Era uma vez um moleque de
10 anos, completamente obcecado por música, que morava em um bom apartamento no
2º andar de um prédio em
Laranjeiras/RJ. Exatamente abaixo, moravam dois irmãos de visual
riponga -afinal, o ano é
1969- e naturais de
Manaus, que estavam na cidade,
bancados pela família, para estudar. É claro que, deslumbrados com as maravilhas proporcionadas por este belo pedacinho do paraíso -lembrem-se: estamos em 1969!-, estudar era o que menos faziam.
Devido à sua indumentária pouco usual, cabelos compridos, barbas por fazer e alto volume das músicas que escutavam, eram vistos pelos vizinhos como
personas non gratas. Mas não para aquele moleque que, frequentemente, se 'escondia' de seus pais -que o proibiam de manter amizade com 'aqueles drogados', como levianamente os definiam- no apartamento daqueles dois cabeludos extremamente simpáticos e antenados em tudo que se fazia em termos de
rock. Com eles, ouviu pela primeira vez a trilha completa de 'Woodstock' e as novidades de
Jimi Hendrix,
Deep Purple,
David Bowie, etc. Estavam sempre à frente dos lançamentos pois, mensalmente, algum portador da família lhes trazia as últimas novidades da música em discos importados.
No final do verão daquele ano, a portadora das tão aguardadas novidades musicais seria sua mãe. O guri, devidamente avisado pelos dois de que havia novidades, assim que chegou do colégio foi direto para o 'esconjurado' apartamento e, alguns segundos após tocar a campainha, abriu-se a porta e o que viu foi um anjo de longos e cacheados cabelos dourados, uma tez lindamente alva e um sorriso de derreter. Era a irmã mais nova daqueles dois 'proscritos', de apenas 9 aninhos e batizada
Artemis, o mais belo nome
bicho-grilo que já ouvira. Desnecessário dizer que foi paixão à primeira vista. E pela primeira vez!
Muito tímido, pediu desculpas pela intromissão e que voltaria em melhor hora. No entanto, foi docemente intimado a entrar e, após devidamente apresentado pelos 'drogados' à sua família, em pouco tempo já estavam todos ouvindo aquelas pilhas de discos e um deles, em especial, chamou a atenção daquela linda menina. Um disco de conteúdo
folk, com toques renascentistas e psicodélicos, realmente, delicioso de ouvir.
À medida que os dias passavam, tornavam-se mais próximos e até conseguiram tirar a má impressão que os preconceituosos pais daquele garotinho nutriam por aquela família pois achavam que formavam um belo casal. E os dois passavam horas brincando ao som daquele disco. Quando, finalmente, chegou o triste dia da despedida, aquela doce menina lhe ofereceu de presente o disco que era o símbolo daqueles momentos que passaram juntos. O nome? Simplesmente,
Appaloosa.
ATO II
Além de designar uma das mais admiradas raças de cavalos,
Appaloosa foi uma banda de
baroque folk formada por
John Parker Compton (vocais/violão/composições),
Robbin Batteau (violino),
Eugene Rosov (cello) e
David Reiser (baixo) que, após muita maturação de seu trabalho em bares e estações de metrô, bate à porta de
Al Kooper -à época, o todo poderoso da
Columbia Rec.- mas nem mesmo chegam a mostrar seu trabalho, sendo sumariamente rechaçados sem maiores explicações. Alguns minutos após, ao sair de seu escritório,
Kooper assusta-se ao ver as secretárias embevecidas com um espontâneo recital da banda. Imediatamente, a
lenda os chamou ao escritório e os contratou. E não apenas isso: decidiu que não só os produziria como colocaria grande parte do
Blood, Sweat & Tears à disposição da banda, além de participar com seus tradicionais dotes nos teclados. Este único disco recebeu inúmeras criticas positivas mas, infelizmente, as vendas foram extremamente modestas, ocasionando o fim da banda.
ATO FINAL
Há alguns anos, um amigo de viagem para
NYC me pediu para fazer uma lista de
CDs em ordem de prioridade para que ele trouxesse de presente da cidade que nunca dorme e, sem pestanejar, escrevi os nomes de
'First Base', da
Babe Ruth, e este
'Appaloosa' como prioridades máximas. Do primeiro, já sabia haver sido lançado em formato digital mas não fazia a menor ideia se o mesmo já ocorrera com o segundo. Para minha felicidade e, agora, também estendendo este privilégio a vocês....