
Lembro-me perfeitamente da sensação que tive ao me deparar, em 77, com a capa de
'BAT OUT OF HELL' na lojinha de discos perto de minha casa em Laranjeiras/RJ. Pensei:
"Puta que o pariu!!! Essa capa é do caralho!!! Agora, que porra de banda é essa? Nunca ouvi falar. Quer saber de uma coisa? Embrulha que eu vou levar!!!" Já havia comprado alguns discos no escuro, mas sempre de bandas que tivesse lido alguma resenha elogiosa, etc e tal.
Cheguei em casa com a bolacha e minha santa mãezinha chegou a fazer o sinal da cruz. Talvez, naquele momento, tenha pensado até em me levar à Igreja da Glória para me benzer. Se pensou, não concretizou. Mas o pior (ou melhor!) é que quando a introdução de
"Bat Out Of Hell" começou a estremecer meu quarto não tive dúvidas de que, mesmo que o disco só tivesse aquela música de bom, teria valido cada centavo. No entanto, para meu delírio, o álbum todo era bom demais.
Passei dias trancado no quarto ouvindo-o e reouvindo-o, tentando extrair cada fraseado de guitarra de
Todd Rundgren. Eu tinha que tirar aquele som de moto acelerando de qualquer maneira. Minha mãe tinha razão: estava possuído!!! Não jogava mais bola, não saia para me encontrar com a galera no Fluminense, na escola cantarolava o tempo inteiro
"Like a bat out of hell/ I'll been gone when the morning comes...", minha namorada estava prestes a terminar comigo ("Ou Meat Loaf ou eu!!!"-confesso que fiquei tentado, mas contornei a situação), etc. Acho que nunca me curei completamente, apenas sobrevivi à fase aguda da doença. Lógico que, algumas semanas depois, o disco estourou no Brasil assim como já tinha estourado no mundo todo -até hoje, só nos EUA, são vendidas em torno de
200000 cópias(!!!) por ano deste álbum. E isso
30 ANOS depois! Nem
'THRILLER' consegue esta façanha.
Bom, mas agora vamos a um pouco da história de
MEAT LOAF e sua
griffe mais famosa. Para começar,
MEAT LOAF não é uma banda mas sim o apelido de
Marvin Lee Aday(mais tarde trocou, oficialmente, seu nome para Michael), texano de Dallas, filho de pai policial e alcólatra e mãe professora. O apelido teve como responsável seu próprio pai que só o chamava, enquanto bebê, de "meat"(carne) e, quando começou a estudar, recebeu de seus colegas, devido a ser um pouco
cheinho, digamos assim, o complemento "loaf"(bolo).
Em 67, resolve mudar-se para Los Angeles para trabalhar em uma boate. Em LA formou várias bandas que não obtiveram sucesso comercial, apesar de abrirem para
Them(banda de Van Morrison), Janis Joplin, The Yardbirds, Renaissance, Taj Mahal, The Who, MC5, The Stooges, etc. Como nada dava certo, e as contas se acumulavam, trabalhava em qualquer coisa e foi em um destes trabalhos que ficou sabendo que haveria uma audição para o musical
"HAIR" e, tendo sido aceito, durante seis meses excursionou com este histórico musical. Em 71, devido à repercussão de sua performance na peça, foi convidado pela Motown a gravar um álbum de
r&b em dupla com a cantora
Stoney Murphy. Quando
"HAIR" estreou na Broadway,
MEAT LOAF reintegrou-se ao elenco ao mesmo tempo em que começou a ensaiar
"MORE THAN YOU DESERVE", um musical escrito por aquele que seria o responsável por uma mudança radical em sua carreira:
JIM STEINMAN. A partir de então
MEAT LOAF tornou-se a voz de
STEINMAN. Em 73,
MEAT LOAF ainda encontrou tempo para participar da montagem original de
"THE ROCKY HORROR SHOW" nos papéis de Eddie e Dr. Scott (no cinema, apenas Eddie). Em paralelo,
STEINMAN e
MEAT LOAF formatavam
'BAT OUT OF HELL'. Mas, como seu negócio era cantar e seu prestígio andava em alta, convenceu
Lou Reizner, produtor da
Epic Records e de
"ROCKY HORROR..."(o filme), a produzir alguns clipes e exibi-los antes das sessões. A partir de então
MEAT LOAF decidiu dedicar-se somente à música e, quando tocou
'Paradise by The Dashboard Light' em um famoso programa de TV -
National Lampoon- o sucesso começou a ficar evidente. Mas as gravadoras não aceitavam aquele estilo até que
TODD RUNDGREN resolveu bancar a produção, arranjar e fazer as guitarras. Chamou alguns dos melhores músicos de estúdio disponíveis -
Kasim Sulton, Max Weinberg e Roy Bittan (todos da lendária
E-Street Band de
Bruce Springsteen), entre outros, além do ícone
Edgar Winter-e, durante quatro longos anos, produziram esta obra-prima. Contudo,
"BAT OUT OF HELL" tornou-se uma espécie de estigma pois
MEAT LOAF nunca mais conseguiu fazer outro trabalho no mesmo nível e entregou-se à cocaína fazendo com que sua carreira sofresse um declínio acentuado, levando-o, inclusive à perda da voz e falência pessoal. A saída foi, em 1990, lançar
"BAT OUT OF HELL II:BACK INTO HELL" que, apesar das deficiências, vendeu demais. Mas parece que não há vida fora do inferno para
MEAT LOAF e, em outubro de 2006, é lançado
"BAT OUT OF HELL III:THE MONSTER IS LOOSE", este sim honrando a
griffe, desta vez com participações especialíssimas de fãs incondicionais da dupla
MEAT LOAF & JIM STEINMAN e seu
morceguinho. Estão lá, além de
TODD RUNDGREN, BRIAN MAY, STEVE VAI, NIKKI SIXX, DESMOND CHILD e
JOHN 5 além de, como havia feito com
ELLEN FOLEY no primeiro álbum, lançar uma nova e excelente cantora:
MARION RAVEN.
Acho meio difícil, quase impossível, que exista alguém que não conheça, ao menos, o primeiro álbum desta sequência pois esta obra-prima
kitsch atravessa gerações mas, se existir, não se deve perder a oportunidade de conhecê-la mesmo que por pura curiosidade. Gostou? Baixe os demais.
Já aos que só conhecem a primeira parte da saga, que completem a coleção.
Afinal,
"It was a hot summer night and the beach was burning..."