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segunda-feira, setembro 10, 2018

Ler

Leituras deste Verão 

Desde Junho até ao presente:







Em processo de leitura (tenho este hábito "promíscuo" de ler vários livros ao mesmo tempo):



terça-feira, junho 26, 2018

Afirma Pereira


«Afirma Pereira tê-lo conhecido num dia de Verão. Um magnífico dia de Verão, cheio de sol e de vento, e Lisboa resplandecia. Ao que parece, Pereira estava na redacção, não sabia que fazer, o director estava de férias, e ele via-se com o problema de preparar a página cultural, pois o «Lisboa» passara a ter uma página cultural, e tinham-lha confiado. E ele, Pereira, reflectia sobre a morte. Naquele belo dia de Verão, com a brisa atlântica acariciando as copas das árvores e o Sol a brilhar, com uma cidade que cintilava sob a sua janela, e um azul, um azul incrível, afirma Pereira, de uma limpidez que quase feria os olhos, ele pôs-se a pensar na morte. Porquê? Isso, Pereira não sabe dizer. Fosse porque o pai, quando ele era miúdo, tinha uma agência funerária que se chamava Pereira A Dolorosa; fosse porque a sua mulher morrera tísica uns anos antes; fosse porque era gordo, sofria do coração, tinha a tensão alta e o médico lhe dissera que se continuasse assim não durava muito, o facto é que Pereira se pôs a pensar na morte, afirma.»

«O padre António estava abatido, afirma Pereira. Tinha umas olheiras enormes e um ar extenuado, como de quem não dormiu. Pereira perguntou-lhe o que se passava e o padre António disse-lhe: Mas então não sabes?, mataram um alentejano que ia na sua carroça, há greves, aqui na cidade e noutros lados, mas em que mundo vives, tu que trabalhas num jornal?, olha, Pereira, vê se te informas melhor. 
Pereira afirma que saiu inquieto com esta breve conversa e com a maneira como fora despachado. Perguntou a si mesmo: em que mundo vivo? E veio-lhe à mente a ideia bizarra de que talvez não vivesse, e era como se já tivesse morrido. Desde a morte da mulher que vivia como se estivesse morto. Ou antes: não fazia mais nada senão pensar na morte, na ressurreição da carne em que não acreditava e em tolices do género, limitava-se a sobreviver, limitava-se a uma ficção de vida. E sentiu-se exausto, afirma Pereira. Conseguiu arrastar-se até à paragem de eléctrico mais próxima e apanhou um eléctrico que ia até ao Terreiro do Paço. E entretanto, da janela, via desfilar lentamente a sua Lisboa, olhava a Avenida da Liberdade com os seus belos edifícios, e depois o Rossio, de estilo inglês; e no Terreiro do Paço desceu e apanhou o eléctrico que subia para o Castelo. Desceu junto da Sé, pois morava ali perto, na Rua da Saudade. (...) À entrada deteve-se diante da estante, onde estava o retrato da mulher. Aquela fotografia fora tirada por ele, em mil novecentos e vinte e sete, tinha sido durante um passeio a Madrid, e em fundo via-se a silhueta maciça do Escorial. Desculpa ter chegado um bocado atrasado, disse Pereira.
Afirma Pereira que de há uns tempos a essa parte adquirira o hábito de falar com o retrato da mulher. Contava-lhe o que tinha feito durante o dia, confiava-lhe os seus pensamentos, pedia-lhe conselhos.»

Antonio Tabucchi, Afirma Pereira


Uma obra pequena em tamanho, mas grande em génio, cuja acção decorre quando começavam a ganhar força as ditaduras europeias e em Espanha se vivia a guerra civil.
A minha última leitura, que devorei entre a noite de domingo e a noite de segunda-feira.

domingo, março 25, 2012

Poesia in linea retta

Non ho conosciuto nessuno che le abbia buscate.
Tutti i miei conoscenti sono stati campioni in tutto.

E io, tante volte spregevole, tante volte porco, tante volte vile.
Io, tante volte indiscutibilmente parassita,
imperdonabilmente sudicio.
Io, che tante volte non ho avuto pazienza di fare il bagno.
Io, che tante volte sono stato ridicolo, assurdo,
che ho inciampato pubblicamente nei tappeti dell’etichetta,
Che sono stato grottesco, meschino, sottomesso e arrogante,
che ho subìto umiliazioni e ho taciuto,
che quando non ho taciuto, sono stato ancora più ridicolo;
Io, che sono risultato comico alle camariere di albergo;
Io, che ho percepito la strizzata d’occhio dei cacchini;
Io, che ho combinato pasticci finanziari,
che ho chiesto prestiti senza restituirli;
Io, che quando l’ora del pugno è venuta
mi sono abbassato fuori della sua portata;
Io, che ho sofferto il malessere delle piccole cose ridicole.
io verifico che non ho um mio simile in tutto questo mondo.

Tutti quelli che conosco e che parlano con me
non hanno mai arreto un auto ridicolo, non sono mai stati umiliati,
non sono stati altro che principi – principi tutti loro – nella vita...

Come vorrei sentire da qualcuno la voce umana,
che confessasse non un peccato, ma un’infamia !
che raccontasse non una violenza, ma una vigliaccheria !
No, sono tutti l’Ideale, se li sento e mi parlano.

Chi c’è in questo vasto mondo che mi confessi

che una volta è stato vile?
Oh! principi, fratelli miei! Cazzo!! sono stufo di semidei!

Dov’è che c’è gente al mondo?

Possibile che sia soltanto io vile ed erroneo a questo mondo?

Possono le donne non averli amati
possono essere stati traditi – ma ridicoli mai!!
E io, che sono stato ridicolo, senza essere stato tradito
Come posso parlare con i miei superiori senza titubare?

Io, che sono stato vile, letteralmente vile,
vile, nel senso meschino e infame della viltà.

F. Pessoa - Álvaro de Campos, traduzido por Antonio Tabucchi, que morreu hoje, aos 68 anos