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sábado, abril 25, 2020

Liberdade relativa


Voltei ao caderno da mana.

Abril de Abril



Este ano, a Liberdade tem um novo inimigo. Um desenho recente da mana.

Era um Abril de amigo Abril de trigo
Abril de trevo e trégua e vinho e húmus
Abril de novos ritmos novos rumos.
Era um Abril comigo Abril contigo
ainda só ardor e sem ardil
Abril sem adjectivo Abril de Abril.
Era um Abril na praça Abril de massas
era um Abril na rua Abril a rodos
Abril de sol que nasce para todos.
Abril de vinho e sonho em nossas taças
era um Abril de clava Abril em acto
em mil novecentos e setenta e quatro.
Era um Abril viril Abril tão bravo
Abril de boca a abrir-se Abril palavra
esse Abril em que Abril se libertava.
Era um Abril de clava Abril de cravo
Abril de mão na mão e sem fantasmas
esse Abril em que Abril floriu nas armas.
Manuel Alegre

terça-feira, abril 25, 2017

Liberdade ilustrada



Os desenhos da mana.

Abril de Abril

Era um Abril de amigo Abril de trigo
Abril de trevo e trégua e vinho e húmus
Abril de novos ritmos novos rumos.
Era um Abril comigo Abril contigo
ainda só ardor e sem ardil
Abril sem adjectivo Abril de Abril.
Era um Abril na praça Abril de massas
era um Abril na rua Abril a rodos
Abril de sol que nasce para todos.
Abril de vinho e sonho em nossas taças
era um Abril de clava Abril em acto
em mil novecentos e setenta e quatro.
Era um Abril viril Abril tão bravo
Abril de boca a abrir-se Abril palavra
esse Abril em que Abril se libertava.
Era um Abril de clava Abril de cravo
Abril de mão na mão e sem fantasmas
esse Abril em que Abril floriu nas armas.
Manuel Alegre

segunda-feira, abril 25, 2016

Revolução

Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta
Como puro início
Como tempo novo
Sem mancha nem vício
Como a voz do mar
Interior de um povo
Como página em branco
Onde o poema emerge
Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação

Sophia de Mello Breyner Andresen, O Nome das Coisas
Poema escrito no dia 27 de Abril de 1974

Tinha acabado de completar cinco anos quando aconteceu a Revolução. Não tenho qualquer memória desse dia, não só por ser muito jovem e as minhas preocupações serem, nessa altura, poucas ou nenhumas, mas talvez também por viver longe dos palcos em que tudo teve lugar.
Desse tempo, guardo a lembrança da música "Tourada", que ouvia cantar aos meus primos mais velhos e de outras músicas, hoje indissociáveis da Revolução. Na minha memória moram igualmente os cravos que, em Abril, as professoras nos pediam para desenhar, como as imagens de alguns cartazes ou de murais associados ao antes e ao depois, e palavras como "comício" e "fascista". 
Naquela época, não tínhamos, como a maior parte das famílias, televisão. Dispúnhamos apenas de um pequeno rádio, que, segundo me disse a minha mãe hoje à tarde, enquanto víamos "Capitães de Abril", permitiu aos da casa e a alguns vizinhos, ir acompanhando os acontecimentos desse dia de Abril de há 40 anos.
Lembro-me que, pouco depois, apareceram na vila militares. Tenho uma vaga ideia deles no interior e na entrada do café Primavera.

Texto "resgatado" do baú


sexta-feira, abril 25, 2014

Memórias (poucas) da Revolução

Tinha acabado de completar cinco anos quando aconteceu a Revolução. Não tenho qualquer memória desse dia, não só por ser muito jovem e as minhas preocupações serem, nessa altura, poucas ou nenhumas, mas talvez também por viver longe dos palcos em que tudo teve lugar.
Desse tempo, guardo a lembrança da música "Tourada", que ouvia cantar aos meus primos mais velhos e de outras músicas, hoje indissociáveis da Revolução. Na minha memória moram igualmente os cravos que, em Abril, as professoras nos pediam para desenhar, como as imagens de alguns cartazes ou de murais associados ao antes e ao depois, e palavras como "comício" e "fascista". 
Naquela época, não tínhamos, como a maior parte das famílias, televisão. Dispúnhamos apenas de um pequeno rádio, que, segundo me disse a minha mãe hoje à tarde, enquanto víamos "Capitães de Abril", permitiu aos da casa e a alguns vizinhos, ir acompanhando os acontecimentos desse dia de Abril de há 40 anos.
Lembro-me que, pouco depois, apareceram na vila militares. Tenho uma vaga ideia deles no interior e na entrada do café Primavera.

terça-feira, abril 28, 2009

o "meu" Abril

Em resposta à Hipatia: Não me lembro com que idade Abril deixou de ser apenas o mês dos aniversários, primeiro o do meu irmão, depois o meu, para passar também a ser o mês da Revolução. Quando esta ocorreu, eu vivia a muitos quilómetros da capital e era demasiado nova (fizera cinco anos uma semana antes) para ter noção do que se estava a passar. Mesmo que os adultos se tenham manifestado à minha volta não me recordo de tal. Imagino que o quotidiano das pessoas não tenha sofrido alterações significativas - pelo menos a curto prazo.
Lembro-me dos militares que apareceram na vila algum tempo depois. Costumavam parar pelo café Primavera, que pertencia aos pais de uma amiga minha, e que nos davam uns pacotinhos compridos que tinham dentro um líquido doce. Quando, um ano e meio depois, entrei na escola primária, já não havia retratos na parede. Apenas um crucifixo.
Suponho que o dia 24 de Abril de 1974 tenha sido um dia igual a muitos outros. Se estava bom tempo, é provável que tenha passado parte dele na rua a brincar com outros miúdos da minha idade. Talvez tenha visto algum programa na televisão do tal café Primavera, que ficava a escassos metros da minha casa, ou na casa de uma amiga - a nossa primeira televisão só foi comprada no dia 5 de Abril de 1975, nos cinco anos do meu irmão (era uma Grundig com a caixa vermelha!).

sábado, abril 25, 2009

o sabor da liberdade

Contou-me ontem um colega de trabalho que foi, em dois momentos diferentes, interrogado pela PIDE. A primeira vez na sequência de uma rusga num concerto de Zeca Afonso, em Coimbra; outra, dois meses depois, para responder a algumas perguntas do mesmo questionário que teriam ficado sem resposta na primeira vez. Na segunda vez, fizeram-no esperar aproximadamente duas horas e meia numa pequena sala, onde não havia nada, nem mesmo uma cadeira. Contou ainda que, em 72, conseguiu, com muita dificuldade, arranjar um passaporte que acabou por lhe ser confiscado pela PIDE quando ele se encontrava no comboio, a escassos quilómetros da fronteira. Deu por feliz o incidente, uma vez que não foi de novo levado para interrogatório. Ouvi-o e pensei como, mesmo tendo nascido antes da Revolução, tenho sido uma afortunada por nunca ter sentido medo, por poder sair livremente do país, por não sentir desconfiança em relação ao vizinho, por poder ouvir Zeca Afonso sem que me apreendam os Cds (a não ser que sejam pirateados), por ter podido participar em RGAs e manifestações de rua, de forma menos apaixonada, é certo, mas com liberdade, por ter a possibilidade de escolher o partido em que quero votar e por poder votar, também por não ter sobre mim a censura de um lápis azul que, noutros tempos, me impediria de publicar estas breves linhas neste espaço. Que o vosso dia saiba a Liberdade!

" (...) a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado!"