A esta altura acredito não haver um ser vivo que desconheça o hit 'We No Speak Americano'perpetrada por um duo australiano de electrodancelatinhousetechnoboiola chamado Yolanda Be Cool. Afinal, isso tornou-se uma verdadeira febre e invadiu as pistas, rádios, ringtones e churrasquinhos na laje de todo o mundo. Mas o que, talvez, muitos não saibam é que sua versão original data de 1956, chama-se'Tu vuò fa l’americano' e, na voz de seu autor, o italiano Renato Carosone, fez, à época, o mesmo sucesso que sua pegajosa versão atual, mesmo sem a divulgação maciça da internet.
Sendo assim, para finalizar o ano de 2010 de forma divertida e, por que não?, alvissareira para o novo ano que já nos bate à porta, deixo-os com algumas versões em vídeo para lá de hilárias além, é claro, da versão original.
Depois, basta dar uma chegadinha rápida por aqui e baixar a trilha sonora de seu reveillon. Sim, porque, se assim não o fizerem, muito provavelmente, estarão condenando-se a escutar 'We No Speak Americano' algumas dúzias de vezes durante o período em que sua festa durar.
Em sua última visita ao QG do G&B, meu broDim Maddy Lee, como de hábito em encontros brenfoetílicomusicais, me presenteou com um CD recheado de coisas as mais diversas que anda escutando e, apesar de uma passada rápida pela bolachinha, muito ficou para ser apreciado mais tarde. No entanto, uma de suas insistentes recomendações ao nos despedirmos após aquela enfumaçada tarde/noite de sábado, foi um camarada de nome esquisito e que a ressaca de domingo teimava em não me fazer recordar. Após conseguir que meus 3 neurônios pegassem no tranco com um larica shake reforçado com um pãozinho na chama embebido em muita manteiga, o nome do mancebo me surgiu como num passe de mágica: Sully Erna. O próximo passo foi buscar informações sobre o objeto de tantas recomendações e, para minha decepção, já na primeira googada, só aparecia o nome da Godsmack, uma banda incensada na cena metálica mas de onde pouco consegui extrair algo de relevante. E ainda por cima é seu líder e principal compositor, além de responsável por todo o direcionamento musical. Afinal, o que, com tais credenciais, Sully Erna teria a apresentar que já não o houvesse feito em sua própria banda, onde é o big boss e, por definição, teria todo o espaço necessário?
Após tais descobertas, minha primeira reação foi desconsiderar o conselho de meu spacey bro e passar para as demais atrações contidas naquela mídia mas, peraí!, meu irmãoSinho Maddy não é de indicar qualquer porcaria. Sendo assim, resolvi dar uma chance a 'Avalon', pomposo nome da primeira bolachinha solo de Sully Erna, enquanto dava um trato na minha Fox Lady. A princípio, pareceu-me estar diante da cruza de um acústico de Alice In Chains com Days Of The New e as tinturas étnicas -principalmente, orientais, hindus e celtas- tão comuns em alguns dos trabalhos solo, ou em dupla com Jimmy Page, de Robert Plant. Mas o teor épico do disquinho foi me tomando de assalto a cada faixa , em muito ajudado pela belíssima e, muito provavelmente, classicamente treinada voz da gatíssima (aaaaffff!!!) Lisa Guyer que, seja em solos arrebatadores ou em terçadas com Sully, forneceu ao trabalho matizes às quais é impossível passar incólume. Junte a isto um time de músicos perfeitamente integrados à proposta desenhada por um inspirado compositor e multi-instrumentista experiente, uma produção impecável e muita dedicação e amor e temos um trabalho sublime. Fundamentalmente acústico, com toda a liberdade que este termo adquiriu de algum tempo para cá, 'Avalon' surpreende em cada nota executada, ora na densidade de temas como '7 Years' e 'Sinner's Prayer', ora na grandiloquência de 'The Rise' (a 'Kashmir' que todo músico almeja um dia compor) ou na delicadeza de 'Until Then...', como também na placidez de 'Eyes Of A Child', entre tantos destaques descobertos a cada audição.
Uma grata surpresa, talvez até mesmo para os fãs de Godsmack.
Tá bom, eu sei que esse disco já está bem rodado -em se tratando de quem é, não poderia esperar algo diferente- pela blogosfera mas não poderia deixar de baixar por aqui, não só por tratar-se do novo trabalho de um dos gogós mais privilegiados de todos os tempos mas, também, por ser um belíssimo álbum, um projeto de retorno às raizes mais profundas de uma carreira recheada de clássicos e plenamente vitoriosa, apesar dos enormes e bem conhecidos percalços.
No entanto, para o pleno entendimento deste disco, quase tão importante quanto o currículo de seu autor, é seu título, uma clara alusão à banda que tornou-se conhecida por ser o marco zero da carreira de muita gente boa. Resumindo, a banda que é sem nunca ter sido. Na verdade, nos efervescentes sixties, esbarrava-se com uma banda a cada metro quadrado e a Band Of Joy seria apenas mais uma delas se, em uma certa noite -segundo reza a lenda, seguindo uma dica de Terry Reid, que recusara o convite para o que viria a se tornar o emprego mais cobiçado do mundo-, Sir James Patrick Page, já um dos músicos mais assediados da cena londrina, não tivesse aparecido em um de seus shows e roubado, de uma só tacada, seu vocalista Sir Robert Anthony Plant e Sir John Henry Bonham, um troglodita espancador de peles que veio a tornar-se o maior baterista da História, para com Sir John Paul Jones e sua musicalidade insana criarem aquela bandinha xexelenta que dominou os '70 chamada Led Zeppelin. Aquela pub band com temperos folk era tão foda que, algum tempo depois, até seu roadie tornou-se uma das figuras emblemáticas desse mundão roquenrou. Seu nome: Noddy Holder, a alma da Slade.
Na verdade, embora nunca tenha lançado nada oficialmente à época -além do que passou a circular de forma pirata, alguns registros foram lançados na compilação 'Sisty Six To Timbuktu'-, a Band Of Joy já havia conquistado um razoável público cativo e, verdade seja dita, Plant nunca negou o carinho que nutria pelo trabalho que desenvolveu com a banda. E foi alimentado por este mesmo carinho que resolveu trazer este sentimento à tona através de uma reformulada Band Of Joy. É isso mesmo, nenhum dos integrantes atuais -Patti Griffin (vocais/violões), Buddy Miller (guitarras/violões/vocais), Darrell Scott (vocais/mandolin/guitarras/violões/acordeão/pedal e lap steel/banjos), Byron House (baixo) e Marco Giovinno (bateria/percussão)-, além de Plant, é claro, fez parte da formação original; alguns, muito provavelmente, sequer eram nascidos à época.
E aí reside o grande barato de tudo isto. Como recriar, e atualizar, toda a magia daqueles anos sem soar um pastiche de si mesmo? Só encontro uma resposta: o próprio Plant incumbiu-se de impregnar a mente de seus músicos com intermináveis sessões noite adentro de folk, r&b e psicodelia regadas a muito scotch barato (e nacional!) em uma taverna de beira de estrada. Se assim foi, nem imagino...mas que ficou um trabalho estupendo, disso não tenho dúvidas. Mais um que, certamente, não ficará de fora das listas de melhores do ano.
Já há algum tempo -e bota tempo nisso!- acompanho o cenário musical escandinavo, principalmente o triângulo Dinamarca-Noruega-Suécia (os finlandeses e islandeses me soam pretensamente góticos e demasiado posers). Vide o espaço dedicado aqui a bandas tão díspares em estilo como Karmakanik, Lotus, Plankton e a lendária Titanic. E poderia ainda citar uma cacetada de novas e veteranas bandas surgidas das pedreiras geladas destes singulares e belos países recheados de apreciadíssimos espécimes femininos, que ainda não postei por aqui. Alguém disse ABBA? Por que não? Afinal, talvez somente Beatles, Stones e Bee Gees sejam mais populares. No entanto, de aproximadamente 2 anos para cá vem ocorrendo uma verdadeira avalanche de bandas da região, em geral carregando a bandeira do retorno ao hard/heavy em sua forma mais embrionária e por inúmeras vezes injetando fortes doses de prog e psicodelia. E essa bandeira, antes meio underground e que gerou grandes álbuns em mais de 40 anos que acompanho a música produzida nestes países, ganhou tamanha força nestes tempos de velocidades a megabits nunca dantes imaginados, que já periga tornar-se mainstream. Não, isso não é ruim. O problema é perder-se o senso crítico e, indiscriminadamente, tudo o que nasça daquelas lindas e alvas paisagens venha a tornar-se imediatamente...cool!
E é justamente na contramão deste status para o qual perigosamente caminha o rock escandinavo que entra a Langfinger. Sinceramente, olhem estas figuras -Victor Crusner (vocais/baixo/teclados), Kalle Lilja (guitarras/vocais) e Jesper Pihl (bateria/percussão/vocais)- ainda recheadas de espinhas nas fuças, logo acima deste parágrafo e me digam: será possível serem integrantes de uma das melhores bandas surgidas naquele seleto circuito? Sim, podem, e tudo porque ainda mantém o espírito comum aos seus pares que obtiveram algum destaque fora do restrito mercado destes países (é isso mesmo, não se enganem, é impossível viver de música tocando apenas na Escandinávia): utilizar-se de influências setentistas para produzir algo que exale um -ao menos, leve- perfume de contemporaneidade e não apenas naftalina. E, acreditem, estes três moleques o fazem com uma personalidade impressionante. Enquanto o cenário atual do rock escandinavo começa a apresentar sinais de crise criativa, traduzindo-se na maioria das vezes em bandas que não passam de meras cópias de ídolos-que-também-foram-ídolos-de-seus-pais, a Langfinger representa o frescor que o hard/heavy nórdico estava ansiosamente necessitado, em muito graças a um certo sabor alt/indie que impregna suas canções, sempre interpretadas com impressionantes crueza, sinceridade e competência -além da performance de seu frontman, vale um destaque especial para as inspiradas levadas de bateria. Overdubs? Quase nenhum.
E assim disparam pérolas já a partir do momento em que os tambores da contagiante 'Herbs In My Garden' brilhantemente nos descortinam a bolachinha e passamos a tomar os primeiros contatos com petardos como a arrasa-quarteirão faixa título, o swing impregnado de psicodelia de 'Restart The Groove', a acelerada 'Eclectic Boogieland', o excelente exemplar de hard prog 'Fantasy Ridge', a belezura folk de 'A Subtle Life (As It Is)' e a furiosamente mântrica 'Ragnar'. E tudo isso, insisto, inspirando-se em, e não apenas 'xerocando', medalhões do hard/heavy setentista e -até mesmo- oitentista, como muitos dos mais recentes lançamentos daquelas terras geladas. E são bandas como esta que ainda me fazem crer na tríade Dinamarca-Noruega-Suécia como principal polo rock fora do eixo USA/UK.
Mais uma banda candidata a revelação do ano e que conseguiu com este 'Skygrounds' todos os méritos para figurar nas listas de melhores do ano mais antenadas.
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Clip para 'Herbs In The Garden' ainda em sua versão demo.
Estou por horas tentando preencher esta tela em preto com algo que, de verdade, traduza meu sentimento -e de todos os presentes, pois rodei pela pista e vi a mesma expressão misto de incredulidade e êxtase em cada rosto- naquela noite chuvosa de 24.11.2011 no Vivo Rio. Sinceramente, não vejo outra maneira que não a de apelar para a religião. Afinal, como esperar que alguns milhares de cabeças desloquem-se do aconchego de seus lares no dia mais violento da história de sua Cidade Maravilhosa para encontrar-se com um senhor de 66 anos se não por uma motivação divina? Já à entrada, enquanto esquentava as turbinas e encontrava amigos que, em muitos casos, não via já há alguns anos e fazia novos (a arte tem esta enorme capacidade gregária), percebia-se a excitação de todos com aquele momento que desenhava-se já histórico.
E a verdade é que aquele caixote de concreto que a empresa que o gere e empresta seu nome teima em chamar de casa de espetáculo, já aos primeiros acordes daquela mágica Strato branca, transformou-se em uma mesquita e a Meca aquele palco de tímida mas eficiente boca de cena em que, a partir de então, passaria a reinar absoluto -mas muitíssimo bem acompanhado por seu fiel escudeiro e que muito subiu em meu conceito devido a uma apresentação impecável, Jason Rebello; a soberba baixista e cantora Rhonda Smith e a lenda das baquetas 'Narada' Michael Walden- a divindade máxima da guitarra: Jeff Beck. Com a introdução de 'Stratus', o estado catártico da platéia já havia se tornado flagrante e os primeiros sinais de 'fumaça' puderam ser percebidos. Em sequência, seguiram-se recentes e antigos clássicos como 'Led Boots', 'People Get Ready' (arrancando-me as primeiras lágrimas em sua versão totalmente instrumental), 'Big Block' (o melhor power blues instrumental já escrito), 'A Day In The Life' (que me desculpem os Fab 4, mas esta é a versão definitiva), 'Hammerhead' (que riff!) e 'Nessum Dorma' (ainda acho a tecladeira meio caretona mas foi ovacionada) misturado a coisas inesperadas como 'Rollin' & Tumblin'' e 'I Wanna Take You Higher', proporcionando a Mrs. Smith belas demonstrações de pleno domínio vocal e muito carisma -talvez adquiridos nos muitos anos com Prince-, e 'How High The Moon', um raro momento em que volta a trocar afagos com sua antiga companheira Gibson Les Paul preta.
A destacar o fato de que, apesar de tão pouco tempo juntos, todos os músicos tiveram um desempenho exemplar, ao ponto de sentir que o timbre inigualável, o estilo personalíssimo no finger style, a criatividadesempre surpreendentee a precisão do trêmolo de JB tem, como há muito não víamos, uma banda de verdade nas mãos; um seleto grupo de músicos, além de fantásticos como todos com os quais já dividiu palcos e estúdios em seus mais de 50 anos de carreira, imbuido do firme propósito de desenvolver em um breve futuro trabalhos que venham a tornar-se referências na carreira daquele monstro sagrado que tão generosamente lhes estendeu tamanho grau de confiança, como em 'Wired', 'Blow By Blow', 'There & Back' e 'Guitar Shop'.
É claro que, com menos de 2 horas, muitos clássicos acabaram por ficar de fora; no entanto, tivésemos 5 horas de Jeff Beck em cima daquele palco (ou será púlpito?) e continuaríamos sentindo falta de algo. E este sentimento de 'quero cada vez mais' só corrobora a genialidade e atemporalidade de seu trabalho. Só para ilustrar, puxando muito rapidamente por minha já combalida e cinquentenária memória, ficaram de fora do set list -de 20 músicas!!!-unanimidades como 'Cause We've Ended As Lovers', 'Goodbye Pork Pie Hat', 'Blue Wind', 'The Pump', 'The Golden Road', 'Star Cycle', 'Behind The Veil', 'Where Were You' e 'Nadia'. Particurlamente, a ausência desta última foi a que me causou maior frustração pois pretendia fazer uma surpresa a meu headbanger-eternamente mirim transmitindo-a pelo celular, por ser a sua predileta.
Sim, mesmo os deuses erram mas, a despeito disso e de uma minúscula 'engasgada' aos primeiros segundos de 'Nessum Dorma', a minha fé em Deus -digo, Jeff Beck- continua não só inquebrantável como cada vez maior. Já posso morrer feliz pois, finalmente, vi e senti Deus. E Ele estava a poucos metros de mim.
E por muito pouco, este dia não entrou para a História como 'O Dia Em Que Os Guitarristas Cometeram Suicídio Coletivo' -cheguei a flagrar alguns tramando sequestrar um ônibus e levá-lo para o Complexo do Alemão.
Alguns dos malucos que encontrei pelo caminho, tutti buona gente.
PS: agradecimentos muitíssimo especiais ao parceiraço, ao meu lado no centro da foto acima,Paulo César Nunes (akaPC) pelas belas imagens que ilustram esta postagem. Valeu, mesmo, mermão!!!
Sabem aqueles domingões em que acordamos cheios de preguiça, sorumbaticamente ligamos a TV da sala a caminho da cozinha para preparar o café da manhã e, já de volta com aquele copão de larica shake* e um delicioso pãozinho na chapa atolado em manteiga, começamos a zapear aleatoriamente os trocentos canais a cabo em busca de algo interessante e nada nos parece adequado para iniciar o dia??? Pois é, há algumas semanas em um destes canais, dei com as fuças em uma apresentação deste quinteto -Chris Turpin (vocais/guitarras/violões), Stephanie Ward (vocais/pianos), Richard Jones (violino/vocais), Adam Timmins (baixo/banjo) e Mark Jones (bateria/percussão/mandolin)- de moleques natural de Bath e a cada mordida naquele pão quentinho e goles generosos daquele delicioso shake, o som da Kill It Kid impregnava meus ouvidos com uma espécie de punk folk rock absolutamente contagiante. Em seguida, já totalmente refastelado no sofá, acendi aquele primeiro cigarro (ô vício maldito!) do dia e...não mais consegui sair de frente da TV enquanto aquele show recheado de energia, mesmo em seus momentos acústicos, não chegasse ao fim. O próximo passo foi varrer a grande rede atrás de seu único disco até o momento mas, já desesperançoso por não conseguir nada além de apenas notícias e resenhas sempre elogiosíssimas, fui obrigado a recorrer à expertise da Primeira Dama do G&B e Diretora-Presidente da S.E.F.O.D.I. (Secretaria Especial para Fomento, Operacionalização e Desenvolvimento em Informação) que, após um périplo de algumas horas por suspeitíssimos sites russos e warezes diversos e já quase enlouquecendo nosso anti-vírus, conseguiu alguns arquivos em doses homeopáticas e, ao final, além do álbum oficial, estávamos de posse de um bom número de faixas raras, singles e b-sides, adicionadas aqui como bonus mas não sem antes um trabalhoso processo de remasterização e normalização para alinhar as diferentes ambientações e equalizações. Daí o sub-título G&B Turbo Edition.
Durante o processo de busca do link perfeito -o pouco que se me apresentava encontrava-se incompleto ou em baixíssima qualidade devido a bitrates ridículos-, deparei-me com muita informação e até mesmo vídeos. E o que mais me impressionou foi a maneira inusitada como foram revelados ao público e à mídia especializada: o produtor John Parish foi convidado pela Bath Spa University a conduzir um projeto no melhor estilo Big Brother em que todo o processo de gravação de um disco seria monitorado por 20 estudantes previamente selecionados, 12 horas ao dia. E adivinhem qual a banda cobaia escolhida por Parish para a empreitada. Ao que tudo indica, foi a opção mais acertada pois, além do som personalíssimo, a KIK já havia arrebanhado um considerável séquito no campus e seus primeiros singles (estão todos aqui entre os bonus) rapidamente alcançaram boas execuções nas rádios universitárias mais descoladas do Reino Unido, garantindo à banda um contrato com o pequenino, porém prestigiado, selo indie One Little Indian. E foi assim que chegaram a este belo trabalho -mais um para aquela listinha de melhores do ano, além de seus responsáveis serem sérios concorrentes a Revelação do Ano- impregnado de uma saudável dualidade fazendo sua música oscilar da crueza à sofisticação, da virulência ao lirismo, em questão de segundos. Para aqueles que não tem medo do novo, mesmo que utilizando-se de elementos tão antigos quanto o folk e o bluegrass e todo o ferramental tradicional para sua execução com propriedade,a Kill It Kid é um prato cheio. Afinal, apesar de alguns não concordarem, antigo não é sinônimo de obsoleto.
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Audição para o projeto da Bath Spa University
*300 ml de leite integral, 2 colheres de sopa de leite em pó, 2 colheres de sopa de achocolatado de sua preferência (prefiro Toddy ou Nescau) e 1/2 colher de sopa de Ovomaltine.
POP. Eita palavrinha perigosa! Para alguns pouquíssimos como eu, apenas o universo em que se inserem quase todas as manifestações artísticas surgidas a partir do século XX, incluindo aí o rock -talvez a principal revolução estética e comportamental de todos os tempos; para muitíssimas outras...um palavrão impronunciável. Mas se até o Papa é pop, queiram ou não, o rock também o é. Contudo, na prática, este simpático diminutivo adquiriu contornos altamente pejorativos, o que é compreensível visto que agrupar de Lady GaGa a Metallica é uma -aparentemente, ao menos- loucura. A dolorosa verdade é que a aberração do século faz absoluta questão de pertencer a este saco de gatos globalizado, enquanto os algozes do compartilhamento gratuito de cultura julgam-se à parte deste mundinho de frivolidades. De minha parte, acho que existe luxo e lixo em todos os gêneros. O problema é que alguns fedem.
Certa vez, totalmente enfumaçado demais, cunhei uma equação (de graus variados mas, devido ao meu estado brenfoetílico, acredito que predomine o 3º grau) com a única pretensão de demonstrar a existência de um determinado mix de gêneros cujo resultado será sempre BOA MÚSICA:
pop + folk : prog + r&b x jazz + rock
Reparem que desta pequena operação matemática, conforme a potencialização aplicada a cada variante, resultaram de Dredg a Steely Dan; de Jamiroquai a Jethro Tull; de Lobster Newberg a Ides Of March; de Ben Folds 5 a Chicago; de Animal Liberation Orchestra a Supertramp.
E, mais recentemente, a americana de Buffalo, NY,The Reign Of Kindo. Surgida das cinzas da 'muderninha' This Day & Age, após a saída de seu vocalista, guitarrista e principal compositor Jeff Martin em 2006 devido às já folclóricas diferenças musicais, os quatro membros remanescentes - Joe Secchiaroli (baixo/vocais), Kelly Sciandra (piano/teclados/trumpete), Michael Carroll (guitarras/percussão) e Steven Padin (bateria)- resolvem, em um ato corajoso, ampliar o espectro de atuação de sua música, abandonando por completo o simulacro de brit pop que tocavam em seu projeto anterior. Para tanto, deslocam Joe e seu belo timbre para o centro do palco e guitarra-base, trazem Jeff Jarvis para as 4 cordas e vocais e -aí reside o pulo do gato!- redirecionam o foco instrumental da banda para as tramas e comportadas dissonâncias do excelente jazzy piano de Sciandra. Some-se a isso certo reforço nos elementos de sopro (já presente antes nas ótimas intervenções do trumpete do mesmo Sciandra e de eventuais saxes) e percussão e, em poucos meses, a sonoridade cheia de groove e fraseados palatavelmente complexos da TROK estava formatada e, desde então, sofreu pouquíssimas alterações. Não que isto signifique ausência de evolução, longe disso!, até porque no recentíssimo 'This Is What Happens' fica percebe-se claramente um belo ganho em termos técnicos -saltando aos ouvidos a bateria de Carroll, além do cada vez melhor Sciandra- e criativos. Infelizmente, ainda durante as gravações deste trabalho, Sciandra anuncia sua saída da banda ao final das sessões. Já substituido por Danny Pizzarro, Jr. (vide vídeos abaixo), a princípio, tecnicamente, não parece ter havido uma perda substancial. Já em termos criativos só o saberemos em um próximo trabalho.
Embora até possa ser uma novidade para mim e muitos parceiros, esta banda de um dos países comumente expostos na mídia como fonte de frequentes conflitos, os progmetalheads, devido às diversas e sempre elogiosas resenhas amadoras e profissionais que li em blogs e sites por aí, muito provavelmente já estejam carecas (sorry, não pude resistir à piada) de ouvir. No entanto, pouco consegui apurar sobre a banda além de ser integrada por quatro malucos guerrilheiros do roquenrou no país e que atendem por nomes com consoantes em demasia -Mikail Rafiev (Vocais) / Hafiz Bakhishov (Guitarras/Teclados/Vocais) / Andrey Kudinov (Baixo) e Fardi Ramazanov (Bateria/Percussão/Vocais)- e reforçados ao vivo por Kenan Aleskerov nos teclados. O restante é o mais puro "assim é se me parece", como também o próprio ambiente musical local. Mas algumas particularidades me chamaram a atenção, como o anúncio de uma espécie de funeral do rock -seja lá o que isso quer dizer, afinal, já tentaram enterrá-lo diversas vezes- em que a principal atração seria a execução na íntegra deste '23:61'. Na verdade, o pouco que li a respeito da banda foi em tom extremamente respeitoso e entendo perfeitamente o motivo de tamanho prestígio já que este disco foi uma tremenda surpresa desde que o conheci há poucos meses. Capitaneado pelas guitarras muitíssimo bem timbradas de um Bakhishov -que, por sinal, me parece a força motriz da sonoridade da banda- procurando sempre fugir dos estereótipos puramente 'shred' do gênero e demonstrando criatividade e precisão inquietantes, seja nos poderosos e algo complexos riffs,nas alternâncias de climas ou nas interessantes harmonizações. Outro atrativo -fundamental, no meu entender, quando procuro por música fora da rota USA/UK- é o charme da infusão discreta da cultura musical azerbaijã, seja de forma melódica ou percussiva, neste último caso percebido através da utilização de percussão típica e afinações dos tambores e caixas. Acredito ser desnecessário dizer que todos os músicos são fantásticos -além de Bakhishov, vale um belo destaque para o responsável pelas baquetas Ramazanov- mas, e isso é muito importante!, detestam jogar nota fora e os vocais singulares de Rafiev tem muitíssimo mais feeling que muito gogó já 'cascudo' no mercado. Da suscintamente linda 'Ease', uma das melhores intros em um trabalho prog que escuto em muito tempo, à soturna e longa 'Infinity' escancarando um sentimento de desespero que parece permear todo o disco como um conceito, todas as faixas descem redondinhas -a ponto de minha predileta ser 'Unudulmus', a única cantada na língua mãe.
Mas uma pergunta teima em não calar: o que quiseram dizer com este título? Pesquisei o que meu pouco tempo me permitiu -é claro que pensei ser uma espécie de liberdade poética para 'meia-noite e um', sei lá- e não encontrei bulhufas. Aceito sugestões.
Independentemente disto, a Midnight e este disco de título tão enigmático são, ao menos para mim, uma das gratas surpresas do ano.
Finalmente, em um período tradicionalmente no Velho Continente dedicado a lançamentos e que me obrigou a adiar por quase um mês esta postagem devido a alguns presentes recebidos e já disponibilizados por aqui, consegui trazer o novo trabalho de uma das bandas mais populares da recente cena prog. E vieram com tudo: as já tradicionais melodias ganchudas em progressões de acordes simples adornados por arranjos muito bem desenvolvidos, timbres mais pesados mostrando uma veia mais hard que o habitual, a costumeira influência floydiana e ainda apresentando borrões de irish folk. Eu disse 'tudo'? Bem, quase tudo. É que, infelizmente, Heather Findley, uma das responsáveis pela sonoridade Mostly Autumn, ficou pelo caminho desgastada pela agenda corrida devido à notoriedade alcançada pela banda nos últimos anos. É claro que não poderiam contar apenas com a charmosa voz à David Gilmour de Bryan Josh e a solução encontrada não deixa de ser prata da casa visto que Olivia 'Liwy' Sparnenn, já há 5 anos tradicional colaboradora nos backing vocals, assumiu o posto da musa folk prog com muita competência e o mesmo grau de...vejamos...gostosura (meninas, desculpem-me o porco-chauvinismo mas, convenhamos, não dá pra deixar de comentar assunto tão relevante, né?).
Apesar deste enorme contratempo, Josh habilmente manteve as rédeas da situação e conseguiu, com o auxílio luxuoso de todos os integrantes remanescentes e outros tantos flutuantes, nos brindar com um belíssimo trabalho, daqueles para ouvir em qualquer situação. Aliás, este é um dos grandes atrativos da chancela Mostly Autumn por toda sua obra. Talvez sejam responsáveis pelo prog de apelo mais pop do momento, e isso está muito longe de ser ruim.
Certamente, mais um seríssimo candidato a figurar nas tais listinhas de melhores do ano.
Confesso que não estava atrás de material novo da Pure Reason Revolution, talvez devido ao resultado apenas mediano de seu trabalho de 2009, 'Amor Omnia Vincit', mas -de repente, não mais que de repente- meu Spacey BroDim Maddy Lee, resolve me pregar mais uma peça e me envia um link para 'Hammer And Anvil', novo trabalho da banda, e é óbvio que o baixei no mesmíssimo instante e...taí, gostei bastante. Ainda tem eletrônica em excesso? Sim, mas agora, na enorme maioria das vezes, acertando na dose. E até mesmo as influências neste, digamos assim, 'aprendizado' no gênero, foram diferentes de seu predecessor e, em minha modesta opinião, geraram resultados infinitamente mais satisfatórios. Se naquele, muitas passagens soavam como um New Order recondicionado, agora -talvez para agregar à sonoridade de seus primeiros, e inigualáveis até hoje, trabalhos a veia eletrônica que parece ter chegado para ficar em definitivo- matizes do industrial de bandas como Ministry, Nine Inch Nails e Prodigy e ecos techno da Depeche Mode dão as cartas. E já na abertura, com a grudenta 'Fight Fire With Fire', deixam claro que o peso (agora ainda maior que nunca) voltou a ditar as regras na casa e que este pode, sim, conviver de forma harmoniosa com os inúmeros plics, plocs e outros barulhinhos. E o disco segue nessa levada, descortinando belos temas e sempre impregnado das vocalizações folk, na melhor tradição de uma Dream Academy (preciso postar a discog dessa boa banda dos eighties), de Jon, Chloë e Jamie em contraponto a toda a podreira das guitarras. Ainda está muito longe da qualidade das pequenas obras-primas 'Cautionary Tales For The Brave' (2005), 'The Dark Third' (2006) e 'Live At The NEARFest' (2008) -até porque acho muito difícil que um dia venham a bater a qualidade destes trabalhos recheados do frescor de algo realmente novo, diferente do que se apresentava no prog naqueles momentos- mas, como disse antes, o salto qualitativo com relação a seu predecessor é inegável, assim como é digno de registro o permanente exercício de inconformismo da banda, preferindo errar arriscando a permanecer em uma zona de conforto, mesmo que cheia de personalidade própria desde o início. E, desta vez e para felicidade geral de seus admiradores, os acertos foram em número muitíssimo mais expressivo que os erros.
PS: e se quiserem os demais, é só dar uma passada por aqui.
Amigos costumam me cobrar o porquê de destinar tão pouco espaço no G&B para muitas das bandas e músicos que sabem ser eu completamente fanático. Respondo que estes -é o caso de Led Zeppelin, Creedence Clearwater Revival, Santana, Free/Bad Company, The Who, Jeff Beck, Gentle Giant, entre muitos outros- já costumam receber tal atenção dos inúmeros blogs musicais a cada lançamento, reedição de álbuns históricos, etc e tal, que julgo desnecessário, diante de tanto material que tenho ainda a oferecer mesmo que nas doses homeopáticas que me permite meu pouco tempo livre, ser apenas mais um na multidão, salvo surja um fato novo que desencadeie uma terrível necessidade de escrever algo e, aproveitando o embalo, disponibilizar o referido material. E é justamente este o caso aqui.
Quando fiquei sabendo que este disco estava em fase de produção, logo pensei: "Mais uma jogada de marketing do mega-hiper-blaster-tubarão da indústria musical Mr. Clive Davis! Quando Carlos Santana conseguirá se livrar das mandíbulas deste cara?". Tudo bem, o octagenário mais influente da indústria do entretenimento conseguiu -com sua fórmula de entupir um cd com convidados; uns mais, outros menos ilustres- levar o chicano mais querido do rock aos pontos mais altos das paradas com o excelente 'Supernatural'(99) mas, com a manutenção da receita nos trabalhos seguintes, Carlos Santana passou a receber críticas desfavoráveis -muito embora continuassem vendendo muito bem, obrigado. E é bom lembrar que no meio daquela assepsia pop, o matreiro chicano sempre encontrou uma maneira de deixar sua forte assinatura.
De minha parte, acho que o sexagenário Carlos Alberto SantanaBarragán não precisa provar mais nada a ninguém. Afinal, lá se vão 41 anos desde que sua trupe latina invadiu Woodstock e abalou o mundo pop com sua batucada afro-latina psicodélica misturada a uma guitarra ensandecida e de timbre, pegada e fraseados únicos -lembro-me perfeitamente do impacto que 'Evil Ways' me causou quando a escutei pela primeira vez no radinho do Corcel 69 'zero bala', adquirido por meu saudoso pai, em seu passeio de estreia. A verdade é que, desde seu surgimento, Santana nos brindou com inúmeros trabalhos antológicos por toda a década de 70 e lançou alguns excelentes discos durante os 80. Na verdade, desconheço um só disco realmente ruim do gringo, apenas alguns são melhores que outros.
Quanto a esse disco, fiz questão de não baixá-lo ou ler qualquer resenha oficial -na verdade, é algo que faço cada vez menos- antes de adquiri-lo no original e sorver seu conteúdo sem a influência de fatores externos que não a tríade beer, cigarettes&weed. Ao contrário de muitos, não tinha o menor receio da qualidade do conteúdo pois, conhecendo Santana tão bem, sei que se alguém tem condições de acrescentar algo a clássicos absolutos já em suas versões originais, este alguém é ele; afinal, é possível montar uma compilação dupla, talvez tripla, com os excelentes covers (na realidade, estão mais para versões) com que Santana já nos agraciou desde o lançamento de seu primeiro disco. Quem mais poderia acrescentar salerosidade a 'Whole Lotta Love', 'Sunshine Of Your Love' e 'Smoke On The Water' (aqui, cabe restrição apenas à frustrada tentativa de agregar o fraseado de 'In My Time Of Dying' ao riff original) sem cair no pastiche? Quem mais se atreveria a criar um arranjo para 'While My Guitar Gently Weeps' eliminando um dos fraseados de guitarra mais emblemáticos da história da música? E o que dizer de 'Little Wing', tão respeitosa e ao mesmo tempo tão pouco hendrixiana e com um Joe Cocker arrasadoresempre belíssima? Até a sem graça 'Riders On The Storm' ficou deliciosa! E por aí vai...Ok, 'Back In Black' com Nas no rap foi meio que uma forçação de barra em conseguir um efeito walkthisway nas paradas mas...sabe que pode dar certo? Ao menos não escolheram como música de trabalho a baba 'Photograph' da Def Leppard, pois para esta não existe salvação meeeesmo, ou convidaram Justin Timberlake para o projeto.
Resumindo, apesar de ter gostado imensamente do resultado final deste 'Guitar Heaven', ainda anseio por um trabalho mais...como direi?...de banda. Mas..sei lá...de repente, Mr. Davis, dependendo do índice de vendas, o convença a lançar uma sequência com o sugestivo nome de 'Guitar Hell'. Só espero que Señor Carlos lembre-se que um dia, no auge de seu sucesso nos seventies, encheu-se de coragem para romper com as amarras da indústria musical e dedicar-se a fazer a música que ambicionava. É claro que, a esta altura não se exigirá tanto, mas um pouco daquele espírito sonhador lhe faria muito bem para um próximo trabalho.
Já havia falado por aqui sobre este CD e da ousadia de sua concepção e produção. Confesso que acompanhei a sua saga apenas até o lançamento de 'Corrupted' (amatadora 4ª faixa) pois, devido à excelência do material apresentado até àquele momento, decidi esperar pelo acabamento final em setembro de 2010. E valeu a pena cada segundo de espera pois toda a ansiedade pela qualidade do novo material -afinal, a banda vinha de 3 trabalhos fantásticos e com seu petardo de 2008, 'Destructive Device', ganhando forte projeção internacional- mostrou-se infundada. Na verdade, ainda não ouvi este ano material melhor no gênero. Das inspiradas composições, verdadeiros coices nas fuças, à produção afiadíssima, a MindFlow nos brinda com um trabalho impecável, deixando muito claro que vieram para abalar as estruturas ainda um tanto frágeis do heavy tupiniquim. Mas isto só o tempo dirá. Por enquanto, tudo o que sei é que está difícil tirar este cd do player. E espero que o mesmo ocorra com vocês.
Para tanto, basta cadastrar-se no belo site da banda, baixar o material completo di grátis e, quem sabe?, posteriormente, adquiri-lo no original. De minha parte, só estou aguardando seu lançamento pois faço questão de tê-lo com tudo a que tenho direito, e isso certamente inclui um belíssimo material gráfico, uma das características dos álbuns da banda.
Esqueça (tudo bem, é só figura de retórica, pois sei que todos já o fizeram) a desinspirada apelação Queen + Paul Rodgers. E o que dizer da Them Crooked Vultures, o mico do milênio? Ok, a Chickenfoot fez um disco bacaninha, apesar de um tanto o quanto farofa e deixando a sensação de que poderia render muito mais, e a Velvet Revolver, ao contrário, prometeu muito com um excelente disco de estreia e um segundo trabalho capaz de deixar esperanças em um grande futuro para, em seguida, sucumbir aos conflitos de egos. Alguém aí disse Audioslave? Aí já é brincadeira, né?
A verdade é que, depois de tantos fiascos durante esta última década do que comumente convencionou-se chamar de supergrupos, o fartamente anunciado projeto do lendário produtor Kevin Shirley de unir em um mesmo time a guitarra blues rock de Joe Bonamassa e o gogó de ouro do excelente baixista Glenn Hughes aos teclados prog de Derek Sherinian e murros sem muita sutileza de Jason Bonham para um projeto que trouxesse de volta o real frescor dos supergrupos setentistas, não poderia deixar de gerar uma forte dose de desconfiança.
Mas não é que a coisa deu certo??? Aliás, esta bolachinha de estreia da Black Country Communion já pode figurar fácil, fácil em qualquer lista de melhores do ano. E não foi preciso muito para isso, bastando para tanto uma dúzia de petardos compostos em sua maioria pela dupla Bonamassa/Hughes por mais de 1 ano executados com competência -com destaque para Bonamassa que pouco alterou seu timbre usual no instrumento e ainda incumbiu-se com louvor da tarefa de manter seu vocal no mesmo patamar do ícone Hughes sempre que solicitado- e um tesão que só quem acredita no que está fazendo consegue transmitir. E muito deste resultado deveu-se à experiência de Shirley, que conseguiu amalgamar a sonoridade da banda utilizando-se de elementos tão díspares. Aos que, a respeito de declarações minhas quando dos lançamentos dos trabalhos citados lá no primeiro parágrafo, me acusaram de intransigente -para dizer o mínimo- aqui vai a minha resposta: escutem este recém-lançado 'Black Country'. Tenho plena certeza que chegarão à conclusão de que não só não fui tão intransigente assim como, também, que vocês é que foram muito condescendentes.
Em um dia qualquer de 1996 (lembro o ano pois na ocasião foi me adiantado que haviam acabado de lançar seu 2ºCD), meu parceiro de desventuras musicais JR (aka Djeiar) levou para uma de nossas 'Terça É Dia de Rock' -evento brenfoetílicomusical quinzenal constituido por uma penca de viciados em música que, apesar do combinado revezamento na sede, na imensa maioria das vezes rolou no meu apê mesmo por uns 6 ou 7 anos- o 'Tempus Stetisse' (1994), primeiro CD da banda de um seu colega de trabalho que lhe presenteara com aquele exemplar, e fui agradavelmente surpreendido por um prog sinfônico -um estilo que costuma ser um tanto o quanto genérico demais- recheado de referências fusion que borbotava das caixas de som. Sinceramente, pouco ou quase nada naquele cenário da época me chamava atenção em nossa música e o esforço daqueles talentosos músicos -Zé Lima (guitarras/violões), Flávio Araújo (teclados/vocais), David (baixo) e Fred Paulo (bateria/percussão)- conseguiu o feito de dar-me esperanças de um futuro melhor. Tornou-se um disco com o qual criei uma bela empatia, a ponto de, ao adquirir meu primeiro gravador de CD em 99, este ter sido dos primeiros que copiei e continua na minha estante com artwork completo até hoje.
Apenas há alguns anos deparei-me em uma banquinha de saldos (um vício do qual não consigo me livrar) com um exemplar de seu segundo trabalho -o irregular 'Singularities'- já com alterações na formação com a entrada do experiente Claudio Cepeda, ex-companheiro de Zé Lima na Terraço (banda expoente do prog neoiguaçuano), no baixo.
E o meu contato com a banda terminou por aí pois procurava incessantemente por informações e nada surgia. Tudo levava a crer que, além de mim (e JR, claro!), ninguém mais conhecia a banda. E isto perdurou até alguns meses atrás quando resolvi fazer mais uma busca e o AllMusic (sempre ele!) acusou uma discografia com mais de 10 itens!!! É claro que não levei a sério tal informação e, de filtro em filtro, descobri que estes meus conterrâneos resolveram alterar o nome da banda para Anima Dominum e que haviam lançado apenas mais um (excelente, por sinal) álbum -agora com o fera Ricardo Lima em substituição a Araújo e seguindo um conceito baseado na obra 'O Nome Da Rosa' de Umberto Eco- chamado 'The Book Of Comedy', em 2002, e que gozariam de algum prestígio entre os seguidores do gênero. No meu entender, merecido.