quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

MANDINGO

Ainda moleque, mas já completamente viciado em música, costumava passar minhas férias (e muitos fins-de-semana) com toda a família em um condomínio/clube em Correias -distrito de Petrópolis/RJ- onde éramos proprietários de alguns apartamentos. Entre nossos vizinhos, um dos mais folclóricos era um sobrevivente do holocausto de nome Gertz, uma sumidade em música erudita -o pouco que sei sobre as funções de instrumentos e naipes em uma orquestra devo em grande parte a ele- mas, também, apreciador de um gênero que convencionou-se chamar 'música de elevador', 'música de consultório dentário', 'muzak' (em alusão à principal gravadora deste gênero), 'easy-listening', entre outros menos apropriados. Neste particular, vivíamos em conflito constante pois não conseguia admitir que alguém tão culto gostasse daquele subproduto de merda de ameba que fazia a alegria de ouvintes da antiga Tupi-FM. No meio de Conniffs, Purcells, Mauriats, Kaempferts, entre tantos outros que me foram (insistentemente) apresentados, havia um maestro que era o predileto daquele senhor ranzinza: Geoff Love. Sinceramente, jamais consegui notar o diferencial tão alardeado por ele, mas...
Alguns anos e muitas e proveitosas aulas sobre o universo musical depois -e até já tendo conseguido a incrível façanha de fazê-lo gostar de 'The Six Wives Of Henry VIII' de Rick Wakeman e algumas outras pouquíssimas coisas de progressivo- apareci com uma bolacha importada em gravação quadrifônica de 'The Primeval Rhythm Of Life' e, enquanto me preparava para colocá-la para tocar na minha modesta vitrola Phillips portátil, percebi um sorriso cínico e, intrigado, perguntei o porquê daquilo. A resposta que recebi me desmoralizou por completo: "Querrrida menino Juniorrr, essa grrrupo Mandingo nada mais ê que a maestrrro Geoff Love. Mandingo ser apenas um de suas pseudônimos". Discutimos acaloradamente após esta afirmação pois nada na ficha técnica deixava pistas sobre componentes, arranjadores, etc. Havia apenas uma relação de instrumentos de percussão utilizados e pequenos detalhes do processo de gravação. Sendo ele um leitor voraz de revistas especializadas importadas, com certeza possuia mais subsídios que eu; contudo, minha prepotência juvenil não me permitia admitir que aquele afrobeat -gênero pelo qual sempre fui fascinado- de altíssimo nível com arranjos de percussão e metais absolutamente fantásticos, guitarras funky a rodo, um baixo gordo e de belos fraseados, belíssimas sonoridades de teclados de ultíssima geração e uma qualidade de produção e gravação tão exuberantes fosse obra de um 'reles' band leader de muzak. Era inaceitável!
Há alguns meses resolvi procurar esse trabalho pela rede pois meu vinil estava em estado lamentável e não só o consegui em cd rip como também todos os demais -que nem fazia idéia que existiam- em vinyl rip honestíssimos e que foram devidamente remasterizados por mim. Descobri também que a Mandingo foi um projeto de música instrumental encomendado pela EMI a Love com o propósito de divulgar uma revolucionária tecnologia de gravação, denominada Quadraphonic, e que decidiram-se pelo afrobeat devido ao sucesso que o gênero estava fazendo à época -com nomes como Miriam Makeba, Manu Dibango, Osibisa e, até mesmo, Santana, entre outros- e por utilizar-se de uma gama enorme de frequências devido à grande quantidade de exóticos (para o padrão gringo) instrumentos de percussão dos mais diferentes timbres. Ou seja, perfeito para demonstrar a qualidade daquele que era considerado, à época, o mais revolucionário sistema de gravação já criado. No entanto, não esperavam tamanho sucesso daquele projeto fora de seu contexto original, a ponto de gerar mais 3 sequências, todas excelentes, mesmo com a discreta ambiência disco de 'Savage Rite', seu canto do cisne.
Há até bem pouco tempo este seu primeiro disco era um item de colecionador disputadíssimo e sua obra hoje é das mais sampleadas por produtores de r&b e djs. Garanto que Mandingo é papa finíssima e completamente viciante.
Fica aqui uma sincera homenagem a este senhor que tanto sofreu na última grande guerra e que, com muita tenacidade, soube dar a volta por cima. A última vez que nos encontramos foi há 8 anos e o assunto continuava o mesmo: música, muita música. Há 2 anos, uma vida dedicada à paixão pela música teve fim.


quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

HOJE VAI SER UMA FESTA...


É, gallera, esse não é apenas mais um 22 de janeiro. Nem mesmo só mais um verão. Hoje é o 22 de janeiro de um verão em que me transformo em lobo. É um momento tão especial que convoquei Deus para comemorá-lo comigo. Como costumo distribuir uns presentinhos (e também recebo muitos de todos vocês) nestas datas, nada mais justo que comemorar meio século de roquenrou presenteando-os com este vídeo em HDTV, produzido pela BBC, documentando as aclamadíssimas apresentações de Jeff Beck à frente de um time que inclui a simpática e talentosa baixista Tal Wilkenfeld e o monstro das baquetas Vinnie Colaiuta, em novembro de 2007, no prestigiadíssimo Ronnie Scott's Jazz Club e que geraram seu mais recente álbum, 'Performing This Week...'. A lamentar, o apenas mediano Jason Rebello pilotando os teclados -muitos graus abaixo de antigos titulares da posição como Max Middleton, Jan Hammer e Tony Hymas- e a ausência do clássico 'Big Block'. Em compensação, seu novo clássico, um arranjo matador para 'A Day In The Life', lançado pela primeira vez no solo de Sir George Martin, se faz presente. Tenho certeza que todo aficionado por guitarras e, especificamente, por este que considero o mestre supremo no instrumento, já conferiu o cd. Mas agora poderão ir muito mais longe e ter a plena certeza de que estão diante de uma autêntica divindade e que sua mais que tardia entronização no Rock & Roll Hall Of Fame é apenas a reparação de um erro histórico.
Magnificamente dirigido e editado, cada detalhe da técnica de Beck fica exposto em closes acachapantes de sua inacreditável mão direita. E a direção ainda nos brinda com cenas da platéia totalmente pasma com as loucuras que saem daquela frágil Fender Stratocaster. E, se sempre disse ser Jeff Beck o guitarrista mais difícil de ser emulado, hoje posso afirmar com toda a certeza ser totalmente impossível fazê-lo. Por quê? Muito simples: seria necessário reaprender a tocar guitarra. Poderia ficar por parágrafos e mais parágrafos enumerando enfadonhos -para quem não é guitarrista, é óbvio- motivos e detalhes técnicos para ilustrar minha assertiva mas prefiro que vocês chequem pessoalmente. E, de quebra, ainda assistam a participações mais que especiais de Joss Stone (aaaaffff....), Imogen Heap (aquela voz no meu ouvido faria um estrago) e Eric Clapton (a competência, o carisma e a simpatia de sempre). E o que dizer das celebridades musicais escondidas pela platéia?
Parafraseando nosso ex-ministro tropicalista ufanista petista, se quiser falar com Deus tenho que escutar Jeff Beck. Então, pegue uma gelada, faça uma fumaça e...ore. De preferência, voltado para a tela da TV.
Afinal, a festa só está começando!



sábado, 10 de janeiro de 2009

ANDWELLA (a.k.a. Andwellas Dream)


Início das férias de verão de 72. Do nada, Rubens, um de meus melhores amigos à época, irrompe pelo quarto -em casa de Donanna, como todos chamavam minha véia, era assim mesmo- justo no delicado e sublime momento em que enlouquecia vizinhos, pais e irmãos com meu mais novo 'brinquedinho', recem ganho naquele natal: minha primeira guitarra, uma Giannini SG na cor vinho, e um clássico e poderoso amp BAG01 com falantes de 12" da mesma marca. Não me perguntem como -a compra foi feita na Mesbla, saudosa loja de departamentos onde costumava 'garfar' alguns discos, mas isso é uma outra história- mas, 'milagrosamente', dentro do combo, surgiu um pedalzinho wah-wah com um distorcedor embutido da marca Sound. Ou seria um enxame de abelhas? Até hoje estou em dúvida.
A expressão de desespero daquele meu querido amigo exilado de Porto Alegre, sua cidade natal, me deixou realmente preocupado, o que me fez pousar a guitarra e dar-lhe atenção.
-Porra, Junior (é, sou eu!), lembra aquele meu tio beato que foi pra Londres e que eu pedi pra me trazer uns discos de progressivo?
-Tá, e daí?
-Aquela vaca prenha -ele se amarrava nesta expressão- me trouxe esse aqui (nesse momento sacou a bela capa, com uma reprodução um tanto quanto fake do Santo Sudário, de 'World's End' gravado por uma banda da qual nunca havia ouvido falar chamada Andwella) porque disse que se tem a imagem de Jesus na capa é porque é aprovado por Deus e deve ser ótimo. Porra, imagina a merda que isso deve ser!!! Será que o cara não se toca que quem inventou o rock foi o Diabo??!! Quê que Deus tem a ver com essa porra?
-Bem...também não é assim, cara...se minha mãe te ouve falar assim...
-Ainda por cima é antigo, ó...já tem 2 anos que foi lançado...É um babaca, mermo...Devia era tá em promoção!!! Pão-duro do caralho!!!
-Cara, já escutou o disco pelo menos?
-Porra nenhuma! Nem quero! Toma essa merda pra você.
-Calma, senta aí que vou buscar um mate e a gente bota pra rolar.
Pois assim fizemos e, com os queixos roçando o chão, ouvimos aquela pequena pérola de cabo a rabo repetidas vezes. Isso sem dizer que a faixa título -uma bela peça com um excelente arranjo de cordas- foi abusada outras tantas vezes mais. É lógico que meu amigo logo esqueceu que havia me dado o disco, restando-me o consolo de gravar uma cópia em K7. Alguns meses depois, ele voltou para POA e junto foi-se aquele disco que hoje sei ser raríssimo e a fita passou dessa para melhor por puro desgaste pouco tempo depois. Se por um lado nunca mais soube de nenhum outro trabalho da banda naqueles tempos de pouquíssima informação, hoje sei que seus discos são relativamente fáceis de encontrar pela rede. Informações sobre a banda e seu líder, no entanto, é um trabalho mais árduo.
O que apurei é que o irlandês de acurada formação musical acadêmica Dave Lewis (vocais/guitarras/piano/flautas), um prodígio que frequentava a mesma roda de Gary Moore e Phill Lynnot e já compunha obsessivamente, fundou com Nigel Smith (baixo/vocais) e Gordon Barton (bateria/percussão) uma banda de psych a qual chamou The Method. Uma certa noite, às vésperas da gravação de seu primeiro álbum, Lewis -provavelmente sob o efeito de um purple haze vencido- tem um sonho e dele extrai o nome Andwellas Dream. O álbum, 'Love & Poetry'(69), passa totalmente desapercebido por público e crítica, muito embora hoje seja considerado um dos grandes exemplares do gênero. Para mim, sinceramente, é só mais um honesto, devido ao enorme potencial autoral e à capacidade de harmonização de Lewis, trabalho de rock psicodélico que se forjava aos milhares nas linhas de montagem inglesas àquele período. Mais uma nova tentativa, desta vez enxugando o nome para Andwella e adicionando Dave McDougall (piano/órgão/teclados/vocais), gera uma pequena jóia rara chamada 'World's End'(70) . Aqui, o trabalho dá um enorme salto em direção ao que começava a ser denominado como prog rock, adicionado de tinturas folk e jazzy e enfatizando muito bem as harmonias ao piano. Infelizmente, o destino foi o mesmo de seu antecessor. Embora pudesse perfeitamente figurar entre os Crássicos G&B. No ano seguinte, com David Struthers no baixo, ainda lançam 'People's People', um trabalho mais voltado ao formato de canções (belíssimas e muito bem arranjadas, por sinal), mas o cansaço e a falta de divulgação que enterrara as tentativas anteriores fala mais alto e a banda resolve encerrar as atividades. David Lewis lançou ainda alguns discos solo -decepcionantes, pelo que li- e os demais membros mantém-se na ativa como músicos de estúdio.
Da curta discografia da banda, somente 'Love & Poetry' mereceu lançamento oficial em cd e é facilmente rastreável por aí. Os demais receberam apenas remasterizações a partir de cópias em vinil para lançamentos digitais por obscuros selos piratas russos e similares. Destes, disponibilizo as melhores cópias que consegui após passá-las por uma remasterização personalizada com o padrão de qualidade G&B.
Mais um daqueles pedacinhos -neste caso, de mais de 35 anos atrás- de minha memória musical recuperados graças ao compartilhamento e que agora divido com os parceiros.
Não me recordo se Rubens algum dia chegou a agradecer aquele seu tio carola que, mesmo por vias tortas, lhe deu um belo presente.



terça-feira, 6 de janeiro de 2009

BIG COUNTRY



Acredito que a esta altura todos que frequentam o seu, o meu, o nosso G&B já sabem que tenho uma verdadeira aversão à quase totalidade da música feita nos 80. A bem da verdade, mais do que a música, todo o comportamento -cocaína e yuppies foram a tônica- e estética -new wavers, hair metal, farofas e darks, só para citar algumas destas tribos- da época eram deploráveis. Na música pouco se salva daquele período estranho, para dizer o mínimo. Entre as exceções, no meu entender ao menos, encontra-se a Big Country.
Lembro com perfeição da primeira vez que os escutei. Dirigia-me para um ensaio em Nikiti City (apelido carinhoso para Niterói/RJ) como de costume com o rádio de meu Passat 76 sintonizado na Maldita! quando uma introdução marcial de bateria seguida dos primeiros acordes de 'In A Big Country' começaram a soar. Foi uma sensação completamente nova a de escutar uma banda que emulava através das guitarras um combo folk escocês completo, incluindo timbres de bagpipes e fiddles, conseguidos através do uso criativo de pedais MXR Pitch Transposer (até tentei descolar um mas não consegui) e da transposição correta dos fraseados do gênero para aquele instrumental. "Mas como ninguém teve essa idéia?", pensei. Era absolutamente contagiante e, rápido como se furta, corri atrás de 'The Crossing'(83) -anteriormente postado por aqui entre os Crássicos G&B-, primeiro álbum do quarteto liderado por Stuart Adamsom (vocais/guitarras/teclados/e-bow) e tendo como cúmplices Bruce Watson (guitarras/mandolin/cítara/vocais), Tony Butler (baixo/vocais) e Mark Brzezicki (bateria/percussão) e que, além daquela jóia, continha mais uma penca de petardos como 'Inwards' (tornou-se até prefixo da emissora), 'Chance', 'Fields Of Fire', 'Porrohman' e 'Harvest Home', além de me apresentar ao som do e-bow, uma pequena engenhoca do tamanho de um isqueiro e gerador de um campo magnético que movimenta as cordas fazendo a guitarra soar como um instrumento de arco. O sucesso da banda com este trabalho chamou a atenção de Pete Townshend e Roger Daltrey que os utilizaram em diversos de seus trabalhos solo, entre eles os ótimos 'White City' e 'Under A Raging Moon' e Brzezicki chegou a ocupar as baquetas do Who em algumas apresentações. Nem mesmo Gary Moore resistiu e assumiu a influência destes geniais escoceses de araque ao produzir seu 'After The War', de 89.
A partir daí a banda galgou um sucesso cult notável pelo mundo e uma aura de idolatria na Escócia, onde seus componentes costumavam apresentar-se trajando kilts em apresentações verdadeiramente catárticas. Aliás, vale lembrar que, apesar de estabelecidos naquele país, nenhum de seus integrantes era natural da Escócia. Apenas Adamson mantinha uma relação maior com as Highlands pois lá cresceu e montou sua primeira banda, a seminal The Skids.
Em seguida lançaram discos -todos, sem exceção, excelentes- com invejável regularidade até 'Driving To Damascus', de 99, apesar dos crescentes problemas de Adamsom com o álcool, perfeitamente compreensível já que na Escócia produz-se o melhor whisky nacional do mundo (essa é velha, né?). Diz-se que, em diversas ocasiões, chegou a sumir por dias quando se escondia em hotéis baratos em diversos países da Europa e se chapava até não mais aguentar. E foi em uma destas escapulidas que o imponderável aconteceu: em novembro de 2001, apenas 1 1/2 ano após o antológico concerto no Glasgow Barrowlands Ballroom que marcou o fim das atividades de turnê da banda, Adamsom desaparece novamente para ser econtrado somente em 16 de dezembro daquele mesmo ano morto em um quarto de hotel em Honolulu. Segundo a autópsia, por suicídio.
Foi-se o homem e ficou a lenda, sempre viva em canções como as já citadas e ainda 'Wonderland', 'The Crossing', 'Save Me', 'Flame Of The West', 'Steeltown', 'Just A Shadow', 'Look Away', 'The Seer' (um belo dueto com Kate Bush), 'King Of Emotion', 'Broken Heart', entre muitas outras. E o que dizer do enorme volume de lançamentos póstumos, só comparável ao de bandas comumente alçadas ao Olimpo do rock?
Muito eventualmente continuam a reunir-se como um trio, tendo Butler nos vocais, sob o nome Big Country, mas não acredito que possa funcionar a contento sem Stuart, a alma da banda.
Aqui disponibilizei tudo que tenho, da discografia de estúdio completa a itens como 'Eclectic'(96), um acústico ao vivo com vários covers deliciosos; diversas raridades como singles, covers, b-sides, outtakes, etc; a trilha sonora de 'Restless Natives' (não estranhem pois foi originalmente lançada em track-at-once com 35 min. de duração), delicioso e recheado de non-sense robinhoodiano filme escocês de 1985, e o vídeo com o histórico show do Glasgow Barrowlands Ballroom (Disc 2 do DVD 'Final Fling').
Essa é minha pequena homenagem a Stuart Adamsom, pouco mais de 7 anos após sua morte.
Mas ainda acho que o melhor dos '80 foi o 'verão da lata' que, por sinal, completou 20 anos e tem até filme baseado (ooooops!) no tema em andamento.


quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

B. P.



Antes de mais nada, vamos combinar um negócio. Devido às recentes incursões de organismos internacionais mal intencionados em uma insana 'caça às bruxas' e por, em uma pequena pesquisa, ter constatado que o objeto deste post é um de seus maiores alvos, pedirei que refiram-se a este virtuoso da guitarra country apenas como B.P.. Bem, já que estamos de acordo, vamos ao que interessa.
Acho que todos aqui gostamos de rock, certo? Apesar disso, certamente, muitos resistem ao country e até admito que alguns bons motivos para isso existem. Do uso excessivo de clichês aos estereótipos deflagrados pela (enorme e muito lucrativa, diga-se de passagem) indústria ligada ao gênero, o universo country tem uma série de poréns. Isso sem falarmos da equivocada aproximação que muitos ouvintes fazem com o nosso breganejo. No entanto, uma coisa não se pode negar: sem o country & western, aquela música trazida pelos imigrantes irlandeses em formato folk e avô do gênero como o conhecemos hoje, não haveria o rock. Afinal, o beabá da genealogia do rock nos ensina que da relação multiracial entre o country & western e o rhythm & blues nasceu um amado rebento muito apropriadamente chamado rock & roll. Este, por sua vez, rebelde por natureza, caiu na esbórnia, na manguaça e em uma abençoada promiscuidade e gerou vários filhotes paridos por mães diversas e...chega de viagem!
De minha parte não só nunca tive nenhum preconceito como sou um admirador confesso, afinal minha primeira grande paixão na música chamou-se Creedence Clearwater Revival e sua mistura de rock, country, bluegrass e swamp music. Na verdade, como em qualquer outro gênero musical, temos que separar o joio do trigo. E esse caipirão de 36 anos é, com certeza, trigo da melhor qualidade. Basta dizer que é considerado um dos maiores guitarristas do gênero. Na verdade, muitos o tem como o maior guitarrista country de todos os tempos.
E não é que o cara é um prodígio? Tocando desde os 8 anos, já aos 13 compunha e abria para George Jones e Ricky Scaggs, dois expoentes do country e do bluegrass, entre outros. Aos 20 já era um compositor consagrado e session man requisitadíssimo em Nashville que, para quem está taxiando agora no planeta Terra, é a meca do country. Em 99 lançou seu primeiro álbum onde já demonstrava todo seu virtuosismo nos mais variados subgêneros da country music e já impressionando com sua exuberante (e dificílima!) técnica no chicken' pickin'. De lá para cá, seu sucesso de público e o prestígio adquirido entre os músicos do gênero como Albert Lee, Alison Krauss, Allan Jackson, Keith Urban, Steve Wariner, Vince Gill, James Burton, etc, que participam em vários de seus álbuns, só fez aumentar.
Nesta postagem estão todos os trabalhos de estúdio deste genial hillbilly com tudo que o country pode oferecer de melhor: fiddles, lapsteel, banjos, mandolins, honky-tonky piano, Hammond, washboard, acordeão e guitarras, guitarras e mais guitarras!
Como sei que muitos irão me perguntar por onde começar, aconselho seu trabalho mais recente, quase todo instrumental e que dá a B.P. a oportunidade de se aventurar em um espectro muito mais amplo aproveitando-se da sua enorme musicalidade sem, com isso, perder sua assinatura. Ah...e ainda tem uma participação especialíssima do último dos Three Kings.


Detalhe de um de seus inúmeros e belíssimos modelos Bill Crook,
sempre com a escala em maple, como reza a cartilha country.

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