar mais que o departamento da nostalgia. Talvez tenha havido alguma ali, sim. Mas foi um serão de intensa vivência de uma linguagem que transporta ecos dos oitentas, mas que acolheu também os sons do álbum recentemente editado.
Clássica
The Perfect American, de Philip Glass
Cantores e Coro e Orquestra do Teatro Real, dir. Dennis Russel Davies
(Teatro Real, Madrid)
Uma das melhores óperas de Philip Glass, The Perfect American parte de um retrato de Walt Disney para refletir também sobre o mundo político e social do seu tempo (estabelecendo pontes com o nosso). Trabalho de orquestra e voz reflete procura de novos sentidos dramáticos e soberba encenação.
Candide, de Leonard Bernstein
Cantores, Orq. Sinfónica Portuguesa e Coro do T.N. São Carlos, dir. João Paulo Santos
(Largo S. Carlos, Lisboa)
A ópera saiu à rua. Foi numa noite quente, apresentando a Lisboa um dos mais brilhantes (e bem humorados) trabalhos de música dramática do século XX, na versão “definitiva” que o próprio Bernstein chegou a dirigir em finais dos anos 80. Largo cheio para um dos grandes momentos que a cidade viveu este ano.
Sinfonia Nº 7, de Sibelius
Mahler Jugendorchester, dir. Leo McFall
(Fund. Gulbenkian, Lisboa)
Já nos habituamos à visita anual da brilhante Mahler Jugendorchester ao Grande Auditório da Gulbenkian. Este ano, com o maestro LeoMcFall escutámos uma belíssima interpretação da Sinfonia Nº 7 de Sibelius (e com ela uma rara oportunidade para ouvir, ao vivo, a música deste grande sinfonista do séc. XX).
Diabelli Variations, de Beethoven
Uri Caine + Orq. Gulbenkian, dir. Joana Amaral
(Fund. Gulbenkian, Lisboa)
Depois de uma visita triunfal no ano passado, evocando Wagner e a sua relação com Veneza, Uri Caine regressou à Gulbenkian para nos propor uma abordagem livre e muito pessoal das Diabelli Variations, numa interpretação que contou com uma espantosa cumplicidade da Orquestra Gulbenkian.
Emilie, de Kaaija Saariaho
Barbara Hannigan + Orq. Gulbankian
(Fund. Gulbenkian, Lisboa)
Tal como ali vimos recentemente uma expressão de palco que transcende o modelo da versão de concerto, de um A Flowering Tree, de John Adams, este ano a finlandesa Saariaho levou à Gulbenkian Emilie, com uma pungente Barbara Hanningan e bela criação cénica de Vasco Araújo e André Teodósio.
Panda Bear
(Lux, Lisboa)
Era uma noite programada por ele mesmo. Mas ele era também o mais aguardado do cartaz, até porque ia apresentar apenas temas novos. Um trabalho de mais clara abordagem a ritmos mais pronunciados e, pelo caminho, uma nova canção (mais lenta) que é das melhores que alguma vez nos deu.
John Grant
(Cinema São Jorge, Lisboa)
O mais apelativo dos nomes do Mexefst, John Grant visitou Lisboa com o grupo (essencialmente islandês) com o qual dá corpo às canções de um soberbo segundo álbum – Pale Green Ghosts - que editou este ano. O encontro deixou claro que este é nome para nos voltar a visitar brevemente.
Justin Timberlake
(Rock in Rio, Rio de Janeiro)
Foi o grande concerto da edição deste ano do Rock In Rio e é já um nome certo no cartaz do festival que em 2014 vai assinalar os dez anos de presença em Lisboa. Sem aparato maior no palco, Timberlake centrou as atenções nas canções e nas suas capacidades como performer. E venceu o desafio.
Dead Can Dance
(Coliseu dos Recreios, Lisboa)
Poucas vezes os regressos e reuniões são matéria digna de entusiasmar mais que o departamento da nostalgia. Talvez tenha havido alguma ali, sim. Mas foi um serão de intensa vivência de uma linguagem que transporta ecos dos oitentas, mas que acolheu também os sons do álbum recentemente editado.
Clássica
The Perfect American, de Philip Glass
Cantores e Coro e Orquestra do Teatro Real, dir. Dennis Russel Davies
(Teatro Real, Madrid)
Uma das melhores óperas de Philip Glass, The Perfect American parte de um retrato de Walt Disney para refletir também sobre o mundo político e social do seu tempo (estabelecendo pontes com o nosso). Trabalho de orquestra e voz reflete procura de novos sentidos dramáticos e soberba encenação.
Candide, de Leonard Bernstein
Cantores, Orq. Sinfónica Portuguesa e Coro do T.N. São Carlos, dir. João Paulo Santos
(Largo S. Carlos, Lisboa)
A ópera saiu à rua. Foi numa noite quente, apresentando a Lisboa um dos mais brilhantes (e bem humorados) trabalhos de música dramática do século XX, na versão “definitiva” que o próprio Bernstein chegou a dirigir em finais dos anos 80. Largo cheio para um dos grandes momentos que a cidade viveu este ano.
Sinfonia Nº 7, de Sibelius
Mahler Jugendorchester, dir. Leo McFall
(Fund. Gulbenkian, Lisboa)
Já nos habituamos à visita anual da brilhante Mahler Jugendorchester ao Grande Auditório da Gulbenkian. Este ano, com o maestro LeoMcFall escutámos uma belíssima interpretação da Sinfonia Nº 7 de Sibelius (e com ela uma rara oportunidade para ouvir, ao vivo, a música deste grande sinfonista do séc. XX).
Diabelli Variations, de Beethoven
Uri Caine + Orq. Gulbenkian, dir. Joana Amaral
(Fund. Gulbenkian, Lisboa)
Depois de uma visita triunfal no ano passado, evocando Wagner e a sua relação com Veneza, Uri Caine regressou à Gulbenkian para nos propor uma abordagem livre e muito pessoal das Diabelli Variations, numa interpretação que contou com uma espantosa cumplicidade da Orquestra Gulbenkian.
Emilie, de Kaaija Saariaho
Barbara Hannigan + Orq. Gulbankian
(Fund. Gulbenkian, Lisboa)
Tal como ali vimos recentemente uma expressão de palco que transcende o modelo da versão de concerto, de um A Flowering Tree, de John Adams, este ano a finlandesa Saariaho levou à Gulbenkian Emilie, com uma pungente Barbara Hanningan e bela criação cénica de Vasco Araújo e André Teodósio.
sábado, dezembro 14, 2013
Visões para 2014 ao som de Panda Bear
Começou aparentemente desarrumado. Pensei mesmo se estaria convocando ecos de memórias remotas de uma relação com sons e ruídos que recordamos nos primórdios da obra dos Animal Collective, mas procurando um relacionamento com a arquitetura rítmica que suporta as composições como só hoje Panda Bear o podia fazer... Ele era o protagonista da noite de ontem no Lux, as demais atuações girando em volta de si, mas nele na verdade se congregando as atenções maiores do serão. Afinal havia promessa de revelações. Apenas novas canções. Assim foi. E foi inesquecível.
Ao cabo de duas canções (ainda trazendo talvez a carga de ideias em construção) ficava já clara a ideia de uma demanda distante da que o animara entre os dias de Person Pitch (de 2007, um dos melhores discos da primeira década do século) e Tomboy (de 2011, o seu magnífico sucessor). A nova música era mais intensa, ritmada, mantendo todavia a lógica de arrumação circular e a estruturação repetitiva que conhecemos de várias composições (suas e com a banda). Mas à terceira canção as linhas ganharam maior definição. As electrónicas soaram mais nítidas. As ideias encaixaram e arrumaram. Uma visão pessoal de uma música electrónica de dança servia de base a canções onde a personalidade frágil de Noah ganhava outra solidez sem contudo perder personalidade. Mais adiante um tema parecia nascer de memórias da pop electrónica do início dos oitentas. Como se uma canção dos Human League fosse encontrada no instante em que estava a nascer, o tempo cristalizando ali a essência da sua alma, transportando-a para uma realidade diferente, que emergia assim numa noite lisboeta em pleno século XXI. Mas o melhor chegou depois, com uma balada (mais próxima de ecos dos álbuns anteriores – afinal há uma continuação, há pontes, nem tudo se faz de ruturas). Onde até ali habitara uma música da noite agora brotava uma luz distinta. Suave e aconchegante. Terna e convidativa, capaz de projetar memórias com sabor a ecos dos sessentas. Pensei na maresia de algumas canções dos verões yé yé franceses dos sessentas... A música tem esse poder de despertar relações. Umas intencionais, outras pessoais. Cada qual descobrindo afinal o quando e onde de cada referência ou relacionamento.
No fim, um som contínuo, electrónico, e intenso. Como nos segundos finais do sublime Comfy in Nautica. Não quis perguntar o nome das canções. Nem sei se já têm mais que working titles. Mas a verdade é uma: o próximo disco de Panda Bear, a nascer destas ideias, é algo completamente diferente. E promete. Se promete!
terça-feira, dezembro 10, 2013
Um aperitivo, servido por Panda Bear
Panda Bear apresentou no SoudCloud um aperitivo para a noite Green Ray, que decorre esta sexta-feira no Lux, em Lisboa, e da qual é o curador. O “mix” junta momentos dos vários músicos que ali vão atuar. Em concreto escutam-se as presenças de nomes como Niagara (Kraftor), Eric Copeland (A Little Tit), Actress (The Lord's Graffiti), Ron Morelli (No Real Reason), Marcellus Pittman (A Mix), bEEdEEgEE (Bricks), Gala Drop (Drop) e, a fechar, o próprio Panda Bear, com Ponytail.
quarta-feira, janeiro 11, 2012
Ainda entre sons de 2011...
Do álbum Tomboy de Panda Bear eis que surge mais um teledisco, desta vez concedendo imagens à faixa que abre o disco. Aqui ficam as imagens que acompanham You Can Count on Me. A realização é de Danny Perez.
terça-feira, janeiro 03, 2012
As melhores canções de 2011
Ainda a fechar a época de balanços de 2011 (só começaremos a ouvir discos novos, ou alguns ainda “esquecidos” da recta final do ano passado na próxima semana), deixamos hoje uma lista de dez canções que marcaram o ano.
1 . Brian Eno – Pour It Out
2 . Panda Bear – Benfica
3 . James Blake – Lindisfarne
4 . Lana del Rey – Video Games
5 . Cat’s Eyes – I’m Not Stupid
6 . Bon Iver – Beth / Rest
7 . Jai Paul – BTSTU
8 . Jamie Woon – Street
9 . S.C.U.M. – Whitechapel
10 . MEN – Credit Card Babie$
sexta-feira, dezembro 23, 2011
Os concertos de 2011
Não vi tantos concertos quanto o que gostaria, e falhei mesmo alguns dos que moravam na minha carteira de imperdíveis (Murcof no Maria Matos ou novo encontro com James Blake no Tivoli). Mesmo assim o cartaz dos melhores momentos de palco vividos em 2011 soma dez instantes inesquecíveis (cinco na área da clássica mais cinco no pop/rock e periferias). A estes juntaria mais dois, todavia não exactamente “live” mas igualmente marcantes. Trata-se das transmissões, em HD, a partir do Met, das óperas Nixon In China de John Adams e Satyagraha, de Philip Glass, que nos deram dois dos episódios de excelência que escutámos em 2011.
Clássica
Michael Tilson Thomas / San Francisco Symphony
Mahler “Sinfonia Nº 2”
Coliseu dos Recreios (Lisboa)
Uma interpretação de excelência para uma das obras maiores de Mahler e da própria história da música sinfónica. Num tempo de sombras e dúvidas, o optimismo que brota desta obra de Mahler fechou em glória a temporada 2010/11 da Gulbenkian.
Peter Eötvös / Orq. + Coro Gulbenkian
Stockhausen “Momente”
Gr. Auditório Gulbenkian (Lisboa)
Foi a primeira vez que Momente se ouviu (em interpretação ao vivo) no século XXI. Contando com Eötvös e Pedro Amaral, dois antigos colaboradores de Stockhausen, a garantia de que a sua visão estaria em cena era certa. Inesquecível.
Paul Hillier / Remix Ensemble + Coro da Casa da Música
Arvo Pärt “Passio”
Gr. Auditório Gulbenkian (Lisboa)
Uma das obras maiores do chamado minimalismo sagrado, numa interpretação dirigida por um aclamado divulgador da música vocal contemporânea. Nas periferias do silêncio, uma interpretação notável para uma obra de profunda carga emocional. A noite ficou na história de 2011.
Simon Rattle / Berliner Philharmoniker
Mahler “Sinfonia nº 4”
Philharmionie (Berlim)
Um grande acontecimento. Contando com a voz de Christine Schaffer no quarto andamento, uma Sinfonia Nº 4 de Mahler com os jogos de contrastes tão bem demarcados, em companhia de uma obra de Stravinsky a completar um belo programa.
Gustavo Dudamel / Los Angeles Philharmonic
Mahler “Sinfonia Nº 9”
Adams “Slominsky’s Earbox” + Bernstein “Sinfonia Nº 1” + Beethoven “Sinfonia Nº 7”
Gr. Auditório Gulbenkian (Lisboa)
Um reencontro com Gustavo Dudamel, desta feita em duas noites consecutivas e com a orquestra norte-americana que agora o tem como director. Pose diferente da que conhecíamos do maestro de orquestras juvenis, mas a mesma versatilidade, tão profundo e intenso no Mahler quanto capaz de traduzir a inquietude da vida presente num Adams. Juntando um Bernstein digno de um herdeiro e um Beethoven que sublinha mais ainda essa rara capacidade de cruzar tempos e linguagens.
Pop/rock
Sufjan Stevens
Coliseu dos Recreios (Lisboa)
Todo um mundo de contrastes num momento apenas e num único palco. Com a música do seu mais recente (e superlativo) The Age of Adz como medula do concerto, Sufjan Stevens mostrou porque é um dos maiores visionários da música do nosso tempo.
James Blake
Optimus Alive (Algés)
Foi a “figura” do ano no plano da música. Restava a dúvida sobre se as composições, de carácter tão íntimo e feitas de acontecimentos discretos, suportariam o desafio do palco, mais ainda num ambiente de festival. A resposta foi um claríssimo: “sim”
Patrick Wolf
Optimus Alive (Algés)
É um dos grandes criadores de canções pop do nosso tempo. Quando, meses depois, nos visitou em concerto em nome próprio, o cansaço de uma longa digressão já se fazia notar (e o baterista que o acompanhava não ajudou muito). Mas em palco festivaleiro a noite saiu-lhe bem. Muito bem, mesmo.
The Gift
Bowery Ballroom (Nova Iorque)
A solidez de uma vivência de palco talhada após anos de intensa actividade fez dos Gift uma banda segura e firme em cena. Mostraram-no num concerto que se revelou decisivo num passo mais no aprofundar de uma relação com os EUA e Canadá onde tocaram várias datas este ano.
Panda Bear
Casa da Música (Porto)
Ao lado de Sonic Boom (o seu colaborador no mais recente álbum), correram Tomboy de fio a pavio, o amplo espaço da sala principal da Casa da Música servindo para conferir àquela música uma incrível sensação de corpo. Como que se o imaterial se materializasse por alguns instantes.
sexta-feira, novembro 25, 2011
Uma noite em Lisboa:
Sérgio no Coliseu, Panda no Lux
Não é fácil escolher... Se a Cinemateca propõe um encontro "kubrickiano", dois palcos de Lisboa fazem-nos hoje querer ser um pouco como o Santo António. Ou seja, estar em dois lugares ao mesmo tempo. E porquê?...
Ao Coliseu dos Recreios, pelas 21.30, Sérgio Godinho leva as canções de Mútuo Consentimento agora já nas suas formas finais (depois de há largos meses as termos escutado, como rascunhos, na Culturgest). A seu lado, além dos já habituais Assessores, estará ainda a Roda de Choro de Lisboa, que colabora num dos temas do novo álbum.
Por seu lado, Panda Bear, desta vez acompanhado por Sonic Boom (ex-Spacemen 3), apresenta-se no palco do Lux, a partir das 23.00. Ao concerto segue-se um DJ set de Ricardo Villalobos... Panda Bear e Sonic Boom levam, depois, a 4 de Dezembro, a sua actuação conjunta à Casa da Música, no Porto.
Imagens do teledisco que acompanha o tema Acesso Bloqueado, do alinhamento do álbum Mútuo Consentimento, de Sérgio Godinho
sexta-feira, julho 15, 2011
Um panda num estúdio (de televisão)
Imagens de uma recente visita de Panda Bear a um estúdio de televisão nos EUA. Em concreto ao programa de Jimmy Fallon, onde apresentou You Can Count On Me, o tema que abre o alinhamento do recentemente editado Tomboy. Aqui fica o registo:
quinta-feira, maio 26, 2011
Imagens (em movimento)
Imagens para música do álbum mais recente de Panda Bear. Desta vez na forma de um teledisco criado por Dave Fischer e Ara Peterson para o tema Alsatian Darn.
sexta-feira, abril 15, 2011
Em conversa: Panda Bear (4/4)
Continuamos a publicação da versão integral de uma entrevista com Panda Bear que serviu de base ao artigo ‘Canções que Moram em Lisboa’, publicada na edição de 9 de Abril do DN Gente.
Como é quando faz a sua música. Fecha-se?
O meu método de trabalho é um pouco como se fizesse testes tentando verificar se as canções me agradam e se resistem… 90 por cento do trabalho que faço numa canção acontece durante a sua mistura. É o tal teste. Se escuto uma canção de 300 a 500 vezes ainda funciona para mim? Se sim então passa o teste e é coisa que vale a pena. Se consegui estar focado nessa canção esse tempo todo e nela ainda encontro algo, então deve ter algum poder..
Este método de editar vários singles antes do álbum, como fez desde o Verão passado, é também uma forma de testar estas canções?
É um pouco… É para tentar que cada canção tenha a sua atenção. Não os faço como singles… Daquela forma… Dou a mesma atenção a cada canção. Tentando que não haja nenhuma que não seja captada. Isto especialmente num disco como este, feito de canções curtas. Queria sentir ondas emocionais cruzando-se por aqui. E a capa original do disco ia inclusivamente reflectir isso mesmo. Mas tudo isto implica um pouco que se escute a música do modo como o faço. Por a música a tocar e fazer outra coisa qualquer é abrasivo. Há algo rigoroso no som. Não é festivo. É algo rígido. É-me difícil de o justificar, porque talvez o criei naquele ambiente, mas sinto-o como algo mais solitário. Algo que, quando se está a ouvir, não se quer ter mais ninguém por perto. É um pouco mais privado que o anterior.
Foi menos lenta a criação de Tomboy (face ao anterior Person Pitch)…
Sim, se bem que haja pessoas que digam que levo eternidades para fazer um disco.
Mas viveram uma digressão extensa com os Animal Collective por alturas do vosso último álbum...
Estivemos na estrada perto de três anos… Durante esse tempo, se bem que em termos muito vagos, já ia pensando em algumas destas canções. O motor emocional das canções, os seus pontos de partida… Pensava muito sobre os instrumentos e sobre a sua estrutura sónica. As partes de guitarra entraram mais no fim. Mas desde o início sabia que não ia usar os samples… Não queria fazer outra vez o mesmo disco. Não queria fazer novas canções que estivessem muito ligadas às velhas canções. Penso que há ligações particulares entre ambos os discos. Mas tenho ouvido as pessoas a dizer coisas completamente díspares. Há quem diga que este soa a algo completamente e quem ache que não…
Tem rotinas de trabalho?
Tenho sim. Com dois filhos, não posso trabalhar à noite. Quando a minha filha chega da escola o trabalho fica parado até à manhã seguinte. Por isso trabalho, naqueles períodos mais sérios, de umas dez às cinco… Muitas vezes nem como nesses período.
Como é que reage, criando canções tão pessoais, quando estas saem finalmente do estúdio? É como um nascimento?
É diferente de um filho. Os filhos estão à minha responsabilidade, ao passo que as canções, assim que passou para o CD e está numa loja e as pessoas as podem comprar sinto que deixaram de ser minhas. A experiência de as fazer e sobretudo aquela sensação de as ouvir duas ou três vezes depois de as ter terminado, isso sinto que é meu e que ninguém tem direito de as levar de mim… Mas depois há a produção em massa, a sua transformação em produto. E isso faz com que me seja mais fácil depois deixá-las ir…
Tocar ao vivo pode prolongar esse estado inicial de relacionamento mais próximo com as canções?
O interessante na performance tem a ver com o momento, que depois se dissipa. Há quem grave os concertos. Há algo incrível nisso. Mas há também algo que não gosto. Porque o que têm de especial desaparece logo que a actuação acaba. Sinto-me sempre estranho ao ouvir gravações de concertos. Com os discos e a partilha de coisas com outras pessoas sinto que as coisas lhes pertencem já mais a elas que a mim. E isso acontece sobretudo com aqueles discos nos quais cada pessoa acrescenta letras suas à canção. Personalizam a canção para ela se encaixar nas suas experiências pessoais. Essas coisas fazem com que me seja fácil libertar-me depois da canções. E também o facto de a minha mente depois se desviar para uma nova ideia. Estive a trabalhar em canções dos Animal Collective nos últimos três meses, embora agora esteja a falar destas canções que estão já fora da minha mente.
quinta-feira, abril 14, 2011
Em conversa: Panda Bear (3/4)
Continuamos a publicação da versão integral de uma entrevista com Panda Bear que serviu de base ao artigo ‘Canções que Moram em Lisboa’, publicada na edição de 9 de Abril do DN Gente.
Havia muita luz em Person Pitch. Sente outra luz nas canções de Tomboy?
A luz estava bem presente e com protagonismo nas canções de Person Pitch. Neste novo disco a luz está mais fora de alcance, embora esteja lá. Como um luar… O estranho é que estava a gravar numa cave bem escura, mas sempre durante o dia. Ou seja estava num lugar escuro, mas consciente de que havia luza lá fora… E não consigo deixar de associar as canções a essa atmosfera escura. A ideia de que há uma luz, mas ali não a podemos ver…
Como reagem os não portugueses a uma canção como Benfica?
Creio que para um americano o título não vá significar nada… Mas a canção não é sobre o Benfica. O Benfica é antes o símbolo da canção. A canção fala sobre competição. Tive uma grande discussão com a minha mãe sobre competição. A vida é uma competição. Existir é uma competição. E não vejo isso como uma coisa negativa. Mas para ela a competição é uma coisa feia… Ela não gosta de desportos e daquela mentalidade de alguém vencer sobre outros. Entendo-a. A obsessão do mundo pela glorificação dos vencedores e a vilificação dos perdedores é, sim, uma coisa feia. Mas nem toda a competição é assim, felizmente. A canção tenta então reflectir sobre o meu lado nessa discussão. No ano passado, com o Benfica a ganhar, e com a onda que então se gerou, era como um símbolo dessa experiência. Mas foi difícil ser um adapto do Benfica este ano.
Viu o jogo recente com o Porto (e o que se seguiu)?
Sim, vi. Vi na televisão. Na verdade ainda o campeonato ia nas primeiras jornadas e já tinha sentido que para nós este ano estava acabado. Mesmo que a coisa tenha terminado da pior maneira, com o Porto a ganhar no nosso estádio (e era algo que eu já esperava) era mais juntar um caso de [como se diz em inglês] add insult to injury… Estava tão preparado que nem me incomodou. Se fosse no ano passado, quando as coisas estavam mais equilibradas, perder teria sido mais difícil.
Festejou no ano passado?
Estava a regressar nesse dia. O jogo tinha acabado de começar quando estava no aeroporto, ouvi ainda o relato no táxi e o primeiro golo aconteceu quando cheguei a casa. Moro ao lado da Avenida da Liberdade e ouvi a festa.
Costuma ir ver os jogos?
Um amigo meu arranja bilhetes e vou umas duas a três vezes… Este ano não fui…
É superticioso com o desporto?
Sou muito supersticioso com o desporto. A performance ao mais alto nível (e no desporto é como na música) torna-se uma coisa mais mental que física. É sobre como se controla a mente. E para muitas pessoas, se se tem uma superstição e algo se quebra, isso afecta aquele equilíbrio tão delicado… Tenho superstições, aquelas coisas meio compulsivo-obsessivo. Por exemplo, tenho de ter uma cerveja durante um jogo, porque a tinha numa última vitória.
(continua)
quarta-feira, abril 13, 2011
Em conversa: Panda Bear (2/4)
Continuamods a publicação da versão integral de uma entrevista com Panda Bear que serviu de base ao artigo ‘Canções que Moram em Lisboa’, publicada na edição de 9 de Abril do DN Gente.
Como foca a sua mente para trabalhar em canções que são para os Animal Collective ou para si?
Costumo saber para onde vai uma canção antes mesmo de começar a trabalhar nela. E tenho de o saber fazer! Se escrevo para mim há questões que têm a ver com a personalidade do som, a noção de espaço, onde não há limites. Mas se estou a fazer uma canção para a banda a minha contribuição tem de ser um quarto ou um terço da canção. O que quer que faça na canção tem de soar a apenas um quarto ou um terço da sua forma final.
É assim tão democrático?
Não é para tentar agradar a todos na banda. É mais para agradar à canção. Para a fazer tão boa quanto o possa ser. Se nem todos estiverem a contribuir em pleno para a canção, se alguém não estiver a investir na canção ela acabará menos forte por causa disso mesmo.
O vosso último álbum, Meriweather Post Pavillion obteve um grau de aclamação global e quase unânime. Como se avança para um outro disco depois de conseguir este tipo de resultados?
Assumi, desde o início, que este próximo seria o disco para ser sovado… Não se pode ter os foguetes e a festa duas vezes de seguida… Não se pode ter tanta sorte muitas vezes.
A dimensão atingida pela banda com os elogios e adesão a esse disco afectou-vos? Como reagiram?
Com uma banda é mais fácil. Há outras pessoas com quem podemos discutir opiniões. E se ficamos numa posição em que nos tornamos muito críticos sobre qualquer coisa ou sentimos alguma estranheza sobre algo, há com quem discutir. Podemos debater. Essa mentalidade de grupo afasta a pressão… Especialmente pelo facto de nos conhecermos há tanto tempo é-nos fácil até brincar com as coisas. Quebra-se o gelo… A solo não há essa zona de segurança, essa folga... Está tudo ali.
Sente-se mais vulnerável?
Completamente. Tudo ecoa na mente. O truque é deixar tudo vir para fora quando se está a trabalhar. Não faz mal estar a pensar nas coisas que quero fazer quando estou a cozinhar o jantar… Se num dia de trabalho encaro algo com um sentido demasiado crítico então tento deixar de pensar dessa forma. O tento fazer algo diferente até que não esteja mais a pensar dessa forma.
Os Animal Collective viraram banda de referência. Como se lida com esse estatuto?
Tento não pensar muito nisso. É um pouco como o que certo tipo de pressão nos pode fazer. Um comentário muito negativo ou um outro, muito favorável, podem amplificar o modo como vemos as coisas e as trabalhamos. Tento manter as distâncias portanto. É uma coisa boa de ouvir, mas não quero sentir que estou a levar essas coisas demasiado a peito. Isso até poderia estar terminado. Todo o tipo de comentários extremados, seja em que sentido forem, tento não lhes dar demasiada atenção.
Pensam no que possa ser a longevidade de uma banda?
Na verdade tenho pensado muito nisso, nos últimos tempos.
Teria sido fácil acabar depois de Meriweather Post Pavillion...
Se tiver de pensar em dez bandas de que goste, em quantas é que eu vejo que foram capazes de manter essa alma bem activa até serem veteranas. Para cada Robert Wyatt há uns 20 mil outros… Tenho pensado muito nisso, sim.
E resolveu então editar mais um disco a solo…
Essa era um pouco a saída mais fácil… Os quatro precisávamos de ter umas conversas bem sérias antes de tomar decisões. Vamos ver… Espero que saibamos reconhecer quando chegar o momento de acabar, se esse momento chegar, pois…
(continua)
terça-feira, abril 12, 2011
Em conversa: Panda Bear (1/4)
Iniciamos hoje a publicação da versão integral de uma entrevista com Panda Bear que serviu de base ao artigo ‘Canções que Moram em Lisboa’, publicada na edição de 9 de Abril do DN Gente.
Como se ajustou à vida em Lisboa?
Muito bem, mesmo. Estivemos nos Estados Unidos nos últimos três meses e foi a primeira vez que levei toda a minha família comigo para fora de Portugal. Fomos para Baltimore e Nova Iorque de vez em quando. Era Inverno e nas primeiras semanas até apanhámos grandes tempestades de neve. O que foi até engraçado para a minha filha, que adorou. Mas eu já não vivia um Inverno tão frio desde que me tinha mudado para Lisboa. Foi por isso um choque. E ao fim de uma semana estava a contar os dias para regressar. Por isso sei assim que não me quero mudar daqui para fora. A minha mulher gosta de Nova Iorque, até falámos de lá podermos viver... Mas tenho a certeza que não me mudo. Sinto-me bem em Lisboa.
O que tem a cidade que o faz querer ficar?
É difícil explicar. Vai para lá da razão. Muitas vezes falo da primeira vez que cheguei. Quando saí do avião senti algo pacífico. A minha mulher gosta de dizer que fui português numa vida anterior porque gosto tanto de Portugal. E como sou adepto do Benfica ela diz que tinha mesmo de ser português nessa outra vida!
Mesmo sendo este um país vivendo uma profunda crise económica e política?
Mesmo que o país viva uma instabilidade económica sinto-o um país mais tranquilo, mais pacífico, mais confortável que o lugar onde estava na América durante anos.
É um lugar que estimule a sua criatividade? É bom para trabalhar?
Muito. E isso deve muito à logística do meu estilo de vida por cá, ao facto de quase não conhecer ninguém. Não ter muitas responsabilidades do ponto de vista social. De certa maneira sou como um alienígena. Se fosse uma pessoa mais social talvez fosse um sitio menos bom para estar. Mas sempre me senti bem comigo mesmo, sozinho. Por isso é o lugar ideal para trabalhar.
Mudou hábitos de idas a concertos ou de visitas a lojas de discos desde que se mudou dos EUA para Portugal?
Desde que comecei a fazer digressões e a tocar ao vivo, os clubes são o último lugar onde me apetece ir, Se um amigo meu vem a Lisboa ou se um amigo de uma banda local toca, esses são motivos para eu sair. Além disso quase não saio... Forço-me por vezes a sair porque sei que me faz bem. Por vezes fecho-me demasiado e perco-me no meu mundo. Por isso acho que é importante para mim viver numa cidade onde tenha de interagir com outras pessoas. Se vivesse no campo não falaria com ninguém. Por isso gosto de estar perto de uma grande cidade.
Trouxe discos e livros dos EUA?
Quando vim trouxe uma mochila e uma pequena mala. Acho que não trouxe nada de especial. Nunca fui daquelas pessoas que têm muitos discos. Nem tenho uma aparelhagem em casa... Quando escuto música faço-o no meu estúdio, onde tenho boas colunas. E sinto que quando estou a ouvir música concentro-me mesmo. É uma aventura mais especial. Vou a casa de amigos e eles estão constantemente a mudar o disco no gira-discos. Gosto disso. Mas quando estou comigo mesmo não é coisa que faça.
Não vivemos muitas vezes afogados em música em excesso?
A música pode dar cor a um lugar de uma forma bem agradável. Mas acho que cria dois tipos de experiência auditiva. Um em que não estamos a prestar atenção. E há música que serve para nem se ouvir com essa atenção. Mas com a música de que gosto mais sinto que preciso de escutar e sentir o seu poder.
(continua)
Subscrever:
Comentários (Atom)