Poucas vezes nos ocorre que um amigo possa ficar doente. Quando pensamos num amigo, associamo-lo, por norma, a lugares de convívio, a espaços íntimos de partilha, a tardes lentas numa esplanada, num café, na nossa sala, ainda que as conversas nem sempre sejam sobre temas agradáveis e que nem sempre estejamos felizes.
Não é suposto imaginá-lo numa enfermaria, numa cama de hospital, ligado a uma máquina. Sobretudo se, ao longo da nossa vida, vivenciámos poucas situações de doença em pessoas jovens ou se as pessoas que nos surgem subitamente frágeis, indefesas, se revelaram saudáveis no decurso de muitos anos de convívio.
É certo que este amigo sobre quem escrevo já passou a barreira dos 50, mas eu esqueço-me que algumas pessoas envelhecem. Aliás, esqueço-me frequentemente que eu própria envelheço e que, daqui a poucos anos, também terei atingido a barreira dos 50. Será que algum dia conseguiremos ver-nos com a idade que realmente temos?
Ocorre-me que, não raras vezes, o meu pai, quando se refere a um colega de escola ou de trabalho dos seus tempos de juventude, costuma usar a expressão «um rapaz do meu tempo».