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quinta-feira, abril 23, 2020

Dia Mundial do Livro


Quando era adolescente e vivia numa pequena vila de província que não oferecia aos mais novos alternativas de diversão, o refúgio era, para alguns de nós, a leitura. Felizmente, havia, mesmo no centro da localidade, num dos edifícios mais bonitos, uma biblioteca de que me fiz amiga pelos oito anos. Entrar nela era como entrar num santuário, pois naquele espaço tudo era austeridade e fascínio - os livros metodicamente arrumados, as janelas altíssimas com pesadas portadas de madeira, o chão, também de madeira, de onde se desprendia sempre um forte cheiro a cera e o rosto sisudo do responsável que garantia o silêncio e a ordem. Veio-me provavelmente daí e do contacto com alguns professores que, felizmente, se cruzaram no meu caminho o gosto que continuo a alimentar pelos livros e pelas histórias. Acrescentaram-no, ainda na infância, a leitura do Girassol, uma publicação juvenil, que incluía passatempos, biografias em banda desenhada, receitas de culinária simples e excertos de livros - um excerto de O Cavaleiro da Dinamarca, da Sophia de Mello Breyner, abriu-me o apetite para a leitura integral da obra. Lembro-me que, nos tempos de faculdade, uma parte da magra bolsa de estudo ficava implicitamente destinado à compra de um livro. Nesse tempo, a leitura era tema de conversa habitual, como a troca e a oferta de livros. Durante o período em que decorria a Feira do Livro, primeiro na Rotunda da Boavista, depois no Pavilhão Rosa Mota, perdia a conta às horas que passava à procura de títulos interessantes, preferencialmente baratos. Vem desse tempo a leitura de Herman Hesse, de Gorki, de Kafka e de Yourcenar. Foi numa feira de 1991 que adquiri uma das obras que mais me custou perder e que não voltei a encontrar - Antologia Breve do Eugénio de Andrade. Hoje, cada vez que entro numa livraria, fico sobejamente desiludida. Já não se encontram livros que valha a pena oferecer. Nos escaparates e nas prateleiras, abunda a literatura que eu apelido de "fast-food" - rápida de confeccionar, de mastigar e digerir, que engorda, mas não alimenta. As pessoas fazem gala de dizer que leram este ou aquele título, que lêem cada vez mais... Falta critério, parece-me...

Texto resgatado do baú.

sexta-feira, fevereiro 07, 2020

Promiscuidade

Conversava, ontem à noite, com uma amiga que, não morando muito longe, vejo menos vezes do que gostaria. Dizia-me que tem, como eu, o hábito de ler vários livros ao mesmo tempo, «para os diferentes estados de alma».
Há uma outra amiga que me acusa, a brincar, de ser promiscua nesse meu hábito.
E, não tendo hoje nem tempo nem assunto, deixo-vos com alguns dos livros que actualmente me fazem companhia à cabeceira. Parte deles foram ofertas do último Natal.





quinta-feira, dezembro 13, 2018

Livrar, livro, livre

Confesso que não tenho esse desprendimento.

domingo, julho 01, 2018

domingo, junho 10, 2018

Richard Zimler e Somos Douro


Imagem surripiada da página da Anabela Mota Ribeiro do Facebook
(Eu apareço, fragmentada, no lado esquerdo.)

Fui, ontem, quase de improviso, ouvir Richard Zimler falar sobre o judaísmo em Portugal, na igreja da Misericórdia, em Torre de Moncorvo. A participação do escritor insere-se no festival Somos Douro, comissariado por Anabela Mota Ribeiro, uma duriense, e envolve dezanove municípios.
Chegámos a Torre de Moncorvo com chuva e frio e saímos de lá com mais chuva e o mesmo frio. Como nos atrasámos um pouco, tivemos de ficar de pé os mais de sessenta minutos que durou a intervenção de Richard Zimler. Apesar dos constrangimentos, foi agradável ouvi-lo, ainda que tivesse preferido que ele tivesse evitado o papel e que tivesse falado e não lido. No final, o público pôde interagir com o escritor, colocando-lhe perguntas. O munícipio teve a gentileza de oferecer aos participantes um porto de honra e um exemplar, que o autor autografou, de O Último Cabalista de Lisboa
Durante a palestra e depois na sessão de autógrafos pude confirmar a afabilidade e o sentido de humor do escritor.
Antes de regressarmos, procurámos uma loja de produtos regionais, onde comprámos as famosas amêndoas cobertas da terra. 

segunda-feira, abril 23, 2018

Celebrar o livro

«Os livros, esses animais opacos por fora, essas donzelas. Os livros caem do céu, fazem grandes linhas rectas e, ao atingir o chão, explodem em silêncio. Tudo neles é absoluto, até as contradições em que tropeçam. E estão lá, aqui, a olhar-nos de todos os lados, a hipnotizar-nos por telepatia. Devemos-lhes tanto, até a loucura, até os pesadelos, até a esperança em todas as suas formas.»
José Luís Peixoto, Abraço


Maria Helena Vieira da Silva, "A Biblioteca", 1949



domingo, abril 08, 2018

sexta-feira, março 02, 2018

Alfarrábio

Para os curiosos, deixo a ligação para um artigo que acabei de ler no Público.

domingo, abril 23, 2017

Dia Mundial do Livro


(Imagem da net)

O Dia Mundial do Livro foi instituído pela UNESCO em 1996 para incentivar a leitura e o prazer de ler.
São muitos os livros que integram a lista de favoritos e que me marcaram. Destes, destaco, aleatoriamente:
The Catcher in the Rye, de J. D. Salinger, talvez por tê-lo lido na transição dos 17 para os 18 anos e por me ter identificado com Holden, o protagonista; 
- A Sibila da Agustina, que li na mesma altura; 
- Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde, do Mário de Carvalho; 
- Aparição, de Vergílio Ferreira; 
- Memorial do Convento, do Saramago; 
- O Fio da Navalha, de Somerset Maugham; 
- Teoria Geral do Esquecimento, de José Eduardo Agualusa;
- A Porta, de Magda Szábo;
- La Familia de Pascual Duarte, de Camilo Jose Cela;
- Loucura, de Mário de Sá-Carneiro;
- Baudolino, de Umberto Eco;
- Relato de um Náufrago, de Gabriel Garcia Marquez.

Ficam tantos, tantos por nomear...

A propósito, que livros vos marcaram?

domingo, março 26, 2017

Dia do Livro Português


O Dia do Livro Português celebra-se, por sugestão da Sociedade Portuguesa de Autores, a 26 de Março, por ter sido num dia 26 de Março (de 1487) que se imprimiu o primeiro livro em Portugal, o ‘Pentateuco’ em hebraico. Este saiu da oficina do judeu Samuel Gacon, em Faro.

«Os livros, esses animais opacos por fora, essas donzelas. Os livros caem do céu, fazem grandes linhas rectas e, ao atingir o chão, explodem em silêncio. Tudo neles é absoluto, até as contradições em que tropeçam. E estão lá, aqui, a olhar-nos de todos os lados, a hipnotizar-nos por telepatia. Devemos-lhes tanto, até a loucura, até os pesadelos, até a esperança em todas as suas formas.»

José Luís Peixoto, Abraço
Imagem de Rebecca Cobb

Procrastinação

Quando o trabalho se torna mais intenso, comete, invariavelmente, o "pecado" de se dedicar a devorar livros.

Imagem da net

domingo, setembro 04, 2016

Acerca de aves que (se) incendeiam

Eunice de Souza, uma poetisa goesa, refere, no título de um dos seus poemas, “Don´t look for my life in these poems”, ou seja, “Não procures a minha vida nestes poemas”, na tentativa, talvez, de manter longe dos olhares alheios a sua intimidade ou para que o leitor se distancie da mulher, do ser humano, e possa ver apenas o poeta-ficcionista, aquele que, como um romancista, fabrica personagens, intrigas e emoções.

Na verdade, ainda que o poeta procure, como escreveu Pessoa, ser um “fingidor”, isto é, aquele que dá forma às palavras, como o oleiro dá forma ao barro, assumindo-se, como o romancista, um construtor de ficções, não lhe é de todo possível higienizar o poema, libertando-o das suas vivências ou crenças.

A poesia da Raquel não é excepção. Porque recupera memórias, em particular da infância - de um tempo anterior à descoberta do amor e da saudade - e da juventude, bem como referências musicais, literárias, bíblicas, mitológicas, etc., torna-se imensamente rica, enriquecendo quem dela usufrui, como neste "Trabalhos de ourives":

O amor era o avô
a descascar uma romã
para a avó.
As mãos trémulas,
inexactas,
o vagar do mundo
ou mundo devagar.
A tarde inteira uma romã
ou uma romã inteira.
Enquanto a avó na mesma sombra ao seu lado,
gato no regaço, dormia a sesta.

ou em "Aves de incêndio":

E a dançar
chegou a tarde do nosso adeus,
uma tarde igual a todas as tardes
sem nuvens no céu ou ameaças de chuva,
apenas levemente mais fria,
porque já Outono
e nós aves de uma só estação,
aves de incêndio.


Nos poemas que integram Aves de Incêndio há versatilidade - na forma, nos temas, na linguagem -, sendo por isso capazes de surpreender o leitor a cada novo texto. Em quase todos eles, intuímos um “eu” lírico que veste, ao mesmo tempo, o papel de narrador, que se assume quase sempre como protagonista ou que partilha, com um interlocutor, esse protagonismo ou que, à semelhança de Reis ou de Horácio, lhe dá conselhos:

Aproveita todos os crepúsculos
obriga-te ao encanto
preserva o pasmo, a virtude do entusiasmo, 
e a curiosidade dos gatos.

("Chá-dançante")

Take a bike,
take a plane,
take a chance,
go to France,
find a fine romance.

("Like a couple of hot tomatoes" - título recuperado de uma canção interpretada pela Ella Fitzgerald)

Das palavras da Raquel emana uma certa rebeldia, que parece estar em dissonância com a pessoa serena que conhecemos, mas que se percebe desde logo no título da obra – Aves de incêndio. Este título parece ser a expressão de alguém que não se resigna com a sua condição de “bicho” terreno, que precisa de asas para se elevar do chão, do comum. Não é, contudo, uma ave que se quer exuberante. O voo que pretende executar não é de exibição, mas de liberdade, através do amor ou das memórias.


“Aves de incêndio” são os amantes, predispostos aos primeiros voos e ao incêndio dos sentimentos, ora regeneradores, ora destrutivos, dos quais sobra a amarga lembrança ou as cinzas.

Um amor velho e seco
como uma giesta,
folha de ervário,
corolário de todos os que o seguiram,
porque o amor quando acaba,
no âmago do coração quieto,
fica sempre amargo.

(Excerto de "Primeiro amor”)

Esta rebeldia exprime-a também no poema “1. Poema verde” (pág. 7), em que evoca o “Romance Sonambulo de García Lorca e no qual o “eu” poético, numa atitude irreverente a lembrar Régio ou Pessoa – Álvaro de Campos, rejeita as convenções, a “normalidade”, o caminho que um interlocutor, que pode ser singular ou plural, procura impor-lhe:

Não me peças para amadurecer
que não sou peça de fruta,
sou peça de outra engrenagem,
e a vida não é árvore nem fruteira.

ou na recusa da poesia e a entrega deliberada aos gestos prosaicos, num poema, que recupera, pela repetição das palavras de “Fim”, a ironia corrosiva de Mário de Sá-Carneiro:


Hoje estou-me nas tintas para a poesia,
quero apenas uma cerveja fria
e companhia.
Pode ser de um burro,
patudo, orelhudo
e obviamente ajaezado à andaluza.

(Poema 76.)


Na escrita poética da Raquel, como, aliás, na prosa, são recorrentes temas como o amor, o apego a Trás-os-Montes e às memórias da infância, o desencanto com o estado do país ou o peso da rotina.
O amor é, muitas vezes, um ritual iniciático, que prepara, ainda de forma inocente, a idade adulta. Ele pode significar doçura, cumplicidade, partilha, mas também é motivo de desencontros, desencanto e de dor.

Trás-os-Montes (T-o-M) são as raízes, o colo, o apelo telúrico, cantado tantas vezes por Torga que, como a Raquel, era um ser do campo emprestado à cidade (talvez a Raquel se sinta menos esse ser “emprestado”, considerando que hoje vivemos num mundo global).
T-o-M  são também a infância feliz, de um tempo anterior à dor, do tempo sem tempo, em que tudo parecia possível e ter uma saída, como escreveu Ruy Belo. Pelo contrário, para o “eu” lírico o presente representa a dor, o vazio, a solidão, a falta de rumo. No presente, é ainda ave, uma ave que desistiu de voar:

Com o tamanho
da minha solidão
fiz um elefante.
O maior mamífero sobre a terra.
E o meu elefante vai 
em passo pesado e lento,
a mesma pele espessa e parda,
incisivos de marfim,
peugadas redondas,
quase lunares.
Vai sem perigo de extinção,
cheio de solidão,
indistinguível na manada.

(Poema 72.)

Podia ser índio, pirata, astronauta,
todos os sonhos em embrião,
a vida no princípio e cheia de tesão.
Conhecia todos os animais da rua
e não havia sinais de trânsito
nem relógios a prender os meus gestos.
(...)
As mãos sempre sujas,
as amoras negras,
o pão escuro,
o cabelo curto
e ninguém sabia se eu era menino ou menina.

("Da invisibilidade dos camaleões")

quinta-feira, fevereiro 25, 2016

Na falta de marcadores


Isabel, imagino que não tenhas problemas em marcar livros. Deixo-te, ainda assim, algumas ideias.  :D

sábado, janeiro 23, 2016

Fotografia

«Entre las muchas maneras de combatir la nada, una de las mejores es sacar fotografías, actividad que debería enseñarse tempranamente a los niños pues exige disciplina, educación estética, buen ojo y dedos seguros.»
Julio Cortázar


(A minha sobrinha mais velha a fotografar livros voadores, na Rua das Flores, no Porto)
                                                                                                                                             

sábado, janeiro 16, 2016

Ler


Aqui está, Isabel, a foto (da net) que prometi, bem como o link para um dos meus "devaneios" sobre a leitura.

domingo, dezembro 13, 2015

Agora e na hora


Soube, há minutos, aqui, que este livro foi eleito por uma americana, colunista do New York Times, como o melhor livro do ano. Li-o, se não me engano, no ano em que saiu. Talvez o tenha comprado pelo título, pela capa ou pelo conjunto, mas o seu conteúdo acabou por me dizer mais. Nele, há relatos dolorosos de pessoas que sofreram de cancro e de outras que perderam os familiares pelo mesmo motivo. Conheci ou conheço algumas dessas pessoas, por isso o livro acabou por ter um grande significado para mim e, por saber que significaria muito também para alguém que me é próximo, ofereci-lho.

Há um outro autor que escolheu como livro do ano A Porta, de Magda Szabó, que é, curiosamente, um dos livros do ano para mim.

sexta-feira, novembro 20, 2015

No meio dos livros




Eu, na livraria Lello, no Porto, há uns anos. A foto é da autoria da mana.

quinta-feira, agosto 06, 2015

A memória é um silêncio que espera

O património do silêncio. Os livros acumulam-se pela casa. Cobrem as paredes, enchem as prateleiras dos armários. Aguardam-nos calados com suas páginas apertadas onde o pó e a humidade se infiltram. Disciplinados, exibem apenas o seu dorso curvo coberto de pele, ou então magro, estreito, de papel. A memória é um silêncio que espera, uma provação da paciência.
Ana Hatherly, Tisanas

quinta-feira, abril 23, 2015

Dia Mundial do Livro

e dos Direitos de Autor


Soizick Meister, "Buraco da fechadura"

terça-feira, junho 03, 2014

Sobre os livros e a leitura


(Quint Buchholz, "A saudação")

Escrevo este post inspirada nas palavras que a Maria do Rosário Pedreira escreveu aqui a propósito da leitura.
Também eu oiço dizer ou surpreendo-me a dizê-lo que hoje se lê menos. Contudo, não estou muito certa disso. 
Durante a adolescência e o tempo da faculdade, eu própria lia mais do que hoje, ainda que dispusesse de menos meios para comprar livros. Nesse tempo, frequentava a biblioteca da Gulbenkian, que ficava a uns passos da minha casa, no antigo convento de S. Francisco, mesmo ao lado da casa onde nasceu o ilustre transmontano Trindade Coelho, ou aproveitava os empréstimos de amigos. Em casa, não faltavam os livros exigidos pela escola - esses nunca se pediam emprestados, ainda que se emprestassem e se perdessem alguns pelo caminho.
Para quem, como eu, vivia numa vila de província, que oferecia poucas alternativas de entretenimento, ler, havendo apetência para tal, podia ser uma boa maneira de fugir à canícula ou de conhecer outros mundos sem sair do quarto. Eu, como alguns amigos e conhecidos, lia bastante - ainda que as escolhas, por falta de orientação, nem sempre fossem as melhores -, mas, reconheço, a maior parte dos jovens daquele tempo não o fazia. Aliás, estou convencida de que, se a leitura fosse um hábito adquirido na infância e na juventude, algumas pessoas que hoje têm a minha idade leriam ou leriam mais e teriam mais preocupação em incutir esse hábitos nos filhos.
Hoje, eu própria leio muito menos do que gostaria e do que seria desejável, apesar de ter um acesso mais fácil aos livros. Os apelos são muitos mais e o tempo que as obrigações nos tomam impedem-nos de usufruir desses companheiros, que vão esperando pacientes nas prateleiras ou na mesa de cabeceira.
Acredito, apesar de tudo, que o número de leitores seja actualmente maior. Os ofertas são diversificadas, há mais preocupação em divulgar o livro e a leitura, pelo que algumas pessoas se sentem quase coagidas a ser leitores, sob pena de serem consideradas incultas. Se aquilo que lemos tem mais ou menos qualidade, isso é outro assunto.